Nas duas noites anteriores vimos que, de acordo com Hb 1.1-2, Deus fala e transmite a sua mensagem, através dos seus servos, com insistência e fidelidade, não adulterando-a nem mudando-a ao longo dos anos. Mas porque esta mensagem não é recebida com igual alegria pelos homens? Porque as reações vão desde a alegre aceitação até a irada oposição, passando pela zombaria e indiferença? Até aqui vimos que DEUS FALA e, também, O QUE DEUS FALA. Hoje vamos ao terceiro ponto das nossas devocionais em Hb 1. Nosso próximo passo é analisar PARA QUEM DEUS FALA.
DEUS FALA PARA SUAS CRIATURAS CAÍDAS
Apesar do distanciamento causado pelos pecados que os homens cometem, Deus ainda lhes fala. Fala ao justo e, igualmente, fala ao ímpio. Podemos perceber isso com clareza quando ele manda avisar ao justo, mas, também, ao ímpio de seu comportamento ofensivo [Ez 33.8-9: 8 Se eu disser ao perverso: Ó perverso, certamente, morrerás; e tu não falares, para avisar o perverso do seu caminho, morrerá esse perverso na sua iniquidade, mas o seu sangue eu o demandarei de ti. 9 Mas, se falares ao perverso, para o avisar do seu caminho, para que dele se converta, e ele não se converter do seu caminho, morrerá ele na sua iniquidade, mas tu livraste a tua alma]. Deus repreende duramente Israel porque se recusou a ouvir a sua mensagem [Jz 2.20: Pelo que a ira do SENHOR se acendeu contra Israel; e disse: Porquanto este povo transgrediu a minha aliança que eu ordenara a seus pais e não deu ouvidos à minha voz]. Da mesma maneira que Deus falou para advertir Caim [Gn 4] e Faraó, muitos outros tem sido alvo da mensagem de Deus. Entretanto, a mensagem não é apenas de advertência, mas de salvação, como foi para Noé e, especialmente, em Jesus para os seus ouvintes [Mt 17.5: Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os envolveu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi] o objetivo é que, ouvindo, atendam, e, atendendo, tenham vida. Mas esta mensagem chega, em um primeiro momento, para aqueles que se encontram espiritualmente mortos. É algo que só Deus pode fazer. Talvez um dia os médicos consigam fazer alguém completamente surdo ouvir, mas alguém que está morto ouvir é um poder que só Deus tem. E Deus efetivamente fala a mortos. Se foi possível falar a mortos naturais [como o filho da viúva de Naim, ou Lázaro, ou a filha de Jairo] quanto mais é, para o Senhor, falar para aqueles que estão espiritualmente mortos, uma vez que ele é Deus de vivos e não de mortos [Mt 22.32: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos]. Mas devemos insistir neste ponto: quando a mensagem chega, é para caídos que chega. Desde a transgressão de Adão o falar de Deus é para criaturas caídas, pecadores que não conseguem, de maneira alguma, alcançar o alvo que Deus estabeleceu para suas criaturas. É para mim e para você que a mensagem de Deus é enviada: para homens exatamente iguais a nós, que, talvez, se entreguem mais descaradamente às suas sujidades, mas, todos, igualmente merecedores do castigo divino.
DEUS FALA PARA RESTAURAR SUAS CRIATURAS
O falar de Deus nunca é em vão. Já vimos que Deus tem um propósito eterno, que é o de fazer convergir, em Cristo, todas as coisas, quer as do céu, quer as da terra. E nesta lista de coisas a serem levadas a Cristo estão os pecadores [Jo 10.29: Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar]. Desta maneira podemos afirmar que Deus tem um objetivo: restaurar os caídos [jr 31.23: Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Ainda dirão esta palavra na terra de Judá e nas suas cidades, quando eu lhe restaurar a sorte: O SENHOR te abençoe, ó morada de justiça, ó santo monte!]. Deus não deixa de cumprir as suas promessas: Jr 30.17: Porque te restaurarei a saúde e curarei as tuas chagas, diz o SENHOR; pois te chamaram a repudiada, dizendo: É Sião, já ninguém pergunta por ela.]. É para homens que amam mais as trevas que a luz que o Senhor envia sua mensagem. É pra transformá-los, de filhos da ira em filhos de Deus, que o anúncio do evangelho lhes chega aos ouvidos. Quando Jesus manda que o evangelho seja pregado, é para criaturas que ele será pregado [Mc 16.15: E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.] Mas é justamente para estas criaturas que ele promete a transformação em filhos do seu amor [I Pe 2.9: Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz]. É para transformar pessoas como nós, mudando nossa história, nos dando um novo princípio de vida, que Deus demonstrou sua graça comunicando-se conosco quando nós não queríamos nada de Deus. Cabe-nos crer pois esta mensagem é para salvação de todo aquele que crê [Jo 12.46: Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.]
Mas esta historia não acabou ainda, pois o Senhor insiste em afirmar o poder de Deus através do evangelho: [Rm 1.16: Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego].
DEUS FALA PARA SUAS CRIATURAS TRANSFOMADAS EM FILHOS
III. Um terceiro aspecto no que se refere a quem Deus fala é o fato de que ele fala a seus filhos. Se, inicialmente, ele fala igualmente a todos os homens caídos em suas impiedades, em seguida percebemos que ele fala para transformar alguns destes ímpios, cujo número e identidade só ele conhece, em justificados pela sua graciosa dádiva em Cristo Jesus. Resta-nos agora observar que a mensagem continua frutificando da maneira que Deus determinou [Is 55.11: ...assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei]. Ao esmiuçar a penha dos corações ímpios, transformando-os, dando-lhes um coração de carne [Ez 11.19: Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne], capaz de sentir e amar, de alegrar-se na presença de Deus e em comunhão com outros que foram igualmente transformados. O Deus que fala a ímpios e transforma-os em filhos continua falando para edificar a vida de seus filhos. Continua orientando-lhes, mostrando-lhes sua vontade e seus caminhos [Dt 4.6-8: Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente. Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o SENHOR, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?]. Alegra-se o Senhor quando seu povo demonstra-lhe amor através da obediência [Jo 15.14: Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando]. Todavia, há grande tristeza no coração de Deus quando seu povo lhe vira as costas [Is 1.2: Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o SENHOR é quem fala: Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim].
DEUS FALA PARA QUE HAJA PRAZER MÚTUO
Quando Deus fala aos seus filhos é com o propósito de conduzi-los a um caminho de gozo e alegria na sua presença, a ponto de Neemias afirmar que a sua força era que sua vida fosse agradável ao seu Senhor [Ne 8.10: Disse-lhes mais: ide, comei carnes gordas, tomai bebidas doces e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do SENHOR é a vossa força] porque só Deus é capaz de fazer uma operação que nenhum supercomputador moderno pode fazer: ele multiplica o nada [Is 40.29: Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor]. O prazer de Deus é ver seus filhos bem. O prazer dos filhos de Deus é alegrar seu boníssimo coração. Deus não nos fala simplesmente para nos deleitar com discursos. Há uma diferença fundamental entre discurso e mensagem. E mais ainda entre discursos de homens e a mensagem de Deus. A palavra de Deus transforma, edifica, capacita, anima, restaura. O falar dos homens não conduz alugar algum, entretém, distrai e, em muitos casos, destrói. Quero concluir lembrando que Deus não tem necessidade alguma de bem algum que possamos fazer [Is 64.5: Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam]. Nós é quem temos a mais absoluta necessidade de que Deus se agrade de nós. Somos nós quem precisamos de sua aprovação - e ultimamente parece que os crentes estão achando que estão fazendo algum favor para Deus. Vão ao culto como se fizessem um sacrifício para alguém que não merece [Sl 51.16-17: Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus] quando, na verdade, devem apenas expressar sua gratidão a quem tudo fez por eles [Sl 56.12: Os votos que fiz, eu os manterei, ó Deus; render-te-ei ações de graças]. Lembremos as palavras de Paulo que expressam um terrível desespero [Rm 7.24: Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?] e, ao mesmo tempo, um imenso e grato alívio pelo que Deus fez por ele [Rm 7.25: Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado] redundando num brado de vitória [Rm 8.1: Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus].
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