O texto apresenta, basicamente, ser um relato sobre grandezas – grande perseguição, grandes
realizações, grandes enganos e um grande julgamento com uma grande humilhação
pública. Grandeza é uma das palavras centrais desta perícope (megaj), ao lado de poder (dunamij) e acontecimentos (ginomai). O
antagonismo é ilustrado de maneira quase simbólica através de dois homens
chamados Simão: Pedro, e o mágico samaritano. Na verdade, diante de uma
grandeza apenas aparente sobressai a verdadeira grandeza.
….. 1-3
…..
I. CARACTERÍSTICA
DA FÉ EM CRISTO: GRANDE FIDELIDADE, MESMO DIANTE DE GRANDE PERSEGUIÇÃO E GRANDE
DOR
1 E Saulo consentia na sua morte.
Naquele dia, levantou-se grande
perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos,
foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria.
2 Alguns homens piedosos sepultaram
Estêvão e fizeram grande pranto sobre ele. 3
Saulo, porém,
assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres,
encerrava-os no cárcere. 4 Entrementes, os que foram dispersos
iam por toda parte pregando a palavra.
O crescimento do número dos
convertidos não passou despercebido pelas forças religiosas judaicas. A
demonstração da convicção de Pedro em obedecer a Deus mesmo que isto
significasse desobedecer às autoridades (At
5:29), o crescimento da Igreja logo fez com que o sábio conselho de
Gamaliel fosse esquecido (At 5.38-39)
e a pregação de Estêvão, denunciando a liderança religiosa como assassina do
Messias, agora ressurreto, fez irromper a ira popular, culminando na morte de
Estevão.
A primeira parte da grande
comissão, do testemunho cristão estava cumprida. Eles já haviam sido
testemunhas do Senhor em Jerusalém. Era hora de passar à segunda parte: o alvo
do Senhor era a Judéia e a Samaria, não um após o outro, mas os dois ao mesmo
tempo.
Em meio à obediência de
Estêvão surge Saulo, judeu natural de Társis, que se sentia satisfeito em estar
de acordo (suneudokew) com a morte violenta perpetrada contra o pregador.
Com isto surge a primeira grande (megaj)
perseguição contra aqueles que se expunham publicamente atendendo ao chamado de
Cristo (ekklhsia). Da concentração em Jerusalém a Igreja é obrigada a
ir por toda parte, para o sul, o antigo reino de Judá (Judéia) e para o norte,
o antigo reino de Israel (Samaria).
A perseguição à Igreja não
resultou em fidelidade, mas a fidelidade da Igreja, a proclamação do genuíno
evangelho de Cristo foi que resultou em perseguição. Se a Igreja moderna esperar,
em seus bancos acolchoados, o levante de uma perseguição para ser fiel, vai
simplesmente se mundanizar, amar e ser amada pelo mundo.
A Igreja sentiu grande (megaj) dor pela morte de Estêvão, mas esta dor não os
impediu de prosseguirem sendo piedosos, sendo reverentes a Deus e alguns homens
recolheram seu corpo para sepultá-lo. Paulo, entretanto, não se contentou com o
prazer sentido com a morte de Estêvão, e marcava para destruir, estigmatizava,
assolava (lumoinomai) aqueles que se proclamavam crentes em Jesus Cristo –
invadia casas, destruía famílias, usava de estratagemas para prender homes e
mulheres (anhr kai gunh=) sem
distinção de idade.
Em consequência desta
perseguição os cristãos, espalhados (diaspeirw) por toda a Judéia e Samaria iam em todas as direções
evangelizando (euaggelizw),
anunciando as boas novas de salvação em Cristo Jesus, anunciando a Palavra de
Deus finalmente encarnada (logoj – Jo 1.1).
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II. CARACTERÍSTICA
DA FÉ EM CRISTO: ANÚNCIO DO GRANDE SALVADOR PRODUZINDO GRANDE SALVAÇÃO
5 Filipe, descendo à cidade de
Samaria, anunciava-lhes a Cristo. 6
As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo
os sinais que ele operava. 7 Pois
os espíritos imundos de muitos possessos saíam gritando em alta voz; e muitos
paralíticos e coxos foram curados.
