Na tentativa de evangelizar, uma jovem acabou dando uma grande oportunidade para os inimigos da fé cristã. Ao falar para um praticante de candomblé que “Jesus te ama e quer salvar sua alma de satanás” o umbandista respondeu provocativamente que estava feliz, e que sua alma não estava com satanás. À partir daí houve um bate boca, e um registro de ocorrência por intolerância religiosa. O umbandista quer que a evangélica seja punida por crime de intolerância religiosa, que pode render de 1 a 3 anos de prisão. O alegado pai de santo [reluto no uso do termo, uma vez que os santos só tem por pai a Deus, que adota pecadores, faz deles seus filhos e os santifica] afirma ter sido ofendido em sua crença religiosa. Na delegacia foram apresentadas duas versões, uma corroborada por duas seguidoras do umbandista, e outra, por parte da evangélica e outros presentes ao local. As duas versões apresentadas demonstram, de um lado, total falta de sabedoria, e, do outro, um absurdo oportunismo.
Quero tratar especificamente do “meu quintal”, isto é, o ambiente da igreja, e deixar o terreiro e suas trevas para outros especialistas, com maior interesse em apologética.
Como reação ao evangelicalismo morno de fins do séc. XIX o mundo viu surgir uma outra posição, uma outra atitude, esta mais beligerante, mais ativista, mais “guerreira”. A ideia cruzadista de partir para cima, amarrar o diabo, retomar territórios, resgatar prisioneiros cativos do diabo tomou conta do ambiente evangélico. Eis aí surgindo a famosa tolologia da batalha espiritual, assunto muito bem abordado pelo Rev. Nicodemus Lopes. Como substrato e cadinho destas ideias encontramos no dia-a-dia muita gente engajada nesta batalha, muitas delas intelectual e espiritualmente despreparadas, muitas emocionalmente desequilibradas.
O problema é que soldado despreparado mais atrapalha que ajuda. E este é um caso. As esquerdas, majoritariamente anticristãs, estão desde o início do séc. XX numa batalha diária pelas mentes das pessoas. Panfletos, manifestos, jornais, folhetins novelescos, conseguiram acabar com a antipatia natural às suas ideias totalitárias disfarçadas de igualitarismo [ou alguém ainda acredita no discurso de uma sociedade de iguais após os sucessos da antiga URSS, ou Cuba, Coréia do Norte e China, só para citar alguns exemplos?]. Conseguiram dominar as pautas dos jornais, mandam nas redações, são senhores das universidades. A batalha agora é por corações, por mentes, por imposição de uma cosmovisão própria. Como o filho de Davi, Absalão [I Rs 15] almejam ganhar a simpatia das pessoas, fazendo armadilhas à porta da cidade. E os cristãos, muitas vezes despreparados, por sua simplicidade e afobação, têm caído nestas armadilhas diabólicas. Este caso é um bom exemplo. Os inimigos da fé cristã, capitaneados por satanás, perceberam que é mais fácil o papel de vítima do que de perseguidor, pois, enquanto perseguiam a igreja esta se mantinha pura e crescia dia a dia. O que mais querem agora é passar por vítimas dos cristãos. Os homossexuais, por exemplo, querem posar como vítimas dos heterossexuais, ainda que a maioria das pessoas vitimadas pela violência sejam heterossexuais, e, outro dado relevante, a maioria das vitimas homossexuais são vitimadas por outros homossexuais, ou bissexuais - mas ainda assim trata-se de um problema homoafetivo.
Voltando ao tema da suposta intolerância religiosa, é obvio que os cristãos creem que são os únicos portadores da mensagem de salvação [At 4.12], e, mais ainda, são impelidos por sua fé a proclamarem com veemência esta mensagem [I Co 9.16].
