VIDA
CRISTÃ É MAIS QUE TEORIA
12 Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham
entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; 13 e que os tenhais
com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em
paz uns com os outros.
14 Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos,
consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com
todos.
15 Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui
sempre o bem entre vós e para com todos.
16 Regozijai-vos sempre.
17 Orai sem cessar.
18 Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus
para convosco.
19 Não apagueis o Espírito.
20 Não desprezeis as profecias; 21 julgai todas as coisas, retende o que
é bom; 22 abstende-vos de toda forma de mal.
1Ts 5.4-11
Conhecemos
tanto sobre a Igreja em Tessalônica que pode parecer, por um lado, cansativo
continuar falando deles, mas, por outro lado, isto significa que conhecemos tão
bem os nossos irmãos, como irmãos devem se conhecer, que nem a distância nem o
tempo foram suficientes para manter-nos distantes deles, numa comunhão que só é
possível pelo vínculo do Espírito Santo.
Sabemos
tanta coisa boa daqueles irmãos que somos até tentados a achar que eles não
tinham falhas. Mas já vimos que eles ainda precisavam de instruções, havia
dificuldades doutrinárias por falta de conhecimento, especialmente quanto à
doutrina da ressurreição dos mortos e a volta do Senhor Jesus Cristo.
Mas,
por mais que aquela fosse uma Igreja de fé operosa, de amor abnegado mais que
provado e tivesse uma esperança inabalável no Senhor Jesus Cristo, ainda havia
mais uma coisa que Paulo sabia ser necessária àquela Igreja. Ela precisava de
conselhos sobre como continuar aplicando o ensino recebido, como crescer
espiritualmente e continuar resistindo bravamente nos dias maus.
A
Igreja tinha e tem dois desafios: ser uma comunidade separada do mundo e ao
mesmo tempo se envolver no mundo para fazer diferença (Mt 5:13). Mas,
nas respostas que a Igreja deu a estes desafios ao longo do tempo houve uma
série de extremos que precisam ser evitados para que ela não erre novamente.
O
primeiro extremo foi visto no movimento monástico - uma comunidade isolada do
mundo, uma comunidade apenas fisicamente presente no mundo e envolvendo-se o
mínimo necessário com a sociedade (Cl 2:20-23); o segundo extremo foi a
tentativa de tornar-se uma entidade de tal forma mundana, para controlar a
sociedade, que chegou a possuir exércitos, territórios e seu governante terreno
era mais um general do que um religioso (Jo 18:36); uma terceira
atitude, por paradoxal que pareça, foi a busca por um equilíbrio extremo, isto
é, uma profunda atitude devocional na Igreja e um completo esquecimento de que
é cristão no seu dia-a-dia (Tg 2:14-17).
O
nosso grande desafio é saber, à luz da Palavra, como viver por modo digno de
Deus. Era isto o que Paulo queria transmitir à Igreja antes que ela estivesse
vivendo determinados problemas que invariavelmente surgem em grupos humanos,
mesmo em um organismo espiritual como é a Igreja.
COMO
LIDAR COM AS AUTORIDADES
12 Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham
entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; 13 e que os tenhais
com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em
paz uns com os outros.
1Ts 5.12
Com
a autoridade que possuía, apóstolo, fundador da Igreja, pai espiritual dos
tessalonicenses Paulo podia ordenar, determinar, exigir, exortar... Mas ele
prefere colocar-se como um irmão, o que efetivamente era, e roga, isto é, faz
um pedido, uma súplica aos seus irmãos. Era uma súplica com um aspecto curioso,
ele suplicava por algo que não receberia daqueles que seriam os grandes
beneficiados se seu pedido fosse atendido. Ele usa um termo (erwtaw) para suplicar que remete
às formalidades dos fóruns greco-romanos, uma petição feita de acordo com as
regras que não poderia ser rejeitado pelos peticionados.
Como
os crentes devem tratar com as autoridades da Igreja? Eles devem acatar, isto
é, receber com submissão, obedientemente, mas ao mesmo tempo sem qualquer
sentimento de humilhação, àqueles que Deus tem lhes dado para seu próprio bem.
Na verdade as autoridades que Deus tem dado à Igreja devem ser recebidas como
uma dádiva de Deus (Rm 13:1) - embora a Igreja tenha, também, a
responsabilidade de reconhecer os devoradores e repeli-los.
Se
autoridades ímpias devem ser reconhecidas como procedentes de Deus, muito mais
aqueles que trabalhavam para, como servos de Cristo, servirem à Igreja. Sem
fazer qualquer distinção àqueles que trabalham, presidem e admoestação são
considerados dignos do mesmo tratamento (Hb 13:17).
Considerando
a prática dos irmãos em Tessalônica Paulo roga-lhes para que tratem seus
líderes com amor - e mais uma vez precisamos lembrar que o amor requerido dos
cristãos não é apenas uma declaração verbal mas uma entrega de si mesmo para
abençoar o seu próximo, especialmente os irmãos na fé. O amor que eles deviam
dedicar aos seus líderes deveria ser considerado com o máximo de carinho,
especialmente por causa do trabalho que realizam (Hb 13:7).
A
insubmissão é uma tendência natural do coração humano, a rebeldia é uma
inclinação inquestionavelmente comum nos seres humanos, por isso a súplica de
Paulo para que a Igreja seja aquilo que ela deve ser: diferente, especialmente
porque a honra devida aos líderes não é deles própria, mas é devida ao trabalho
que realizam, como embaixadores de Cristo, enviados por ele e trabalhando em
nome dele para glória dele (Mt 10:40).
Certa
vez um pastor foi perguntado por um membro insubmisso da Igreja como ele, o
pastor, gostaria de ser tratado, se por títulos como reverendo, pastor, mestre
ou senhor. E o experiente pastor apenas respondeu: “Como um irmão, com amor
cristão e verdadeiro, e com o apreço sincero devido às autoridades que o povo
de Deus deve ter, porque é assim que a bíblia manda”.
COMO
LIDAR COM OS IRMÃOS
14 Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos,
consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com
todos. 15 Evitai que alguém retribua a
outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e para com
todos. 16 Regozijai-vos sempre. 17 Orai sem cessar. 18 Em tudo, dai graças,
porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. 19 Não apagueis
o Espírito. 20 Não desprezeis as profecias; 21 julgai todas as coisas, retende
o que é bom; 22 abstende-vos de toda forma de mal.
1Ts 5.14-22
Uma
característica que diferencia a Igreja da maioria das associações e
agrupamentos humanos é o fato de que nós somos escolhidos para nos unirmos em
alto grau de intimidade com pessoas das mais diversas origens, histórias e
estilos de vida - pessoas com as quais, de outra maneira, provavelmente jamais
nos aproximaríamos.
IRMÃOS
IMPOSTOS
Em
um clube nós escolhemos dentre os sócios com quem iremos nos relacionar e
isolamos os outros que não nos agradam e todo mundo acha isso absolutamente
natural. Em um condomínio ou vizinhança temos amigos mas também temos vizinhos
aos quais somos absolutamente indiferentes e ninguém nos condena por isto.
Até
mesmo na família isto costuma acontecer, especialmente em parentesco de segundo
grau. Tendemos a achar estranho quando é com parentes imediatos, mas à partir
dos primos este distanciamento seletivo vai acontecendo e... Tudo bem.
IRMÃOS
DESCONHECIDOS
Mas
de repente você se vê colocado em uma comunidade repleta de pessoas que você
não conhece, cujas historias de vida você não compartilhou, e de imediato você tem
que considerá-las como seus irmãos, conviver com eles mais tempo do que convive
com seus pais, com seus irmãos. Se você frequenta as reuniões de orações você
fica sabendo de detalhes de suas vidas, suas necessidades, anseios,
preocupações, sonhos, enfermidades (lamentavelmente as reuniões de orações
estão sendo substituídas grupos de WhatsApp com promessas de orações que quase
nunca são feitas realmente)... Mas também conhece suas manias, rompantes de
temperamento, irritações, falhas...
E
não pode, mais do que isto, não apenas não tem o direito de se afastar do
convívio porque foi ligado a elas pelo Espírito do Senhor (Ef 2:14-16) e
ainda tem o dever de não apenas não discriminar com base em qualquer tipo de
consideração pessoal (Tg 2:1) considerá-las como superiores a si mesmo (Fp
2:3), amando-os como Cristo amou a Igreja e buscando o bem deles mais do
que o seu próprio.
