segunda-feira, 6 de novembro de 2017

VIDA CRISTÃ É MAIS QUE TEORIA - I Ts 5.4-11

VIDA CRISTÃ É MAIS QUE TEORIA
12 Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; 13 e que os tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em paz uns com os outros.
14 Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos.
15 Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e para com todos.
16 Regozijai-vos sempre.
17 Orai sem cessar.
18 Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
19 Não apagueis o Espírito.
20 Não desprezeis as profecias; 21 julgai todas as coisas, retende o que é bom; 22 abstende-vos de toda forma de mal.
1Ts 5.4-11
Conhecemos tanto sobre a Igreja em Tessalônica que pode parecer, por um lado, cansativo continuar falando deles, mas, por outro lado, isto significa que conhecemos tão bem os nossos irmãos, como irmãos devem se conhecer, que nem a distância nem o tempo foram suficientes para manter-nos distantes deles, numa comunhão que só é possível pelo vínculo do Espírito Santo.
Sabemos tanta coisa boa daqueles irmãos que somos até tentados a achar que eles não tinham falhas. Mas já vimos que eles ainda precisavam de instruções, havia dificuldades doutrinárias por falta de conhecimento, especialmente quanto à doutrina da ressurreição dos mortos e a volta do Senhor Jesus Cristo.
Mas, por mais que aquela fosse uma Igreja de fé operosa, de amor abnegado mais que provado e tivesse uma esperança inabalável no Senhor Jesus Cristo, ainda havia mais uma coisa que Paulo sabia ser necessária àquela Igreja. Ela precisava de conselhos sobre como continuar aplicando o ensino recebido, como crescer espiritualmente e continuar resistindo bravamente nos dias maus.
A Igreja tinha e tem dois desafios: ser uma comunidade separada do mundo e ao mesmo tempo se envolver no mundo para fazer diferença (Mt 5:13). Mas, nas respostas que a Igreja deu a estes desafios ao longo do tempo houve uma série de extremos que precisam ser evitados para que ela não erre novamente.
O primeiro extremo foi visto no movimento monástico - uma comunidade isolada do mundo, uma comunidade apenas fisicamente presente no mundo e envolvendo-se o mínimo necessário com a sociedade (Cl 2:20-23); o segundo extremo foi a tentativa de tornar-se uma entidade de tal forma mundana, para controlar a sociedade, que chegou a possuir exércitos, territórios e seu governante terreno era mais um general do que um religioso (Jo 18:36); uma terceira atitude, por paradoxal que pareça, foi a busca por um equilíbrio extremo, isto é, uma profunda atitude devocional na Igreja e um completo esquecimento de que é cristão no seu dia-a-dia (Tg 2:14-17).
O nosso grande desafio é saber, à luz da Palavra, como viver por modo digno de Deus. Era isto o que Paulo queria transmitir à Igreja antes que ela estivesse vivendo determinados problemas que invariavelmente surgem em grupos humanos, mesmo em um organismo espiritual como é a Igreja.
COMO LIDAR COM AS AUTORIDADES
12 Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; 13 e que os tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em paz uns com os outros.
1Ts 5.12
Com a autoridade que possuía, apóstolo, fundador da Igreja, pai espiritual dos tessalonicenses Paulo podia ordenar, determinar, exigir, exortar... Mas ele prefere colocar-se como um irmão, o que efetivamente era, e roga, isto é, faz um pedido, uma súplica aos seus irmãos. Era uma súplica com um aspecto curioso, ele suplicava por algo que não receberia daqueles que seriam os grandes beneficiados se seu pedido fosse atendido. Ele usa um termo (erwtaw) para suplicar que remete às formalidades dos fóruns greco-romanos, uma petição feita de acordo com as regras que não poderia ser rejeitado pelos peticionados.
Como os crentes devem tratar com as autoridades da Igreja? Eles devem acatar, isto é, receber com submissão, obedientemente, mas ao mesmo tempo sem qualquer sentimento de humilhação, àqueles que Deus tem lhes dado para seu próprio bem. Na verdade as autoridades que Deus tem dado à Igreja devem ser recebidas como uma dádiva de Deus (Rm 13:1) - embora a Igreja tenha, também, a responsabilidade de reconhecer os devoradores e repeli-los.