Mas veemência não deve ser confundida com imprudência [Is 42.1-3]. Veemência não dispensa sabedoria. Evangelho é boa nova de salvação. Evangelho é comunicação da mensagem bíblica da redenção pelo sangue de Cristo. Evangelho é dizer ao pecador que Deus cancela seus pecados tão somente - e exclusivamente - se ele crer em Cristo. Ainda que a mensagem do evangelho seja afrontosa ao mundo, ela não precisa ser, necessariamente, ofensiva, especialmente quando se sabe que há um ambiente de total hostilidade, como se estivéssemos em um quarto cheio de pólvora esperando apenas uma fagulha, e é assim mesmo, todos os inimigos do cristianismo estão prontos a gritar contra os cristãos: “intolerantes, retrógrados” ou outras coisas semelhantes, como acabamos de ver.
Mas sejamos francos, tais inimigos não vão levantar suas hostes contra qualquer forma de cristianismo, mas, apenas, contra o genuíno evangelho - e só farão diferente se, ao atacar o outro evangelho, consiga, por tabela, atingir o seu alvo, que é minar o verdadeiro. Sejamos simples, sejamos astutos. O umbandista fez exatamente o que seu “programa” mandava. O escândalo o favorece. O escândalo sempre favorece o errado, o maldoso, o inconsequente. O escândalo sempre é ruim para a reputação do evangelho, mesmo que coberto de razão.
A cristã fez o que devia [pregou], embora de maneira, no mínimo, indelicada - mas acho até que indevida. Não foi sábia, pregou condenação a um rebelde condenado e naturalmente irado. Pregou morte a um morto. Não poderia ter obtido resultado diferente do que obteve. Lamentavelmente o umbandista estava preparado para um debate em seus termos [Pv 26.4]. E a apresentação de um evangelho acusador só o favorecia, pois assim poderia posar de vítima.
A Escritura nos apresenta outro modelo, o de Jesus. Os fariseus eram hipócritas. Os judeus acusavam a mulher adultera com o intuito de criar embaraços para Jesus, mas eram tão pecadores quanto ela [Jo 8.7]. Com paciência e sabedoria Jesus fez com que eles se enxergassem pecadores. Amorosamente fez com que a mulher se reconhecesse pecadora. Orienta-a a não pecar mais. E a faz voltar para casa, perdoada - mas ainda tendo que lidar com as consequências de seu pecado. Jesus fez o mesmo com a mulher samaritana, o que evidencia um método. Paulo segue o seu exemplo e faz o mesmo com os atenienses. A palavra chave para os nossos dias é sabedoria.
Porque os inimigos da fé cristã são absolutamente oportunistas e estão prontos a aproveitar as oportunidades - e quando elas lhes forem negadas, criarão armadilhas, criarão leis, criarão costumes, pressionarão para que haja um debate, porque, quanto mais acalorado o debate, maior visibilidade obterão. O que é pior é que, mesmo que percam o debate, ganharão porque farão barulho, e uma vez mais poderão acusar os cristãos de transtornadores do mundo [At 17.6].
Se for pelo transtorno que o evangelho causa, vale a pena. Se for para ver conversões, abandono dos ídolos mudos, vale a pena. Mas se for por bate boca, escândalo, é melhor ficar em silêncio [Cl 4.5]. Tudo o que o mundo aguarda são os deslizes dos cristãos para cobrar muito mais o fato de ser cristão do que o erro cometido. Lembremos que temos grande nuvem de testemunhas a nos observar [Hb 12.1]. Se anjos ou homens, pouco importa - o que realmente importa é que não sejamos motivo de escândalo [Sl 69.6] sofrendo como transgressores [I Pe 4.15-16].
Não devemos parar de pregar, mas devemos pregar com mansidão, com amor, com sabedoria. Não estou falando de técnicas, de linguagem de sabedoria [I Co 2.4], mas de sabedoria fruto da ação do Espírito Santo. O evangelho é instrumento de salvação que os pecadores não tem e não podem alcançar por si próprios, pois estão mortos em seus delitos e pecados [Ef 2.1]. Não precisamos utilizar o evangelho como mensagem de condenação, pois isto os pecadores já tem demais em seus terreiros. Eles tem seus próprios e abundantes pecados, especialmente sua impenitência, sua negação em receber a Jesus como Senhor e único salvador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário