domingo, 26 de maio de 2024

A DIFERENÇA ENTRE SER UM SEGUIDOR E SER UM DISCÍPULO DE JESUS - Mt 5.13-16

 O QUE SIGNIFICA SER DISCÍPULO DO SENHOR JESUS?

É bastante provável que você já tenha lido as palavras de Jesus, registradas pelo evangelista Mateus no capítulo 5, logo depois de Jesus explicar o que são as pessoas verdadeiramente bem-aventuradas, segundo padrão do reino de Deus.

13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. 16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.

Mt 5.13-16

Você já se perguntou: “o que significa ser discípulo de Jesus Cristo”? Qual o conceito de discipulado que nós temos? O que você acha que significa ser discípulo de Jesus Cristo hoje?

Nosso contexto atual é de desprezo pela figura do professor, do mestre (que na maioria das vezes, quando bem-visto, é tido como um apresentador de conhecimentos que os alunos aprenderão se quiserem e como quiserem). Isto faz com que nós tenhamos uma visão extremamente equivocada do que seja o discipulado cristão.

Antes de analisarmos o que Jesus disse nos versos 13 a 16 do capítulo 5 do evangelho de Mateus, devemos recordar o que ele disse antes: que os cristãos são realmente felizes quando sofrerem todo tipo de injustiça por serem como seu mestre e almejarem as coisas do reino.

Isto quer dizer que é impossível ter uma mente mundana, um comportamento mundano, e ao mesmo tempo ser bem-aventurado como Jesus descreve – e é claro que não é muito comum encontrarmos pessoas que se sentem felizes quando sofrem sem merecer.

O que Jesus disse faz um enorme contraste com os principais desejos de grande parte dos cristãos do séc. XXI.

Devemos nos perguntar: “será que todos os cristãos desta era seriam realmente reconhecidos como discípulos por Jesus”? Ou seriam categorizados como meros seguidores? E qual a diferença entre um e outro? Existe diferença entre ser um discípulo e ser um seguidor?

Um pouco mais à frente vamos analisar o que significa, realmente, ser discípulo do Senhor Jesus, mas, por enquanto, é necessário apresentar uma definição do que não é ser discípulo, ou, dizendo de outra maneira, o que é ser um mero seguidor embora, é claro, Jesus tenha chamado homens e mulheres para seguirem-no (Lc 18:22 Ouvindo-o Jesus, disse-lhe: Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me) mas este ato implica num compromisso muito sério e definitivo (Lc 14:33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo).

I.           O SEGUIDOR QUER SATISFAZER SEUS INTERESSES

A bíblia diz repetidamente que as multidões seguiam a Jesus – e isto não é nenhuma novidade para nós. Multidões seguem qualquer um que lhes dê algum tipo de esperança – mesmo que muitas vezes estas esperanças sejam mentirosas, como aconteceu com as multidões que seguiram a Teudas e a Judas da Galiléia (At 5.35-36: Porque, antes destes dias, se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada. Depois desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos).

A Palavra de Deus traz uma informação importante aqui: os seguidores de Teudas, e do galileu Judas restavam obediência a estes homens, a ponto de arriscarem suas vidas (e propriedades, e famílias) enfrentando o poderoso império romano. Mas aqui também aparece uma segunda característica, mais marcante e definitiva nestes seguidores: eles automaticamente se dispersaram quando deixou de ser conveniente seguir a seus líderes porque seriam caçados, presos e mortos por isso, bem diferente do que se espera dos discípulos de Jesus (Ap 2:10 Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida).

O meu conceito de seguidor é de alguém que atende a conveniências pessoais, emocionais, ideológicas ou filosóficas – mas sempre circunstancialmente, sempre por interesse, sempre por conveniência. Seguidores podem se dispersar tanto quando estas conveniências são satisfeitas (ou quando percebe que permanecerão insatisfeitas). Quem que segue a Jesus por dinheiro vai deixá-lo tão logo esteja satisfeito. Quem anda após Jesus por cura de relacionamentos vai desaparecer tão logo seus relacionamentos pareçam curados - ou o contrário, pois também o deixarão em caso de insatisfação. Isto explica o grande número de desigrejados.

Jesus sabia que havia este tipo de pessoas que iam após ele por causa dos pães, dos milagres, das curas (Jo 6:26 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. 27 Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo).

Mas quando estes homens foram confrontados com as exigências mais profundas do discipulado (como, por exemplo, renúncia da própria vida), todos os seguidores se dispersaram, todos os abandonaram – apesar de não sabemos quantos podemos considerar que deveriam ser um número considerável a ponto de Jesus poder escolher e enviar 70 em uma missão evangelística (Lc 10.1 Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar onde ele estava para ir).

Ficaram apenas os doze discípulos iniciais, a quem Jesus perguntou se também não queriam ir embora (Jo 6.66-67 À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos?).

Eles compreenderam que o preço do discipulado não era seguir, era ser. Eles responderam à pergunta de Jesus (retirar-se para algum lugar) com outra pergunta que demonstrava que estavam pelo menos começando a entender o que era ser discípulo de Jesus: para um discípulo de Jesus não há para onde ir, é impossível fugir ao chamado de estar em Cristo, estar com Cristo (Jo 6.68-69: Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus). Quem realmente conhece Jesus sabe que não há como escolher ir para outro lugar - resta apenas atender e estar com Cristo e em Cristo (Rm 6.3: Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?).

O que significa, então, ser discípulo de Jesus?

II.        O DISCÍPULO SEGUE A JESUS NO MUNDO

A primeira coisa que me chama a atenção é que o Senhor nos chama para sermos seus discípulos no mundo (Jo 17:15 Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal). Fomos chamados para sermos discípulos no mundo real, não num mundo ideal, não numa Crentópolis ou Jesusolândia, mas no mundo, no tempo presente, jaz no maligno (1Jo 5.19: Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno).

Jesus também não promete superpoderes para seus discípulos, para que eles sejam supercrentes derrotando todos os poderes do mundo, pelo contrário, ele envia seus discípulos como mansos cordeiros para o meio de lobos (Lc 10.3: Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos).

Como já vimos (Jo 17.15), ele nem mesmo tem o propósito de nos tirar do mundo, pois, se ele nos tirasse do mundo, como poderíamos testemunhar a respeito da salvação? Se ele tivesse tirado seus discípulos do mundo no Séc. I não haveria quem anunciasse a salvação nos dias de hoje – e certamente cada um de nós permaneceríamos mortos em pecados.

É óbvio que Jesus poderia ter, se quisesse, inaugurado um reino terreno - mas ele mesmo afirma que seu reino não é deste mundo – material e espiritualmente falando (Jo 18.36: Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui), e não é deste mundo do ponto de vista político e ideológico, isto é, não é terreno nem mesmo de acordo com o sistema de valores que impera entre os homens (Lc 22.25: Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores).

Ser discípulo é, entre outras coisas, espelhar Jesus, é ter a mente de Cristo (1Co 2.16: Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo), o que significa interpretar os estímulos e reagir ao mundo de acordo com os ensinamentos do mestre - ainda que muitas vezes seja com prejuízo pessoal, com dor e sofrimento, pois segundo Jesus estes são os realmente bem-aventurados (Mt 5:11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós).

Creio que algo está errado com o nosso seguir a Jesus. Na verdade, creio que tem algo terrivelmente errado com a maneira como a igreja tem seguido a Jesus – e a resposta talvez seja justamente no fato de que não tem havido discipulado. Tem algo tremendamente errado com o nosso discipulado quando o resultado do nosso estilo de vida gera aplausos e não o ódio do mundo – e, sim, o mundo odeia a igreja de Cristo, o mundo odeia os crentes, mas ele só odeia a verdadeira igreja, só odeia o verdadeiro crente (Jo 15:19 Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia).

Daqui vamos à segunda característica do que seja ser discípulo do Senhor Jesus:

III.      O DISCÍPULO CAUSA DESCONFORTO AO MUNDO

Jesus fala de duas figuras para descrever o que significa ser seu discípulo.

A primeira delas é ser sal em contato com a terra – obviamente estamos falando de sentidos figurados. Se o sal é a natureza do cristão (e o sal indica, entre outras coisas, pureza e efetividade) a terra aponta para a queda, para o que é impuro, para a morte reinante entre os homens (Ef 2.5 ...e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos).

Os crentes não são alienígenas e muito menos devem ser um monte de alienados, mas discípulos servindo a Cristo naquilo em que foram chamados (1Co 7.21: Foste chamado, sendo escravo? Não te preocupes com isso; mas, se ainda podes tornar-te livre, aproveita a oportunidade).