Se autoridades ímpias devem ser reconhecidas como procedentes de Deus, muito mais aqueles que trabalhavam para, como servos de Cristo, servirem à Igreja. Sem fazer qualquer distinção àqueles que trabalham, presidem e admoestação são considerados dignos do mesmo tratamento (Hb 13:17).
Considerando a prática dos irmãos em Tessalônica Paulo roga-lhes para que tratem seus líderes com amor - e mais uma vez precisamos lembrar que o amor requerido dos cristãos não é apenas uma declaração verbal mas uma entrega de si mesmo para abençoar o seu próximo, especialmente os irmãos na fé. O amor que eles deviam dedicar aos seus líderes deveria ser considerado com o máximo de carinho, especialmente por causa do trabalho que realizam (Hb 13:7).
A insubmissão é uma tendência natural do coração humano, a rebeldia é uma inclinação inquestionavelmente comum nos seres humanos, por isso a súplica de Paulo para que a Igreja seja aquilo que ela deve ser: diferente, especialmente porque a honra devida aos líderes não é deles própria, mas é devida ao trabalho que realizam, como embaixadores de Cristo, enviados por ele e trabalhando em nome dele para glória dele (Mt 10:40).
Certa vez um pastor foi perguntado por um membro insubmisso da Igreja como ele, o pastor, gostaria de ser tratado, se por títulos como reverendo, pastor, mestre ou senhor. E o experiente pastor apenas respondeu: “Como um irmão, com amor cristão e verdadeiro, e com o apreço sincero devido às autoridades que o povo de Deus deve ter, porque é assim que a bíblia manda”.
COMO LIDAR COM OS IRMÃOS
14 Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos.  15 Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e para com todos. 16 Regozijai-vos sempre. 17 Orai sem cessar. 18 Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. 19 Não apagueis o Espírito. 20 Não desprezeis as profecias; 21 julgai todas as coisas, retende o que é bom; 22 abstende-vos de toda forma de mal.
1Ts 5.14-22
Uma característica que diferencia a Igreja da maioria das associações e agrupamentos humanos é o fato de que nós somos escolhidos para nos unirmos em alto grau de intimidade com pessoas das mais diversas origens, histórias e estilos de vida - pessoas com as quais, de outra maneira, provavelmente jamais nos aproximaríamos.
IRMÃOS IMPOSTOS
Em um clube nós escolhemos dentre os sócios com quem iremos nos relacionar e isolamos os outros que não nos agradam e todo mundo acha isso absolutamente natural. Em um condomínio ou vizinhança temos amigos mas também temos vizinhos aos quais somos absolutamente indiferentes e ninguém nos condena por isto.
Até mesmo na família isto costuma acontecer, especialmente em parentesco de segundo grau. Tendemos a achar estranho quando é com parentes imediatos, mas à partir dos primos este distanciamento seletivo vai acontecendo e... Tudo bem.
IRMÃOS DESCONHECIDOS
Mas de repente você se vê colocado em uma comunidade repleta de pessoas que você não conhece, cujas historias de vida você não compartilhou, e de imediato você tem que considerá-las como seus irmãos, conviver com eles mais tempo do que convive com seus pais, com seus irmãos. Se você frequenta as reuniões de orações você fica sabendo de detalhes de suas vidas, suas necessidades, anseios, preocupações, sonhos, enfermidades (lamentavelmente as reuniões de orações estão sendo substituídas grupos de WhatsApp com promessas de orações que quase nunca são feitas realmente)... Mas também conhece suas manias, rompantes de temperamento, irritações, falhas...
E não pode, mais do que isto, não apenas não tem o direito de se afastar do convívio porque foi ligado a elas pelo Espírito do Senhor (Ef 2:14-16) e ainda tem o dever de não apenas não discriminar com base em qualquer tipo de consideração pessoal (Tg 2:1) considerá-las como superiores a si mesmo (Fp 2:3), amando-os como Cristo amou a Igreja e buscando o bem deles mais do que o seu próprio.
IRMÃOS SANTOS
Paulo considera a comunidade que forma a Igreja como composta de irmãos amados (II Ts 2:13), eleitos de Deus, chamados para serem santos mas, mesmo entre os santos, há aqueles que precisam de cuidados (Rm 6:19). Eu poderia dizer que seu nome é João ou Maria, José ou Joana, Joaquim ou Francisca, Judas ou Madalena. Na verdade, eu precisaria de uma lista de membros da Igreja para não deixar ninguém desta Igreja de fora. Isto é assim porque ainda não somos o que devemos ser (I Jo 3:2), ainda não nos tornamos aquilo que haveremos de nos tornar, e por isso devemos amar aos nossos irmãos, especialmente aqueles que trabalham em nosso meio para o nossos bem, embora todos tenham os mesmos deveres.