IRMÃOS
SANTOS
Paulo
considera a comunidade que forma a Igreja como composta de irmãos amados (II
Ts 2:13), eleitos de Deus, chamados para serem santos mas, mesmo entre os
santos, há aqueles que precisam de cuidados (Rm 6:19). Eu poderia dizer
que seu nome é João ou Maria, José ou Joana, Joaquim ou Francisca, Judas ou
Madalena. Na verdade, eu precisaria de uma lista de membros da Igreja para não
deixar ninguém desta Igreja de fora. Isto é assim porque ainda não somos o que
devemos ser (I Jo 3:2), ainda não nos tornamos aquilo que haveremos de nos
tornar, e por isso devemos amar aos nossos irmãos, especialmente aqueles que
trabalham em nosso meio para o nossos bem, embora todos tenham os mesmos
deveres.
IRMÃOS
INSUBMISSOS
Paulo
diz que é um dever cristão, que é uma solene obrigação admoestar os
insubmissos, os que se colocam fora das fileiras, que andam desordenadamente,
com a mente ocupada por desejos exagerados, os que não se apresentavam para
trabalhar pelo bem da sociedade ou não atentavam para os seus deveres de
cidadão e por isso precisavam ser corrigidos, terem suas mentes corrigidas de
um determinado direcionamento e modificados para uma maneira correta e adequada
de agir.
Admoestar
quer dizer colocar na mente uma disposição correta e adequada até que o coração
esteja pleno de santas disposições (II Co 10:4-6).
Nunca
é bom ou agradável tratar com os insubmissos, é sempre doloroso para todos,
especialmente para o coração do pastor, mas é sempre benéfico par a Igreja e
para o pecador que se arrepende (Lc 17:3) tendo como fruto uma santa
comunhão.
IRMÃOS
DESANIMADOS
Outra
situação que requer cuidados mútuos são os irmãos que se encontram desanimados,
o que é uma situação anormal daqueles que vivem por fé (II Co 4:8). Nem
sempre é aquilo que consideramos pecado. Sempre encontraremos pessoas
desanimadas, sem vontade, caminhando mais lentamente. Pode ser causado por uma
enfermidade pessoal ou na família, problemas no emprego ou financeiros,
depressão... É claro que existem aqueles desanimados por hábito, por falta de
firmeza na fé, por não se envolverem adequada e suficientemente na vida da
Igreja e, é claro, nunca vão se encaixar, e isto acaba gerando uma situação de
desconforto e desânimo para si próprios e para o corpo, como se fosse um dedo
deslocado.
Todos
estes devem ser consolados, no original grego com o sentido de encorajados,
incentivados, ensinados, animados por alguém que se coloca ao lado e dá o
suporte necessário para que o desanimado não caia, mas, ao mesmo tempo,
oferece-lhe direção segura para prosseguir. Se tem alguém assim que você
conhece você, como irmão que é, tem a incumbência de consolá-lo. Não espere que
outro o faça. Não diga que não sabia que isto é sua responsabilidade como irmão
(Tg 4:17). Não falhe esperando que outro faça. Faça! E chame outros para
te ajudar a fazê-lo e assim cumprireis a lei de Cristo, a lei do amor mútuo.
IRMÃOS
FRACOS
Paulo
também fala dos fracos, aqui significando aqueles que se mostram frágeis e
delicados, débeis em sua fé (Rm 14:1). Porém, amparar o fraco é, além de
unir-se a ele, apegando-se com firmeza para lhe dar o sustento e a força que
precisam para que não fraquejem. Tem também o sentido de tolerar, suportá-lo em
suas deficiências, acompanhar com atenção e longanimidade o seu processo de
desenvolvimento mais lento.
Paulo
fala de alguns que, crendo há muito tempo, já deveriam ser mestres mas nunca
saíram do leite espiritual, nunca deixavam de serem meras crianças espirituais,
recém-nascidos com síndrome de nanismo espiritual (Hb 5:12). Esta não é
uma condição normal. É um problema, segundo o apóstolo. E isto não quer dizer
que estas pessoas não sejam influentes ou bem-sucedidas socialmente, e até
mesmo dentro da comunidade - mas não amadureceram em sua fé e mostram isso de
uma série de maneiras diferentes, especialmente sendo pouco produtivas
espiritualmente e pródigas nas ações carnais.
Conhecemos
cristãos com décadas de vivência cristã mas que são incapazes de balbuciar a
razão da esperança de vida eterna que professam carregar no coração. Mas a
mesma palavra usada por Paulo também tem o sentido de opor-se frontalmente, de
impedir o avanço da fraqueza, de construir um dique de segurança para que a
fraqueza na fé, o desânimo, a falta de progresso, o raquitismo e anemia
espirituais não contaminem o restante da Igreja, como numa espécie de doença
contagiosa espiritual (Nm 5:2-3).
