sábado, 29 de setembro de 2018

UMA VISITINHA NÃO É SUFICIENTE [Jo 3.1-21]

PORQUE UMA VISITA A JESUS NÃO É SUFICIENTE PARA SATISFAZER SUA MAIS URGENTE NECESSIDADE

Anteriormente olhamos para este texto e nos perguntamos: quais as possíveis motivações de Nicodemos para se aproximar de Jesus? Estaria ele interessado em conhecer suas motivações políticas, ou então se inteirar dos métodos que ele usava para atrair a si as multidões, ou, ainda, meramente curioso para saber o que aquele estranho rabino, vindo da Galiléia, sem estudos formais, estava ensinando já que sua fama de grande professor se alastrava, e todos diziam que ele era muito mais capaz do que os escribas conhecidos.
Concluímos que é virtualmente impossível saber o que se passava no coração de Nicodemos. Mas uma coisa é certa - ele teve seu coração despertado para um encontro com Jesus, e sabemos que é Deus quem inclina o coração dos homens segundo o Seu querer (Fp 2:13), e Ele faz isso mesmo com o homem que se julgue mais independente e poderoso da mesma maneira que um humilde lavrador muda o curso de um pequeno córrego (Pv 21:1).
Outra coisa certa a respeito de Nicodemos é que, quando foi a Jesus, ele não desejava nenhuma forma de compromisso com Jesus - fosse qual fosse o seu propósito, é provável que pouca coisa além de curiosidade o movesse. Ele vai procurar Jesus à noite, às escondidas, sem querer comprometer sua respeitabilidade junto aos demais religiosos - podemos dizer que ele era um homem cioso de sua ‘boa fama’ entre os judeus. Talvez não quisesse ser confundido com seus seguidores posteriormente, se as motivações de Jesus fossem políticas. Também não queria ser contado como alguém que queria aprender métodos populistas com o popular mestre galileu. E seria inadmissível que ele, um mestre em Israel, se sujeitasse a aprender teologia com Jesus.
Como já foi dito, de tudo isto, há algo muito maior a ser levado em conta: o proposito que estava no coração de Deus ao inclinar o de Nicodemos para ir a Jesus é muito mais relevante, aliás, é o que há de mais relevante para considerarmos nesta ocasião.
Como Nicodemos foi a Jesus, você está aqui neste momento. Você teve suas motivações, e, da mesma maneira que não consigo saber as motivações de Nicodemos, também sou incapaz de conhecer as suas, mas o fato é que o mesmo que impulsionou Nicodemos até Jesus impulsionou você até este lugar, para ouvir sobre o meio de Deus para salvação dos pecadores, mesmo que, como Nicodemos, não haja consciência desta necessidade. Nicodemos era profundamente religioso, respeitado entre os líderes de seu povo, mas era um homem sem Deus, perdido, frequentador do templo, leitor das Escrituras, provavelmente dizimista e ofertante, líder religioso, mas apenas um perdido - e como Nicodemos foi instruído por Jesus, também vamos ser instruídos sobre três verdades inquestionavelmente ensinadas nas Escrituras: o conhecimento que Deus tem do nosso coração, como ele nos vê e qual a nossa necessidade mais urgente, mais fundamental, mais essencial.
Nicodemos foi a Jesus porque o Pai o enviou (Jo 6:4) como expressão de sua bondosa e soberana vontade  (Jo 6:65).


