NÃO ACREDITAR
NO AMOR DE DEUS
O livro do profeta Malaquias é uma sentença, isto é, um juízo
e uma palavra de advertência que termina com uma oportunidade de
arrependimento. Foi assim desde o Éden, quando Adão e Eva foram expulsos do
jardim e lhes foi prometido um redentor (Gn 3:15). Foi
assim com Caim ainda antes de ele tornar-se o primeiro assassino, o primeiro
fratricida da história (Gn 4:7).
Malaquias foi o portador de uma dura sentença para um povo que não levava a
sua religião, a sua fé, e, no fim das contas, que não levava Deus a sério. Não
levava a sério as promessas de Deus, especialmente as promessas de punição que ele
havia feito. Talvez achassem que Deus consideraria aceitável seu culto
pretensioso e hipócrita e derramasse bênçãos sobre eles – mas certamente não
temiam o juízo de Deus sobre si mesmos (Jó 8:3).
Israel já havia sofrido um duro julgamento, passado por um
penoso período de exílio (Sl 137:1), foram
milagrosamente restaurados e, apesar de inúmeras admoestações dos profetas,
continuavam a agir sem levar em consideração que podiam, novamente, ser alvo do
julgamento divino (Is 1.16-20). Não
havia outro caminho para escapar do juízo de Deus senão o arrependimento e
mudança de atitudes (At 26:20).
E era justamente isto o que estava faltando em Israel nos
dias de Malaquias – disposição para arrependimento, para mudança de vida, para
praticar o bem e abandonar os seus interesses mesquinhos, egoístas e
pecaminosos. Eles, simplesmente, não queriam honrar a Deus, não achavam que
deviam honrá-lo e a sua vida religiosa havia se tornado uma prática social (Mc 7:6), necessária para a unidade do povo - mas uma prática
sem qualquer significado espiritual e por isso era rejeitada por Deus (Ml 1:10).
Se Israel, que era o povo escolhido de Deus, não o honrava
como deveria, porque nós devemos? Antes da resposta, uma pequena e simples
constatação: nós somos o Israel de Deus, o novo Israel (Gl 6:16), o povo que foi comprado pelo
precioso sangue de Cristo (Tt 2:14) e que ele
quer vivendo exatamente como queria que o antigo Israel vivesse – praticando a
justiça e honrando-o de todo o coração. Vejamos duas razões para honrarmos a
Deus segundo o profeta Malaquias:
1
Sentença pronunciada pelo SENHOR contra Israel, por intermédio de Malaquias.
2 Eu
vos tenho amado, diz o SENHOR; mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Não foi
Esaú irmão de Jacó? —disse o SENHOR; todavia, amei a Jacó, 3 porém aborreci a Esaú; e fiz dos
seus montes uma assolação e dei a sua herança aos chacais do deserto.
4 Se
Edom diz: Fomos destruídos, porém tornaremos a edificar as ruínas, então, diz o
SENHOR dos Exércitos: Eles edificarão, mas eu destruirei; e Edom será chamado
Terra-De-Perversidade e Povo-Contra-Quem-O-SENHOR-Está-Irado-Para-Sempre.
5 Os
vossos olhos o verão, e vós direis: Grande é o SENHOR também fora dos limites
de Israel.
INTRODUÇÃO
UMA BREVE ILUSTRAÇÃO
Há alguns mais ou menos 28 anos li um livro cujo título não
me lembro, que contava a história de um amor muito grande de um jovem por uma
moça… dentre as coisas de que me recordo está o nome do rapaz, Vermelho, acho
que era porque ele era ruivo. Depois de um tempo eles se entregam um ao outro,
e tudo vai razoavelmente bem até que ele lhe diz que a amava mais do que
qualquer outro amor já visto no mundo. Ela, então, lhe pede uma prova. Uma
delas era subir na mesa de um bar e gritar bem alto que a amava. Ele fez. Não
lembro as outras, mas, afinal, ela lhe pediu para ir até a ponte mais alta do
mundo, e pular de lá… Vermelho saiu à procura da ponte… e a jovem terminou seus
dias chorosa numa praia haitiana aguardando, arrependida, a volta de Vermelho. O
que quero destacar nesta história é que o jovem já havia dado mais de uma prova
de seu amor pela moça, mas ela, ainda assim, insistia em provas mais
contundentes, mais e mais contundentes… até que a história tem o fim
melancólico, ou trágico, dependendo do que imaginemos que aconteceu com
Vermelho.
ISRAEL DUVIDAVA DO AMOR DE DEUS
Mas nosso objetivo não é estudar a história de amor de
Vermelho e sua namorada insegura. Estamos aqui para saber sobre Deus, saber
mais, conhecer seu caráter, conhece-lo intimamente (Sl 25:14) e usufruir de sua graça. Quem
conhece a Deus não consegue duvidar de seu amor, pois seu amor é mais do que
declarado, é provado (Rm 5:8) e de uma
maneira que nenhum de nós teria coragem de fazer, por qualquer pessoa neste
mundo, quanto mais por inimigos declarados e decididamente mortos (Jo 3:16).