E
nós bem sabemos o mal que os pessimistas e débeis na fé podem causar ao povo,
como aconteceu quando os 10 espias não concordaram com a empolgação, confiança
e fé de Josué e Calebe.
LONGANIMIDADE
COM OS IRMÃOS
Tendo
que lidar com vários tipos de situações, Paulo conclui com uma orientação que
abarca toda a Igreja: ele nos diz que todos devem ser longânimos para com todos
(Pv 16:32). Se perguntarmos o que significa ser longânimo provavelmente
a maioria da Igreja apenas trocaria o termo longanimidade por paciência. Mas
longanimidade é um pouco, ou melhor, é muito mais do que isto. Em primeiro
lugar ser longânimo é não se deixar desanimar, não perder o ânimo de tratar com
os insubmissos, não deixar de consolar os desanimados, não desistir de tratar
os fracos como eles precisam ser tratados.
Longanimidade
é, também, perseverar com firmeza e bravura mesmo que os insubmissos,
desanimados e fracos causem infortúnios e aborrecimentos, sabendo que o desejo
de ajudar os outros para que progridam em sua vida espiritual pode gerar
reações de caráter pessoal, com injúrias e ofensas (Pv 19:11).
Longanimidade implica em deixar de vingar-se e aplicar a correção necessárias
no tempo e na medida certa.
Lembremos:
tanto os insubmissos, os fracos e os desanimados precisam de alguma forma de
correção, estão errando em alguma área de suas vidas e precisam crescer em sua
fé.
CONCLUSÃO
Nós
temos que entender que quando o Senhor estabeleceu a Igreja ele não nos reprogramou.
Ele nos deu uma nova natureza que deve ser cultivada, alimentada, treinada e
fortificada até que amadureça. Enquanto isto a velha natureza, o velho homem,
ainda está presente e ainda se deleita na prática das obras da carne porque a
carne é inimiga do Espírito que é a fonte de vigor da natureza espiritual que
foi gerada em nós (Gl 5:17).
Não
somos nem seremos uma Igreja perfeita e teremos que lidar uns com os outros no
corpo que Cristo estabeleceu, a sua Igreja, a sua lavoura, na qual até as ervas
daninhas se farão presentes, o seu rebanho onde lobos tentarão penetrar, o povo
no meio do qual aventureiros tentarão causar danos. Mas este não é o nosso
maior problema. Sofremos mais quando nos mordemos e nos devoramos mutuamente (Gl
5:15), como certa vez aconteceu com um cão ferido que ia roendo a carne de
sua pata à medida que esta ia necrosando.
Esta
mensagem é para que você reconheça e honre aqueles que trabalham na sua Igreja
para o seu bem. É para que você se disponha a ser da maneira que o Senhor
quiser te usar, uma benção na vida dos insubmissos, dos desanimados e dos
fracos. Você é o que? Você vai ser o que? Ferramenta de Deus ou fonte de
problemas?
Paulo
conclui com uma dupla orientação bem prática.
Em
primeiro lugar ele diz o que não fazer: você nunca deve retribuir o mal com o
mal (Pv 17:13), mas, mais do que um mero cuidado pessoal, ele diz que
esta ação cabe uniformemente a todo o povo de Deus, a cada crente em
particular. De que maneira você tem contribuído para que a Igreja não se torne
uma comunidade de pequenas vendetas, de pequenos justiçamentos e vinganças
pessoais com uma afetação de piedade chegando ao disparate de até mesmo usar o
nome de Cristo para ferir aquele que é, assim como você, corpo deste mesmo
Cristo (I Co 6:7)?
Em
segundo lugar, ao invés da prática da retribuição do mal com o mal Paulo diz
que todos devem praticar o bem mesmo diante do mal (Rm 12:21), isto é,
que o mal não deve estar presente na Igreja, que o povo de Deus, obedecendo ao
mandamento do Senhor Jesus, deve evitar o mal e praticar o bem, o amor mútuos.
Já é suficiente o ódio que o mundo tem pela Igreja - não precisamos de mais, e
não teremos mais se formos verdadeira Igreja de Cristo.
Alguém,
neste texto, é você. Outrem sou eu. Alguém, neste texto, sou eu, e outrem é
você. Alguém é cada crente no Senhor Jesus. Outrem é toda e qualquer pessoa que
cruzar seu caminho, especialmente seus irmãos em Cristo Jesus. Todos, somos
nós. Coloquemos em prática o que aprendemos e sejamos verdadeira Igreja de
Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário