sexta-feira, 26 de setembro de 2008
SAF EM CAJAZEIRAS
CULTO NA OUROPLAC
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
EVANGELHO E POLÍTICA
Compartilho da sua opinião quanto a voto (em quem votar e porque votar, conforme explicito em posts anteriores) e envolvimento de pastores e evangélicos em política - geralmente os males são tão grandes que eventuais benefícios são irrelevantes. Entretanto, as opiniões emitidas pelo autor do e-mail que é intitulado "uma análise bíblica do envolvimento de evangélicos com política" - e insisto em caracterizá-las como opiniões - não chegam a ser análises bíblicas propriamente ditas. Vou demonstrar com um só exemplo citado no e-mail para justificar o não envolvimento dos cristãos no processo eletivo em curso: Jr 17.5 [Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!]. Este texto deve ser entendido como uma exortação a aguardar a redenção somente mediante o braço divino (conforme o verso 7 –Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja esperança é o SENHOR), e não de homens (entretanto, em momento algum é dito que Davi - só para citar um exemplo - foi amaldiçoado por confiar em seus capitães ou mesmo em Jônatas. É preciso compreender claramente o contexto).
Quanto à participação no sistema político nacional (e concordo com o missivista, que afirma que o mesmo é corrompido em suas bases, em suas práticas e nos objetivos, haja visto o mal que o petralhismo tem feito ao país - mal maior do que todos os outros governos anteriores por ser declaradamente contra Deus) cada um deve participar como julgar melhor, entretanto, corruptos ou não (e creio haver pessoas honestas no meio político), são as autoridades que estão constituídas sobre nós (escolhidas pelos brasileiros, infelizmente). Entre um anti-cristão desonesto e alguém que pelo menos não assina em propostas claramente contra Deus, não seria melhor, através dos instrumentos legais, apeá-los do poder (já houve tempo em que evangélicos usaram das armas para combater tiranos anti-cristãos)? E olhe que não estou defendendo o voto em evangélico (acho que existem evangélicos tão desonestos quanto não evangélicos, e também devem ter não evangélicos tão honestos quanto evangélicos), apenas afirmo que pode haver gente sensata ou, no mínimo, menos pior do que o lulo-petralhismo que está no poder atualmente. Que o mundo "jaz" no maligno, é indiscutível, mas, que "mundo" é este? É o universo, o planeta, todas as pessoas do mundo ou, como quero entender, o sistema de poder e pensamento que rege a sociedade ? Creio que é deste que o Senhor Jesus está falando - e este pode ser, no mínimo, desafiado mediante a pregação da vontade de Deus - como uma luz, um farol (e, é claro, para isso não precisamos de políticos evangélicos, precisamos de, no meio da sociedade, empresários honestos, trabalhadores honestos, professores honestos, evangélicos crentes se me é permitida a redundância, tão necessária neste momento de crise de identidade do evangelismo nacional). Lembremos por outro lado que o senhor afirmou que detém todo o poder, no céu e na terra.
Nossa cidade verdadeira, nossa pátria eterna é a celestial, mas não fomos tirados do mundo, e, aqui, temos um papel fundamental de ser sal e luz, de sermos a voz da verdade (nada em comum com o conjunto herético homônimo) denunciando o erro, a mentira, as falcatruas e a baixaria que rege a políticalha nacional. Mas isto também se faz com propostas, com presença propositiva e não apenas negativa. Compartilho da posição de não ter escolhido nenhum candidato nos últimos pleitos- há muito tempo não escolho ninguém (talvez o faça na próxima eleição presidencial, não por julgar que um candidato qualquer seja o "salvador da pátria", mas por julgar que o lulismo é em sua origem, essência e práticas, diabólico). E fazê-lo, escolher por meio do voto apear do poder estes verdadeiros "assistentes do diabo" (veja artigo em meu blog sobre a incompatibilidade entre o cristianismo e o petismo) não significa, necessariamente, amor ao sistema de valores mundanos (mundo), pelo contrário, significa uma rejeição deles.
Creio que as autoridades que estão no poder foram colocados por Deus (seja qual o instrumento usado) e elas lá estão com vários objetivos, inclusive o de disciplinar , mostrar quão maléfico pode ser um homem, inimigo de Deus, prenúncio do anti-Cristo, com poder nas mãos(mas tem que ser para sempre, e, da mesma forma que chegaram ao poder, não podem ser de lá retiradas?). Muitos tem se afastado dos negócios seculares por acharem que o caminho é mesmo de deteriorização. Não compartilho do pessimismo de que "tudo só vai piorar". Nem precisa ser assim. Os homens maus vão de mal a pior - e isso será assim. Mas o cristianismo deve continuar a fazer sua luz brilhar, e, com quanto maior intensidade, melhor, mesmo que em meio às mais densas trevas. Eu não desistirei de proclamar a verdade e o amor de Deus porque "alguns"- vejam bem, apenas alguns - apostatarão da fé. Sempre foi assim, desde o colégio apostólico (quase 10% de apóstatas – sem falar que todos fugiram quando o salvador foi preso e o discípulo que aparentava maior firmeza negou o salvador por três vezes). Se o Senhor tivesse afirmado que a maioria apostataria, eu não poderia deixar de aceitar, mas estaria mais preocupado. Estes "alguns" talvez estejam se referindo a pregadores como Edir Macedo e sua fábrica de tirar dinheiro de gente que não quer estudar a bíblia e segue a qualquer inventor de idéias absurdas, defensor do aborto, R.R. Soares, o Sílvio Santos gospel, antigo, embolorado e sem conteúdo, mas melífluo, engana bem, Marcos Feliciano, declaradamente inimigo das igrejas tradicionais, Paulo Roberto e sua revelação galinácea, Silas Malafaia e suas mensagens de 1/3 de duração – quem quiser ouvir mais deve comprar um DVD (talvez o mais sutil, perigoso e enganador entre todos) e semelhantes que, com aparência de piedade (alguns nem isso) enganam a muitos com suas doutrinas demoníacas travestidas de evangelho, quando na verdade só desejam encher suas contas bancárias acumulando crime sobre crime, desonra sobre desonra, mentira sobre mentira, pecado sobre pecado.
Tenho amigos (e até ovelhas) evangélicos e políticos - me alegro e entristeço com eles na mesma medida em que me alegro e entristeço com os demais membros e amigos - a diferença que eu vejo é apenas na publicidade (são pessoas públicas, chamam um pouco mais a atenção). Mas uma língua ferina dentro da igreja pode causar muito mais problemas para o evangelho, para a subsistência da igreja local do que um pecado público, político, tratado adequadamente.
Quanto a votar em pastores, já expressei minha opinião a respeito mais de uma vez, e resumo meu pensamento da seguinte forma: "Alguém que julgue um cargo político público mais importante que se dedicar exclusivamente a ser ministro do Senhor e de seu evangelho não é digno de ser ministro do evangelho - deixe o ministério e não use o cargo (já que ministério é devoção integral) para angariar votos". Penso da mesma forma quanto aos que "vendem" a igreja para políticos. São lobos devoradores, bandidos inescrupulosos com fachada de santidade. Merecem o chicote como os vendilhões do templo. Com estes rejeito até mesmo me assentar à uma mesa em nome de uma pretensa "koinonia" - coisa que não pode haver entre cristãos e bandidos gananciosos(que querem encher seus bolsos e ventre, mas prestam um desserviço a Cristo e seu evangelho - aliás, o que estes falsos sabem de evangelho? Pregam mesmo o evangelho ou apenas repetem uma certa "cultura pseudo-evangélica" prosperista, gananciosa e libertária?).
Lamento muito que a igreja se deixe enganar (e em muitos casos ela quer ser enganada – é mais fácil atribuir a responsabilidade a outros do que pensar e decidir por si mesmo, arcando com as conseqüências da sua decisão, esta é a verdade) por políticos inescrupulosos que a usam para conseguir cargos e benesses (e por líderes – recuso-me a admiti-los verdadeiros pastores – inescrupulosos com os mesmos objetivos). Lamento que falsos crentes se aproveitem da ingenuidade das igrejas (especialmente no meio neopentecostista) para, em troca de alguns gritos, brados e frases de efeito, conseguir 4 anos de sombra e água fresca. Qualquer um que assegure ter tido visões a respeito de desempenho político é duplamente enganador: não teve as visões e alega novas revelações, rejeitando a inerrância e completitude bíblica. Serão julgados pelo Senhor da bíblia e da igreja, porque estão usando o santo nome do Senhor de forma irresponsável e cheia de vilania.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
ESTÁ CHEGANDO O DIA!!! Ai! Ai!
ELEIÇÕES 2008
Está chegando mais uma importante data para a cidade de Jacundá - e de milhares de outras cidades espalhadas pelo nosso imenso e sofrido Brasil. Creio que muitos já definiram os seus escolhidos, e como os irmãos sabem, não faço qualquer espécie de política partidária. Não somos alienados, isto é, temos consciência de que tudo quanto acontece em nossa cidade e sociedade afeta, em maior ou menor grau, a “ecclesia”, isto é, a micro-sociedade dos que foram chamados por Deus para uma vida de devoção e santidade, embora permanecendo no meio da corrupção e vilania que caracteriza as instituições humanas apartadas da obediência ao criador.
Sabemos que o resultado das eleições influenciará de alguma forma a caminhada da Igreja do Senhor - não apenas da Igreja Presbiteriana. No entanto, precisamos ter o cuidado para não superestimarmos o que é humano e subestimarmos o que é de Deus. Nestes dias de intensa campanha política, de busca de votos por parte dos candidatos a prefeito e vereador, não pude deixar de ficar inquieto com todo o debate em torno de candidatos (e mais inquieto fiquei por perceber que quase nada se falava quanto a propostas concretas - embora sabedor que tais propostas, na grande maioria delas, jamais poderão ser convertidas em realizações, seja por impossibilidade, incapacidade ou mera falta de vontade). Entendo que o chamado para o sagrado ministério significa um engajamento absoluto (II Tm 2.4 - Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer a vontade daquele que o arregimentou) tendo como alvo conduzir o povo a Deus e à prática da vontade de Deus - e o envolvimento partidário não faz parte deste propósito (há quem o faça com todo tipo de motivação, e prestará contas a Deus quando conseguir escapar da justiça - ou ira - dos homens). A (ainda breve) experiência tem demonstrado que a política partidária, quando encampada pelo ministro, traz mais prejuízos que dividendos para a igreja, e deve ser, portanto, rejeitada por aqueles que foram comissionados para o sagrado ministério (I Co 1.10) - o ministro é um anunciador da paz - e não deve correr o risco de promover divisões.
Quero que a Igreja entenda, em primeiro lugar, que, como cidadão com direitos e deveres, o ministro pode e deve ter uma clara visão política. Não pode ser um alienado. O cristão não deve ser, jamais, um mundano, mas influencia ou é influenciado pelos valores do mundo que o cerca. O ministro pode fazer uma opção por este ou aquele projeto político, mas jamais deve usar a autoridade espiritual que lhe foi concedida para anunciar o evangelho como embaixador do reino a favor ou contra este ou aquele candidato especialmente porque sabe que o Senhor permanece no controle e determinará que o seu “escolhido”, como fez ao escolher um ímpio, Ciro (Is 44.28), para executar a sua vontade para bem e para mal das nações. Lembremos que a maior denominação evangélica nacional - grande também em nosso estado e cidade - em 1994 e 1998 chamou um candidato a presidente da república de emissário de satanás e em 2002 e 2006 fez com este mesmo candidato - que não mudou, quem mudou foi a denominação - acordo para apoiá-lo e nele votar, macicamente (embora o mesmo seja rejeitado oficialmente pela própria igreja que professa, sendo chamado de “caótico” e não “católico”).
Quero ainda que a Igreja entenda que, escolhendo este ou aquele candidato, deve fazê-lo no mesmo espírito que busca eleger um pastor, presbítero ou diácono: buscando a glória de Deus e o benefício da comunidade. Alguns se equivocarão em suas escolhas? Muito provavelmente. Isto é ruim? Não necessariamente. Neste aspecto não há pecado em “errar”, porque Deus não nos deu uma diretriz sobre “quem eleger” nas eleições 2008, mas cada um deve tomar o cuidado sobre o “como” e o “porque”. Não permita que o seu coração te engane e se deixe influenciar por razões chãs ou emocionais. Escolha conscientemente aquele que julga ser o melhor para a sua comunidade e para a comunidade em geral.
Quero, ainda, que cada membro da Igreja que não assumo o papel de advogado ou promotor em relação a qualquer dos atuais candidatos - posso afirmar desconhecê-los. Mas me bato, infatigavelmente, contra a imoralidade, o vício e o desrespeito às pessoas e às leis.
É absolutamente necessário que nossos olhos, embora atentos ao que acontece ao nosso redor, jamais, em momento algum, sejam retirados daquele que é o autor e consumador da fé - embora os homens se sucedam nos tronos do mundo o trono do nosso Senhor jamais ficará vazio, pelo contrário, o Senhor permanece assentado, glorioso, reinante, sublime, atento e atuante, e nada mudará isto, ainda que estejamos preocupados em extremo, ele nos chama para olhar para cima, nele depositando a nossa confiança e esperança.
Já afirmamos uma vez a respeito de outro assunto e repetimos: a esperança, a nossa esperança, a verdadeira esperança não está em homens nem em métodos. Não devemos nem confiar nossa esperança aos homens, nem temê-los mais do que àquele que deve ser aguardado e temido. Sabemos que, não importa quem vença o pleito municipal, mudanças ocorrerão em nossa cidade, entretanto, algo que nunca deve mudar é a nossa esperança no Senhor Jesus Cristo - ele sim, a razão da nossa esperança e a rocha inabalável.
De tudo o que se tem visto e ouvido nestes últimos dias, é necessário lembrar que o único que é capaz de cumprir todas as suas promessas é o Senhor Jesus. Só ele é poderoso e veraz o suficiente para cumprir tudo quanto disse que faria - recompensando aqueles que se colocam ao seu lado e sofrem por causa da justiça, mas também punindo os ímpios. Faça a escolha pela motivação certa - quanto ao mais, pode confiar em seu Deus!
sábado, 20 de setembro de 2008
A ESCOLA BÍBLICA
A Escola Bíblica
A Escola Bíblica (Dominical ou não) é uma estrutura presente em todas as denominações protestantes e em algumas pentecostistas com o objetivo de ensinar a bíblia e as doutrinas particulares de cada denominação – com ou sem ênfase no contraditório ou aplicação das mesmas aos diversos reclames do mundo moderno. Na grande maioria das Igrejas ela é realizada aos domingos e por isso é chamada de Escola Dominical (da palavra latina "Dominus", Senhor, que deu origem ao nome do primeiro dia da semana em português, domingo).
Geralmente os estudos são temáticos e capitulados, isto é, abrangem um assunto que é subdividido na maioria dos casos em 13 ou 14 sub-tópicos (estudos de um trimestre).
A Escola Bíblica surgiu na Inglaterra, com o propósito duplo de educar e evangelizar as crianças inglesas, que ficavam sem atividades aos domingos – especialmente no período dos cultos dominicais, quando não tinham a atenção dos seus pais.
A Escola Bíblica, uma criação eminentemente protestante, tem sido atribuída ao inglês Robert Raikes (14.09.1735 – 05.05.1811), filho de Robert e Mary Raikes. Raikes foi batizado na Igreja Anglicana de Cript`s Saint Mary, na rua Southgate, Gloucester, onde foi educado antes de transferir-se para o King Kollege. Aprendeu jornalismo com seu pai, dono do Gloucester Journal (assumiria o jornal em 1757), aumentando o tamanho e melhorando o layout do jornal.
Quando procurava um jardineiro na rua Saint Catherine, em Sooty Alley, Gloucester, ele encontrou muitas crianças maltrapilhas brincando nas ruas e foi informado que aos domingos a situação era ainda pior, pois àquelas se juntavam outras mais velhas que trabalhavam de segunda a sábado nas fábricas e passavam o tempo brincando, brigando com extrema violência e entregue aos vícios (fumo, jogos e álcool, especialmente). Raikes percebeu que estas crianças estavam a um passo da criminalidade e da cadeia (outra de suas preocupações era a Reforma prisional inglesa por causa das terríveis condições das cadeias em sua época – certamente não muito diferentes das que temos hoje). Raikes trabalhava entre os detentos das prisões desde os 15 anos e não queria que aquelas crianças acabassem indo para aqueles lugares.
Raikes foi tomado de amor por estas crianças e resolveu estabelecer, com seus próprios recursos, uma escola gratuita para esses meninos, contratando quatro mulheres do bairro para lecionar (salário inicial, 1 xelim e seis pence). Conseguiu a ajuda do Rev. Thomas Stock e logo tinha uma centena de crianças de idade entre seis a quatorze anos nestas escolas que só funcionavam aos domingos. Procurava as crianças em plena rua e em casa dos pais e as conduzia ao local de reunião, fazendo-Ihes apelos para que todos os domingos estivessem ali reunidas. O início do trabalho não foi fácil. O objetivo primário desta escola, instalada na Rua Saint Catherine, era alfabetizar os alunos e ministrar-lhes aulas de religião para produzir uma sociedade melhor que a que havia. Segundo Raikes seu objetivo era modificar o caráter destas crianças através dos ensinamentos bíblicos. Assim nasceria, a 20 de julho de 1780, a Escola Dominical.
Na prática, a Escola Dominical ainda não era bíblica, era um Instituto Infantil com ensino bíblico, e operava independente das Igrejas, alfabetizando e ministrando ensino bíblico às crianças carentes. Quando algumas crianças começaram a recusar-se a ir à escola por causa das condições de suas roupas Raikes providenciou, também, banhos e cortes de cabelo para elas.
O período de aulas era das 10.00h até as 14.00h (com intervalo para almoço) e eram ministradas aulas de Matemática, Inglês, História e Instrução Moral e Cívica. Às 17.30h eram conduzidas à Igreja do Rev. Stock para a instrução catequética. O ensino das Escrituras consistia quase sempre de leitura e recitação. Em seguida, teve início a prática de comentar os versículos lidos. Muito depois é que surgiu a revista da Escola Dominical, com lições seguidas e apropriadas. Os de melhor aproveitamento e comportamento recebiam pequenas recompensas (livros, canetas, jogos, etc.) Mas, à exemplo da educação ministrada em todo o mundo à época, os de mau comportamento recebiam castigos, até mesmo corporais.
Raikes estabeleceu o seguinte: desenvolver inicialmente uma fase experimental de três anos de trabalho. Após isso, conforme os frutos produzidos, ele divulgaria ao mundo tudo sobre o trabalho em andamento.
Nessa fase experimental (1780-1783), Raikes fundou 07 Escolas Dominicais somente em Gloucester, tendo cada uma 30 alunos em média. Os abençoados frutos do trabalho logo surgiram entre as crianças, refletindo isso profundamente nos próprios pais. Estava dando certo a experiência com a Palavra de Deus! O que pode fazer a fé em Deus e, o amor a Ele e ao próximo!
Após este período de experiências, Raikes divulgou suas idéias e também os resultados obtidos no Gloucester Journal, de sua propriedade, na edição de 03 de novembro de 1783 (data oficial de comemoração do dia da Escola Dominical inglesa).
Outros jornais logo transcreveram o relato de Raikes – e os líderes religiosos ingleses tomaram conhecimento do movimento que começava a ganhar adesões. 04 anos depois de iniciada, e um ano depois da divulgação a Escola Dominical já contava com 50.000 matriculados. Logo se verificou também que, onde se instalava com êxito a Escola Dominical a taxa de criminalidade caía, e é impressionante registrar que em 1792 não houve um só caso de crime julgado na comarca de Gloucester.
Algumas igrejas passaram a dar apoio ao trabalho de Raikes. A Escola Dominical passou das casas particulares para os templos, os quais passaram a encher-se de crianças.
A idéia ganhou rapidamente todo o Reino Unido (Inglaterra, Escócia e Irlanda) e logo os protestantes americanos importaram a idéia. Um comerciante, diácono da Igreja batista da R. Prescott, em Londres (William Fox – 1736-1826), impressionado com os resultados obtidos por Raikes chamou-o para criar a Sunday School Sciety of Grat Britain (Sociedade da Escola Dominical da Grã-Bretanha) em 1785, agora com o apoio de dois bispos anglicanos (Chester e Salisbury). Esta sociedade logo conseguiu beneméritos e conseguiu manter 300 escolas com livros, material didático e professores, publicando, também, na gráfica de Raikes, o Sunday School Companion, livro com versículos bíblicos para leitura e uso em sala. Em 1887 já havia 200 mil crianças matriculadas na Escola Dominical.
OPOSIÇÃO
Houve, entretanto, forte oposição ao movimento nascente, considerado por alguns líderes religiosos como um movimento diabólico porque funcionava à parte das Igrejas e era dirigido por pessoas sem formação pedagógica e teológica (apesar de ter o apoio de bispos). O arcebispo de Canterbury reuniu os bispos anglicanos numa tentativa de exterminar o movimento, pedindo inclusive ao parlamento britânico, em 1800, que decretasse a proibição do funcionamento das escolas bíblicas. Entendiam eles que este movimento levaria à desunião da Igreja e profanava o "Dia do Senhor". Raikes não tomava conhecimento disso e a obra tomava vulto. O jornal do qual ele era redator foi uma coluna forte na defesa e apoio da novel instituição, publicando extensa série de artigos sob o título A ESCOLA DOMINICAL, reproduzidos nos jornais londrinos. Raikes se aposentou em 1802 e faleceu em 1811, mas o decreto jamais foi aprovado. Seus alunos vieram ao seu funeral na Igreja Anglicana de Saint Mary, no mesmo local onde fora batizado. Já havia mais de 400.000 matriculados nas escolas dominicais. No ano de sua morte ocorreu, pela primeira vez, a divisão em classes, possibilitando a alfabetização de adultos.
A PRIMEIRA ESCOLA DOMINICAL NA AMÉRICA
A primeira Escola Dominical cujo funcionamento é reconhecido nos Estados Unidos (e na América, portanto) funcionou na fazenda de William Elliot, em 1802 (mais tarde seu funcionamento passou a ser na Igreja de Oak Grave, Accomac, Virgínia. Logo elas se espalhariam rapidamente por todo o país, sendo organizadas para ensinar crianças e adultos. Foi nos Estados Unidos que a Escola Dominical foi usada, prioritariamente, como meio de ensinar a Bíblia (e as doutrinas particulares de cada denominação) aos membros em regime semanal. Em 1824 a União Americana de Escolas Dominicais já possuía escolas em 17 estados (eram 34 à época, hoje são 50). Mas a característica da laicidade das escolas dominicais permanecia, embora já com a presença de profissionais do magistério.
A ESCOLA DOMINICAL NO BRASIL
Em 1836 (25 anos antes da chegada do Rev. Ashbell Green Simonton) o Rev. Justin Spaulding organizou no Rio de Janeiro uma congregação que contava com 40 freqüentadores (ingleses e americanos). No mesmo ano abriu uma Escola Dominical que chegou a ter 30 alunos, dos quais alguns brasileiros. Mas somente em 19 de agosto de 1855 um casal de missionários escoceses independentes, Rev. Robert (um médico que fora ateu) e Mrs. Sarah Poulton Kalley fundaria, em Petrópolis, a que é considerada a primeira Escola Dominical brasileira, com 05 crianças (contou-lhes a história de Jonas) – mas seu trabalho floresceu e alcançou todo o Brasil. Esta Escola Dominical deu origem à Igreja Evangélica Fluminense. No local onde funcionou a primeira escola dominical encontra-se um colégio (colégio Opção, R. Casemiro de Abreu) onde ainda e possível encontrar um memorial que registra este momento singular da história do evangelho em nossa terra.
Atualmente a Escola Bíblica Dominical envolve todos os membros da Igreja, em todas as faixas etárias e possuiu uma estrutura própria, mas certamente se desviou do propósito inicial de Sir Raikes: alfabetizar e instruir para a vida em sociedade.
Durante muito tempo, só crianças freqüentavam a Escola Dominical. Os adultos ingressaram depois. Hoje, em inúmeros lugares, ocorre o inverso: quase só adultos são beneficiados, ficando as crianças em último plano.
A alfabetização foi deixada de lado e o ensino ministrado é principalmente bíblico. No Brasil, a maioria das comunidades adota a EBD matinal e os cultos à noite, mas um número cada vez mais numeroso realiza a Escola Bíblica antes do início dos cultos ou até mesmo aos sábados (não estou me referindo aos sabatistas). Em países como Estados Unidos e na Inglaterra, todas as atividades dominicais acontecem durante a manhã.
A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA DOMINICAL
Nosso país enfrenta os mesmos problemas enfrentados pela Inglaterra setecentista – delinqüência juvenil, famílias desestruturadas, vícios, etc. Somente a Palavra de Deus tem orientação segura para a resolução destes problemas – embora tão rejeitada pelas autoridades e até mesmo pelos crentes.
Infelizmente até mesmo a Igreja está se esquecendo do potencial da Escola Bíblica (dominical ou não) como instrumento de propagação da vontade de Deus, reestruturando famílias, orientando para a vida tanto no âmbito social (entre os homens) quanto espiritual (do espírito com Deus).
Não podemos desperdiçar este importante instrumento de Deus para bênção da sua Igreja: não podemos dormir (literal ou não) enquanto o mundo precisa desesperadamente da mensagem anunciada na Escola Bíblica: Só Jesus Cristo salva.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
ADÃO TINHA UMBIGO?
Adão tinha umbigo?
Esta pergunta me foi proposta por um amigo, propondo dois partidos, os "umbigolistas" e os "unbigolistas" (diferença sutil, de apenas uma letra) – achei interessante a pergunta, não pela necessidade de respondê-la, mas porque remete a algo que é importante na vida da Igreja. Já houve debates ferrenhos, ao longo da história, como: de que forma Maria era mãe de Jesus, ou qual a essência de Jesus (homoousion – da mesma essência ou homoiousion = semelhante) e ainda a procedência do Espírito Santo (se apenas do Pai ou se do Pai e do Filho). Igrejas foram divididas, muitos foram mortos, houve muito sofrimento e choro, mas eram questões essenciais, de profunda relevância para a vida da Igreja.
Estes três problemas foram resolvidos da seguinte forma:
MATERNIDADE: Nestório (381-? D.C.) foi bispo de Constantinopla, a capital do império, de 428 a 431, cargo ao qual foi elevado por ordem do imperador Teodósio II. Filho de pais persas, foi educado na escola de Antioquia. Para combater aqueles que enfatizavam a divindade de Jesus ao ponto de negar sua humanidade, ele questionou a própria divindade de Jesus enquanto menino, e, assim, negou a Maria o título de theotokos, mãe de Deus. Ensinava que o filho de Maria era um homem que se transformara em órgão, instrumento da divindade. Essa divindade não sofrera na cruz, apenas a humanidade. Poderia se dizer, então, que Maria era christotokos, mãe de Cristo. Jesus era um ser humano que fora assumido pela divindade, e não um ser divino descido do céu para se transformar num homem em termos dos mitos pagãos da transmutação. Diz-nos ele: "Tinha Deus uma mãe? Então nós podíamos perdoar o paganismo por dar mães às suas divindades. Então seria Paulo um mentiroso quando testemunhava a respeito de Cristo, que ele era "sem pai, sem mãe, sem descendência"? não: Maria não era a mãe de Deus, pois "aquele que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito" [B.J. KIDD, A History of the Church to AD 461, VOL III, Oxford, The Clarendon Press, 1922, p. 203-204.]. Embora o pensamento de Nestório fosse basicamente o mesmo defendido pela escola de Antioquia como um todo, sua doutrina acabou sendo condenada pelos Concílios de Éfeso (430 d.C.) e Calcedônia (451 d.C.) e ele foi exilado para o Egito.
A NATUREZA DE JESUS: Ainda conseqüência dos debates travados em torno do Nestorianismo, o arianismo representou um esforço de se encontrar um meio-termo entre os dois extremos, mas não deixa de ser um caso da corrente que negava a divindade de Jesus. Ário nasceu em 256 d.C. na Líbia e foi educado teologicamente em Antioquia, na Síria. Sua formação intelectual, portanto, era fortemente influenciada pelos valores e conceitos orientais, aonde a filosofia grega ainda era cultuada (especialmente o platonismo). Talvez por isso seja possível encontrar nas obras de Ário um certo platonismo, que considerava a figura divina como de uma transcendência absoluta, completamente isolada do cosmos e sem relacionamento direto e imediato com o mundo criado.
De Antioquia ele mudou-se para Alexandria, no Egito, onde foi ordenado presbítero (tinha funções pastorais, não apenas administrativas) pelo então bispo local chamado Achillas no ano de 311 d.C. em 312 d.C. Achillas morreu e foi substituído no bispado de Alexandria por Alexandre. Em 318 d.C. Alexandre promoveu um encontro informal entre seus presbíteros, no qual surgiu uma discussão a respeito da trindade. Ário acusou o bispo de sabelianismo. Escandalizado, Alexandre convocou um sínodo com os líderes religiosos sob a sua influência e condenou a atitude de Ário, o qual, sentindo-se injustiçado, começou a buscar o apoio de outros bispos e sacerdotes influentes da época. Além disso, Ário levou suas idéias diretamente ao povo, pregando-as em seus sermões e escrevendo letras que eram musicadas e cantadas por grupos de fiéis (é o primeiro registro do uso dos corinhos como meio de doutrinação do povo comum). Dentre as muitas cartas e declarações por ele redigidas na época, há uma em que ele resume seu ponto de vista a respeito da questão cristológica: "Nossa fé, e de nossos antepassados, que também aprendemos de vós, abençoado papa, é esta: "nós reconhecemos um Deus, sozinho não gerado, sozinho eterno, sozinho sem principio, sozinho verdade, sozinho tendo imortalidade, sozinho sabedoria, sozinho bom, sozinho soberano; Juiz, Governador e Providência para todos, inalterável e imutável, justo e bom, Deus da Lei e dos Profetas e do Novo Testamento; o qual gerou um Filho Unigênito antes dos tempos eternos, mediante o qual ele fez tanto o tempo quanto o universo; e O gerou, não em aparência, mas em verdade; e que Ele O fez subsistir à sua própria vontade, inalterável e imutável; criatura perfeita de Deus, mas não como uma das outras criaturas; emanação, mas não como uma das coisas criadas; não como Valêncio (Valenciano) pronunciou que a geração do Pai era um problema; nem como Maniqueu (Mani ou Manu) ensinou que a geração era uma porção do próprio pai, e um em essência; nem como Sabélio, dividindo a Monad, fala do Filho-e-Pai; não como Hierarcas, de um ser a tocha do outro, ou como a lâmpada dividida em duas; nem que Ele existia antes, foi depois gerado ou recriado no Filho, como vós mesmos, abençoado papa, em meio à Igreja tem freqüentemente condenado; mas como nós dizemos, pela vontade de Deus, criado antes dos tempos eternos, recebendo a vida do Pai, o qual deu-lhe subsistência para sua glória junto com Ele. Pois o Pai, ao fazer-lhe herdeiro de todas as coisas, não se privou de nada daquilo que é intrinsecamente seu, pois Ele é a fonte de todas as coisas. Assim existem três substâncias. E Deus, sendo a causa de todas as coisas, é sem princípio e completamente uno, mas o filho sendo gerado pelo pai, e sendo criado e achado antes das eras, não existia antes de sua geração, e foi feito subsistir pelo Pai. Pois ele não é eterno ou co-eterno ou igualmente sem principio com o Pai, nem Ele tem o seu ser junto com o do Pai, como alguns falam de parentesco, introduzindo dois princípios não gerados, mas Deus é antes de todas as coisas pois é o Monad e o Princípio de tudo. Desta forma, Ele também existe antes do Filho, tal como aprendemos da pregação da Igreja".
Como se vê, Ário possuía boa instrução e partiu das idéias platônicas de que haveria uma entidade criadora de tudo o que existe, entidade essa que seria única e uma, e concluiu que Deus só poderia ser um e uno. Como não poderia haver dois deuses, raciocinou ele, Jesus, o Filho, seria uma criação do Pai, e não co-eterno com ele; houve um tempo em que Jesus não existiria. A rigor, Jesus não seria o próprio Deus, mas uma emanação sua. Também não seria totalmente humano, porque seria uma emanação direta da divindade. Jesus seria algo como uma ponte entre Deus e os homens. Maria teria dado à luz algo como um meio-deus, alguém como os heróis do mundo antigo [Lembre-se que a mitologia grega tinha uma galeria de semideuses (Hércules, Prometeu), derivados de Zeus, incapazes da plenitude divina, embora dotados de alguns dons especiais. Jesus seria, assim, algo como um destes semideuses].
A campanha de Ário produziu resultados rapidamente. Muitos bispos e sacerdotes que, como ele, estudaram em Antioquia, tomaram a defesa de seu companheiro de escola. O bispo de Alexandria e um diácono local, de nome Atanásio, ficaram escandalizados com a pregação de Ário e seus seguidores. Raciocinavam eles: Se Cristo não fora totalmente humano, como então poderia ele sofrer e morrer na cruz? Se ele não era Deus, como poderia ele prometer a salvação e dar perdão? Além disso, se o Pai era eterno e imutável, como poderia ser Ele eternamente Pai se o filho também não fosse eternamente filho? Afinal de contas, Deus só era Pai porque era pai do Filho. Assim, o Filho não teria tido começo e o pai estaria com o Filho eternamente. A essência do cristianismo, para Atanásio, estava na afirmação da presença de Deus no mundo, entre homens e mulheres. O Deus cristão havia se feito carne para salvar os homens e mulheres de carne e osso, dando-lhes a vida eterna. E, se Cristo não era eterno, como poderia ele nos dar a eternidade? Se Cristo fosse menos do que totalmente Deus e totalmente homem, seu sacrifício seria vão ou, no mínimo, insuficiente. Alexandre também se articulou politicamente e foi buscar o apoio do imperador Constantino I. Este, a princípio, mandou uma carta para os dois pedindo que se reconciliassem e que deixassem de lado uma discussão que ele considerava "vazia", demonstrando pouco conhecimento ou interesse no assunto. Eusébio de Cesárea transcreve uma carta que Constantino mandou para Alexandre e Ário:
"Constantino Vencedor, poderoso, Augusto, a Alexandre e Ário:
Conheço a origem da vossa incompatibilidade. Tu, Alexandre, perguntaste a teus padres o que cada um pensava sobre um certo texto da lei (Pv 8.22) ou, de preferência, sobre um detalhe insignificante (grifo meu). Tu, Ário, emitiste imprudentemente uma reflexão que não deveria ser concebida, ou, caso fosse, não deveria ser comunicada. A partir daí, instalou-se uma divisão entre vós, a comunhão foi recusada, o povo santo se dividiu e a unidade foi rompida. Pois bem! Que cada um de vós perdoe o outro e siga os conselhos de vosso servo. De que se trata, portanto? Em princípio não se devem formular essas questões para evitar a obrigação de respondê-las. Tais pesquisas não são prescritas por nenhuma lei, sendo sugeridas pela ociosidade, mãe das vãs querelas. Elas podem servir de exercício ao espírito, mas devem ficar guardadas em nós mesmos e não podem ser propostas levianamente nas reuniões públicas nem confiadas inconsideradamente aos ouvidos do povo. Com efeito, quantas pessoas existem que sejam capazes de compreender um assunto tão difícil, ou de explicá-lo convenientemente? Vós não tendes nenhuma incompatibilidade referente aos preceitos da lei e não introduzistes nenhum novo dogma relativo ao culto de Deus. Ambos estais no mesmo sentimento e é fácil para vós entrar na mesma comunhão. Não é justo nem honesto que, disputando com obstinação acerca de uma questão insignificante, abuseis da autoridade que tendes sobre o povo, para comprometê-lo em vossas querelas...[ Apud COMBY, Op.Cit., p. 91.]"
O portador desta carta foi o bispo Hósio, que era o conselheiro particular do imperador, mas ele não conseguiu harmonizar as duas correntes. Fica claro o total desconhecimento de Constantino a respeito da seriedade da questão que se levanta, dando margem a indagar-se: teria ele realmente se convertido, apesar de batizado em seu leito de morte por Eusébio? No mesmo ano, então, Constantino convocou o Concílio de Nicéia, que veio a aprovar o chamado credo Niceno, que declarou que o Pai e o Filho são da mesma substância [homoousion - palavra grega que vem de homos, o mesmo ou a mesma, e ousia, essência. Foi traduzida na versão latina do credo de Nicéia como consubstancial. Ambas as partículas eram de significado ambíguo e só vieram a ter seus sentidos condensados entre os filósofos e teólogos após toda a discussão ariana resumida aqui], assumindo, desta forma, uma postura anti-ariana. Ário se recusou a assinar o documento final e foi exilado na Ilíria. Dois anos mais tarde, em 327 d.C., Ário escreve uma carta ao imperador Constantino na qual tentava apresentar-se como um seguidor da ortodoxia cristã (durante os períodos de exílio Ário e seus seguidores se engajaram em ativo trabalho missionário, permitindo o surgimento de reinos "arianos" na Espanha, África, norte da Itália, e entre as tribos dos Vândalos, Alanos e Lombardos, dentre outros). Nesta carta, Ário emprega a expressão homoiousion para dizer que ele reconhecia que o Filho era de uma substância semelhante à do Pai, enquanto o credo Niceno afirmara que o Pai e o filho era homoousion, da mesma substância. A partir daí, a tolerância de Constantino começa a acabar, pois para ele toda a discussão girava em torno de uma única letra, no caso, um i.
No ano seguinte, em 328 d.C., morre Alexandre, bispo de Alexandria, e Constantino, influenciado por familiares seus que eram simpatizantes do arianismo, convoca Ário de volta. Somente em 335 Ário é restaurado à comunhão da Igreja, por uma decisão do sínodo de Tiro, sendo que este Concílio excomunga o maior opositor de Ário, Atanásio, que havia sucedido Alexandre no bispado de Alexandria. Ário morre logo depois, em 336 d.C., em circunstâncias não explicadas, na véspera de ser restaurado ao presbiterato.
Apesar da morte dos dois principais contendores – Alexandre e Ário – as disputas entre as duas correntes persistem. Em 341 são realizados dois concílios em Antioquia em que os bispos locais reafirmam as teses arianas. Outros sínodos e Concílios seguem a mesma linha nos anos de 343 d.C. (Sárdica), 344 (Antioquia) e 345 (Milão). Depois, o pêndulo se inclina para o outro lado. Em 346 d.C. Atanásio, ferrenho opositor do arianismo, é restaurado no bispado de Alexandria e o Concílio de Milão (347 d.C.) combate o arianismo. Mais uma vez o pêndulo volta a mudar de lado em 353 d.C. (Arles) e em 355 d.C. (Milão), onde são realizados novos Concílios que voltam a defender as teses arianas, sendo que em 355 d.C. Atanásio é novamente deposto. As lutas entre as duas correntes continuaram e entre os anos de 357 a 380 d.C. chega-se a um impasse: são realizados diversos concílios que não conseguem decidir por nenhuma das duas correntes. Até que em 381 d.C., quando Atanásio já havia morrido no exílio, realiza-se o segundo Concílio ecumênico em Constantinopla, que reafirma o credo de Nicéia, acrescenta-lhe um parágrafo sobre o Espírito Santo e, à partir de então, a controvérsia vai gradualmente diminuindo – praticamente desaparecendo por vários séculos (As idéias arianas nunca desapareceram por completo. Ainda hoje elas são encontradas entre os Testemunhas de Jeová. Pensadores como Milton e Isaac Newton (nenhum deles teólogo) também defenderam-nas. Barry, WILLIAM, Arianism).
A posição fundamental da Igreja cristã a respeito de toda essa polêmica foi construída pouco a pouco. No final, não foi nem Alexandria nem Antioquia que prevaleceram: a posição da Igreja ficou sendo uma combinação de ambas. Veja: "Deus, o Pai, se situa além da capacidade de conhecimento intelectual humano, sendo inalcançável. Possui seu logos, sua própria forma de se manifestar; o logos manifesta Deus para o mundo criado, única forma deste conhecer Deus. Este logos, que é o princípio universal de todas as coisas particulares, não é criado do nada, antes, irradia-se da própria natureza de Deus, assim como o esplendor se irradia da luz (Em Mt 11.27 e Jo 10.36 o próprio Jesus usa o título de Filho de Deus como referente a si mesmo). Desse raciocínio resulta um principio aparentemente paradoxal do credo de Nicéia, que veio a ser formulado pela confissão de fé de Westminster sinteticamente ao dizer que o Filho, isto é, o logos "é eternamente gerado do Pai" (CFW, cap. II, 3). Com efeito, se o logos é a manifestação de Deus e Deus é eterno, conseqüentemente o logos também é eterno; por outro lado, se o logos emana ou procede de Deus, então ele também é gerado pelo pai. Daí dizer-se que o Filho é eternamente gerado pelo Pai".
Tertuliano criou a fórmula fundamental para expressar a triunidade e a cristologia, que é aceita até hoje: "Preservamos o mistério da economia divina que dispôs a unidade em trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, três não em essência, mas em grau, não em substância, mas em forma". Na trindade há uma só essência, só uma substância divina, razão pela qual pode-se afirmar que Deus é um só. Pai, Filho e Espírito Santo são graus, pessoas ou formas diferentes da mesma realidade substancial: o Deus que criou e sustenta sua criação. Tertuliano usou uma expressão, persona, para traduzir o termo grego prosopon, que era a máscara usada pelos atores do teatro (Lembre-se que as máscaras são coberturas colocadas sobre os rostos no teatro e em rituais religiosos, com o fim de disfarçar quem as usa. Os dramas da Grécia antiga se assemelhavam muito aos rituais religiosos. As máscaras vestidas pelos atores eram grandes, com expressões estereotipadas e exageradas (quase iguais às novelas mexicanas). A boca dessas máscaras era larga e continha uma espécie de megafone para ajudar a projetar a voz do ator para grandes audiências. Essas máscaras eram de dois tipos: trágica e cômica, com muitas variações para cada tipo. As máscaras continuaram sendo usadas no teatro mesmo na idade média quando se fazia necessário representar dragões, monstros e outros personagens alegóricos).
Mas, e a encarnação? Teria Deus se transformado em homem? Ou seria Jesus apenas um homem inspirado por Deus? A Igreja respondeu a esta pergunta através do próprio neoplatonismo, imperante no pensamento dos primeiros teólogos: Deus, o princípio do universo, é imutável; conseqüentemente, quando o "logos se fez carne" ele continuou sendo verdadeiro e pleno Deus. Mas se ele se fez carne, ele também foi verdadeiro e pleno homem. Assim, em Jesus Cristo havia duas naturezas – humana e divina, ambas plenas e sem interferência recíproca. Ele tem vontade divino-humana, em permanente harmonia. Na encarnação Jesus torna-se o intermediário entre Deus e o homem, justamente porque é a união de ambos, o Deus-homem.
A PROCEDÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO: Entre o término do concilio de Nicéia (325 d.C.) e o Concílio de Constantinopla (381 d.C.) surgiu um novo problema, que era a identidade do Espírito Santo. Havia várias facções: uma, liderada por Basílio de Ancira, ficou junto com Atanásio e desenvolveu o pensamento que acabou sendo aprovado no Concílio de Constantinopla como complemento ao credo de Nicéia; outra, liderada por Macedônio, que era bispo de Constantinopla, defendia que, uma vez que o Novo Testamento não falava nada da participação do Espírito Santo na criação, negava que o Espírito fosse da mesma natureza ou essência (ousia) que o Pai e o Filho, ou seja, negava o caráter divino do Espírito.
Basílio Magno e Gregório de Nissa respondiam a esta última corrente argumentando, em favor da divindade do Espírito Santo, com os seguintes princípios: 1) todos os atributos conferidos nos textos bíblicos ao Espírito Santo também são empregados em relação ao Pai e ao Filho; 2) o Espírito seria inseparável do Pai e do Filho, pois se assim não fosse, eles não seriam Espírito; 3) o Espírito seria co-criador com o Pai e o Filho. Esta última posição prevaleceu, e o Concílio de Constantinopla aprovou uma alteração ao texto de Nicéia, suprimindo-lhe algumas palavras e acrescentando-lhe outras, de modo que a redação final ficou sendo a seguinte: "...E no Espírito Santo, o Senhor e vivificador, o que procede do Pai [e do Filho], o que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, o que falou através dos profetas". Esta expressão "e do filho" (filioque) foi adicionada adicionadas pela Igreja ocidental ao credo aprovado em Nicéia e Constantinopla por volta do ano 800 d.C., ou seja, cerca de 500 anos após a aprovação da redação original. Elas acabaram sendo um dos pilares da dissensão de 1054 d.C., com a saída dos ortodoxos gregos para fundar uma denominação própria. Como se pode ver, a principal diferença entre as duas versões é que a forma original não inclui o Espírito Santo, e inclui ainda um pronunciamento anatematizando qualquer um que não acredite na plena divindade de Cristo. O acréscimo feito em Constantinopla é claramente dirigido contra aqueles que negavam a divindade do Espírito Santo. O importante a ser destacado é que o credo Niceno, com a sua redação final determinada pelo Concílio de Constantinopla, é o símbolo de fé de maior aceitação entre as Igrejas cristãs em todo o mundo, desde a sua aprovação até o dia de hoje. Ele é uma espécie de termo comum entre católicos, ortodoxos, anglicanos, luteranos, presbiterianos, batistas e outros. Algumas comunidades recitam-no todos os domingos, outras apenas quando da celebração da ceia, outras, enfim, quase nunca, mas estão de pleno acordo com seus ensinamentos.
Também houve questões que dividiram comunidades inteiras, especialmente nos séculos XIV e XVIII (períodos chamados de escolásticos), quando os grandes teólogos discutiam questões como o sexo dos anjos (expressão que virou sinônimo de discussão inútil) ou se as asas dos mesmos possuíam penas ou membranas – por favor, não me peçam para dar respostas a estas questões inúteis. Também se questionava, durante o período de maior fervor da teoria evolucionista quem teria sido a esposa de Caim – resposta simples, mas para os incrédulos e crédulos uma pequena armadilha. Não para os crentes, que crêem, à luz da Escritura que Eva é a mãe de todos os viventes, logo, também da esposa de Caim, sua irmã, portanto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O ponto fundamental que quero destacar com estas lembranças das disputas teológicas e filosóficas na história da Igreja não é a existência de debates – se a questão é fundamental, deve ser debatida, estudada até que se chegue a uma conclusão satisfatória e bíblica. Mas também é preciso mencionar que existem perguntas cujas respostas não são essenciais à fé cristã: quero destacar a existência de partidos dentro das Igrejas cristãs motivados por ideologias completamente estranhas ao espírito cristão e à orientação bíblica. Questões secundárias vão tomando conta dos debates quando o essencial deveria ser a busca pela condução de incrédulos a fé e a edificação dos crentes, mediante o ensino da Palavra de Deus sem as preferências pessoais ou denominacionais (a grande maioria invenções de homens, como roupas, dias, etc.). Que diferença faz o tipo de asas que os anjos têm? Ou se possuem sexo ou são assexuados? Ou se Adão tinha umbigo ou não? O que faz diferença é a preservação da unidade da Igreja nas questões essenciais, no vínculo da paz criado pelo Espírito Santo – não pelos interesses políticos, denominacionais, financeiros ou outros inconfessáveis.
E, a propósito, para não decepcionar meu amigo: o "umbigo" é uma cicatriz fruto da necessidade de cortar o canal de alimentação do feto: como Adão nunca foi um feto, não poderia tê-la. Se tiverem alguma razão para Adão ter umbigo, podem usar a área de comentários à vontade.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
CULTO EM SERRARIAS
DIA DE AMIZADE (E DA VOVÓ)
WORKSHOP DE TESOURARIA EM JACUNDÁ
Aconteceu em Jacundá nos dias 14 e 15 de agosto, nas dependências da Câmara Municipal - dias de muito aprendizado, para bênção das igrejas que desejam dar bom testemunho ao mundo também quanto ao trato fiel do tesouro da casa do Senhor. Nossa gratidão à Tesouraria da IPB através de sua equipe e a todos os pastores e presbíteros do Sínodo Carajás que se fizeram presentes. Deus é bom. Glória a Deus!