ISRAEL NÃO HONRAVA A DEUS POR NÃO ACREDITAR EM SEU AMOR
Mas, porque Israel deixava de honrar a Deus por duvidar de
seu amor. Havia alguma razão para isso? Se um despreparado viesse a dizer que
era por causa das dificuldades que Israel passava, com invasões constantes e muitas
guerras, é bom lembrar que a fome, a peste, as invasões e opressão estavam
previstas na aliança que Deus fez com Israel – eles só comeriam o melhor da
terra se fossem fiéis, do contrário, seriam devorados à espada, e mesmo esta
disciplina era prova da fidelidade de Deus (Ed 5:12). Como
Israel poderia duvidar do amor de Deus? Vamos ver brevemente que era impossível
para Israel, agindo com honestidade, duvidar do amor de Deus – mesmo que, por
outro lado, ninguém, nem mesmo Israel, duvidasse de sua infidelidade para com
Deus a ponto de o Senhor chamar Oseias para que o profeta ilustrasse este
relacionamento infiel por parte de Israel.
DEUS PROVA O SEU AMOR NA HISTÓRIA EM GERAL
A história de Israel é marcada por numerosas demonstrações do
amor de Deus, desde o chamamento de Abrão (Dt 26:5) e suas
peripécias na terra que seria dada a seus descendentes, a surpreendente
providência de Deus ao enviar José como escravo para Egito com o propósito de
conservar a família da aliança (Gn 45:5) e a
decisão de tirar o povo escravizado deste mesmo Egito e levá-lo, finalmente, à
Canaã (Êx 3:9).
A SOBREVIVÊNCIA DE ISRAEL É PROVA DO AMOR DE DEUS
Mesmo os israelitas dos dias de Malaquias podiam atestar o
amor de Deus por seu povo pois enquanto a maioria das nações que foram tomadas
pelos assírios foram exterminadas, eles continuaram existindo como nação e
foram abençoados com homens como Daniel, Mordecai, Esdras e Neemias, cada um
deles colocados em situações chaves para bênção do povo de Deus; mulheres
colocadas em posição especialíssima como Ester (Et 4:14).
REIS INCRÉDULOS TEMENTES A DEUS PROVAM O AMOR DE DEUS
Mesmo governantes incrédulos como Nabucodonosor (Dan 4:33-34) e Ciro (Is 45:13) foram
instrumentos de Deus para demonstrar o seu amor e cuidado sobre Israel, a ponto
de Deus perguntar se algum outro povo tinha Deus tão bom, que trabalhava pelo
seu povo (Is 64:4),
atendendo-os antes mesmo que clamasse (e dando-lhe leis sábias e justas).
DEUS PROVA O SEU AMOR EM EVENTOS PARTICULARES
Mas eu suponho que alguém não acredite no amor de Deus, como
Israel não acreditava. Se alguém não crer no amor de Deus e por algum motivo
tornar-se membro de uma comunidade que nasceu porque Deus amou ao mundo então
não está nesta comunidade pelo motivo correto. Medo do inferno, desejo de
bênçãos materiais ou espirituais, progresso cultural, bem estar emocional ou
moral… nada disso é razão suficiente.
É provável que muitos não se satisfaçam em ouvir falar de um
amor revelado ao mundo ou a uma nação e queiram provas mais particulares do
amor de Deus. Assim era com Israel. Mesmo com Deus dizendo: “Eu vos tenho
amado” eles diziam: “Nós não conseguimos ver isso. Qual a prova deste amor”? Em
resposta Deus poderia particularizar uma pessoa em Israel naqueles dias – mas
esta resposta só valeria para aquela pessoa. Então Deus resolve mostrar a
particularidade do seu amor exemplificando um caso que valia para todo o Israel: entre dois irmãos, Deus
amou um. E estabeleceu os descendentes deste escolhido como seu povo – e
continuava sendo paciente com eles porque, não fora seu amor misericordioso há
muito que deveriam ter sido destruídos (Lm 3:22) pois não
conseguiriam nem mesmo chegar a Canaã quando da saída do Egito.
DEUS AMOU PARTICULARMENTE A JACÓ
O amor de Deus ao escolher Jacó resultou em bênçãos para a
sua descendência. Mas o que acontece mesmo quando Deus não ama, como foi o caso
de Esaú? Deus diz enfaticamente para Israel que o contrário de amor não é
simplesmente a ausência de cuidado, mas o aborrecimento, isto é, voltar-se
contra. O contrário de bênção é maldição, e foi isso o que Esaú colheu ao longo
de sua história, para, no final, deixar de existir como povo, como nação e
tornar-se um exemplo do desamor de Deus. E por que tudo isso? O que fez Jacó
para merecer o amor de Deus? O que fez Esaú para merecer o aborrecimento de
Deus? Nada! A única explicação que temos é: Deus amou um e não ao outro (Rm 9.11-13).
