segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O SIGNIFICADO DE FIDES REFORMATA, ECCLESIA REFORMANDA

Já vimos que a expressão fides reformata era um lembrete aos cristãos de que sua doutrina deveria ser reformada de acordo com o fundamento dos apóstolos e dos profetas, isto é, de acordo com a Palavra de Deus. Qualquer expressão de fé que fugisse a este arcabouço deveria ser imediatamente lançada na sarjeta da historia. Concluímos no último texto que "Os tempos podem até mudar - mas a fé genuína é perene [Jd 1.3]".
Entretanto, apropriando-se da ilustração bíblica a respeito da Igreja como um edifício, os reformadores pensaram que a Igreja deveria estar sempre se reformando - e isto traz duas implicações.
A primeira delas é que a Igreja, embora perene, não é estática. Ela vai, com o tempo, perdendo seus membros que precisam ser repostos. É como fazemos em uma casa - com o tempo toda casa, por mais bem edificada e por melhores que sejam os materiais, vai se deteriorando e precisa de eventuais consertos.
Com a Igreja não é diferente - com o passar dos anos, décadas ou séculos ela vai perdendo pessoas que professavam a fé genuína e precisa agregar outras pessoas que expressem a mesma fé. Ao mesmo tempo a Igreja vai sofrendo assédio de ventos doutrinários, o coração de alguns tendem a uma reinterpretação das Escrituras que pode levar a uma releitura equivocada da fé e ao surgimento de movimentos heréticos e dissidentes. A isso os reformadores responderam: a igreja deve, sempre, estar se reformando sem abrir mão da fé reformada.
Um segundo elemento da ecclesia reformanda que precisa ser mencionado é o fato de que a Igreja está inserida em um contexto cultural altamente volátil - e às vezes a mesma denominação pode estar inserida em mais de um contexto cultural [que o digam os missionários e pastores que mudam-se do norte para o sul, do nordeste para o sudeste do Brasil].
Como um edifício, a Igreja também pode sofrer algumas reformas para se adaptar melhor aos novos tempos. Por exemplo, era absolutamente impensável nos dias dos reformadores pensar-se na contratação de um engenheiro elétrico quando se fosse fazer uma edificação pelo simples fato de que se desconhecia a eletricidade e tal necessidade era inexistente. Todavia, mesmo prédios datados do sec. XVI, o século dos reformadores, foram adaptados para as demandas do sec. XXI.
Provavelmente os reformadores teriam respostas bíblicas para as demandas do sec. XXI se vivessem no séc. XXI. Mas dificilmente se preocupariam com algumas situações que vivemos hoje simplesmente pelo fato de que eles não as viveram.
Nenhum deles, por exemplo, escreveu absolutamente nada sobre redes sociais, sobre aborto terapêutico, inseminação artificial, clonagem, transplante de órgãos, manipulação genética... Se o fizessem seriam tidos, em seu tempo, por loucos, e certamente comprometeriam a receptividade à sua mensagem. Mas é muito provável que tratassem do assunto se essa fosse sua realidade cultural.
Ecclesia reformanda é a Igreja do Senhor, vivendo no presente século como elemento de sanidade, de purificação, de esclarecimento, sem se deixar influenciar pelos maus costumes e desvios de uma geração que continua sendo má e adúltera.
Como a Igreja pode se reformar hoje? Mantendo-se constantemente vigilante e voltando-se sempre para o padrão das Escrituras, e, ao mesmo tempo, entendendo que não vive no séc. XVI embora professe a mesma fé. Deve a Igreja, então, rejeitar os padrões culturais, os  costumes de seu tempo que afrontem à Palavra de Deus.
É costume do nosso tempo a vida licenciosa por parte de jovens e adultos não casados? A isto a Igreja responde sobre a continência, a abstinência, a santidade e, inclusive com o casamento.
É costume do nosso tempo a dissolução do casamento quando não se consegue resolver os problemas conjugais? A isto a Escritura responde com o perdão, com o projeto divino de cuidado mútuo.
É costume do nosso tempo o desamor parental e o desrespeito filial? A isso a Escritura responde com o dever dos pais de suprirem as necessidades dos filhos, não apenas materiais, mas emocionais e espirituais, bem como exigindo dos filhos respeito e honra, sob pena de maldição e não de bênção.
Para todas as questões do nosso tempo a Escritura traz um princípio como resposta. Exemplo? O aborto terapêutico recomendado  vai ao encontro do mandamento : "não matarás". Portanto, não mate!


