21 Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que creem. 22 Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; 23 mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; 24 mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.
Paulo passa agora a lembrar que a mensagem de redenção através do salvador, Jesus Cristo, chegou até eles de uma maneira simples, objetiva e convidando-os a uma tomada de posição que exigia um certo radicalismo. Não havia nenhuma condição de acomodação - ou bem eles se encontravam dispostos a seguir a Jesus Cristo, certamente tendo que sofrer o opróbrio do mundo, ou então não eram dignos de serem chamados de cristãos, discípulos de Jesus e, assim, alvos da sua soberana e graciosa salvação. O centro da mensagem paulina é a cruz. Por mais que trate de outros assuntos, todos convergem para a cruz. É dela que emana poder para a pregação, é na aceitação com fé de sua mensagem que reside a salvação dos eleitos de Deus e suas implicações como o arrependimento, a conversão para Deus e a vida digna e santa. Paulo sente a necessidade de lembrar-lhes algumas coisas, especialmente para aqueles (e parece que era grande parte da igreja) que tentavam demonstrar retoricamente a superioridade de seus “partidos”, embora os pretensos líderes não estivessem envolvidos e nem desejassem a existência deles. Diz-nos Paulo que:
A mensagem a ser divulgada é a da cruz de Cristo: Em Corinto e em todo o império greco-romano vicejavam numerosas formas de filosofia. Estoicos, epicureus, judaizantes, gnósticos, proto-docéticos e tantas formas de filosofia quantas fossem as mentes que resolvessem ensinar alguma coisa. Paulo conhecia bastante bem todas as sutilezas da oratória e da filosofia do seu tempo - ele usa abundantemente os métodos dos escritos filosóficos para demonstrar verdades espirituais. Em Atenas Paulo fez uma tentativa de conciliar os hábitos dos filósofos gregos com a teologia cristã e foi rejeitado, concluindo que, ao final das contas, mesmo com todas as fórmulas argumentativas, era Cristo quem deveria ser tornado conhecido. Era a sua cruz que deveria ser lembrada aos corações dos pecadores, como um poderoso e impactante aviso de que era ali que os pecadores mereciam estar, e só escapariam dela pela recepção da graça salvadora de Cristo Jesus. Já vimos que foi na cruz, mensagem que deve ser anunciada, que Deus decidiu salvar os pecadores. Para os escribas isso era um absurdo teológico - como o santo, o Deus todo poderoso, poderia ter sido colocado em lugar de maldição [Dt 21.23]. Para os filósofos era uma contradição inaceitável alguém proclamar-se vencedor tendo morrido na cruz. Para os cientistas, inquiridores, não havia como provar que Cristo havia de fato vencido e que estava assentado à destra de Deus. Logo, para todos estes a mensagem da cruz era rematada loucura. Mas é justamente na incapacidade do homem de obter a salvação que está o poder da cruz. Ela não é para o homem natural. Ela é para ser discernida espiritualmente. Ela é para aquele que tem fé [I Co 2.14]. A cruz não pode ser misturada com mais nada, pois deixará de ser a pura mensagem da cruz. A salvação completa dada na cruz não pode sofrer acréscimo ou diminuição, pois assim deixará de ser a legítima mensagem de Deus.
A mensagem da cruz exige um posicionamento: Diante desta mensagem dois grupos irão se formar, inevitavelmente: os que a aceitam e os que a rejeitam. Pouco importa se sábios, escribas, inquiridores, gentios, bárbaros, homem, mulher, culto ou inculto, jovem ou velho. A divisão é feita com base na aceitação da mensagem ou em sua rejeição. Não há como se posicionar de maneira diferente. Quando Jesus purificou o templo [Jo 2.14-25] houve os que rejeitaram a sua atitude, fugindo dele ou questionando-o. E houve os que a aceitaram. Os homens sempre tiveram e terão muitas razões para dizer não à mensagem da cruz. É loucura, dirão uns. É tolice, dirão outros. É um retrocesso, dirão ainda outros. É escravidão, gritarão alguns. Desculpas não faltarão. Alguns serão educados e outros grosseiros. Alguns dirão para deixar para mais tarde, outro dia quem sabe. Há aqueles que pedirão tempo para “arrumarem a vida”. Todos estarão, igualmente, dizendo: “Eu não quero seguir a Cristo”. Se agora ou depois, não importa, a resposta será sempre de rejeição a Cristo e à mensagem do evangelho. Do outro lado temos a aceitação da mensagem, a resposta pronta e disposta [Is 6.1], a negação de si mesmo e de suas conquistas e status [Mt 9.9]. Diante do convite de Jesus para ir a ele e achar descanso, o que você diz? Veja, não se trata de perguntar o que você diria ou faria, mas de perguntar: o que fará? A resposta é imediata. O que você fará? Rejeitará? Zombará? Se oporá? Dirá agora não? O chamado do evangelho é absolutamente urgente. Os evangelistas insistiam para uma tomada de posição imediata [Mt 3.2; 4.17; Mc 1.15]. Não há meio termo. Não há depois. Hoje é o tempo aceitável da salvação. Buscai o Senhor enquanto se pode achar [Is 55.6], é o ensino da palavra - e isto quer dizer que um dia não será mais possível acha-lo [Pv 1.28]. O que você fará? Agora ou esperará ser tarde demais? Você não tem escolha. Você vai se posicionar agora.
Os efeitos da mensagem são diferentes: No verso 18 Paulo afirma que a palavra da cruz é vista de duas maneiras pelos ouvintes: ou é loucura, ou é poder. Ou é algo para se rejeitar, ou para aceitar. Ou vira-se as costas ou atende-se à mesma. Não há meio termo. Se para os judeus é escândalo, para os gentios é loucura, para o crente é poder para salvar. Às vezes parece que a palavra não está produzindo efeitos, mas esta é uma visão equivocada e às vezes desanimadora. Deus afirma que ela não volta, jamais, vazia, mas faz o que apraz a Deus e prospera naquilo para a qual foi designada [Is 55.10-11]. Se aprouve Deus salvar alguns pela loucura da pregação, a palavra sempre vai ter o resultado que apraz a Deus. Para os que ouvirem, atendendo ao chamado, a loucura da pregação, a palavra de Deus produzirá salvação. Para os demais, que a rejeitarem sob as mais diversas justificativas, o resultado vai ser torná-los indesculpáveis [Rm 1.20]. Não importa a cultura, o status, o poder, a fama. Nada disto importa. Sábios segundo o mundo acabam tornando-se loucos ao rejeitarem a mensagem da cruz. Cientistas famosos mostram-se estultos ao rejeitarem a verdade de Deus. Filósofos, que se dizem amantes da sabedoria, rejeitam o convite da verdadeira sabedoria.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado é sempre eficaz: Ao final da argumentação de Paulo, chegamos à seguinte conclusão: os coríntios estavam se preocupando demais com quem falava, e como estava sendo dito. Suas discussões estavam gerando um resultado danoso no seio da Igreja: divisões. E dissensões são frutos da carne, e não do Espírito. Logo, o que Paulo pretende é chamar a Igreja para atentar aos resultados do que lhes foi dito, isto é, aos resultados da pregação da palavra no seu meio, seja através dele, Paulo, de Pedro, de Apolo ou de qualquer outro. Se eles estão ouvindo e atendendo a mensagem da cruz devem lembrar-se de que ela é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. Isso para os crentes. Somente descrentes podem ouvi-la de outra forma. Somente descrentes podem dar-se ao luxo de ouvi-la apenas para discussão e deleite intelectual e muito menos para partidarismo ou glória humana. Considerando que ela produz frutos, que frutos ela produz em você agora? Você vai rejeitá-la? Vai dizer que não quer atender ao gracioso convite para satisfação e salvação? E se esse convite fosse para uma festa, um churrasco, uma viagem a algum paraíso tropical? E quanto ao convite da salvação? Vai rejeitar a palavra? Vai considera-la loucura? Recebe-a como Palavra de Deus para a sua salvação? Entende que ela é a mensagem de Deus para transformar sua vida? Aceita-a como a exigência de Deus para seu coração pecador? Está pronto a moldar sua vida pelo padrão de Deus?
Nenhum comentário:
Postar um comentário