João 3.1-21
Existem
diversos motivos que levam as pessoas a irem a uma Igreja, e até mesmo a uma
tentativa de aproximação com Jesus. Nicodemos é um exemplo de homem que tinha
um genuíno interesse em Jesus.
Não é
necessário duvidar da honestidade de quem entra em uma Igreja e afirma que quer
conhecer mais sobre Jesus, ou que quer conhecer a Jesus. Jesus é, realmente, um
personagem intrigante, talvez o personagem mais intrigante, mais emblemático e
mais enigmático da história da humanidade.
Muitos
conviveram com ele e poucos compreenderam alguma coisa dele (Jo 7:12). Até mesmo
seus irmãos, que o viram crescer e cresceram junto com ele, tiveram dificuldade
para compreender suas ações, pois inicialmente não creram nele (Jo 7.5).
Ao longo dos
séculos Jesus tem sido visto como pedagogo, revolucionário, comunista ou um
simples enganador (Jo 7:12). Mas quem é Jesus, realmente, é uma intrigante pergunta cuja
resposta, mesmo depois de dois séculos, só pode ser respondida corretamente de
uma maneira: “Não sei, só sei que ele é o messias de Deus, o Salvador do
mundo”.
Antes destes
séculos se passarem, um homem quis conhecer a Jesus, e se esforçou para isso,
chegando a colocar a sua própria respeitabilidade social em risco por causa
disto, pois sabia que seus amigos não apenas não gostavam de Jesus,
desconfiavam dele (Jo 12:19) e ainda passaram a planejar matá-lo pouco
depois (Jo 5:18), intento de que não desistiriam
facilmente, mesmo sendo denunciados pelo próprio Jesus (Jo 8:40).
Seu nome é
bastante conhecido, sua história também: Nicodemos, mestre de Israel,
respeitado pelos judeus, um dos maiorais de Israel. Nicodemos tinha uma
desvantagem, naquele momento: Jesus havia acabado de se manifestar, ainda
estava no começo de seu ministério e era, sem dúvida, uma grande interrogação.
A seu favor, porém, estava o fato de que ele vivia o que nós apenas ouvimos
falar.
O que
levaria um homem culto, bem relacionado, influente e politicamente respeitável
a procurar Jesus, ainda mais da forma que procurou, de noite, buscando o abrigo
da escuridão provavelmente desejando não ser reconhecido - o que certamente lhe
causaria problemas entre seus pares do sinédrio? O que Nicodemos queria naquela
noite, quando foi procurar Jesus?
Talvez você
não tenha sequer imaginado este tipo de pergunta, e talvez você nem mesmo se
faça este tipo de pergunta? Qual a sua razão para estar aqui nesta noite? Qual
a sua razão para buscar conhecer alguma coisa mais sobre Jesus? O que você
quer, qual a sua motivação, afinal?
Nicodemos
podia estar à procura de Jesus em busca de satisfação para sua curiosidade.
Podia ter várias perguntas em mente, podia ter várias indagações, e, dadas as
circunstâncias do período que eles viviam, Nicodemos poderia fazer algumas
indagações:
MOTIVAÇÃO
POLÍTICA
Apesar do
pouco tempo de ministério Jesus já conseguira o que muitos dos fariseus mais
esforçados não conseguiam: uma multidão de seguidores. E seguidores que não se
esquivavam de mostrar a sua admiração pelo seu jeito de ser (Mt 9:36),
espantados pelos seus feitos que chamavam a atenção e causavam grande espanto (Mt 15:30) e pelo seu ensino, em uma comparação
bastante desfavorável para os escribas fariseus, que se consideravam os
maiorais da interpretação bíblica (Mc 1:22). A bíblia afirma enfaticamente e por várias
vezes que as multidões iam após ele. O que isto significava? O que estava sendo
preparado por aquele líder de pobres, de iletrados, de publicanos e pecadores?
Um
dos temores dos líderes do sinédrio israelita era que Jesus fosse mais um
revoltoso, e se questionavam se ele não seria mais um dos muitos populistas que
surgiam de tempos em tempos naquelas regiões esquecidas da Galiléia, naquele
canto esquecido do império romano, como o próprio Jesus menciona a respeito de
alguns revoltosos que se esconderam na torre de Siloé e foram esmagados quando
ela caiu (Lc 13:1-2) e mais
tarde o rabino Gamaliel lembraria quando os fariseus quiseram impedir os
apóstolos de anunciarem a ressurreição de Jesus (At 5:36-36).
Como não era
incomum os profetas se envolverem em questores sócio-políticas, é possível que
esta preocupação ocupasse a mente dos fariseus - e Nicodemos é um dentre eles.
O próprio João batista ousara denunciar o rei por seu relacionamento com a e
por isso foi mandado prender e decapitar (Mc 6:17). Os
religiosos já tinham demonstrado esta preocupação quando João Batista começou a
pregar e a batizar (Jo 1:22) e insistiram com ele para saber se ele se autoproclamava como um
tipo messiânico, como outros já surgidos (Jo 1:25).
Foi
exatamente a mesma indagação que foram apresentar ao Senhor Jesus (Lc 22:67), e quando
a multidão recebeu Jesus como o rei eles quiseram calar a multidão (Lc 19:37-39)
com medo de que os romanos achassem que eles próprios apoiavam alguma forma de
insurreição contra o império (Jo 19:21).
Mas é
evidente que Nicodemos não aborda este assunto, e pensar em motivação política
é um exercício de imaginação porque, embora ele inicie a conversa com Jesus com
outro tipo de argumento - O que você veio fazer aqui? Da parte de quem você
vem? Que tipo de autoridade você recebeu para fazer estes sinais? Você é, de
fato, alguma espécie de profeta enviado por Deus?
Digamos que
ainda hoje tem pessoas que se aproximam da Igreja com interesse
sócio-políticos. Garanto que não são os melhores nem mais recomendados motivos.
MOTIVAÇÃO
METODOLÓGICA
Como este
Jesus, sem educação formal, sem ter estudado em nenhuma das grandes escolas
rabínicas da época, consegue arrebanhar multidões desta maneira? Qual é o
segredo de seu método? Qual o segredo de sua popularidade?
Como é que
ele faz para, não buscando agradar ninguém, como Paulo mais tarde o imitaria (Gl 1:10) e até mesmo dizendo palavras duras tanto
para os líderes religiosos (Mt 23:33-34) e, estranhamente, para os seus
próprios seguidores, mesmo os mais íntimos (Jo 6:66-70),
ainda assim tenha multidões de seguidores?
Como é que
pode algo assim - como pode atitudes tão antipopulares até mesmo dentro da
própria família (Mt 12:48-49) dar
tão certo? Qual o segredo deste homem? Como ele pode conseguir tantos
seguidores que nem mesmo os maiores mestres sofistas de seus dias conseguiam?
Como ele
conseguia? Como este tal de Jesus conseguia se nem mesmo Gamaliel, o maior
mestre rabino de Israel em seus dias, conseguia? Um fenômeno como o de Jesus
era inexplicável. E a pergunta de Nicodemos poderia ser a mesma dos seus
colegas fariseus: como ele consegue que “o mundo” o siga (Jo 12:19).
Como Jesus,
sem educação formal, sem ter frequentado nenhuma escola, sem apoio político, e
até mesmo a margem do processo político, vindo de uma região desprezada (Jo 7:40-41) e ao mesmo
tempo sem laços conhecidos com os poderosos de seu tempo (Jo 7:42) e até mesmo
sem se preocupar com o fato de ter contra si o mais poderoso dentre eles (Lc 13:31-32)
podendo, inclusive, ser facilmente acusado de rebeldia contra o império quando
aceitou as homenagens populares, entrando em Jerusalém como se fora um rei dos
tempos davídicos (Mt 21:9).
Saber como Jesus fazia e
conseguir fazer igual seria um trunfo enorme para aqueles religiosos. Eles já
se esforçavam para controlar politicamente a nação de Israel, e, se tivessem
acesso aos mesmos métodos, ao que eles chamavam de truque metodológico de Jesus
(Jo 7:12)
então talvez conseguissem controlar mais facilmente os agitadiços judeus e
assim obteriam um trunfo nas suas negociações com os romanos.
Como, tendo
todas as probabilidades contra si, ele conseguia? Qual era o seu segredo? Qual
era o seu método? Como aprender com Jesus e ser tão popular como ele? Ter
multidões seguindo-o por todos os lados, ter gente disposta a fazer coisas
impossíveis bastando para isso que ele dissesse, como, por exemplo, deixar a
segurança de um barco para andar sobre águas revoltas? Qual o segredo de
controle de grupo, de domínio de multidões que Jesus porventura possuía? Muitos
teólogos e teóricos tentaram encontrar o segredo do método de Jesus, e
Nicodemos poderia ter sido apenas o primeiro deles. Mas seria esta a razão
certa para procurar Jesus, buscar ser glorificado entre os homens (Jo 12:43)?
MOTIVAÇÃO
INTELECTUAL
O que este
Jesus tem ensinado de tão especial? O que ele está ensinando e quais as
implicações deste ensino para a nação de Israel? A opinião da multidão sobre o
ensino de Jesus e o dos fariseus não era nada abonadora para os fariseus: Jesus
ensinava como quem tem autoridade (Mc 1:21-22), isto é, como quem entendia o que estava
falando.
Diferente
dos escribas e fariseus (dos quais Nicodemos fazia parte) Jesus era capaz de
ensinar o que entendia das Escrituras sem se preocupar com o que outros mestres
haviam dito ao longo dos séculos, primeiro indo além deles (Lc 6:27-28)
e chegando mesmo a ir contra o ensino já consolidado dos costumes rabínicos (Mc 5:31-32).