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

FIEL É A PALAVRA - I TM 1-5 - MENSAGEM 1

Certamente você já teve de mudar de opinião alguma vez na vida. Isso é normal porque, à medida que obtemos novas e maiores informações sobre alguma coisa somos levados a julgar segundo o melhor critério disponível. Quero apresentar dois exemplos de alimentos que são do conhecimento de todos aqui e que já foram, em algum momento, alçados à condição de vilões e depois resgatados do abismo.
O primeiro deles é o ovo. Durante séculos o ovo foi uma rica fonte de proteína para milhões de pessoas. O ovo fez parte da dieta da humanidade, fez parte da dieta de nossos pais e avós, e fez parte, sem problemas, da dieta de muito de nós como fonte de calorias barata e abundante. Mas, de repente, o ovo foi ameaçado em seu posto, foi considerado um vilão para o coração. O mundo inteiro passou a achar que o ovo fazia mal ao coração de gerações que, curiosamente, não morriam de problemas cardíacos.
O segundo destes alimentos é o café. Estimulante, cheiroso, gostoso. Também entrou na categoria de vilão, cancerígeno e causador de problemas cardíacos, entre outros. Mais de uma vez foi resgatado, defenestrado e resgatado novamente.
Não sei se a mais perfeita pesquisa da última semana considera estes alimentos vilões ou bandidos – nem pretendo me dar ao trabalho porque os cientistas, sempre cheios de saber, sempre inerrantes, logo mudarão de opinião. Mas não é só a ciência que lida com este problema de ter que mudar de ideia de tempos em tempos. A filosofia, a ética, a cultura. O certo que era certo hoje é tido como errado [veja o exemplo de pais que ousam disciplinar seus filhos] e o que era errado hoje é considerado certo, como o homossexualismo ou o relacionamento sexual pré-conjugal [embora continue sendo errado].
E os religiosos, são diferentes? Deixe-me citar apenas um exemplo: há algum tempo atrás, quando um deputado “religioso”, tão religioso que era membro de duas igrejas ao mesmo tempo, foi alçado à condição de presidente da Câmara dos Deputados Federais recebeu rasgados elogios como “homem de Deus” de um pseudopastor psicólogo que fala, fala, fala... De repente... escândalos e mais escândalos... e o mesmo pseudopastor psicólogo vendedor de bíblias de R$ 1.000,00 [isso mesmo, mil reais] se apressava em dizer que nunca apoiou tal pessoa. E a rede não perdoa... logo surgiram desmentidos...
Há igrejas que defendiam que os negros eram descendentes de Caim, e, por isso, jamais entrariam na conta dos 144.000 eleitos e proibia o casamento de negros com não negros, mas logo que começaram a crescer no sul dos Estados Unidos, entre os negros, trataram de mudar rapidamente suas opiniões.
Como escapar deste mar de dúvidas – como ter, de alguma forma, alguma certeza na vida? Como não ficar sendo, como folha ao vento, levado de um lado para o outro? Como não ser como menino arrastado por ventos de doutrina, não apenas diferentes doutrinas, mas doutrinas perniciosas [Ef 4:14]?
A resposta está na Palavra reta, fiel, imutável – a Palavra de Deus. Vamos considerar o que o Senhor nos diz através de sua Palavra e porque ela é confiável mais do que qualquer estudo científico ou opinião de especialista:
1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança, 2 a Timóteo, verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.
3 Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, 4 nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé.
5 Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia.
6 Desviando-se algumas pessoas destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, 7 pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações.
8 Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo, 9 tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, 10 impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina, 11 segundo o evangelho da glória do Deus bendito, do qual fui encarregado.
12 Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, 13 a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade. 14 Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus.
15 Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. 16 Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna.
17 Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém! 18 Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate, 19 mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé.
20 E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem.
I Tm 1.1-20

PORQUE CONFIAR NA PALAVRA DE DEUS?

1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança, 2 a Timóteo, verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.
3 Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, 4 nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé.
5 Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia.
I Tm 1.1-5
É virtualmente impossível confiar em alguém que não mantém um mínimo de coerência em suas decisões. Ninguém confiaria em uma empesa de transporte que tivesse apenas local de saída e não de chegada, isto é, cujo destino da viagem dependesse do humor, da vontade do motorista. Imagine que confuso seria tomar um ônibus com o propósito de ir para um determinado local mas sem a certeza de que o motorista o conduziria até lá, podendo ir para qualquer outro ao seu bel prazer... certamente você evitaria uma empresa assim.
Imagine você ter que fazer uma viagem que nunca fez confiado em um mapa feito aleatoriamente por alguém que nunca fez a viagem. De vez em quando temos este problema ao dirigir nos grandes centros, especialmente Goiânia, onde as ruas mudam de direção de fluxo constantemente. Volta e meia encontramos um meio fio ou uma contramão onde antes havia um retorno. E, no caso específico de Goiânia, não adianta você atualizar o iGo todo ano – o DMTU é mais rápido em criar obstáculos e complicações para os motoristas.
Queremos direcionamento em nossas viagens, queremos direcionamento em nossos estudos, queremos ter uma direção segura em todas as áreas da nossa vida. Há quem queira fazer tal direcionamento até mesmo em suas escolhas sentimentais – fazem uma verdadeira “lista de compras” antes de saber se um[a] eventual pretendente pode se tornar algo mais do que isso. Mas há uma area na nossa vida na qual o direcionamento correto é fundamental e essencial – dela não se pode abrir mão porquê de nada adianta ir bem em todas as outras áreas e fracassar nela: estou falando da sua espiritualidade [Lc 9:25].
Para que não andássemos às cegas, tateando [At 17:27] e impedidos de conhecer o que é certo por causa da inutilidade de nossos próprios pensamentos [Ef 4:17] o Senhor nos deu sua Palavra para funcionar como lâmpada que clareia onde pomos os pés, e ilumina o caminho para que não nos desviemos dele [Sl 119:105]. Porque podemos confiar nesta Palavra?

A PALAVRA DE DEUS É CONFIÁVEL POR CAUSA DE SUA ORIGEM

1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança, 2 a Timóteo, verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor. 
À pergunta: “De onde vem a bíblia”, respondida por muitos incrédulos com a acusação de ser ela o “papel que tudo aceita” perguntamos: pode um livro, escrito por mais de 40 autores, durante mais de 16 séculos, em culturas e situações bastante diversas, ser uniforme em seu conteúdo, totalmente preservado de erros e que, quando há algum problema textual este está mais relacionado à transmissão do que ao conteúdo? Apesar de inúmeros ataques à confiabilidade das Escrituras ela permanece de pé pois esta foi a promessa do seu autor [Lc 21:33passarão] pois nada que nela está registrado é expressão da vontade de homens [II Pe 1:21], mas foi determinado que fosse escrito para nossa instrução [Rm 15:4].
O autor desta carta, outrora conhecido como Saulo de Tarso, agora simplesmente Paulo, o apóstolo, afirma que o que temos em mãos foi produzido pela vontade de Deus.
Paulo escreveu a Timóteo, a quem chama de seu filho na fé, nos últimos meses de seu apostolado. Ele encontrava-se na Macedônia, provavelmente entre o primeiro e o segundo encarceramento em Roma [At 28.16-31]. Neste periodo ele e Timóteo se depararam com problemas doutrinários em Éfeso, e o mestre deixou seu pupilo ali com o propósito de corrigir as distorções que poderiam ameaçar a saúde espiritual da Igreja, como, aliás, ele havia advertido os presbíteros locais quando se reuniu com eles no porto de Mileto [At 20.17-31].
Mas o que isso tem a ver com a origem divina das Escrituras? O que isso prova sobre a origem sobrenatural das Escrituras? Tudo está relacionado com a origem do chamado de Paulo e sua identidade. Não foi por vontade pessoal, por voluntariado, que Paulo se fez apóstolo. Ele não podia ser contado entre os muitos que a si mesmo se declaram apóstolos mas não passam de mentirosos [Ap 2:2].
Seu apostolado lhe foi concedido pela vontade de Deus e não era uma busca por riqueza ou reconhecimento, pelo contrário, foi, desde o começo, um envio para sofrer por amor do nome de Cristo [At 9:16].
Paulo foi chamado por Cristo, foi separado e enviado pelo Espírito de Cristo [At 13:2-4] e comissionado para anunciar o evangelho aos gentios [At 9.1-20] e colhia os frutos por causa da atuação do Espírito.
Tanto Paulo quanto o destinatário da carta, Timóteo, eram expressão da graça de Deus. Timóteo não era filho segundo a carne, não fora chamado à comunhão por força de argumentos humanos [I Co 1:17] mas filho na fé e, juntos, usufruíam da graça de Deus, foram libertos do império das trevas [Cl 1:13] pela misericórdia de Deus e podiam usufruir de paz com Deus porque Ele próprio lhes concedeu da sua paz [Ef 2:14] por intermédio de Cristo [Cl 1:20].
Outro dos “filhos espirituais” de Paulo, Tito, também puderam compartilhar deste testemunho quanto à origem divina das Escrituras [Tt 1:3-4]. Paulo tinha convicção – e não apenas estava disposto a morrer, como efetivamente morreu, por causa desta certeza: seu evangelho era de Cristo e ele não podia fazer outra coisa senão anuncia-lo [I Co 9:16].

A PALAVRA DE DEUS É CONFIÁVEL POR CAUSA DE SUA UTILIDADE

3 Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, 4 nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé.
Porque eu e você podemos confiar na bíblia? Porque nós podemos confiar nela e chama-la de Palavra de Deus? Paulo afirma em várias de suas cartas que seu apostolado é de origem divina – assim como o apostolado de pedro, de João, de Mateus e dos demais apóstolos, pois todos foram chamados e designados para o apostolado [Ef 4:11], embora cada um a seu tempo e por modos diferentes [I Co 15:8tempo].
Paulo compreendia que seu apostolado tinha algumas características bastante específicas [At 9:15] embora não exclusivas uma vez que aos demais apóstolos também foi confiada a pregação do evangelho a todas as nações [Lc 24:45-48] expresso de maneira indubitável quando lhes ordenou que pregassem a todas as nações [Mt 28:19].
É no cumprimento desta missão que ele faz as suas famosas viagens missionárias [ver o percurso de cada uma delas e inserir aqui]. Ao fim da terceira viagem ele sabe que Deus usaria de uma nova estratégia para levar o evangelho ao centro do mundo político-econômico do séc. I: Roma – e o próprio império romano, sem saber, financiaria a sua viagem e lhe proveria a segurança necessária contra inimigos que juraram matá-lo conspirando junto com os líderes religiosos do Sinédrio [At 23:12-14], perigo que ele tinha plena consciência que corria [II Co 11:26].
Depois da prisão, aparentemente Paulo fez mais uma viagem [no que aparentemente foi acompanhado por Timóteo e Tito, deixando o primeiro em Éfeso [de modo que esta e II Tm formam um grupo de 4 cartas reveladoras do interesse de Paulo por uma mesma Igreja] e Tito em Creta, com o mesmo objetivo: fortalecer e organizar as Igrejas, mas com estratégias diferentes. Em Creta, embora o perigo dos falsos mestres já se manifestasse, o objetivo precípuo era doutrinar a Igreja e formar uma liderança capaz de conduzir o povo no correto ensino. Já em Éfeso o problema parece semelhante ao que ameaçava a Igreja colossenses: a busca de um conhecimento esotérico [Cl 2:8] e alguma forma de interesse cúltico em entidades espirituais [Cl 2:18] que era sinal de um caminho de abandono de Cristo [Cl 2:19].
A influência dos cultos pagãos também estava se fazendo sentir na Igreja – e Timóteo precisava coibir os mestres de falsidade que, copiando a idéia pagã de que famílias e cidades eram descendentes dos próprios deuses criaram históricas míticas apoiadas nas genealogias do Antigo Testamento, enredando a Igreja em disputas e controvérsias de modo que a Igreja já não se dedicava ao estudo da verdade e ia sendo desviada do que realmente importava: Jesus Cristo, o cabeça da Igreja, seu salvador.
Para deter a influência dos ensinadores de mentiras e o ensino pagão que tentava penetrar [ou já havia penetrado] na Igreja Paulo recomenda apenas um antídoto – a admoestação aos mestres da mentira de que a única coisa que deveria ser ensinada na Igreja era a verdadeira doutrina. Não havia espaço, na Igreja, para outra doutrina, por mais evoluída e racional que parecesse. A verdadeira doutrina promove união e serviço a Deus pela fé. As falsas doutrinas são fúteis, inúteis e ineficazes, mas, ao mesmo tempo, dividem a Igreja e tiram o seu vigor para, pela fé, servir a Deus. Paulo confiava no poder da Palavra da verdade contra o erro, nós confiamos no poder da Palavra da verdade contra todas as falsas doutrinas que os homens conseguem inventar, por mais bem elaboradas ou esdrúxulas que possam parecer.

A PALAVRA DE DEUS É CONFIÁVEL POR SEUS RESULTADOS

5 Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia.
Aparentemente a carta, embora endereçada a Timóteo, não era uma carta “para Timóteo” no mesmo sentido que enviamos uma correspondência hoje, como um e-mail ou uma mensagem no WhatsApp para alguém. Era uma carta para a Igreja de Éfeso, pra ser conhecida de toda a Igreja pois, após a identificação do autor e a saudação, bem como do estabelecimento do propósito [calar os mestres de falsidade] Paulo afirma que aquela carta era uma admoestação – e certamente ele não estava admoestando a Timóteo pois ele conhecia a fé que havia no coração de seu filho [II Tm 1:5].
Timóteo foi designado para resolver o problema, não era ele o problema. Certamente Paulo já havia dito a Timóteo como trabalhar para resolver aqueles problemas: manejando bem a Palavra da verdade [II Tm 2:15]. Era com esta poderosa arma do Espírito que Timóteo deveria contar, era com ela nas mãos que ele deveria lutar [II Co 10:4-5] e era com esta ferramenta que Timóteo deveria fazer calar os falsos mestres como Paulo diz a Tito em carta da mesma época e com propósito parecido [Tt 1:11].
Aparentemente todos os três propósitos imediatos e urgentes mencionados por Paulo tinham mais a ver com Deus do que com os homens, a correção inicial era para o relacionamento vertical, homem-Deus, e, corrigido este problema, os demais relacionamentos horizontais [entre os homens e com o restante da criação] também seriam encaminhados para uma solução.
Com a Palavra nas mãos Timóteo deveria conduzir a Igreja a amar, não de maneira torpe ou gananciosa como estava acontecendo com alguns, mas a amar verdadeiramente, de coração puro. Não há dúvidas sobre que tipo de amor era e é esperado dos crentes: um amor sem hipocrisia [Rm 12:9] e intenso, total, íntegro [Mc 12:33]. Este amor só é possível porque Deus amou a Igreja antes de a Igreja ser formada e poder amá-lo [I Jo 4:19].
Com a Palavra nas mãos Timóteo deveria conduzir a Igreja a uma boa consciência, isto é, uma consciência tranquila de servir ao Senhor com integridade [At 24:16] embora sabendo que, por mais reto que seja o proceder, por mais tranquila que esteja a consciência ainda há que se submeter ao julgamento de Deus [I Co 4:4] que conhece até mesmo aquilo que nós não conhecemos de nós mesmos [Sl 19:12]. Como ter, então, uma boa consciência? Confiando na justiça de Cristo e com confissão constante de pecados [I Jo 1:9] e, assim, poder viver tranquilamente diante de Deus e da criação [Tt 1:15].
Com a Palavra nas mãos Timóteo deveria conduzir a Igreja a uma fé sem hipocrisia. Até parece um contrassenso falar de fé com hipocrisia, porque fé significa considerar Cristo como Senhor, e ter sua vontade como normativa, obedecendo-lhe em tudo por amor [Jo 14:15, 21]. Entendemos que Paulo está se referindo à profissão de fé, isto é, a falar que crê mas, de fato e de verdade, apenas ter aderido a uma forma de religião – até que venha a inevitável pressão do mundo e seus cuidados [Mc 4.3-20] e, finalmente, haja o abandono da comunidade porque, na verdade, os tais nunca foram crentes de fato – eram, apenas, membros de Igreja, simpatizantes do ambiente e da doutrina e que nela permanecem apenas quando tem algum interesse pessoal satisfeito ou, também, quando percebem que seus interesses não serão satisfeitos ali [I Jo 2:19].
Estes resultados só podem ser obtidos pela Palavra – e é com esta ferramenta que Paulo e Timóteo trabalhavam porque sabiam ser ela de origem divina e capaz de alcançar os mais nobres resultados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nenhum de nós se satisfaz com meras probabilidades. Ninguém marca a data de um casamento quando a noiva responde com um “talvez” ao pedido de casamento. Ninguém sensato começa a fazer gastos à partir da possibilidade de ganhar na mega sena [e existe esta possibilidade, desde que se faça uma aposta mínima de 6 números é 1 em 50.000.000. Se o apostador tiver uns R$ 12.000,00 para apostar 15 números suas chances sobem para 1 em 10.000]. Talvez um insensato comprasse um carro, uma casa e uma fazenda contando com o prêmio. Mas você venderia uma fazenda nestas condições: “Te pago quando ganhar na loteria”?
Você investiria todos os seus recursos na compra de um mapa de um tesouro escondido se o vendedor lhe dissesse que o mapa talvez seja verdadeiro e que, mesmo que o mapa seja verdadeiro, talvez o tesouro exista? Agora, me deixe te fazer uma pergunta: você arriscaria o que você tem de mais importante, de mais valioso, isto é, o destino de sua alma por toda a eternidade? Você acreditaria em mim, e mudaria sua vida baseado no que eu lhe dissesse se eu começasse assim: “Eu não tenho certeza do que vou lhe dizer, não posso te dar certeza de que Deus existe e que este livro que vou ler é mesmo verdadeiro ou de origem divina, mas eu quero que você se comprometa, que mude sua vida, que invista seus recursos e tempo, e que se torne alguém sem certezas como eu”.
Mas não é assim – eu estou afirmando que Deus não apenas existe, mas se comunica, se revela através da Palavra fiel e, uma vez que ele tomou a inciativa de se revelar, você não pode mais dizer: “eu não sabia” [Rm 1:20]. E o que isto tem a ver com a sua vida? Esta mesma Palavra fala que ela é digna de aceitação – e sua mensagem fundamental é que Cristo veio ao mundo para salvar pecadores. E você ainda pode perguntar: o que eu tenho a ver com isso? Nada, além do fato de que és pecador [Ec 7:20].
Este livro fala do Deus que estabeleceu leis e vê suas criaturas desobedecendo-as constante e sistematicamente. Este livro fala do Deus justo que não pode deixar de disciplinar suas criaturas – e a recompensa pela desobediência, pelo pecado, já está anunciada [Rm 6:23]. Este livro fala do Deus amoroso que resolveu pagar um preço para resgatar pecadores da condenação a que merecem [Mc 10:45]. Para concluir, este livro fala do Deus que dá a salvação, a vida eterna, de maneira gratuita estabelecendo uma única exigência: que creiam em seu Filho, Jesus Cristo [Jo 3:36]. Se você não crê, posso afirmar que isso não muda nada em sua vida. Só vai haver mudança verdadeira em seu estado espiritual, no destino de sua alma e no seu estilo de vida se você crer – e obedecer [II Co 5:7].
Creia para receber a vida eterna. Viva, para dar testemunho daquele em quem você crê. Quero concluir com uma exortação da Palavra de Deus para aqueles que creem, que foram tornados povo de Deus [I Pe 2:10] zelosos de boas obras por causa da salvação que receberam:
15 ...antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, 16 fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo.
I Pe 3.15-16
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FIDES REFORMATA - A FÉ REFORMADA PELA PALAVRA