DEUS CONHECE O SEU CORAÇÃO
Quando alguém é perguntado sobre o motivo para estar em uma Igreja, em qualquer dia da semana, quando poderia estar em lugares que certamente satisfariam mais facilmente os desejos normais do coração de qualquer ser humano, pode-se obter uma série de respostas, e todas válidas, tais como convite de um amigo ou familiar, acompanhar pais ou cônjuges, prazer em ouvir uma prédica ou a música, desejo de ter boa companhia por estar em uma cidade onde não se tem familiares, curiosidade, desejo de estar perto de alguém de quem se gosta, e muitos outros. Há desejos malignos também, como aconteceu há alguns anos em uma Igreja que pastoreei quando um homem foi à Igreja com o objetivo de estudar a possibilidade de voltar mais tarde e roubar o equipamento de som.
Mas uma coisa é certa: seja qual for o intento do seu coração, seja qual for os seus desígnios e pensamentos, aquele a quem Nicodemos foi visitar naquela noite há quase 20 séculos conhecia o coração de seu visitante (Lc 5:22) como Deus conhece o coração de cada um de nós aqui nesta ocasião, mesmo que achemos que Deus está longe ou não tem interesse no que pensamos (Sl 139:2).
Não importa como você se apresente, nem como você se vista - Deus conhecia Nicodemos exatamente como ele era, e conhece você exatamente como você é - sem adornos, sem maquiagens, sem as máscaras da religiosidade, da civilidade, da camaradagem, do bom humor ou do politicamente correto.
Quando Nicodemos chegou a Jesus ele sabia exatamente o que aquele homem carregava em seu coração. Nicodemos era orgulhoso de sua condição de líder espiritual de Israel. Era influente, sua palavra era ouvida mesmo nos concílios mais elevados da nação, era membro do sinédrio, uma assembléia religiosa com 70 membros, além do seu presidente, o sumo-sacerdote. Eles governavam e julgavam os judeus de acordo com a maneira que interpretavam as leis mosaicas. Nos dias de Jesus os judeus estavam sob o jugo romano e o sinédrio tinha autoridade para julgarem apenas crimes que envolviam a quebra das tradições religiosas - mas como quase estava previsto na lei mosaica, tinham controle sobre quase todos os aspectos da vida do povo, mas sem autonomia para aplicar certos dispositivos da lei, como a pena de morte.
Ser membro do sinédrio era motivo de grande orgulho, e o apóstolo Paulo fala sobre a dificuldade causada pelo orgulho religioso como impedimento para alguém se tornar um discipulo de Cristo (Gl 1:14), devendo ser prontamente abandonado por aquele que conhece a Jesus e quer segui-lo (Fp 3:8).
Aquele conhecimento das tradições e zelo religioso que Nicodemos possuía é descrito por Isaías como mandamentos adquiridos maquinalmente (Is 29:13), obedecidos rigorosamente, mas sem envolvimento sincero do coração (Mt 15:8) e Paulo classifica como inútil por se tratar de um zelo sem o devido conhecimento relacional (Rm 10:2).

Jesus conhecia o coração de Nicodemos, sabia porque ele fora ali e não o deixaria sair antes que a necessidade de seu coração fosse satisfeita. Mas antes disso precisamos entender como Jesus via Nicodemos.

COMO DEUS JULGA O CORAÇÃO
A saudação protocolar de Nicodemos não obtém a resposta usual entre os religiosos. Acreditamos que Jesus não era grosseiro ou mal educado, mas em momento algum Jesus foi ‘politicamente correto’. É um grande absurdo afirmar que Jesus fazia como os líderes modernos que são ensinados em cursos de coaching a elogiar em público e corrigir em particular. Jesus fazia exatamente a mesma coisa em qualquer ambiente - elogiava publicamente como fez com Pedro (Mt 16:17) ou com Natanael (Jo 1:47)  e repreendia com veemência, também publicamente (Mc 8:33).
Nicodemos falou a verdade assim como Pedro disse ao admitir que Jesus era o Cristo, o filho de Deus (Mt 16:16): Jesus era Mestre, Jesus havia vindo da parte de Deus (Jo 5:36-37) e fazia os sinais que deixavam todos maravilhados porque o Senhor era com ele (Lc 5:17) mas Jesus sabia o que se passava no coração daquele orgulhoso mestre de Israel e sua confiança no que ele era.
Mas, outra coisa que Jesus também sabia era quem era realmente Nicodemos. Mesmo sendo um mestre religioso não o conhecia como o Messias, admitindo, no máximo, que ele fosse algo parecido com um profeta. João havia dito aos companheiros de Nicodemos que depois dele o Senhor viria (Jo 1:23) mas Nicodemos ainda não o reconhecia como o messias, o Filho de Deus.
Mesmo sendo mestre religioso Nicodemos possuía um coração como o de qualquer outro homem não convertido, por melhor que parecesse aos seus olhos (Jr 17:9).  Sem medo de desagradar Jesus diz a Nicodemos que ele não está apto a ver as coisas do reino do céu - literalmente, ele continua sendo um perdido, um mundano, mesmo com toda a sua religiosidade.
Nicodemos ainda não fizera como Davi, orando ao Senhor para sondar seu coração e corrigi-lo (Sl 139:23) e, por isso, ainda era contado entre aqueles para quem Jesus veio mas ainda não o haviam recebido (Jo 1:11).
Por ainda não ter saído desta atitude de rejeição ainda era um filho da ira, ainda não tinha sido feito filho de Deus porque esta dádiva é dada exclusivamente àqueles que creem no seu nome (Jo 1:12). Mesmo apresentando-se como líder espiritual, sua liderança entre Israel era a de um cego guiando cegos, de um morto cuidando de mortos (Mt 15:14)  todos em direção ao abismo.
Por mais paradoxal que pareça, quanto mais fiel fosse à sua tradição religiosa, quanto mais religioso fosse, quanto mais devoto se mostrasse, mais sinais de morte Nicodemos apresentaria, como foi, aliás, com o apóstolo Paulo (At 9:1). É como estar na direção errada - quanto mais você acelera mais longe você fica do lugar correto. Jesus sabia que Nicodemos era apenas isto: um mestre religioso, mas ao mesmo tempo um morto espiritual. Ele não tinha vida em si mesmo, não tinha recebido a vida que só pode ser encontrada em Jesus (Jo 10:28).

DEUS SATISFAZ SUA VERDADEIRA NECESSIDADE
É provável que nem mesmo Nicodemos soubesse a sua verdadeira necessidade ao ir ao encontro de Jesus. Ele era apenas um homem natural, e um homem natural não entende as coisas espirituais - ele não compreendia porque uma necessidade espiritual só pode ser discernida espiritualmente (1Co 2:14) e o homem natural, morto em seus pecados (Cl 2:13) é incapaz de ter sensibilidade em relação às coisas de Deus, não pode nem cogitar delas.
É esta incapacidade de entendimento espiritual que explica a aparente mudança de atitude de Nicodemos - se no primeiro momento ele parece respeitoso, no segundo ele parece irônico, como se duvidasse da sabedoria ou da sanidade de Jesus (Jo 3:4). O que Jesus disse a Nicodemos pareceu loucura, e é por considerar a fala de Jesus estranha demais que ele retruca tolamente.
Nicodemos, mesmo que desejasse, não precisava de estratégias ou conhecimento teológico, ou de boa companhia, ou de satisfação para curiosidades intelectuais. Talvez ele desejasse estas coisas ou nenhuma delas. Mas não era o que ele precisava. Talvez seus desejos sejam lícitos, ou inconfessáveis, mas é possível que não seja o que você realmente precisa.
Nicodemos tinha compromissos assumidos com seus companheiros (muitos deles eram, no mínimo, seus adversários mas provavelmente eram tambem seus inimigos, pois os fariseus e saduceus, que compunham o sinédrio, viviam em intermináveis debates e disputas) e não queria que sequer supusessem que ele queria algum tipo de compromisso com Jesus, o profeta de uma região desprezada como Nazaré (Jo 1:46).
O que fica claro da resposta de Jesus a Nicodemos é que o visitante era apenas um homem carnal, que entendia das coisas terrenas o quanto lhe era possível entender, que até entendia dos livros sagrados mas sem nenhum entendimento espiritual. Toda a nulidade da vida religiosa de Nicodemos é colocada, diante dele, por Jesus, em uma única expressão: “você ainda não viu nada a respeito do reino dos céus”.
Nicodemos é carnal, nascido da carne, tão limitado que nem das coisas terrenas tinha o entendimento necessário, e, se quisesse realmente ver o reino dos céus não seria com frases de efeito que conseguiria. Ele tinha que nascer de novo. Teria que considerar sua experiencia religiosa como um fardo, um peso, algo a ser lançado fora sem qualquer pretensão de reciclagem (Fp 3:8).
Nicodemos recebeu de Jesus o que não esperava - seus olhos foram abertos para a necessidade de enxergar uma nova realidade, que lhe fugia à percepção: ele precisava nascer de novo, precisava nascer espiritualmente, ser renovado, restaurado, recriado e isto ele não conseguiria na sua vida religiosa. Ele precisava de mais: ele precisava crer em Jesus (Jo 3:12) e Jesus lhe diz isso de maneira direta porque, sem crer em Jesus ele continuaria sendo contado entre os que, embora destinatários da presença do  messias, o rejeitaram (Jo 1:11).
Seja qual tenha sido a motivação de Nicodemos, ele recebeu mais do que esperava, mais do que desejava e somente o que precisava - e mais tarde isto seria a razão de sua salvação e de alegria nos céus porque alguém que se imaginava justo (a clássica frase: “Não mato, não roubo, não faço o mal a ninguém) reconheceu-se pecador (Lc 15:7).

CONCLUSÃO
Seja qual tenha sido a sua motivação para vir a este lugar nesta ocasião você veio porque Deus queria que, como Nicodemos ouviu, você também ouvisse sobre a necessidade de não confiar na sua tradição religiosa, nem no status que adquiriu na sociedade ao longo de uma vida de estudos e trabalhos porque isto pode ser - e realmente é - muito bom para as necessidades terrenas, mas não resolve a sua principal necessidade: a salvação de sua alma, a sua salvação, a vida eterna em lugar da morte eterna no inferno.
E para isto você precisa nascer de novo. Para isto você precisa crer em Jesus como seu Senhor e salvador, única maneira de entrar no reino eterno (2Pe 1:11). Para isto você não tem outra escolha a não ser a de se entregar a ele e reconhece-lo como seu Deus, seu rei, seu único dono, em tudo quanto intentar fazer (Pv 3:5) e em tudo que for executar (Pv 16:3).
E para isto você precisa invocá-lo agora, enquanto é tempo (Is 55:6) porque chegará um tempo que, não fazendo-o agora, no momento oportuno (2Co 6:2) será tarde demais para você (Pv 1:28).

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