Nicodemos
podia querer descobrir o que este Jesus tinha de tão especial para ensinar,
pois já havia algum tempo que ninguém conseguia entender exatamente o que ele
queria dizer, desde o dia em que, ainda jovenzinho, se assentara com os
doutores da lei e os interrogava (Lc 2:46).
Nicodemos
talvez desejasse entender as parábolas que Jesus contava, parábolas que eram
proferidas diante de todo o povo mas que Jesus fazia questão de explicar em
particular (Mt 13:10-11).
Por exemplo,
como entender que tipo de reino era este que Jesus dizia ter se ele próprio não
queria ser feito rei (Jo 6:15).
Como
entender que tipo de tesouro era este que, para recebe-lo, o pretendente
deveria abrir mão de todos os outros tesouros que porventura tivesse acumulado
durante toda a sua vida, considerando estes tesouros como coisas de nenhum
valor, como mais tarde faria o apóstolo Paulo (Fp 3:8)?
Nicodemos
podia desejar ter as explicações que Jesus dava aos seus discípulos porque não
queria ficar sem entender (Mt 13:14) embora, de vez em quando, eles entendiam
com muita clareza o que Jesus estava ensinando, enfurecendo-se contra ele como
quando ele contou a parábola dos lavradores maus (Mt 21:45).
Dê uma lida
novamente nas primeiras palavras ditas por Nicodemos a Jesus no v. 2: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de
Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver
com ele. Não há
definição de assunto, não há uma pergunta, não há nenhuma inquirição específica
- parece uma saudação protocolar de uma visita institucional. Ele queria
conhecer Jesus, queria satisfazer uma curiosidade que talvez nem ele mesmo
soubesse qual era. O que temos de concreto é que ele chama Jesus, duas vezes,
de mestre e outras duas de enviado por Deus.
Será que ele
tinha consciência do que estava declarando ou era apenas uma tentativa de não
ser frontalmente antipático, usando a mesma fórmula usada por outros de seus
colegas fariseus (Mc 12:14)?
O que ele
não imaginava é que Jesus não veio para satisfazer curiosidade ou sede de
conhecimento intelectual - veio para buscar e salvar o perdido, mesmo o
religioso perdido, como Nicodemos.
CONCLUSÃO
Não sabemos
quais os pensamentos de Nicodemos. Nem sabemos quais os seus propósitos.
Sabemos, entretanto, que ele vai até Jesus às escondidas, à noite - e não é à
toa que Jesus diz-lhe no final deste capítulo que as obras dos filhos de Deus
devem ser feitas às claras, à luz do dia, e não nas trevas, onde os filhos das
trevas fazem suas obras, tramam seus ardis. Nicodemos não era discípulo de
Jesus, e por isso se escondia, com medo de ser envergonhado entre os seus
amigos por ter procurado a Jesus.
Mas uma coisa
é certa, independente do propósito do coração de Nicodemos, temos que levar em
conta o propósito do coração de Deus. Jesus veio para buscar e salvar o perdido
- e Nicodemos, apesar de profundamente religioso, apesar de respeitado entre
seus, não passava de um perdido. Perdido na casa do Pai, perdido entre os
afazeres religiosos, mas apenas um perdido, um morto-religioso que precisava
nascer de novo.
Conhecendo a
história de Nicodemos e o propósito da vinda de Jesus sou levado a considerar
uma quarta razão para Nicodemos ter ido procurar a Jesus, mesmo sem ele saber,
mesmo sem ele desejar, mesmo sem ele considerar esta hipótese, não há dúvida
que Nicodemos foi a Jesus porque o Pai o enviou (Jo 6:44). Jesus é enfático ao afirmar que ir a ele
é o resultado de uma concessão da vontade soberana de Deus (Jo 6:65) porque
é Deus quem efetua no coração do pecador, perdido, moribundo, morto mesmo o
querer e o realizar (Fp 2:13).
Esta é a
única razão realmente válida para se buscar a Jesus - o chamado de Deus ao seu
coração, mesmo que não se saiba o porque inicialmente, mas aquele que é chamado
por Deus vai a ele, busca-o e acha-o (Jr 29:13), e é bom que você o busque agora,
enquanto ainda é tempo, enquanto ele ainda se deixa encontrar (Is 55:6).
Porque você
está aqui? Em busca de informação? Curiosidade? Quer saber porque certas coisas
acontecem na vida dos cristãos ou que vantagens você pode achar? Que saber
porque os cristãos enfrentam as provações sem desistirem (2Co 4:8-9) e com a
confiança de que, no final, Deus fará com que tudo resulte em benção para seu
povo e glória para si mesmo (Rm 8:28). Esta é uma pergunta importante. Mas mais
importante ainda é: como você vai sair daqui? Curiosidade satisfeita ou salvo
pela fé, por crer no Senhor Jesus e entregar sua vida àquele que conhece o seu
coração?
Nenhum comentário:
Postar um comentário