IRMÃOS INSUBMISSOS
Paulo diz que é um dever cristão, que é uma solene obrigação admoestar os insubmissos, os que se colocam fora das fileiras, que andam desordenadamente, com a mente ocupada por desejos exagerados, os que não se apresentavam para trabalhar pelo bem da sociedade ou não atentavam para os seus deveres de cidadão e por isso precisavam ser corrigidos, terem suas mentes corrigidas de um determinado direcionamento e modificados para uma maneira correta e adequada de agir.
Admoestar quer dizer colocar na mente uma disposição correta e adequada até que o coração esteja pleno de santas disposições (II Co 10:4-6).
Nunca é bom ou agradável tratar com os insubmissos, é sempre doloroso para todos, especialmente para o coração do pastor, mas é sempre benéfico par a Igreja e para o pecador que se arrepende (Lc 17:3) tendo como fruto uma santa comunhão.
IRMÃOS DESANIMADOS
Outra situação que requer cuidados mútuos são os irmãos que se encontram desanimados, o que é uma situação anormal daqueles que vivem por fé (II Co 4:8). Nem sempre é aquilo que consideramos pecado. Sempre encontraremos pessoas desanimadas, sem vontade, caminhando mais lentamente. Pode ser causado por uma enfermidade pessoal ou na família, problemas no emprego ou financeiros, depressão... É claro que existem aqueles desanimados por hábito, por falta de firmeza na fé, por não se envolverem adequada e suficientemente na vida da Igreja e, é claro, nunca vão se encaixar, e isto acaba gerando uma situação de desconforto e desânimo para si próprios e para o corpo, como se fosse um dedo deslocado.
Todos estes devem ser consolados, no original grego com o sentido de encorajados, incentivados, ensinados, animados por alguém que se coloca ao lado e dá o suporte necessário para que o desanimado não caia, mas, ao mesmo tempo, oferece-lhe direção segura para prosseguir. Se tem alguém assim que você conhece você, como irmão que é, tem a incumbência de consolá-lo. Não espere que outro o faça. Não diga que não sabia que isto é sua responsabilidade como irmão (Tg 4:17). Não falhe esperando que outro faça. Faça! E chame outros para te ajudar a fazê-lo e assim cumprireis a lei de Cristo, a lei do amor mútuo.
IRMÃOS FRACOS
Paulo também fala dos fracos, aqui significando aqueles que se mostram frágeis e delicados, débeis em sua fé (Rm 14:1). Porém, amparar o fraco é, além de unir-se a ele, apegando-se com firmeza para lhe dar o sustento e a força que precisam para que não fraquejem. Tem também o sentido de tolerar, suportá-lo em suas deficiências, acompanhar com atenção e longanimidade o seu processo de desenvolvimento mais lento.
Paulo fala de alguns que, crendo há muito tempo, já deveriam ser mestres mas nunca saíram do leite espiritual, nunca deixavam de serem meras crianças espirituais, recém-nascidos com síndrome de nanismo espiritual (Hb 5:12). Esta não é uma condição normal. É um problema, segundo o apóstolo. E isto não quer dizer que estas pessoas não sejam influentes ou bem-sucedidas socialmente, e até mesmo dentro da comunidade - mas não amadureceram em sua fé e mostram isso de uma série de maneiras diferentes, especialmente sendo pouco produtivas espiritualmente e pródigas nas ações carnais.
Conhecemos cristãos com décadas de vivência cristã mas que são incapazes de balbuciar a razão da esperança de vida eterna que professam carregar no coração. Mas a mesma palavra usada por Paulo também tem o sentido de opor-se frontalmente, de impedir o avanço da fraqueza, de construir um dique de segurança para que a fraqueza na fé, o desânimo, a falta de progresso, o raquitismo e anemia espirituais não contaminem o restante da Igreja, como numa espécie de doença contagiosa espiritual (Nm 5:2-3).
