SEJAM PROFUNDAMENTE COMPROMETIDOS
COM A LIDERANÇA QUE DEUS INSTITUIU PARA BEM DA IGREJA
Passamos então, a uma segunda característica destes
valentes. Além de não desanimarem nem deixarem seu posto mesmo que estivessem
sozinhos, ou cercados de apáticos ou mesmo abandonados pelos covardes e
aproveitadores eles eram profundamente comprometidos com a sua liderança.
A história destes valentes, companheiros de Davi, se junta
quando seu líder demonstra sentir saudades de sua terra natal.
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Também três dos trinta cabeças desceram e, no tempo
da sega, foram ter com Davi, à caverna de Adulão; e uma tropa de filisteus se
acampara no vale dos Refains.
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Davi estava na fortaleza, e a guarnição dos
filisteus, em Belém.
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Suspirou Davi e disse: Quem me dera beber água do
poço que está junto à porta de Belém!
16
Então, aqueles três valentes romperam pelo
acampamento dos filisteus, e tiraram água do poço junto à porta de Belém, e
tomaram-na, e a levaram a Davi; ele não a quis beber, porém a derramou como
libação ao SENHOR.
Como sabemos, Davi era natural de Belém. Crescera nas
cercanias da cidade, conhecia cada monte, cada fonte. Fugitivo, sabia que os
espiões de Saul certamente avisariam caso se aproximasse da casa de Jessé, seu
pai. Para piorar, os históricos inimigos dos judeus haviam montado uma
guarnição impedindo o acesso à cidade.
Fora naquela região que, provavelmente, escrevera o salmo
23, enquanto cuidava dos rebanhos de ovelhas de seu pai. Havia muitas
experiências e recordações. Ali meditara sobre a suficiência do Senhor na vida
dos crentes (Sl 23.1). Ali provavelmente vencera o leão e o urso (I
Sm 17.34-35).
Lembranças como estas podiam estar ocupando a mente de Davi,
quando suspira e manifesta o que está em seu coração: o desejo de beber água do
poço que está junto à porta em Belém. Davi não pediu, não planejou ir até o
poço, apenas manifestou um desejo do seu coração como, muitas vezes, desejamos
estar na cidade onde nascemos, ou com pessoas às quais não vemos há muito
tempo.
Nem sempre isto quer dizer que queiramos realmente ir para
lá, que seja um propósito. E foi o que aconteceu. Davi estava saudoso,
pensativo e suspirou.
Mas, com homens como Josebe-Basebete, Eleazar e Sama não se
brinca. Eles não temiam nada, não temiam a ninguém. Algumas centenas de
filisteus, para eles, não eram motivo de temor. Se separados fizeram o que
fizeram, imagina então o que eram capazes de fazer juntos.
Aqueles homens possuíam um alto grau de comprometimento com
o seu chamado. Não abandonavam o posto, não deixavam a peleja e, mesmo que
ficassem sozinhos, somente deixariam de lutar se fossem alcançados pela morte.
Ou se tornariam heróis mortos, ou permaneceriam heróis vivos. Mas, jamais se
tornariam covardes, apáticos ou ausentes.
Isso é fundamental e merece destaque na atitude destes
homens: o seu comprometimento com a liderança. Num mundo onde intrigas eram
comuns (I Sm 22.22), e tendo Davi a cabeça a prêmio porque Saul desejava
matá-lo, não era muito difícil fazer algo para livrarem-se de Davi e dirigirem,
eles mesmos, o bando. Mas não aqueles homens.
Eles chegaram a Davi amargurados de espírito, sem propósitos
na vida, endividados (eles ou seus filhos podiam ser tornados escravos pelos
seus credores). Não tinham para onde ir - e foram a Davi. Davi não era um
lugar, era um líder. E eles o reconheciam como tal. Chegaram sem nada, e,
depois de várias campanhas militares, vitórias contra os inimigos de Israel, se
sentiam parte de alguma coisa novamente.
Estar com Davi e os outros 400 homens era algo muito
importante para eles. E fora Davi que lhes proporcionara. Era seu líder. E eles
tinham um profundo senso de comprometimento com a liderança. É impossível ser
um homem de Deus sem ser comprometido com a liderança que o próprio Deus
instituiu. Um cristão pode rejeitar uma ordem ímpia de um governante ímpio. Mas
não pode ser capaz de dar um testemunho eficiente de sua fé se estiver em
rebeldia contra a liderança que o próprio Deus instituiu (Rm 13.1), seja
para alegria ou para disciplina (I Pe 2.14) de seu povo.
Paulo e Pedro dizem estas coisas num contexto de governantes
romanos, ímpios, inimigos da Igreja - o que dizer, então, da submissão às
autoridades dentro da Igreja. Creio que era assim que estes homens se
sentiam. Impulsionados por gratidão e dedicação ao seu líder, que, sabiam, era
um homem realmente ungido por Deus, através de seu profeta, Samuel (I Sm
16.12-13), e que, no tempo de Deus, reinaria sobre Israel.
Apenas por saberem qual o desejo de Davi eles resolvem fazer
o impensável - algo que nem Davi intentava fazer. Pegam suas armas, invadem o
acampamento dos filisteus. Eles não entraram furtivamente, mas romperam,
literalmente “dividiram, destroçaram em pedaços de forma vitoriosa”
aquele destacamento filisteu. Eles entraram e saíram, o que pressupõe passar
duas vezes pelo meio dos inimigos - se na primeira passagem tinham as mãos
livres para batalhar, agora carregavam um tesouro.
Onde Davi estava tinha ouro. Tinha, também, joias e vestes
conquistadas nas batalhas. Mas só eles tinham o que Davi queria no fundo do seu
coração, um desejo que eles ouviram ser mencionado em meio a um suspiro. Só
eles tinham este tesouro, e não seria um mero destacamento filisteu a tomar
isso deles.
O que vemos aqui é comprometimento com a liderança.
Comprometimento total e absoluto. Aqueles homens tinham sua vida totalmente
comprometidas com a sua tarefa - lutar. E tinham sua vida totalmente
comprometida com a liderança que possuíam.
É obvio que não queremos que os membros da Igreja se façam
cegos e se deixem guiar por outros cegos (Mt
23.16). O Senhor diz para a Igreja ser criteriosa, julgar todas as coisas,
provando os espíritos (I Jo 4.1), e
retendo apenas o que é bom (I Ts 5.21).
Embora haja quem defenda uma obediência cega às autoridades
- especialmente eclesiásticas - sob a desculpa de que são os “ungidos do
Senhor” precisamos entender que, mesmo os que foram ungidos pelo Senhor, nas
páginas das Escrituras, agiram com estultícia e por isso foram, posteriormente,
rejeitados pelo Senhor (I Sm 15.26). Ordens insensatas não foram feitas
para serem obedecidas (I Sm 14.24-27). Observe que o julgamento sobre
Saul é que, com sua ordem insensata, ele perturbou a terra e impediu um
progresso maior do povo de Deus (I Sm 14.29-30).
Mas, estamos falando de santos, de quem tem o propósito de
servir a Deus com o melhor que tiver, a ponto de comprometer a própria vida
nesta tarefa. Queremos o progresso da obra, queremos o crescimento da casa de
Deus, então, não pretendemos perder tempo com rebelião (I Sm 15.23) ou
dividindo a nossa casa porque, assim procedendo, ela não subsistirá (Mt
12.25).
Precisamos ser cuidados e criteriosos porque, embora o
Senhor Jesus tenha prometido que as portas do inferno não prevaleceriam contra
a Igreja (Mt 16.18) ele certamente estava se referindo à sua Igreja,
àqueles que estão em união mística com ele
e não a uma instituição ou a um lugar, erro cometido pelos judeus e
samaritanos (Jo 4.20), especialmente os judeus que confiaram,
supersticiosamente, muito mais no templo (Jr 7.4) que no Senhor (Is
6.3).
Nas nossas Igrejas existem pastores, oficiais, líderes de
sociedades e departamentos e é desejável que todos tenham como meta o bem do
reino, o crescimento da Igreja nas mais diversas áreas: espiritual, econômica,
frequência, numérica, comunitária. Deve ser relativamente incomum (embora a
experiência demonstre a existência) de pessoas que assumem a liderança de uma
entidade sem o propósito de abençoa-las, querendo, somente, usufruir delas para
sua satisfação pessoal.
Davi tinha desejos pessoais, mas nem sequer passava por sua
cabeça pedir aos seus valentes que cometessem uma ação temerária como aquela -
e se o fizesse demonstraria estar interessado somente em seu bem estar pessoal,
e não dos seus liderados. Mas, por outro lado, eles conheciam Davi, e sabiam
que era um líder sensato, prudente e competente.
Aqui temos o perfil de um líder adequado e de liderados
adequados - isto é ainda mais relevante quando lembramos que os três eram os
maiores guerreiros de Davi, líderes, portanto, dentro da comunidade. Para
alguém ser benção na Igreja do Senhor tem que entender que, por graça e
bondade, o Senhor concedeu à Igreja diversas formas de lideranças, tais como
pastores (cuidado e assistência, administração), mestres (ensino e direção
espiritual), guias (com a visão e conhecimento do que é melhor para o corpo).
A uns o Senhor colocou por olhos, outros por mãos e outros
por outros membros (I Co 12.16-18) e
é só quando cada um desempenha sua função que o corpo é abençoado (Ef 4.16).
Colocando um espelho diante de nós, aliás, não um espelho,
mas uma lente, um microscópio, de preferência o mais poderoso que há: a lente
do Espírito (Sl 139.1-3), perscrutando o nosso coração e dizendo-nos
quem nós somos, por um lado, filhos de Deus (Rm 8.16) e, por outro, nos
convencendo do nosso pecado, da justiça e do juízo de Deus (Jo 16.8) nós
percebemos que há muito a aprender com o exemplo destes homens. E, mesmo filhos
de Deus, somos filhos que ainda estão em processo de educação (I Jo 3.2).
Precisamos aprender a nos comprometer, não cegamente, mas
inteligentemente, espiritualmente, com a liderança da nossa Igreja. Aprender
que somos parte de um corpo e que estamos nele para o crescimento de todos, e
não para a nossa satisfação exclusiva, porque isto se chama parasitismo.
Comprometimento é não ser como criança mimada cuja principal brincadeira é ter
a sua vontade atendida, em qualquer área, do contrário logo fica num canto e
diz: “não brinco mais”.
É uma benção quando o corpo anda
junto. O exemplo do Senhor Jesus é maravilhoso. Ele diz que veio pela vontade
do Pai (João 8.42) para fazer a vontade do Pai (Jo 4.34). Se
Jesus submeteu a sua vontade ao Pai, porque nós não podemos fazer o mesmo, nos
submetendo às autoridades que ele colocou sobre nossas vidas, sejam pastores,
presbíteros, diáconos, presidentes de sociedades?
Não podemos fazer como os judeus, nos omitindo, escondendo,
fugindo - prontos a criticar se não der certo, mas também, aparecendo rapidinho
na hora de colher os louros. Se fizermos isso será para nossa vergonha ver que
um, sozinho, ou três, fizeram mais que multidões.
Se você está fazendo sozinho, não desista. Se lhe parece
estar lutando sozinho, e talvez esteja mesmo, não desanime. O que precisa ser
feito tem que ser feito. É muito - é, provavelmente é. Mas, se você não tentar,
ninguém fará. Por maiores que sejam os obstáculos o que você fizer será
contando como obra do Senhor, como o texto fala duas vezes - a obra foi do
Senhor.
Continue, pois quem sabe apareçam mais alguns para ficar do
seu lado, fazer ainda mais do que já tem sido feito. Se você parar, talvez
deixe sozinho outro que está lutando a mesma luta que você, talvez buscando a
mesma coisa que você busca - um companheiro de armas – um companheiro que será
lembrado como aquele por meio de quem o Senhor efetuou grande livramento no
meio do povo de Deus. E você?
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