A segunda figura usada pelo Senhor é a de luz que é acesa nas trevas. Um dos discípulos de Jesus entendeu claramente este contraste entre luz e trevas, e, interpretando corretamente as palavras de Jesus (Jo 8.12: De novo, lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida) afirma que o mundo vivia em densas trevas, mas Cristo nelas resplandeceu e prevaleceu contra as trevas de maneira que ninguém pode questionar (Jo 1.5: A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela).

O problema é que a grande maioria dos homens ama as trevas, gosta das trevas e prefere fazer suas obras más escondidos pelas trevas (Jo 3.19: O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más) – e quanto mais densas forem as trevas, quanto maior a escuridão mais à vontade ficarão com suas obras pecaminosas como ratos nos subterrâneos das cidades (Mt 6:23 ...se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!)

Os cristãos são chamados para atenderem ao chamado do Senhor, e, obedientemente, serem como sal, influenciando positivamente, dando sabor agradável, produzindo preservação. São chamados para serem como luz, esclarecendo as coisas, afastando as trevas e refletindo a luz da salvação de Cristo, mostrando ao mundo que existe um salvador: Jesus, o Cristo de Deus. É para isso que somos discipulados pelo Senhor: para sermos suas testemunhas (Is 43.12: Eu anunciei salvação, realizei-a e a fiz ouvir; deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR; eu sou Deus).

IV.      O DISCÍPULO É EFICIENTE NA MISSÃO

Não pense em missões apenas no sentido de trabalho missionário evangelístico por parte de certos crentes que parecem mais consagrados que os demais – os que vão estão respondendo a um chamado de ir até outras nações, mas há crentes tão consagrados e obedientes que ficam e são testemunha em sua própria terra (Lc 8:39 Volta para casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti. Então, foi ele anunciando por toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito).

Não é nisto que estou pensando nem era este o propósito do Senhor Jesus. Seu mandato aos discípulos é que eles deveriam pregar o evangelho por todos os lugares por onde passassem (Mc 16.15: E disse-lhes: Ide (indo ou enquanto fores) por todo o mundo e pregai (vá pregando) o evangelho a toda criatura). De novo vale ressaltar que nossa missão é sermos discípulos do Senhor no mundo, mas não sermos do mundo, iguais ao mundo em suas práticas, isto é, não sermos mundanos.

Voltando às figuras dadas por Jesus, o sal tem que salgar - e, ao salgar ele causa de imediato, duas reações: a primeira é deter ou retardar o apodrecimento de algo que se deterioraria muito rapidamente - e é exatamente assim que o mundo está, se deteriorando em todas as suas áreas, e, lamentavelmente, a mais deteriorada é a espiritual e moral. A segunda é de iluminar, e, ainda que isto cause mal aos olhos sensíveis à luz, produz a perspectiva de enxergar melhor, de ver o caminho, de enxergar onde podemos colocar os nossos pés com segurança (Sl 119.105 Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos).

É um contrassenso pensar em sal que não salga, sal sem sabor e sem eficácia ou em luz que não ilumina... A conclusão de Jesus é que seus discípulos têm que ser eficientes em todos os lugares por onde andarem. Como servos ou senhores, seja como pregadores ou vivendo o dia a dia do lar. Um médico cristão pode ser excelente como sal e luz sendo exatamente um médico realmente cristão. E isto vale para o advogado, para o professor, para o aluno, para o diretor, para o faxineiro – isto vale para todos os discípulos de Jesus.

E COMO SER DISCÍPULO, HOJE, ENTÃO?

O Senhor deseja de seus discípulos algo muito importante e não se contenta com menos: ele não quer nada menos que a obediência – ele determina aos seus discípulos que busquem ser obedientes e só se deem por satisfeitos com a perfeição (Mt 5.48: Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste). E se você ainda não conseguir: obedeça ao máximo que puder, da melhor maneira que conseguir, com esforço e dedicação, obedeça por amor e isto já lhe agradará muito (Jo 14.15: Se me amais, guardareis os meus mandamentos).

Não seja desobediente porque um dos mais sérios problemas do pecado é o desejo de autonomia do coração do homem - a má vontade para com Deus a com a sua vontade revelada, a rebeldia contra o Deus amoroso e perdoador.

Estamos bem no meio de uma geração má, uma geração tão má quanto qualquer outra na história, uma geração má porque obedece às más inclinações do seu mau coração (Jr 17:9 Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?). Esta geração mundana também é chamada de adúltera porque prefere fazer qualquer outra coisa, servir a homens mentirosos e a deuses falsos, deuses do próprio coração ao invés de servir ao Senhor, criador e preservador (Jr 16:11 Então, lhes responderás: Porque vossos pais me deixaram, diz o SENHOR, e se foram após outros deuses, e os serviram, e os adoraram, mas a mim me deixaram e a minha lei não guardaram).

Quer ser mais que um seguidor, quer ser discípulo de Jesus, de verdade? Confie no Senhor para lhe dirigir na hora de fazer escolhas – mas antes de fazer qualquer escolha, certifique-se que ela terá orientações sábias, preencha sua mente e coração com as orientações do Senhor que você pode encontrar em sua Palavra. Não tema fazer as escolhas certas - por mais difíceis que lhe possam parecer (Lc 14:26 Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo).

Não tema perder o emprego - se é de Deus e se foi Deus quem lhe pôs ali, faça como Ester: reconheça que tudo é de Deus, e que há um propósito em você estar naquele lugar e, se realmente é preciso, arrisque (Et 4.14: Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?).

Não tema perder seus amigos por ser discípulo de Cristo entre seus colegas de escola – se forem de Deus você terá oportunidade de lhes dar testemunho da graça salvadora por meio de Cristo. Se não forem, você não deverá permanecer no meio deles por amor de Cristo (Sl 1:1 Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores).

Para muitos provavelmente fosse mais fácil se identificar como realmente cristão em meio à perseguição dos primeiros séculos - bastava não adorar a César, confessar Cristo diante das autoridades e enfrentar o martírio – só isso, como muitos fizeram (Hb 12:4 Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue).

Mas como ser cristão, coerente, numa sociedade que não pede para adorar a César nem negar a Cristo, que não ameaça com o martírio e oferece o mesmo que satanás ofereceu a Cristo no deserto: satisfação de necessidades materiais, honras e prazeres mundanos (Mt 4:8 Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles 9 e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. 10 Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto)?

O problema está exatamente em saber o que é o avanço da igreja, fazendo diferença no mundo, e o que é o convite sutil da serpente para negar a Cristo. Não é mais a ameaça de ser passado pelo fio de uma espada, nem ser lançado em uma prisão.

A pior ameaça que o crente tem a enfrentar agora é uma festa, uma amizade, uma nova forma de ver o mundo quase sempre escondida sobre frases como ‘todo mundo faz’, ou então ‘isso não tem nada a ver’, um bom filme, uma diversão, um prazer instantâneo qualquer (que vai precisar ser renovado, várias e várias vezes). É uma promoção e um aumento da renda e tantas outras formas - e a mente do incauto, cada vez menos cristã e mais secularizada não percebe as armadilhas, vai afundando-se cada vez mais, até que o abismo seja intransponível.

16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.

Sim, ser verdadeiramente cristão tem um preço – ser salvo teve um preço e ele já foi pago por Cristo na cruz, mas ser discípulo de Jesus tem um custo: negar-se a si mesmo, tomar a cruz (isto é, ter a vida de Cristo – Gl 2:19 Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; 20 logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim) e então segui-lo sem questionar ou olhar para trás.

terça-feira, 14 de maio de 2024

ORAÇÃO SUBMISSA: APRENDENDO COM JESUS A LIDAR COM A ANGÚSTIA

 ORAÇÃO SUBMISSA: APRENDENDO COM JESUS A LIDAR COM A ANGÚSTIA

32 Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar. 33 E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. 34 E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai. 35 E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora. 36 E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres. 37 Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora? 38 Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. 39 Retirando-se de novo, orou repetindo as mesmas palavras. 40 Voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder. 41 E veio pela terceira vez e disse-lhes: Ainda dormis e repousais! Basta! Chegou a hora; o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. 42 Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima.

Mc 14.32-42

INTRODUÇÃO

Este texto, da maneira como ele foi traduzido para nós, fala-nos de um sentimento muito forte, de profunda angústia, algo que pode ser descrito até como pavor e tristeza. É um momento crucial e quem já passou por situações parecidas, de saber que está sendo traído, que sofrerá o que não merece por querer o bem daqueles que ama talvez tenha uma pálida noção do que Jesus estava sentindo por isso os escritores usam palavras que descrevem sentimentos humanos de intenso sofrimento.

Nesse tempo em que está tomado de um sentimento profundo e angustiante, tendo diante de si a traição, o julgamento indigno, o tratamento desrespeitoso e a cruz Jesus toma uma atitude que lhe é própria: ele se dedica a oração. O relato da agonia de nosso Senhor no jardim do Getsêmani é uma das passagens mais profundas e misteriosas das Escrituras, trata de coisas que nenhum teólogo, nem o mais profundo e experiente, é capaz de explicar satisfatoriamente. Como explicar que o Senhor da vida esteja numa angústia mortal em sua alma?

A expressão “tomado de pavor” é ekqambew. O verbo original tem o sentido de ficar aterrorizado. Marcos usa com o sentido de ficar assombrado, surpreendido (Mc 9.15 E logo toda a multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa, correu para ele e o saudava), espantado ou assustado (Mc 16.5 Entrando no túmulo, viram um jovem assentado ao lado direito, vestido de branco, e ficaram surpreendidas e atemorizadas. 6 Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui; vede o lugar onde o tinham posto) e entristecido, isto é, tomado de uma tristeza imensa nesta passagem; já a expressão “(tomado de) angústia” é adhmonew, uma emoção profunda (Mt 26.37 ...e, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se). Somados, os dois verbos podem ser traduzidos como profundamente ou até abissalmente entristecido (um antropopatismo, palavras humanas para explicar o sentimento do nosso redentor).

No seu primeiro momento, antes da oração ali no Getsêmani, sentindo sua alma apertada de um sentimento de tristeza intensa angústia Jesus diz a seus discípulos: ‘Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar’ (Mc 14.32 Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar). Jesus se afastar para orar não era uma prática nova e os discípulos não estranharam aquela ação naquele momento e ele se dirige a um lugar a cerca de 40 ou no máximo 80m, aproximadamente (Lc 22:41 Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava).

Na oração ele pede ao Pai que aquela hora lhe fosse poupada se fosse possível (Mc 14.33-35 E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. 34 E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai. 35 E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora).

O que esta oração significava? Como conciliar esta oração de Jesus com a certeza de que ele veio justamente para aquele momento específico, como ele já havia dito para a mãe de Tiago e João que julgavam que o reino de Deus é lugar de proeminência e honra entre os homens (Mc 10:45 Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos) e logo depois ele daria testemunho da verdade diante de Jesus (Jo 18:37 Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz)?

Para entendermos o sentimento que havia no coração de Jesus, com todas as limitações que temos, é preciso tecer três considerações:

O Senhor tinha diante de si a agonia da carga dos pecados de todos aqueles que ele veio redimir. Ele levaria sobre si as nossas dores e enfermidades (Is 53:5 Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados).

A ANGÚSTIA PELA NECESSIDADE DAQUELE MOMENTO

i.       Quão profunda foi a tristeza do Senhor sabedor de que aqueles que Ele havia criado perfeitos mereciam tão terrível sentença? Quão grande a tristeza do Senhor em saber que muitos que foram criados à sua imagem e semelhança permaneceriam irredutíveis em seus pecados e marchariam animadamente para o inferno, numa competição para ver quem peca mais (1Pe 4:3 Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias. 4 Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão, 5 os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos).

Pense nisto: se não fosse o seu pecado Ele não precisaria ter experimentado aquela tristeza e angústia no Getsêmani nem na cruz. Aquela hora angustiante não era desejável, não traria prazer algum a alguém embora trouxesse satisfação em relação ao seu propósito redentor (Is 53:11 Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si). Mas era uma situação necessária e ele sabia que esta era a vontade do Pai – e a vontade do Pai era a sua vontade (Jo 6:38 Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou).

Não foi o temor dos sofrimentos físicos ou da própria morte que angustiou. Jesus tinha plena convicção de sua superioridade sobre a morte. Ele demonstra isto ao dizer que ele próprio ofertava usa vida – e tinha certeza de que poderia retomá-la (Jo 10:18 Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e (também) para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai). E o cristão? Deve o cristão temer a morte se já passou da morte para a vida?

O que estava diante de Jesus era toda a maldade humana, era atrair sobre si a ira que deveria recair sobre todas as iniquidades e pecados. Como não angustiar-se, sendo justo, sendo feito maldito em substituição a pecadores condenados mesmo sem praticar pecado algum.

Pense na profunda tristeza do Senhor em pagar o preço do resgate de pecadores com o seu precioso sangue (1Pe 1:18 ...sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo) e ainda assim saber que aqueles por quem ele se entregou para que fosse seu povo abandonassem o caminho das boas obras (Ef 2:10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas) e se entregariam a formas de cristianismo tão terrivelmente não cristãs ao longo da história, com idolatria, guerras santas, compra e venda de cargos eclesiásticos e políticos.

Pense na profunda tristeza de Jesus por saber que os cristãos viveriam indiferentes aos seus mandamentos e cometeriam toda sorte de pecados como jurar em falso, tomar o nome do Senhor Deus em vão, violar o dia do Senhor, mentir, proferir calúnias e injúrias e tantos outros pecados que dão provas de que o sentimento de profunda tristeza de Jesus era justificado.

Pense mais um pouco, recorde-se dos sentimentos de Jesus por saber tudo isto, e ainda assim continuar em frente para que nós pudéssemos ser salvos e santificados. O pecado é coisa séria, muito séria, e por causa dele Jesus estava angustiado em sua alma. O meu pecado é coisa séria e entristeceu profundamente Jesus. O seu pecado é coisa séria, e não pode ser tratado como uma falha ou deslize.

A MELHOR RESPOSTA PARA OS MOMENTOS DE ANGÚSTIA

ii.     Nada do que foi escrito a respeito de Jesus ou dos atos grandiosos de Deus foi por acaso. Tudo quanto foi escrito foi registrado para nossa edificação, para que sejamos pacientes e tenhamos conforto e ânimo em todas as situações (Rm 15:4 Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança). Como obter esta motivação? A resposta está na Palavra que foi escrita para nos dar esta motivação. O que Jesus fez em seu momento de tristeza e angústia profunda? Ele utilizou-se do remédio da oração.

Temos nossos temperamentos específicos, cada um de nós reage de uma maneira quando está angustiado – e geralmente estas ações e reações não são as mais acertadas porque são motivadas por anseios e sentimentos fora de ordem, descontrolados. Alguns se iram, outros choram, outros se retraem. Alguns se embriagam, se drogam, se endividam ou se envolvem em muitas atitudes reprováveis – e tudo isto é luta carnal, e não é assim que um filho de Deus deve lutar (2Co 10:3 Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne).

Irado e enciumado Caim rejeitou o conselho de Deus (Gn 4:7 Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo). Julgando no direito de vingar-se de um tratamento ingrato e vil Davi, julgando-se no direito de executar justiça própria e usurpar o direito de julgamento divino (Rm 12:19  não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor) estava prestes a retribuir o mal com o mal e matar Nabal tendo sido impedido por um conselho sábio – e praticamente um pedido de casamento – de Abigail (1Sm 25:30 E há de ser que, usando o SENHOR contigo segundo todo o bem que tem dito a teu respeito e te houver estabelecido príncipe sobre Israel, 31 então, meu senhor, não te será por tropeço, nem por pesar ao coração o sangue que, sem causa, vieres a derramar e o te haveres vingado com as tuas próprias mãos; quando o SENHOR te houver feito o bem, lembrar-te-ás da tua serva). Em seu sofrimento as lágrimas impediram Maria de reconhecer Jesus ao seu lado (Jo 20:14 Tendo dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus. 15 Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, supondo ser ele o jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. 16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico: Raboni (que quer dizer Mestre)!). Esses exemplos mostram que a dor, seja ela qual for, justificada ou não, prejudicam o nosso julgamento e as ações.

Com a alma em tristeza profunda e mortal Jesus orava. Não se escondia na multidão dos discípulos, buscava abrigo nos braços do Pai. É o melhor medicamento, o melhor tratamento para uma alma tomada de aflição. O ensino de Jesus, com a autoridade de quem é semelhante a nós em todas as coisas, exceto no pecado é: na angústia mais profunda, na dor mais angustiante, nos momentos em que a única certeza que você tem é a de uma dor que esmaga seu peito, ore (Hb 4:15 Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado).

Jesus não ensina teoria – ele mostra a prática. Ele se afasta da multidão para buscar o trono de graça do Pai celeste. Jesus ora pedindo, Jesus ora submetendo a sua vontade à vontade do Pai como nós devemos orar submetendo a nossa vontade à sua vontade (Jo 14:13 E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho).

Pense, agora, na motivação de Jesus ao orar ao Pai naquele momento, a uma distância de, no máximo, 80 metros dos discípulos. Ele poderia fazer isso mais longe, mas ele queria que os discípulos vissem, queria oferecer-lhes o modelo. Ele quer que você o veja como seu modelo. Quer que você, na angústia, se lembre da sua graça e ore (Fp 4:6 Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças).

COMO LIDAR COM A RESPOSTA DE DEUS ÀS ORAÇÕES

iii.  Nossas orações podem ter respostas imediatas, e elas podem ser o que pedimos ou não. Mas elas sempre devem ter efeito imediato, que é o de entregar a nossa angústia e nos aquietarmos nos braços do Senhor (Sl 131:2 Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo). Jesus mostra que a cura para a angústia e tristeza que pode tomar conta de sua alma quando estiver doendo, e quando você disser ao Pai que está doendo é submeter sua vontade à vontade sábia de Deus.

Paulo sentia-se profundamente incomodado com uma enfermidade ou incômodo indeterminado, que ele chama de espinho na carne e mensageiro de Satanás (2Co 12:7 E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte).  Não sabemos o que era este espinho, mas deixava Paulo muito angustiado, menos, é claro, que a angústia de Jesus no Getsêmani. E Paulo imita o que aprendeu com seu Mestre (1Co 11:1 Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo).

Na sua angústia Paulo orava e pedia para Deus tirar dele o espinho, numa grande semelhança com a oração de Jesus de fazer passar o cálice (2Co 12:8 Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim) e a resposta foi: você já tem a minha graça, isto te basta (2Co 12:9 Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo).

Submissão mais perfeita do que esta do apóstolo Paulo só pode ser encontrada no modelo a quem ele imitava: o Senhor Jesus. Diante dos horrores que significa ao santo enfrentar a punição pelos pecados, ao justo ser punido pela injustiça praticada por outrem, ele diz: agrada-me fazer a sua vontade, como fora predito pelo salmista (Sl 40:8 ...agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei).

Submissão é aceitar pacientemente o que Deus nos dá, a nos agradarmos somente do que agrada a Deus, não desejar outra coisa que não seja o que Deus aprova, preferir a dor se esta for a preferência de Deus, agradecer as boas dádivas que o Senhor se agradar conceder-nos, mas, sempre, sempre submeter-se ao que Deus ordena e não buscar conhecer ou praticar outra vontade que não seja a sua vontade.

Há alguns anos um pastor que mais tarde seria afastado do ministério presbiteriano disse que Deus havia lhe revelado que as pessoas mais convertidas que ele já conheceu não tinham mais do que 10% de conversão? O que você acha disso? Uma tolice? Certamente!

Mas, e se a conversão fosse mensurável tendo como padrão, por exemplo uma medida baseada na submissão da vontade à vontade de Deus? Quantas vezes você já negociou a sua fé? Quantas vezes você já colocou sua vontade à frente da vontade de Deus? Quantas vezes o interesse no mundo foi maior do que a prática da justiça do reino de Deus entre os homens?

Mas como podemos fazer isso? O modelo é Jesus. E sim, eu sei que Jesus é o modelo perfeito, mas isto não deve nos desanimar dizendo “eu não consigo” – não somos dos que retrocedem (Hb 10:39 Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma).

Pelo contrário, deve servir do modelo de ânimo e perseverança para olhar firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus Cristo (Hb 12:2 ...olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus). Ele é o consumador, é o que começa e termina a boa obra (Fp 1:6 Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus).

Esta disposição dá ao crente o alívio que ele necessita – a dor que trazia angústia é renovada pela certeza do cuidado do Pai e pela esperança da manifestação de sua vontade que é boa, perfeita e agradável. Tiago de maneira muito simples diz: você está aflito? Ore (Tg 5:13 Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores).

MICAÍAS, EXEMPLO DE FIDELIDADE AO DEUS VIVO EM TEMPOS DIFÍCEIS

MICAÍAS

FIDELIDADE AO DEUS VIVO EM TEMPOS DIFÍCEIS

1 Tinha Josafá riquezas e glória em abundância; e aparentou-se com Acabe.

2 Ao cabo de alguns anos, foi ter com Acabe, em Samaria. Acabe matou ovelhas e bois em abundância, para ele e para o povo que viera com ele; e o persuadiu a subir, com ele, a Ramote-Gileade.

3 Acabe, rei de Israel, perguntou a Josafá, rei de Judá: Irás tu, comigo, a Ramote-Gileade? Respondeu-lhe Josafá: Serei como tu és, o meu povo, como o teu povo; iremos, contigo, à peleja.

4 Disse mais Josafá ao rei de Israel: Consulta, primeiro, a palavra do SENHOR.

5 Então, o rei de Israel ajuntou os profetas, quatrocentos homens, e lhes disse: Iremos à peleja contra Ramote-Gileade ou deixarei de ir? Eles disseram:

6 Sobe, porque Deus a entregará nas mãos do rei. Disse, porém, Josafá: Não há, aqui, ainda algum profeta do SENHOR, para o consultarmos?

7 Respondeu o rei de Israel a Josafá: Há um ainda, por quem podemos consultar o SENHOR; porém eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim o que é bom, mas somente o que é mau.

8 Este é Micaías, filho de Inlá. Disse Josafá: Não fale o rei assim. Então, o rei de Israel chamou um oficial e disse: Traze-me depressa a Micaías, filho de Inlá.

9 O rei de Israel e Josafá, rei de Judá, estavam assentados, cada um no seu trono, vestidos de trajes reais, numa eira à entrada da porta de Samaria; e todos os profetas profetizavam diante deles.

10 Zedequias, filho de Quenaana, fez para si uns chifres de ferro e disse: Assim diz o SENHOR: Com este, escornearás os siros, até de todo os consumir.

11 Todos os profetas profetizaram assim, dizendo: Sobe a Ramote-Gileade e triunfarás, porque o SENHOR a entregará nas mãos do rei.

12 O mensageiro que fora chamar a Micaías falou-lhe, dizendo: Eis que as palavras dos profetas, a uma voz, predizem coisas boas para o rei; seja, pois, a tua palavra como a palavra de um deles, e fala o que é bom.

13 Respondeu Micaías: Tão certo como vive o SENHOR, o que meu Deus me disser, isso falarei.

14 E, vindo ele ao rei, este lhe perguntou: Micaías, iremos a Ramote-Gileade, à peleja, ou deixarei de ir? Ele respondeu: Sobe e triunfarás, porque eles serão entregues nas vossas mãos.

15 O rei lhe disse: Quantas vezes te conjurarei que não me fales senão a verdade em nome do SENHOR?

16 Então, disse ele: Vi todo o Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor; e disse o SENHOR: Estes não têm dono; torne cada um em paz para sua casa.

17 Então, o rei de Israel disse a Josafá: Não te disse eu que ele não profetiza a meu respeito o que é bom, mas somente o que é mau?

18 Micaías prosseguiu: Ouvi, pois, a palavra do SENHOR: Vi o SENHOR assentado no seu trono, e todo o exército do céu estava à sua direita e à sua esquerda.

19 Perguntou o SENHOR: Quem enganará Acabe, o rei de Israel, para que suba e caia em Ramote-Gileade? Um dizia desta maneira, e outro, de outra.

20 Então, saiu um espírito, e se apresentou diante do SENHOR, e disse: Eu o enganarei. Perguntou-lhe o SENHOR: Com quê?

21 Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Disse o SENHOR: Tu o enganarás e ainda prevalecerás; sai e faze-o assim.

22 Eis que o SENHOR pôs o espírito mentiroso na boca de todos estes teus profetas e o SENHOR falou o que é mau contra ti.

23 Então, Zedequias, filho de Quenaana, deu uma bofetada em Micaías e disse:

24 Por onde saiu o Espírito do SENHOR para falar a ti? Disse Micaías: Eis que o verás naquele mesmo dia, quando entrares de câmara em câmara, para te esconderes.

25 Então, disse o rei de Israel: Tomai a Micaías e devolvei-o a Amom, governador da cidade, e a Joás, filho do rei; 26 e direis: Assim diz o rei: Metei este homem na casa do cárcere e angustiai-o com escassez de pão e de água, até que eu volte em paz.

27 Disse Micaías: Se voltares em paz, não falou o SENHOR, na verdade, por mim. Disse mais: Ouvi isto, vós, todos os povos!

28 Subiram o rei de Israel e Josafá, rei de Judá, a Ramote-Gileade.

29 Disse o rei de Israel a Josafá: Eu me disfarçarei e entrarei na peleja; tu, porém, traja as tuas vestes. Disfarçou-se, pois, o rei de Israel, e entraram na peleja.

30 Ora, o rei da Síria dera ordem aos capitães dos seus carros, dizendo: Não pelejareis nem contra pequeno nem contra grande, mas somente contra o rei de Israel. 31 Vendo os capitães dos carros a Josafá, disseram: Este é o rei de Israel. Portanto, a ele se dirigiram para o atacar. Josafá, porém, gritou, e o SENHOR o socorreu; Deus os desviou dele.

32 Vendo os capitães dos carros que não era o rei de Israel, deixaram de o perseguir.

33 Então, um homem entesou o arco e, atirando ao acaso, feriu o rei de Israel por entre as juntas da sua armadura; então, disse este ao seu cocheiro: Vira e leva-me para fora do combate, porque estou gravemente ferido.

34 A peleja tornou-se renhida naquele dia; quanto ao rei (Acabe), segurou-se a si mesmo de pé no carro defronte dos siros, até à tarde, mas, ao pôr-do-sol, morreu.

2Cr 18.1-34

INTRODUÇÃO

O texto no qual está inserido a fala do profeta Micaías começa com uma aliança entre dois grandes reis. O primeiro deles é Josafá, filho de Asa, que reinou sobre o reino de Judá (o reino do sul), sendo considerado um dos bons reis do povo de Deus por sua liderança piedosa e sua confiança em Deus. Durante seu reinado que durou 25 anos ele é descrito como um rei que ‘fez o que era certo aos olhos do Senhor’ a quem buscou diligentemente (2Cr 20.32) tendo enviado príncipes, sacerdotes e levitas por todo o país para ensinar a lei de Deus ao povo (2Cr 17.7-9).

Em seu reinado reformas religiosas importantes foram feitas, restaurou a verdadeira adoração (2Cr 17.6) removendo os altares idolatras e os postes-ídolos de Baal que o ‘sábio rei Salomão’ havia introduzido na terra, incentivando o povo a buscar o Senhor e a obedecer aos seus mandamentos.

Josafá também se destacou como líder militar, fortificando as cidades de Judá, organizando e treinando o exército para defender o reino contra os inimigos e o país desfrutou de paz e prosperidade – e isto fez com que as nações vizinhas temessem ao Senhor (2Cr 17.10-11), como aconteceu na vitória que Deus realizou sobre moabitas, amonitas e meunitas sem que uma única espada fosse levantada (2Cr 20.1-30).

Sua liderança piedosa e sua devoção a Deus trouxeram bênçãos e vitorias para o povo de Judá, mas ele cometeu erros ao fazer alianças com Acabe e depois com Acazias, e ambas resultaram em desastres.

O outro rei é Acabe, um dos mais controversos e ímpios na história de Israel num reinado que durou 22 anos. Casou-se com uma princesa fenícia chamada Jezabel e a descrição resumida que a Bíblia faz dele é que ‘fez o que era mau aos olhos do Senhor, mais do que todos os que foram antes dele’ (1Rs 16.30) promovendo a adoração a Baal, o deus fenício, ergueu um poste ídolo para a deusa Aserá promovendo sacrifícios de animais e humanos (1Rs 16.31-33).

Como líder militar conseguiu vitória sobre os tradicionais inimigos de Israel, os siros, mesmo assim foi incapaz de conseguir paz e estabilidade para Israel. Acabe é mostrado como rei melindroso e depressivo manipulado por uma rainha igualmente má na história da vinha de Nabote (1Rs 21). Apesar de repreendido por Elias e ver os falsos profetas serem envergonhados no Monte Carmelo (1Rs 18) não há nenhuma mudança nas inclinações pecaminosas do coração de Acabe.

Seu reinado de rebelião contra Deus, injustiça e idolatria termina quando convida o habilidoso Josafá para lutar contra seus inimigos tradicionais, os sírios. Apesar de advertido por Micaías que seria morto e seus soldados dispersos ele preferiu não dar ouvidos à voz do Senhor, como já era seu costume. E o resultado foi sua morte apesar do estratagema para não ser identificado durante a batalha.

Mas, dependendo de suas preferências provavelmente você que está aqui neste momento você sabe mais sobre a vida de um músico, ou um ator, ou um político, ou um jogador de futebol mais do que sobre o fiel profeta Micaías. Ele profetizou em um período difícil para o reino do norte e aparece justamente para marcar o julgamento de Deus sobre as ações de Acabe e Jezabel.

Nesta breve passagem sobre o profeta Micaías encontramos exemplo de fé e fidelidade ao Senhor, e foi precisamente para isso que cada passagem, cada palavra das Escrituras foi registrada (Rm 15:4 Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança).

Decidi compartilhar este texto com vocês porque ele faz parte da minha história, e eu acredito que relacionamento pastoral envolve relacionamento com Deus, relacionamento com a Palavra de Deus e relacionamento entre o povo de Deus. Há quase 30 anos fui chamado para o ministério pastoral, e ao sair do interior da Bahia para vir para São Paulo, tendo como único apoio do presbitério uma carta de apresentação, duas passagens (para mim e para minha esposa) e R$ 60,00 para pagar a matrícula me apegava fortemente à Palavra de Deus citando para mim mesmo todos os dias 2Co 5.7 (2Co 5:7 ...visto que andamos por fé e não pelo que vemos).

Quando estava no terceiro ano em São Paulo, no segundo ano do curso de teologia do seminário JMC o Rev. Sebastião Arruda me apresentou o profeta Micaías. É curioso que apesar de já haver lido a Bíblia muitas vezes eu simplesmente não conhecia Micaías. E à partir daquele agosto de 1998 suas palavras corajosas diante de Josafá, e, especificamente diante de Acabe se tornaram uma espécie de bússola ministerial porque percebi que ministério era mais do que crer, envolvia ouvir a Deus e ser fiel. E é isso o que tenho buscado fazer – mas creio que isto não é exclusivamente para os ministros, é para todos os crentes no Senhor Jesus.

I.              DEUS É O DEUS VIVO

Aprendemos com Micaías que o Senhor é o Deus vivo porque a experiência do povo de Deus com Deus só é possível porque ele é o Deus vivo. O crente

O que aprendemos nas Escrituras é que Deus é o Deus vivo. Ele é o Deus que age como expressa o salmista manifestando sua confiança no livramento e na misericórdia de Deus (Sl 109:21 Mas tu, SENHOR Deus, age por mim, por amor do teu nome; livra-me, porque é grande a tua misericórdia) e esta certeza também é encontrada em Daniel que ouve, que perdoa e que age em favor dos que nele confiam (Dn 9:19 Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome) e é por isso que os que confiam em Deus: ele jamais permite que os que confiam nele é envergonhado (Sl 25:3 Com efeito, dos que em ti esperam, ninguém será envergonhado; envergonhados serão os que, sem causa, procedem traiçoeiramente).

Deus é diferente dos deuses dos povos. Quando nos perguntam sobre o nosso Deus nós dizemos que ele é o Senhor soberano, o Senhor que está nos céus (Sl 115:2 Por que diriam as nações: Onde está o Deus deles? 3 No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada) Ele é o Deus vivo enquanto os deuses dos povos não são nada (Sl 115:4 Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. 5 Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; 6 têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. 7 Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta).

Quando Josué entra na terra prometida com os hebreus a bandeira sob a qual eles marcham é a certeza de que Deus é o Deus vivo (Js 3:10 Disse mais Josué: Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós e que de todo lançará de diante de vós os cananeus, os heteus, os heveus, os ferezeus, os girgaseus, os amorreus e os jebuseus). Quando Israel é invadido por Rabsaqué é o Deus vivo que os livra dos agressores (2Rs 19:4 Porventura, o SENHOR, teu Deus, terá ouvido todas as palavras de Rabsaqué, a quem o rei da Assíria, seu senhor, enviou para afrontar o Deus vivo, e repreenderá as palavras que ouviu; ergue, pois, orações pelos que ainda subsistem) e é ao Senhor que os hebreus recorrem (2Rs 19:16 Inclina, ó SENHOR, o ouvido e ouve; abre, SENHOR, os olhos e vê; ouve todas as palavras de Senaqueribe, as quais ele enviou para afrontar o Deus vivo).

É no Senhor que, mesmo sofrendo a invasão que transformaria Israel num ‘mero toco’ como predito por Isaías (Is 6:13 Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco) o povo de Deus ainda continua confiando no Senhor que dirige todas as nações da terra (Jr 10:10 Mas o SENHOR é verdadeiramente Deus; ele é o Deus vivo e o Rei eterno; do seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação).

É ao Senhor que, durante o exílio, o profeta Daniel recorre e é ao Senhor, ao Deus vivo, que o rei Dario se curva reconhecendo seu domínio completo e eterno (Dn_6:26 Faço um decreto pelo qual, em todo o domínio do meu reino, os homens tremam e temam perante o Deus de Daniel, porque ele é o Deus vivo e que permanece para sempre; o seu reino não será destruído, e o seu domínio não terá fim).

É ao Senhor, ao Deus vivo que seis séculos depois o Novo Testamento diz que os cristãos são convertidos para servirem (1Ts 1:9 ....pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro) e é ao Senhor, ao Deus vivo, a quem servimos ainda hoje. É a este Deus que Micaías servia, é a este Deus a quem servimos e podemos dizer: é certo que vive o Senhor. Ele é o Rei eterno, imortal, invisível, o Deus único, a quem deve ser prestada honra e glória pelos séculos dos séculos (1Tm 1:17 Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!)

II.           DEUS É O DEUS QUE FALA PALAVRAS VIVAS

Com Micaías aprendemos que, quando servimos ao Deus vivo, ele se revela, ele revela sua vontade e fala com seu povo para lhe dar direcionamento para viver segundo sua vontade.

Nós cremos perfeitamente na suficiência das Escrituras, que é nossa única regra de fé e prática, e por isso rejeitamos qualquer ideia de revelacionismo ou profetismo moderno. Esta é a posição da nossa igreja, conforme nos é ensinado pelos nossos símbolos de fé (CFW, I, VI). Dons espirituais de revelações não são mais necessários porque já temos o cânon das Escrituras, e a Palavra de Deus é perfeita, completa.

Nenhum de nós ousaria dizer que a Escritura é incompleta ou imperfeita (2Tm 3:16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, 17 a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra). Entendendo corretamente este texto ele diz que a Escritura tem tudo o que é necessário para nosso ensino – e se tem tudo, não precisamos de nenhum ensino extrabíblico.

Mas isto não quer dizer que a comunicação de Deus não se dê por meios extraordinários. O texto bíblico é uma comunicação extraordinária de Deus. Por meio dele Deus nos fala – pois nos fala o mesmo que o Deus vivo falou aos pais, pelos profetas e pelo seu Filho (Hb 1:1 Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, 2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo).

Esta não é uma comunicação do passado, é uma comunicação viva e eficaz, e que atinge o coração do homem em qualquer tempo e lugar (Hb 4:12 Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração).

Guarde bem isso: a fala de Deus não se limitou apenas aos meios extraordinários do passado. Deus é o Deus vivo. Deus é o Deus que falou e ainda fala. Quando o crente procura a presença de Deus ele ouve a sua voz. É o que acontece com o salmista que, angustiado, clama ao Senhor. A resposta de Deus ao seu clamor angustiado é: busque minha presença (Sl 27:8 Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois, SENHOR, a tua presença).

Esta maneira de Deus agir estava disponível para o salmista angustiado, e está disponível para todo aquele que o teme, pois a intimidade do Senhor é reservada para aqueles que o temem (Sl 25:14 A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança).

Quando o salmista diz que Deus concede sua intimidade para os que o temem, ele está introduzindo algo muito importante, especialmente para aqueles que vivem fora dos pais, profetas e apóstolos: a sua aliança. Deus fala ao seu povo por meio do registro de sua vontade, por meio de sua Palavra.

Quem quer ouvir Deus falar deve abrir a Palavra de Deus para ouvir Deus falar. E é muito importante para o crente ouvir a voz de Deus. Não vamos ouvir Deus falar como Caim ouviu. Não vamos ouvir Deus falar como Josué ouviu (Js 1:9 Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares). Não vamos ouvir Deus chamar como Samuel, ainda criança, ouviu (1Sm 3:10 Então, veio o SENHOR, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel! Este respondeu: Fala, porque o teu servo ouve).

III.        DEUS É O DEUS QUE DÁ DIREÇÃO

Aprendi com Micaías que quando Deus se revela falando ao coração ele não deixa o homem perdido, ele lhe dá um propósito, um direcionamento para a vida.

Micaías foi chamado para ser um profeta do Senhor. Ser um profeta é ser, literalmente ‘a boca de Deus’, aquele que é o portador das palavras do Senhor, aquele por meio de quem a vontade de Deus deve chegar aos ouvidos do povo de Deus. Foi isso o que o Senhor disse ao comissionar Moisés e Arão para liderarem Israel na caminhada pra fora do Egito (Êx 4:15 Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a dele e vos ensinarei o que deveis fazer). Assim como Micaías cada crente deve falar o que o Senhor falar, falar quando o Senhor falar, falar o que o Senhor falar. Como os profetas o crente deve dizer sempre ‘Disse o Senhor’.  Sua fala deve começar com ‘veio a mim a Palavra do Senhor’.

Num ambiente de grande pressão, onde mais de quatrocentas pessoas diziam uma coisa Micaías preferiu não ser politicamente correto, preferiu não seguir com a maioria, preferiu ser fiel ao Senhor. Esta é uma característica requerida dos servos de Deus, esta deve ser a característica de todo aquele que abre a Bíblia ou abre os lábios: poder afirmar “assim diz o Senhor". 

É dever do cristão falar quando Deus fala. É dever do cristão falar o que Deus fala. É dever do cristão proclamar as grandezas de Deus – fomos resgatados das trevas para a sua maravilhosa luz (1Pe 2:9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz).

Micaías apresenta duas características importantes: falar com fidelidade e falar com ousadia. Falar com fidelidade significa falar o que Deus quer que seja dito por que ele quer que seu povo seja edificado pela sua Palavra. E falar com ousadia significa aproveitar as oportunidades para falar o que Deus mandou que seja dito. Nem todos nós temos oportunidades de falar diante de dois reis.

Provavelmente os 400 profetas do reinado de Acabe tivessem acesso ao rei assim como tinham acesso à mesa de sua esposa, a igualmente ímpia rainha Jezabel (1Rs 18:19 Agora, pois, manda ajuntar a mim todo o Israel no monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas do poste-ídolo que comem da mesa de Jezabel) – e eles falavam o que o rei queria ouvir. Eles falavam o que agradava a maioria. Mas todos sabiam que havia alguém que ainda falava a Palavra do Senhor – e este alguém foi ouvido.

Foi a contragosto do rei Acabe, mas foi ouvido. Desagradou a centenas de pessoas que estavam presentes, mas foi ouvido. Desagradou até um pretenso ‘colega de profissão’ chamado Zedequias, filho de Quenaana – mas foi ouvido. Mesmo que não gostem – mesmo que contrarie o politicamente correto, o fato é que quem conhece a Palavra do Senhor não pode se calar – deve falar, e falar a tempo e fora de tempo.

SALMO 11 E A PERSEVERANÇA NA PIEDADE COMO ESTILO DE VIDA DO CRENTE

 SALMO 11.1-7

1 No SENHOR me refugio. Como dizeis, pois, à minha alma: Foge, como pássaro, para o teu monte? 2 Porque eis aí os ímpios, armam o arco, dispõem a sua flecha na corda, para, às ocultas, dispararem contra os retos de coração. 3 Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo? 4 O SENHOR está no seu santo templo; nos céus tem o SENHOR seu trono; os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens. 5 O SENHOR põe à prova ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina. 6 Fará chover sobre os perversos brasas de fogo e enxofre, e vento abrasador será a parte do seu cálice. 7 Porque o SENHOR é justo, ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face.

INTRODUÇÃO

Este é um dos salmos escritos pelo rei Davi, pelo mavioso salmista de Israel.

A data em que ele escreveu é desconhecida, mas provavelmente durante a parte final do seu reinado, enquanto fazia os preparativos para a edificação e funcionamento do templo, compondo hinos e estabelecendo, por exemplo, a escala sacerdotal que para os judeus continua vigente. Tudo isto antes de passar o trono para seu filho Salomão.

É bastante provável que Davi escreveu este salmo para que o povo de Deus louvasse ao Senhor exaltando o seu reino eterno, seu olhar criterioso e seu juízo sobre todos os homens.

Ele queria que o povo de Deus considerasse que, mesmo que os maus aparentemente estivessem triunfando, o justo deveria continuar praticando a justiça (Ap 22:11 Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se) porque o Senhor vai julgar e recompensar cada um segundo suas ações (Ap 22:12 E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras).

É importante, para compreensão deste salmo, saber quando ele foi escrito, ou pelo menos a que época se refere. Há duas opções possíveis.

A primeira é quando Davi foi aclamado pelas mulheres de Israel como aquele que era 10 vezes mais eficiente que o rei Saul (1Sm 18:7 As mulheres se alegravam e, cantando alternadamente, diziam: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares). Este, enciumado tenta matar Davi que fugiu para os montes e cavernas, andando errante enquanto era perseguido por seu sogro. Após a infame tentativa de assassinato Saul tomou a filha que havia dado por esposa a Davi e a entregou a um homem de Abel-Meolá chamado Adriel (1Sm 18:19 Sucedeu, porém, que, ao tempo em que Merabe, filha de Saul, devia ser dada a Davi, foi dada por mulher a Adriel, meolatita).

Neste período errante Davi continuou cuidando de Israel, protegendo as fronteiras de invasores e salteadores, e, quando precisou de alimento foi esnobado duramente por Nabal (1Sm 25:10 Respondeu Nabal aos moços de Davi e disse: Quem é Davi, e quem é o filho de Jessé? Muitos são, hoje em dia, os servos que fogem ao seu senhor. 11 Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores e o daria a homens que eu não sei donde vêm?), mesmo apesar de ter protegido suas propriedades e rebanhos.

A segunda possibilidade é uma referência ao período em que seu filho Absalão tentou tomar o trono com a ajuda de Aitofel, um dos que um dia, fugitivos como Davi, se juntaram a ele na época da perseguição de Saul. Aitofel era um dos endividados e amargurados daquele período difícil. Aitofel queria que Davi fosse covardemente atacado pelas costas pelas forças de Absalão enquanto fugia.

Na sequência Absalão se deita com as concubinas de Davi à vista de todo o povo de Israel, para mostrar que sua agressão ao pai era irreconciliável, e com isso ninguém ter medo de ficar do seu lado e depois ser julgado por Davi.

Para piorar o quadro Simei, descendente de Saul, blasfema contra Davi apesar de Davi não ter feito nada contra os descendentes do rei anterior, como era costumeiro naquela época.

Sabemos que tanto Saul quanto Absalão tiveram finais de vida trágicas. O primeiro, atormentado por um espírito, abandonado por Deus, acabou morrendo nas mãos dos filisteus por causa de sua impiedade (1Cr 10:13 Assim, morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o SENHOR, por causa da palavra do SENHOR, que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante).

O segundo ficou pendurado em uma árvore por seus cabelos e foi morto pelas armas de Joabe (2Sm 18:15 Cercaram-no dez jovens, que levavam as armas de Joabe, e feriram a Absalão, e o mataram).

Agora que sabemos destas coisas, sabemos que Davi compôs este salmo para ensinar sobre prática da justiça e o resultado da prática da injustiça. Vamos fazer uma pergunta simples: o que os justos devem fazer quando o que é justo não é recompensado e a iniquidade assume o controle das circunstâncias.

VERSO 1: O MAL QUER TE DESTRUIR

1 No SENHOR me refugio. Como dizeis, pois, à minha alma: Foge, como pássaro, para o teu monte?

No verso 1 os ímpios querem que o crente fuja, que abandone o seu lugar, que faça o que todo mundo faz porque é o que todo mundo faz. O mundo quer que o crente pense como todo mundo pensa e que considere a prática de impiedades como coisas relativas com pensamentos simples como ‘não tem nada a ver’.

O mundo quer que o crente seja, que siga o fluxo do mundo no caminho largo que conduz à perdição (Mt 7:13 Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), 14 porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela).

O que os ímpios querem é que o crente se deixe formatar pelo mundo, contrariando o ensino da Palavra de Deus (Rm 12:2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus), numa armadilha mortal.

Se o crente não se adequa, se não faz como Aitofel, então ele deve ser perseguido porque não tem lugar no sistema do mundo. Se o crente se adequa, ele é perseguido por agir como o mundo, mas não ser, jamais um deles. É maltratado e desprezado por ser um crente que não age como crente e nunca será visto pelos mundanos como um dos seus.

VERSO 2: OS ÍMPIOS ATACAM COVARDEMENTE

2 Porque eis aí os ímpios, armam o arco, dispõem a sua flecha na corda, para, às ocultas, dispararem contra os retos de coração.

A pressão e as ameaças dos praticantes da impiedade estão sempre presentes na vida do crente. Pode ser por meio de tentativas de destruição física, destruição da honra e da moral, destruição profissional. Mas o fato é que o mundo quer que o crente desapareça.

Sim, o mundo faz isso de diversas formas. Pode fazer isso por pressões por posicionamentos ideológicos para pensar como todo mundo pensa. Pode ser por meio de amigos e familiares que querem que eles façam o que eles gostam e acham bom e proveitoso, mas que o crente sabe que militam contra sua alma.

Os amigos e familiares, cheios de boa vontade, acham de verdade, que estão fazendo bem, acham que querem o melhor para o crente, mas podem oferecer o eles consideram ser o melhor do mundo não sabendo, entretanto, que o melhor do mundo ainda é muito menos do que a bênção de Deus, na verdade é inimizade contra o Senhor (1Jo 2:15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele).

Os agentes da impiedade estarão dispostos a agir, inclusive pelas costas e com arranjos às ocultas, para ferirem os justos. É da sua natureza, é da inclinação do seu coração. Mesmo que suas ações exteriores aparentem outra coisa – seu coração é maligno e o que sai do coração é maldade.

VERSO 3: A IMPIEDADE PARECE TRIUNFAR

3 Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?

Numa situação como esta, quando parece que o ímpio governa, o que o justo deve fazer? Como agir quando os fundamentos de justiça parecem ter sido destruídos? O que fazer quando a honra, a justiça, a gratidão, valores familiares como no caso de Saul, ou de amizade, gratidão, honra ao pai, no caso de Absalão parecem não ter mais valor algum?

A pergunta de Davi não é uma constatação – ele não está afirmando que os fundamentos foram destruídos. Ele está dizendo que haverá momentos que os fundamentos terão sido de tal forma aviltados que parecerá que eles desapareceram, que eles foram destruídos – isto nunca acontecerá completamente pois o Senhor não permite tal coisa.

É uma pergunta que o crente deve se fazer quando chegar o momento de uma angústia tão grande com a maldade que leve você a pensar que não adianta mais agir com justiça num mundo marcado pela injustiça e pela louca rebelião contra Deus (Is 32:6 Porque o louco fala loucamente, e o seu coração obra o que é iníquo, para usar de impiedade e para proferir mentiras contra o SENHOR, para deixar o faminto na ânsia da sua fome e fazer que o sedento venha a ter falta de bebida).

Mesmo quando os juízes torcerem a justiça por causa de interesses escusos inconfessáveis e subornos (Dt 16:19 Não torcerás a justiça, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno; porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e subverte a causa dos justos) e os líderes que deveriam governar com justiça se acovardam e prevaricam (Jr 2:26 Como se envergonha o ladrão quando o apanham, assim se envergonham os da casa de Israel; eles, os seus reis, os seus príncipes, os seus sacerdotes e os seus profetas) o justo deve se perguntar: o que resta fazer?

A pergunta de Davi deve ser feita por você, crente, para você: o que o crente deve fazer quando aprece que a lei que prevalece não é mais justa e os fundamentos da justiça parece que foram removidos?

Alguns talvez se sintam tentados a fazer o que todo mundo faz, a abraçar a prática da iniquidade e digam como Davi: quase me resvalaram os pés (Sl 73:2 Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. 3 Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos 4 Para eles não há preocupações, o seu corpo é sadio e nédio) mas o crente não faz isso, porque sabe de algo muito importante: sabe que Deus é bom para com os de coração limpo (Sl 73:1 Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo).

VERSO 4: DEUS GOVERNA SOBERANAMENTE

4 O SENHOR está no seu santo templo; nos céus tem o SENHOR seu trono; os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens.

O crente pode acreditar que os fundamentos foram removidos? Podemos pensar que os marcos eternos que Deus estabeleceu e que definem o que é certo e errado podem ser mudados pela vontade dos homens?

Uma lei só pode ser mudada pela mudança do legislador. Mas acontece que, nos assuntos eternos, desde os tempos eternos o legislador não mudou porque ele é eterno e imutável. Deus é o Deus vivo e ele ainda está em seu alto e sublime trono como nos diz o profeta Isaías, mesmo que haja mudança nos ocupantes dos tronos humanos. Ele ainda está lá, ainda está julgando e reinando!

Quando o povo de Israel lamentava a morte do rei Uzias e se preocupava com quem seria o seu próximo rei o profeta Isaías diz que o verdadeiro trono não está vazio, o grande rei ainda reina sobre toda a terra (Is 6:1 No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo).

O Senhor está no seu trono e governa soberana e poderosamente. Davi diz que o Senhor, do seu trono, vê (Sl 113:5 Quem há semelhante ao SENHOR, nosso Deus, cujo trono está nas alturas, 6 que se inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra?). Ele está olhando embora o homem pense que pode se esconder de Deus, o Senhor vê, ele esquadrinha e vê (Sl 94:7 E dizem: O SENHOR não o vê; nem disso faz caso o Deus de Jacó).

Mesmo que o homem ache que Deus não tem interesse no que os homens fazem Deus está olhando, mesmo que ache que Deus não vai fazer nada ele está julgando, avaliando. Ele está julgando, vendo, ouvindo, esquadrinhando os corações, olhando as intenções e as justificativas mentirosas que as pessoas usam para pecar (Jr 20:12 Tu, pois, ó SENHOR dos Exércitos, que provas o justo e esquadrinhas os afetos e o coração, permite veja eu a tua vingança contra eles, pois te confiei a minha causa). Nada, diz a Palavra de Deus, absolutamente nada escapa do julgamento criterioso de Deus.

Se parecer que a impiedade está triunfando, lembre-se: o Senhor reina, e reinará eternamente, com poder e com perfeita justiça!

VERSO 5-6: DEUS PUNE A INJUSTIÇA

5 O SENHOR põe à prova ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina. 6 Fará chover sobre os perversos brasas de fogo e enxofre, e vento abrasador será a parte do seu cálice.

Chegará o tempo que os homens tentarão escapar da justiça de Deus mas não conseguirão ser felizes neste intento. Desejarão que um monte lhes caia sobre a cabeça para fugirem da ira do todo poderoso. Pense nisto: achar melhor ser soterrado sob uma montanha do que experimentar a ira do Senhor!

Mas os homens continuarão fazendo suas obras más porque faz parte da natureza dos homens agirem segundo a inclinação pecaminosa de seus corações. Os homens ímpios praticarão a impiedade porque esta é a inclinação de seu coração pecaminoso. É por isso que vemos o mal aparentemente triunfar.

No caminho largo que conduz à perdição os ímpios praticam as suas impiedades concorrendo entre si para verem quem consegue ser o mais eficiente na prática da iniquidade (1Pe 4:4 Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão, 5 os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos).

E há quem pense que nada vai lhes acontecer, que ficará tudo bem, ou tudo mal, como preferirem. Mas estão terrivelmente enganados e descobrirão isto no tempo próprio (Sl 34:16 O rosto do SENHOR está contra os que praticam o mal, para lhes extirpar da terra a memória). Ter o rosto contra si é ter o todo poderoso agindo numa atitude de retribuição, de justiça e de vingança.

Davi já nos disse que o Senhor vê, que ele examina criteriosamente, e agora ele nos diz que o Senhor exerce juízo sobre toda a terra (Jr 25:31 Chegará o estrondo até à extremidade da terra, porque o SENHOR tem contenda com as nações, entrará em juízo contra toda carne; os perversos entregará à espada, diz o SENHOR) com pleno direito e justiça, e há de recompensar com justiça os ímpios que preferem praticar a impiedade e merecem a punição por seus pecados – eles sofrerão a justa ira de Deus (1Pe 3:12 Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males).

Não haverá como fugir, nem haverá para onde fugir – o Senhor diz que exercerá juízo extremo sobre a prática do mal, sobre todos os maus em todos os lugares onde praticam as suas maldades (Ez 15:7 Voltarei o rosto contra eles; ainda que saiam do fogo, o fogo os consumirá; e sabereis que eu sou o SENHOR, quando tiver voltado o rosto contra eles).

VERSO 7: O SENHOR RECOMPENSA O JUSTO

7 Porque o SENHOR é justo, ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face.

Assim como Deus manifesta a sua ira sobre os ímpios que continuaram a praticar suas obras iniquas, o Senhor também agirá em relação àqueles que confiaram suas vidas às suas mãos, que lhe entregaram seus caminhos em confiança e fé (Sl 37:3 Confia no SENHOR e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade), e viveram como suas testemunhas mesmo em tempos e lugares onde agir como crente no Senhor não era fácil, onde era perigoso, onde será proibido.

Embora o ímpio zombe da fé do crente (Sl 22:8 Confiou no SENHOR! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer), ele confia no Senhor porque sabe que aqueles que confiam no Senhor não jamais serão envergonhados (Sl 25:3 Com efeito, dos que em ti esperam, ninguém será envergonhado; envergonhados serão os que, sem causa, procedem traiçoeiramente).

Sabemos que Deus é o Deus que vê. Sabemos que Deus é o juiz de toda terra e julga retamente. Sabemos que Deus retribui a cada um segundo as suas obras, aos ímpios segundo as suas iniquidades, aos justos segundo a sua retidão.

Aos justos Deus manifesta a sua graça, ele mostra o seu rosto favoravelmente porque o Senhor nosso Deus é fiel a cada uma de suas promessas e ele prometeu que os que cressem e fossem fiéis comeriam o melhor da terra, isto é, seriam abençoados abundantemente.

Aquele que for encontrado pelo Senhor fazendo a sua vontade será abençoado, será recompensado por sua fidelidade porque aquele que fez a promessa é fiel e poderoso. Ele prometeu, ele cumprirá.

CONCLUSÃO

O crente deve viver no tempo presente como alguém que está em uma sala iluminada, à vista de todos, cercado de câmeras de vigilância que seguem cada um de seus passos sem que haja nenhum, absolutamente nenhum ponto cego. Nada escapará ao olhar vigilante de Deus.

Onde o mal impera, onde todos fazem o que é mal, onde cada um segue seu próprio coração, onde as leis são torcidas para beneficiar o mal e onde a prática do bem é punida com mais rigor e mais maldade ainda.

Mesmo assim o justo, o que teme ao Senhor, deve continuar praticando a justiça porque o Senhor ainda está governando e fazendo justiça sobre toda a terra. Apesar do aparente império do mal o Senhor continua vendo – o Senhor não vai deixar de exercer juízo, não vai deixar de punir a impiedade e, ao fim, recompensar com delícias perpétuas os que temem ao seu nome.

Ml 3:16 Então, os que temiam ao SENHOR falavam uns aos outros; o SENHOR atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do seu nome. 17 Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que prepararei, diz o SENHOR dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve. 18 Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve.

É por isso que você deve continuar a fazer o bem. O crente deve fazer o que o Senhor quer que ele faça. O crente deve fazer tudo pra glória de Deus. E deve ser assim porque ele vê e recompensa. Vale a pena. Então, crente, faça.

Que o Senhor incline seu coração para fazer a sua vontade (Pv 21:1 Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu querer, o inclina).

Se até este momento você duvidada da justiça de Deus sobre a impiedade, e da graça sobre a prática da justiça, então, é tempo de mudança em sua vida (Is 55:7 Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar).

Este é o tempo, hoje é o tempo, agora é o tempo. Não importa onde você esteja nem o que você tenha feito, Deus é rico em perdoar, e perdoa com graça porque aquele que o busca, que confessa os seus pecados alcança misericórdia (Pv 28:13 O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia).

É preciso que você, neste momento, tome uma decisão firme de buscar ao Senhor neste momento, buscar a graça do Senhor neste momento, converter-se ao Senhor enquanto é possível encontrá-lo (Is 55:6 Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto).

Mas faça isto já, faça isso agora, porque depois que fizer isso, pode parecer que os fundamentos do mundo se abalem, mas o que confia no Senhor não será abalado (Pv 10:30 O justo jamais será abalado, mas os perversos não habitarão a terra) e permanecerá firme até o fim recebendo das mãos do Senhor a coroa da salvação eterna (Mt 24:13 Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo).

Decida-se, tome a atitude correta e persevere para que não chegue o momento em que, já sem esperança no grande e terrível dia do Senhor você se lembre e tente clamar, e Deus diz: não, não ouvirei, não é mais tempo. Leia em sua bíblia, quantas vezes for necessário, estas palavras do Senhor em resposta à rejeição do convite feito pelo profeta Isaías no capítulo 55:

Pv 1:24 Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a mão, e não houve quem atendesse; 25 antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; 26 também eu me rirei na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei, 27 em vindo o vosso terror como a tempestade, em vindo a vossa perdição como o redemoinho, quando vos chegar o aperto e a angústia. 28 Então, me invocarão, mas eu não responderei; procurar-me-ão, porém não me hão de achar. 29 Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o temor do SENHOR; 30 não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão. 31 Portanto, comerão do fruto do seu procedimento e dos seus próprios conselhos se fartarão. 32 Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição.

33 Mas o que me der ouvidos habitará seguro, tranqüilo e sem temor do mal.

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