E nós bem sabemos o mal que os pessimistas e débeis na fé podem causar ao povo, como aconteceu quando os 10 espias não concordaram com a empolgação, confiança e fé de Josué e Calebe.
LONGANIMIDADE COM OS IRMÃOS
Tendo que lidar com vários tipos de situações, Paulo conclui com uma orientação que abarca toda a Igreja: ele nos diz que todos devem ser longânimos para com todos (Pv 16:32). Se perguntarmos o que significa ser longânimo provavelmente a maioria da Igreja apenas trocaria o termo longanimidade por paciência. Mas longanimidade é um pouco, ou melhor, é muito mais do que isto. Em primeiro lugar ser longânimo é não se deixar desanimar, não perder o ânimo de tratar com os insubmissos, não deixar de consolar os desanimados, não desistir de tratar os fracos como eles precisam ser tratados.
Longanimidade é, também, perseverar com firmeza e bravura mesmo que os insubmissos, desanimados e fracos causem infortúnios e aborrecimentos, sabendo que o desejo de ajudar os outros para que progridam em sua vida espiritual pode gerar reações de caráter pessoal, com injúrias e ofensas (Pv 19:11). Longanimidade implica em deixar de vingar-se e aplicar a correção necessárias no tempo e na medida certa.
Lembremos: tanto os insubmissos, os fracos e os desanimados precisam de alguma forma de correção, estão errando em alguma área de suas vidas e precisam crescer em sua fé.
CONCLUSÃO
Nós temos que entender que quando o Senhor estabeleceu a Igreja ele não nos reprogramou. Ele nos deu uma nova natureza que deve ser cultivada, alimentada, treinada e fortificada até que amadureça. Enquanto isto a velha natureza, o velho homem, ainda está presente e ainda se deleita na prática das obras da carne porque a carne é inimiga do Espírito que é a fonte de vigor da natureza espiritual que foi gerada em nós (Gl 5:17).
Não somos nem seremos uma Igreja perfeita e teremos que lidar uns com os outros no corpo que Cristo estabeleceu, a sua Igreja, a sua lavoura, na qual até as ervas daninhas se farão presentes, o seu rebanho onde lobos tentarão penetrar, o povo no meio do qual aventureiros tentarão causar danos. Mas este não é o nosso maior problema. Sofremos mais quando nos mordemos e nos devoramos mutuamente (Gl 5:15), como certa vez aconteceu com um cão ferido que ia roendo a carne de sua pata à medida que esta ia necrosando.
Esta mensagem é para que você reconheça e honre aqueles que trabalham na sua Igreja para o seu bem. É para que você se disponha a ser da maneira que o Senhor quiser te usar, uma benção na vida dos insubmissos, dos desanimados e dos fracos. Você é o que? Você vai ser o que? Ferramenta de Deus ou fonte de problemas?
Paulo conclui com uma dupla orientação bem prática.
Em primeiro lugar ele diz o que não fazer: você nunca deve retribuir o mal com o mal (Pv 17:13), mas, mais do que um mero cuidado pessoal, ele diz que esta ação cabe uniformemente a todo o povo de Deus, a cada crente em particular. De que maneira você tem contribuído para que a Igreja não se torne uma comunidade de pequenas vendetas, de pequenos justiçamentos e vinganças pessoais com uma afetação de piedade chegando ao disparate de até mesmo usar o nome de Cristo para ferir aquele que é, assim como você, corpo deste mesmo Cristo (I Co 6:7)?
Em segundo lugar, ao invés da prática da retribuição do mal com o mal Paulo diz que todos devem praticar o bem mesmo diante do mal (Rm 12:21), isto é, que o mal não deve estar presente na Igreja, que o povo de Deus, obedecendo ao mandamento do Senhor Jesus, deve evitar o mal e praticar o bem, o amor mútuos. Já é suficiente o ódio que o mundo tem pela Igreja - não precisamos de mais, e não teremos mais se formos verdadeira Igreja de Cristo.

Alguém, neste texto, é você. Outrem sou eu. Alguém, neste texto, sou eu, e outrem é você. Alguém é cada crente no Senhor Jesus. Outrem é toda e qualquer pessoa que cruzar seu caminho, especialmente seus irmãos em Cristo Jesus. Todos, somos nós. Coloquemos em prática o que aprendemos e sejamos verdadeira Igreja de Cristo.

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