8 E houve grande alegria naquela cidade.
Mesmo com a permanência dos
apóstolos em Jerusalém a Igreja não ficou limitada àqueles que se dedicariam
mais amiúde à Palavra (At 6:4). A
multidão de testemunhas ia por toda a parte, e Filipe, também diácono como
Estêvão, desce à cidade de Samaria e anuncia publicamente, como um arauto de um
rei que está às portas, que Cristo é o Messias, o filho de Deus (Jo 20.31). É provável que o nome de
Cristo não fosse estranho aos samaritanos, especialmente depois do encontro com
a mulher samaritana e outras pessoas (Jo
4.41-42). Só poderia haver salvos em Samaria com a pregação do evangelho –
e era isto o que Filipe estava disposto a fazer.
Com a pregação os resultados
começam a aparecer. Filipe não escolhia auditório, como um arauto não escolhe
público – ele anuncia indistintamente a todos. E foi assim em Samaria – as
multidões, um amontado de pessoas não previamente selecionadas prestaram
atenção (prosexw), dedicaram todos a sua mente (omoqumadon) ao que Filipe dizia, ouvindo, entenderam (akouw) a mensagem, que era comprovada pelos sinais
extraordinários que eles (blepw). Os
samaritanos não tinham outra opção a não ser acreditar nos fatos incomuns que
ocorriam diante de seus olhos.
Os samaritanos creram por
causa do poder de Deus sendo derramado em seu meio. Como duvidar a existência
de um poder a impulsionar Filipe se eles podiam constatar que até mesmo os
espíritos imundos se submetiam, enfurecidos, gritando (boaw fwnh) e desorientados (ezerxomai) abandonavam àqueles a quem vinham mantendo
escravizados; paralíticos (paraluw)
eram curados e muitos mutilados foram curados completamente. É por isso que a
segunda palavra chave para entender este texto é acontecimento, feitos, fatos (ginomai).
Era inevitável que como
resultado da libertação de possessos, com a cura de paralíticos e coxos
houvesse grande (megaj)
alegria naquela cidade. Eles tinham parentes, tinham amigos, e certamente
muitos se alegravam no coração e expressavam esta alegria (xara) ao verem seus familiares curados. A cidade rejubila
por ver que Deus está agindo em seu meio, que eles não seriam mais rejeitados e
poderiam adorar ao Deus vivo e verdadeiro com liberdade e espiritualidade.
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9-13 …..
III.
CARACTERÍSTICA DA FÉ EM CRISTO: A VERDADE PRODUZ GRANDES EFEITOS
ABANDONO DO ERRO
9 Ora, havia certo homem, chamado
Simão, que ali praticava a mágica, iludindo o povo de Samaria, insinuando ser
ele grande vulto; 10 ao
qual todos davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: Este homem é o poder de
Deus, chamado o Grande Poder. 11
Aderiam a ele porque havia muito os iludira com mágicas. 12 Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os
evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo
batizados, assim homens como mulheres.
13 O próprio Simão abraçou a fé; e, tendo sido batizado, acompanhava
a Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres
praticados.
Em contraste com os fatos
reais (ginomai) que ocorriam no ministério evangelístico de Filipe
havia na região um homem chamado Simão, tido como alguém digno de grande (megaj) consideração mas que, apenas, enganava (ecisthmi) o povo com magia e exaltava a si mesmo. Enquanto
Filipe anunciava a palavra (logoj) ele
falava de sua pretensa grandeza (legw).
Como as pessoas que seguiram
a Teudas (At 5:36) e a outros
líderes, também o povo de Samaria se prestava atenção e seguia (prosexw), não importando a idade ou posição social (mikroj kai megaj), acreditando nos embustes de Simão e pensando que
ele, realmente, possuía algum poder divino (dunamij qeou) ou, de fato, um grande (megaj) poder.
Os samaritanos seguiam a
Simão porque só tinham o engodo, a ilusão (mageia), e ele era muito eficiente (ikanoj) em iludi-los (ecisthmi).
Mas era apenas ilusionismo, não era verdadeiro poder. Simão apenas se atribuía
poder (dunamij), mas não o possuía verdadeiramente.
Porém, ao conhecerem o
evangelho, eles foram persuadidos a crer (pisteuw) que o que Filipe lhes oferecia era verdadeiro, eram boas novas de
verdade (euaggelizw) a respeito do tão aguardado reino de Deus (basileia tou qeow). Deixaram de seguir às ilusões de Simão para seguir
a verdadeira autoridade do filho de Deus, Jesus Cristo, sendo batizados,
simbolizando compromisso de vida com o Senhor da vida. Lucas não faz distinção
etária, social ou civil entre os batizados, eram simplesmente homens e mulheres
(aner kai
gunh).
Diante da veracidade e da
superioridade do evangelho o próprio Simão foi persuadido e também foi
batizado. A Escritura diz que tanto os samaritanos quanto Simão creram (pisteuw) e foram batizados (baptizw). Simão acompanhava Filipe com grande curiosidade, observando e
considerando como fora de si os sinais (shmeion e não mageia) e as
demonstrações de grande poder (megaj dunamij)
que realmente aconteciam. Ele, Simão, sabia que o que conseguia fazer para
enganar o povo era mera ilusão.
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14-17 …..
FIRMEZA NA DOUTRINA APOSTÓLICA
14 Ouvindo os apóstolos, que estavam em
Jerusalém, que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João; 15
os quais, descendo para lá, oraram por eles para que recebessem o Espírito
Santo; 16 porquanto não
havia ainda descido sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em o
nome do Senhor Jesus. 17
Então, lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo.
As boas novas logo chegam a
Jerusalém – embora os judeus não se relacionassem com os samaritanos (Jo 4:9) e até o falar com um samaritano
era motivo de estranhamento (Jo 4.27)
o fato de eles aceitarem a Palavra de Deus e esperarem a redenção em Jesus
Cristo fazia-os membros de um novo povo (Tt
2.13-14), e, como tais, deveriam conhecer a base sobre a qual este povo se
organizaria para agradar a seu novo Senhor – a doutrina dos apóstolos, por isso
Pedro e João descem à Samaria com um propósito: romper as barreiras de
nacionalidade, integrá-los ao povo santo, fazê-los plenamente aceitos neste
novo povo através da oração de maneira que eles recebessem (lambanw - passivo) o dom de Deus, o selo da promessa: o
Espírito Santo (At 2.38). É um
maravilhoso contrate porque antes eles possuíam, ou melhor, eram possuídos por
espíritos imundos, e agora, recebem o Espírito Santo.
Até aquele momento o Espírito
não havia descido – muitos haviam crido, mas o Espírito ainda não fora enviado
de cima (epipiptw). Eles viram os sinais prometidos por Jesus (Mc 16.17-18) e foram batizados tendo
Cristo como o seu Senhor (Mc 16.16),
era ele o grande poder a quem deveriam obediência daí para a frente (Mt 28.18). A presença dos apóstolos
autenticaria, perante toda a Igreja, que, de fato, também os samaritanos foram
chamados para esta nova comunidade.
No instante em que os
apóstolos colocavam as mãos sobre eles com poder, com autoridade (xeir – um hebraísmo) eles recebiam (lambanw) o Espírito Santo que, anteriormente, havia sido
derramado sobre os apóstolos (At 2.4)
e sobre a multidão em Jerusalém e, como, também, mais tarde, aconteceria com os
gentios (At 10:45).
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18-21 …..
REJEIÇÃO DE ALTERNATIVAS HUMANAS
18
Vendo, porém, Simão
que, pelo fato de imporem os apóstolos as mãos, era concedido o Espírito Santo,
ofereceu-lhes dinheiro, 19 propondo:
Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as
mãos receba o Espírito Santo. 20
Pedro, porém, lhe respondeu: O teu dinheiro seja contigo para perdição,
pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus. 21 Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o
teu coração não é reto diante de Deus.
Simão continuava observando (qoaomai). Primeiro observara os feitos de Filipe, e agora
observava cuidadosamente buscando explicações mentais (qewrew) o que acontecia com as pessoas quando os apóstolos
lhes impunham as mãos (epiqesij xeir):
eles recebiam o Espírito Santo. Os magos e ensinadores itinerantes trocavam
experiências, trocavam habilidades ou vendiam-nas a pessoas de regiões onde não
teriam competição – e um judeu podia perfeitamente ser visto como um não
competidor em Samaria, e Simão acho que os apóstolos podiam ser encaixados
nesta categoria, por isso fez uma proposta (prosferw) que, pelo seu arcabouço mental, era perfeitamente natural: dar
dinheiro (xrhma) aos apóstolos em troca da sua habilidade.
O que queria Simão? Porque
ele queria o mesmo poder dos apóstolos? Continuar a ser grande poder? Talvez.
Ser instrumento de bênçãos como Filipe e os apóstolos? É provável. Mas o fato é
que ele cometeu um grave erro porque julgou errado, suas premissas eram
erradas, suas bases estavam erradas – as suas bases anteriores, as bases da
carne, as bases mentais que havia estabelecido "antes" de abraçar a
fé.
Simão apresenta uma proposta
que seria tentadora, e na qual a Igreja caiu terrivelmente durante a idade
média, e é provável que, em muitas situações, às vezes sutis, continua caindo:
deem a mim, da mesma forma (kagw) que
vocês possuem este mesmo privilégio, este mesmo encargo (ezousia) para que eu também tenha a autoridade de impor (epitiqhmi) as mãos e as pessoas receberem o Espírito Santo.
Simão acreditava que o poder estava nos apóstolos, que eram eles quem davam o
Espírito Santo para as pessoas. Ele não entendia que o encargo dado aos
apóstolos era um ministério, um serviço – eles eram instrumentos da
manifestação do poder de Deus, e não portadores, eles mesmos, do poder.
Pedro responde a Simão que
suas moedas de prata (argurion) –
as mesmas recebidas por Judas, não eram capazes de lhe dar o que era só podia
ser recebida como uma dadiva de Deus. Ademais, Pedro e João foram escolhidos
pelo Senhor (Mc 3.13-14 –
compare com Lc 6:13). Simão não
podia comprar isso, e, acreditando que o dinheiro podia comprar tal poder, como
comprava truques de mágica, ele poderia encaminhar-se para a perdição, seu
coração poderia continuar amando as coisas deste mundo e não usufruir do amor
do pai (I Jo 2:15). O dinheiro tão
amado (I Tm 6:10) poderia se tornar
um instrumento para a sua própria destruição ele poderia caminhar para a
destruição (apwoleia), tanto nesta vida quanto eterna. O problema de
Simão, devo insistir, foi agir segundo os costumes que tinha antes de conhecer
o evangelho, de acreditar (nomizw) que
as mesmas leis que regiam suas relações com outros magos poderiam leva-lo a
adquirir para si (ktaomai) o
que só poderia ser dado (dwrea) por
Deus, era uma prerrogativa absolutamente divina.
Pedro fora chamado para o
apostolado. João também foi. Paulo o seria, mais tarde, como Barnabé e Silas.
Mas Simão não. Ele não foi chamado para o ministério apostólico. É salutar
observar que para o apostolado não há voluntariado – há chamado do Senhor. A
Simão não foi atribuída esta porção (merij). Ele não fora chamado (klhroj) para
ser ministro da Palavra (logoj). Sua
atitude revelava o seu coração e como andava o seu coração, sua espiritualidade
(kardia): ele não era reto (euquj), sua atitude era reprovável na presença (enwpion) de Deus – e isto não pode ser escondido de Deus (Pv 20.27) como não foi, por exemplo, o caso de Ananias e Safira (At 5:3).
…..
22-25 …..
IV. CARACTERÍSTICA
DA FÉ EM CRISTO: É SEMPRE UM CHAMADO AO ARREPENDIMENTO PELA EVANGELIZAÇÃO
22
Arrepende-te, pois,
da tua maldade e roga ao
Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração; 23 pois vejo que estás em fel de amargura e laço de
iniqüidade. 24 Respondendo, porém, Simão lhes pediu: Rogai vós por mim ao Senhor,
para que nada do que dissestes sobrevenha a mim. 25 Eles, porém, havendo testificado e falado a palavra
do Senhor, voltaram para Jerusalém e evangelizavam muitas aldeias dos
samaritanos.
Da mesma maneira que Pedro
denuncia a maldade do coração de Simão ele havia denunciado os atos dos judeus
em Jerusalém (At 2.36) – judeus e
samaritanos eram igualmente merecedores da ira divina, mas, também, judeus e
samaritanos eram conclamados ao arrependimento (At 2.38). A mensagem paulina também centralizava o arrependimento
como necessário (At 26:20).
Apesar de ficar conhecido
como alguém que cometeu um terrível pecado, dando origem até a um termo técnico
(simonia - nome que designa a obtenção de benefícios eclesiásticos em
decorrência de pagamentos ou recompensas (como alianças políticas) imediatas ou
futuras), Simão não parece ter cometido o pecado imperdoável, porque Pedro o
exorta a arrepender-se, isto é, mudar a intenção do seu coração (metanoew) que havia agido mal (kakia) e então passasse a desejar ardentemente (deomai) outra coisa que ele não podia obter por si mesmo, nem com dinheiro (Ef 2.8) nem com esforços (Rm 4.4-8).
Pedro exorta Simão a se
arrepender e buscar ao Senhor, não cometendo o mesmo erro de Judas de encher-se
de remorso mas não de arrependimento (Mt
27.3-5). Simão errou, seu coração o levou numa direção (epinoia) errada mas havia, ainda, oportunidade de
arrependimento se ele fosse diferente de Caim (Gn 4:7). Pedro percebeu (oraw) a amargura como de fel derramado (kolh) que tomava conta do coração, não uma simples contrariedade, mas um
profundo amargor que o prendia (sundesmoj) a
uma perceptível iniquidade (adikia). Seu
coração ainda não estava de acordo com o que Deus desejava – embora batizado,
naquele momento ele não podia adorar ao Senhor em Espírito e em verdade, como
Jesus havia dito a uma sua conterrânea (Jo
4:23).
Simão sabia a gravidade do
que havia feito. Ofender a homens era algo extremamente sério, mas ele
propusera comprar algo que Deus havia reservado para seu exclusivo beneplácito,
para demonstrar a sua bondade. Achava-se indigno de apresentar-se diante de
Deus e por isso pede que os apóstolos intercedam por ele (deomai umeij). Ele não queria sofrer a destruição eterna, não
queria sofrer esta calamidade (erew),
acreditava ser tão pecador que Deus não o ouviria (Jo 9:31).
Simão não parece impenitente,
nem aparenta ter cometido o pecado imperdoável, pois não atribuía a satanás a atuação
do Espírito Santo. Ele sabia que era o Espírito Santo – só não havia sido,
ainda, purificado de seus antigos costumes, cometeu o erro de acreditar que
podia comprar o poder que ele via ser real em Filipe e, especialmente, nos
apóstolos.
Após a descida do Espírito
Santo em Samaria, restava ainda uma porção da missão a ser cumprida. Jerusalém
já conhecia o evangelho. A Judéia já conhecia o evangelho. Samaria já havia
sido alcançada pelo evangelho. Restava "apenas" os confins da terra.
Após terem dado testemunho solene (diamarturomai) daquilo que viram e ouviram (I Jo 4:14) também aos samaritanos, pois para Deus não há distinção
alguma entre os homens (Rm 10:12) já
que todos são igualmente pecadores que só podem ser salvos pela graça de Deus
em Cristo Jesus (Rm 3:22) mediante a
pregação do evangelho (euaggelizw) como fizeram em muitas pequenas vilas (kwmh) samaritanas.
Os apóstolos não estavam
fazendo nada diferente do que deveriam realmente fazer. Foram chamados por
Jesus para pregar (Mc 3:14), foram
preparados e receberem o Espírito Santo para exercerem este ministério (At 1:8) e o anunciariam a qualquer
custo (At 5:41).
CONCLUSÃO
A pergunta que se nos impõe
é: se somos cristãos, se somos discípulos do Senhor Jesus, e se o mandato do
Senhor permanece o mesmo, como ele permanece o mesmo, e se o evangelho já tem
chegado a praticamente todos os lugares do mundo, porque evangelizar?
Evangelizar é necessário porque devemos anunciar a verdadeira fé em Cristo, a
fé em Cristo segundo as Escrituras, aquele em quem devemos crer para sermos
salvos.
As respostas são muitas:
porque ainda há enfermos, tanto física quanto espirituais. Porque ainda há
milhares de cativos do diabo, possuídos pelos demônios e carentes de
libertação. Porque ainda há pessoas que estão cheias de conceitos errôneos a
respeito de Deus e somente a verdade como pregada pelos apóstolos pode mudar
estes enganos. Porque ainda há muitos que precisam de conversão, precisam se arrepender
de seus pecados.
A pregação ainda é necessária
porque há muitos que ainda precisam invocar a Jesus como seu salvador.
A pregação ainda é necessária
porque há muitos que ainda precisam crer em Jesus como seu Senhor e salvador.
A pregação ainda é necessária
porque há muitos que ainda precisam ouvir que Jesus é o filho de Deus, Senhor e
salvador de todos os que nele creem.
A pregação é necessária
porque ainda queremos ver a cidade tomada de grande alegria, e, mesmo que a
cidade não seja, queremos que sua vida seja tomada de grande alegria, e que
haja grande júbilo no céu (Lc 15:10).