Um dos lemas que marcaram a Igreja reformada foi "Fides Reformata, Ecclesia Reformanda". Ao cunharem esta expressão em latim [era a língua literária universal do sec. XVI] eles queriam, de maneira sucinta e direta,  dizer duas coisas extremamente importantes para a profissão da sua fé em contraponto a Igreja católico-romana.

Em primeiro lugar, a expressão fides reformata traduzia o pensamento de todos os reformadores: a fé cristã precisava de uma reforma urgente, voltando aos seus fundamentos. Não propunham uma mudança pelo simples fato de acharem que seria bom mudar porque isso seria, simplesmente, trabalhoso e inútil - propunham uma mudança de um lugar errado, a idolatria institucionalizada, para a rocha perene, a Palavra de Deus [Mt 7.24].

Os reformadores julgavam necessário que a Igreja se despojasse de todos os acréscimos que havia recebido ao longo um processo de paganização que durara mais de um milênio  e retornasse à simplicidade do evangelho [por isso a expressão sola scriptura acrescida do complemento posterior tota scriptura].

Fides reformata, significa, então, o abandono do paganismo e da idolatria institucionalizada e o retorno aos padrões escriturísticos, onde toda afirmação tem que ser provada pelas Escrituras ou então ser rejeitada como indigna de credo. Isto explica a frase de Lutero em Worms, afirmando que se não fosse convencido pelas Escrituras e pela lógica de algum erro, era-lhe impossível ir contra a sua consciência.

Há alguns anos houve uma tentativa de, mediante um jogo de palavras, fazer que a Igreja assumisse como lema "fides reformanda" e não "reformata", curiosamente esta proposta foi feita utilizando-se a revista de teologia da nossa Igreja, Fides Reformata. Sua defesa era de que a fé precisa ser revista de acordo com os tempos no qual a Igreja está inserida, como se o ensino das Escrituras precisasse ser adaptado ao presente século. Entretanto, continuamos com o termo reformata porque cremos que, embora a maneira de viver em cada era possa ser revista para se adequar à cultura, entretanto, os princípios das Escrituras devem prevalecer sobre os costumes locais.

Exemplificando hipoteticamente: em uma sociedade que proibisse os homens de usar as cores verde, vermelho e amarelo, reservando-a para uso exclusivo das mulheres, nenhum cristão ousaria usar uma camiseta arco-íris. Em países onde o uso da cruz é tido como ofensivo as casas onde os crentes se reúnem trazem relevos de ramos de trigo ou uvas para que os cristãos identifiquem o seu lugar de culto.

Mas nenhuma doutrina fundamental deve ser comprometida. Mesmo onde se crê que Jesus Cristo é apenas um dos muitos profetas antigos, no caso do islamismo, os cristãos continuam anunciando a Cristo como o Filho de Deus, o único salvador dos crentes [At 4.12].

Em culturas onde Maria é colocada como co-redentora e mediadora os cristãos continuam anunciando Cristo como único redentor e mediador [I Tm 2.5].

Em culturas onde o secularismo afirma ousadamente que Deus está morto os cristãos continuam proclamando: Ele ressurgiu dos mortos e vivo está.

Em culturas que se prostram diante de pedaços de paus, ou de metais e pedras [sejam preciosos ou não], ou até de animais o cristão verdadeiro continua lembrando que o Senhor abomina tal prática [Ex 20.4] e que é grande tolice a confecção de imagens para adoração [Is 41.6-7] e não leva a nada [Os 4.12].

Os tempos podem até mudar - mas a fé genuína é perene [Jd 1.3]. 

Continua...

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