A DOUTRINA DA CONVERSÃO
O que é a conversão? O que
esta doutrina tem a nos ensinar? Qual a sua utilidade? É obvio que esta é uma
doutrina indisputada, isto é, o cristianismo ortodoxo, mesmo em suas diferentes
concepções, entende que a conversão é fundamental para que alguém se torne
cristão e seja salvo.
Na conversão o pecador toma
consciência existencial de que merece a mais terrível condenação – a eternidade
afastado da presença graciosa de Deus e em sofrimentos infindáveis. Ao
reconhecer isto, a fé implantada por Deus em seu coração está começando a
manifestar-se conscientemente, e tende a crescer levando o convertido a confiar
em Jesus Cristo para a sua salvação, apropriando-se da justiça de Cristo para
si mesmo e abandonando qualquer arremedo de justiça própria: ele percebe que os
méritos são de Cristo, e não seus.
Não podemos
esquecer que a conversão é parte de um processo salvífico, ligado de modo
orgânico, natural e intimo com as demais partes deste processo. É um equívoco
pensar na conversão como se fosse o ponto final do processo redentivo – por
isso a santificação e crescimento espiritual é olvidado. A conversão marca o
início do despojamento do velho homem e, ao mesmo tempo, do revestimento do
novo, da luta pela santidade como resultado da fuga do pecado. O princípio
pecaminoso da velha vida, substituído pelo princípio santo da vida nova começa
a perder o seu antigo vigor. Na conversão esta transição torna-se uma ação
consciente.
Precisamos
distinguir com clareza o que é a conversão dentro do processo redentivo, porque
somente um bom entendedor pode ser um bom ensinador “Qui bene distinguet,
bene docet”.
A bíblia tem mais de uma
palavra para se referir à conversão.
NO ANTIGO TESTAMENTO
nacham (expressando tristeza quando ativa e alívio alcançado quando passiva),
e significa basicamente arrependimento
acompanhado por uma mudança de ação. É esta palavra que aparece em Gn 6.6-7; Ex 32.14; Jz 2.18; I Sm 15.11.
shubh,
significando voltar-se, volver-se, virar e retornar, com significado religioso
e ético, referindo-se principalmente ao retorno de Israel, arrependido, após
ter se apartado do Senhor. A idéia presente é de uma volta para Deus, de quem o
pecado separou o homem (Os 14.2).
NO NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento
apresenta-nos três palavras:
metanoia, que é a mais comum para conversão e a mais importante, traduz com
frequência nacham indicando uma mudança
de cosmovisão, de maneira de ver e viver. É muito mais que um elemento
emocional, indicando uma mudança de ação após a obtenção de uma nova forma de
conhecer, com o consequente lamento em relação ao que foi feito e uma proposta
de mudança quanto ao trato futuro. Esta mudança, para ser conversão segundo
Deus, precisa ser para melhor, e não para pior, como foi o caso de judas
(tomado de remorso). metanoia
implica em que, anteriormente, a mente estava corrompida (Tt 1.15) e com a conversão é redirecionada, com consequências
intelectuais (II Tm 2.25), volitivas
(At 8.22) e emocionais (II Co 7.10). Há mais um aspecto que não
pode ser deixado de fora – o desejo de não repetir o que se fazia (Ef 4.28) e agora sabe ser errado (I Tm 1.13).
epistrofe traduz shubh com o sentido
de retornar, de voltar, com um significado mais amplo que metanoia, acentuando o estabelecimento de um novo direcionamento,
ativo, para a vida (At 3.19). Esta
palavra sempre inclui a ideia de que a fé está presente. Enquanto metanoia exige a presença da fé (piste/w) epistrofe já a subentende.
metameleia significa vir a afligir-se depois (Mt 21.29, 32; II Co 7.10;
Hb 7.21) indicando arrependimento,
com um aspecto basicamente emocional.
Concluímos que conversão e
arrependimento andam juntos (At 26.20),
e a verdadeira conversão tem que ser em direção a Deus. O arrependimento muda o
sentimento e a atitude para com Deus, a conversão muda o posicionamento para
com o mundo.
DEFINIÇÃO
A
doutrina da conversão é bíblica, baseia-se nas Escrituras e refere-se à uma
experiência consciente na vida daqueles eleitos que são alcançados pelo chamado
externo da Palavra e interno do Espírito – eleição, vocação e regeneração são
ações de Deus no homem, em relação às quais ele é absolutamente passivo, embora
sofra seus efeitos.
Diz-nos
Strong que a conversão é uma
“…mudança
voluntária na mente do pecador em que ele se vira do pecado, por um lado, e
para Cristo, doutro lado. O elemento primário e negativo da conversão,
nomeadamente, virar-se do pecado, denominamos arrependimento. O elemento da
conversão, último e positivo, nomeadamente virar-se para Cristo, denominamos
fé.”
E
outra vez:
“Conversão
é o lado humano ou aspecto daquela mudança espiritual fundamental, que, vista
do lado divino, chamamos regeneração.
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