DEUS DEMONSTRA SEU AMOR PARTICULARMENTE A SUAS CRIATURAS
O que Deus está dizendo é: “Sim… eu me interesso por pessoas.
Eu ajo na vida das pessoas. Eu sondo o coração de cada um, individualmente, e
meu amor é por pessoas”. Jesus veio para buscar e salvar o perdido (Lc 19:10) e há júbilo no céu por um pecador
que se arrepende (Lc 15:7). Por
isso, podemos ter certeza de que Deus tem absoluto interesse por cada detalhe
de nossa vida – mesmo aqueles que nem mesmo nós nos interessamos (Sl 113.5-9).
ISRAEL É UM MODELO – MAS UM MAU MODELO NÃO DEVE SER SEGUIDO
Israel não acreditava no amor de Deus. Israel duvidava do
amor de Deus e ainda chamava Deus de mentiroso. Que espécie de religiosidade
podemos esperar de um povo que não acredita que Deus o amo e, obviamente, não
ama a Deus?
ISRAEL POSSUIA UMA RELIGIÃO ALHEIA AO AMOR DE DEUS
A resposta é: a religião de Israel, a religião puramente
mecânica, ritualista e vazia que encontramos descrita nos profetas, desde
Isaías até Malaquias. Como Israel poderia entregar o seu caminho ao Senhor se
ele não confiava que Deus lhes supriria as necessidades (Sl 37:5). Como Israel poderia entregar o
seu bolso ao Senhor se não acreditava que Deus o amava e cuidaria dele,
dando-lhe a chuva serôdia e a temporã (Jl 2:23)? Não,
eles não poderiam lhe oferecer um culto integral porque não confiavam que Deus
os amava.
Certamente Deus não se agradava de uma religião que era
formada apenas de costumes passados de pai para filho (Is 29:13) e de, na prática, zombaria diante
das advertências divinas (Jr 31:30) fuga das
responsabilidades em assumir seus erros e corrigirem suas vidas, pelo
contrário, continuam fazendo o que querem e o que Deus lhes havia dito para não
fazer (Jr 31:29).
O CRISTIANISMO ATUAL E O AMOR DE DEUS
A religião dos cristãos do sec. XXI é diferente? Dá para
levar a sério um namorado que diz amar a namorada e só vai vê-la de vez em
quando, quando dá, quando não tem futebol, novela, indisposição ou qualquer
outra justificativa que não justifica nada? Dá pra levar a sério um ser que se
proclama crente que não congrega, não influi, não contribui? Dá pra levar a
sério um crente que oferece um culto de qualquer jeito e diz que “do jeito que
sair está bom”? Dá pra levar a sério um crente que não enxerga seu culto ao
Senhor como um compromisso prioritário e inventa mil subterfúgios para chegar
atrasado? Dá pra levar a sério um crente que acha que o que sobra é suficiente
para agradar a Deus?
COMO O CRISTÃO PODE PROVAR SEU AMOR A DEUS
Se o que você tem para oferecer a Deus é sobras, é algo que
nem você mesmo dá valor então não dê… se não tem valor para você, o lugar não é
como oferta ao Senhor, o único lugar digno é a lata de lixo. Se eu que não
conheço corações não consigo levar a sério e considerar digno algo assim,
imagina Deus. Se os ímpios que nada sabem sobre o amor de Deus não conseguem
visualizá-lo debaixo de uma religião vazia, formal e hipócrita, imagina Deus
que sonda os corações (Pv 21:2). Não me
diga que não podemos julgar (Mt 7:1) porque
Deus diz para julgarmos segundo a reta justiça (Jo 7:24). Mas,
mesmo que eu não possa te julgar, você acha que uma religião assim passa no
julgamento de Deus?
Israel não acreditava no amor de Deus porque Israel não amava
a Deus. O problema estava em Israel, não em Deus. Deus o amava, e continuava
amando – mas Israel não podia sentir este amor em seu coração endurecido.
Este é o mesmo sentimento que pode ser encontrado em muitos
membros da Igreja cristã deste século? Apatia, desinteresse, desamor? E você,
acredita que Deus ama pecadores perdidos como nós (Rm 5:8)? Acredita que Deus já demonstrou seu amor por pecadores
como nós (Jo 3:16)?
Se você o ama, é hora de começar a mostrar que o ama
realmente – e mostrar como ele quer ver pois para ele amor legítimo se revela
em obediência (Jo 14:15). Não há
meio termo, não há outro caminho, assim como não há meio amor ou amor
alternativo (Jo 14:21).
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