sábado, 10 de maio de 2014

ORDUS SALUTIS: CONVERSÃO, I

A DOUTRINA DA CONVERSÃO
O que é a conversão? O que esta doutrina tem a nos ensinar? Qual a sua utilidade? É obvio que esta é uma doutrina indisputada, isto é, o cristianismo ortodoxo, mesmo em suas diferentes concepções, entende que a conversão é fundamental para que alguém se torne cristão e seja salvo.
Na conversão o pecador toma consciência existencial de que merece a mais terrível condenação – a eternidade afastado da presença graciosa de Deus e em sofrimentos infindáveis. Ao reconhecer isto, a fé implantada por Deus em seu coração está começando a manifestar-se conscientemente, e tende a crescer levando o convertido a confiar em Jesus Cristo para a sua salvação, apropriando-se da justiça de Cristo para si mesmo e abandonando qualquer arremedo de justiça própria: ele percebe que os méritos são de Cristo, e não seus.
Não podemos esquecer que a conversão é parte de um processo salvífico, ligado de modo orgânico, natural e intimo com as demais partes deste processo. É um equívoco pensar na conversão como se fosse o ponto final do processo redentivo – por isso a santificação e crescimento espiritual é olvidado. A conversão marca o início do despojamento do velho homem e, ao mesmo tempo, do revestimento do novo, da luta pela santidade como resultado da fuga do pecado. O princípio pecaminoso da velha vida, substituído pelo princípio santo da vida nova começa a perder o seu antigo vigor. Na conversão esta transição torna-se uma ação consciente.
Precisamos distinguir com clareza o que é a conversão dentro do processo redentivo, porque somente um bom entendedor pode ser um bom ensinador “Qui bene distinguet, bene docet.
A bíblia tem mais de uma palavra para se referir à conversão.
NO ANTIGO TESTAMENTO
nacham (expressando tristeza quando ativa e alívio alcançado quando passiva), e significa basicamente arrependimento acompanhado por uma mudança de ação. É esta palavra que aparece em Gn 6.6-7; Ex 32.14; Jz 2.18; I Sm 15.11.
shubh, significando voltar-se, volver-se, virar e retornar, com significado religioso e ético, referindo-se principalmente ao retorno de Israel, arrependido, após ter se apartado do Senhor. A idéia presente é de uma volta para Deus, de quem o pecado separou o homem (Os 14.2).
NO NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento apresenta-nos três palavras:
metanoia, que é a mais comum para conversão e a mais importante, traduz com frequência nacham indicando uma mudança de cosmovisão, de maneira de ver e viver. É muito mais que um elemento emocional, indicando uma mudança de ação após a obtenção de uma nova forma de conhecer, com o consequente lamento em relação ao que foi feito e uma proposta de mudança quanto ao trato futuro. Esta mudança, para ser conversão segundo Deus, precisa ser para melhor, e não para pior, como foi o caso de judas (tomado de remorso). metanoia implica em que, anteriormente, a mente estava corrompida (Tt 1.15) e com a conversão é redirecionada, com consequências intelectuais (II Tm 2.25), volitivas (At 8.22) e emocionais (II Co 7.10). Há mais um aspecto que não pode ser deixado de fora – o desejo de não repetir o que se fazia (Ef 4.28) e agora sabe ser errado (I Tm 1.13).
epistrofe traduz shubh com o sentido de retornar, de voltar, com um significado mais amplo que metanoia, acentuando o estabelecimento de um novo direcionamento, ativo, para a vida (At 3.19). Esta palavra sempre inclui a ideia de que a fé está presente. Enquanto metanoia exige a presença da fé (piste/w) epistrofe já a subentende.
metameleia significa vir a afligir-se depois (Mt 21.29, 32; II Co 7.10; Hb 7.21) indicando arrependimento, com um aspecto basicamente emocional.
Concluímos que conversão e arrependimento andam juntos (At 26.20), e a verdadeira conversão tem que ser em direção a Deus. O arrependimento muda o sentimento e a atitude para com Deus, a conversão muda o posicionamento para com o mundo.
DEFINIÇÃO
A doutrina da conversão é bíblica, baseia-se nas Escrituras e refere-se à uma experiência consciente na vida daqueles eleitos que são alcançados pelo chamado externo da Palavra e interno do Espírito – eleição, vocação e regeneração são ações de Deus no homem, em relação às quais ele é absolutamente passivo, embora sofra seus efeitos.
Diz-nos Strong que a conversão é uma
“…mudança voluntária na mente do pecador em que ele se vira do pecado, por um lado, e para Cristo, doutro lado. O elemento primário e negativo da conversão, nomeadamente, virar-se do pecado, denominamos arrependimento. O elemento da conversão, último e positivo, nomeadamente virar-se para Cristo, denominamos fé.”
E outra vez:
“Conversão é o lado humano ou aspecto daquela mudança espiritual fundamental, que, vista do lado divino, chamamos regeneração.

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