segunda-feira, 13 de março de 2017

A IGREJA PRESERVA SUA IDENTIDADE E CUMPRE SUA MISSÃO QUANDO POSSUI DISPOSIÇÃO PARA A OBEDIÊNCIA

Há três prioridades que a Igreja deve buscar: o reino de Deus, sua justiça mediante Cristo e uma entrega dos resultados ao Senhor, em absoluta dependência. À partir daí, acredito que surgirá, como fruto da atuação de Deus na vida da Igreja, uma disposição para a obediência, como ocorreu no coração de Esdras, que estava disposto a buscar, cumprir e ensinar a lei do Senhor (Ed 7.10) mesmo em um ambiente hostil à sua fé – tanto em Babilônia quanto em Judá nos primeiros dias da reconstrução, com oposição tanto de judeus quanto dos gentios do lugar.
A Igreja não é como a seleção de 1970 – segundo os relatos dos boleiros quando o técnico João Saldanha foi perguntado sobre como escalava o time e dava as orientações técnicas, ele respondeu que simplesmente escolhia os 11 e eles faziam o que sabiam fazer de melhor. Pode até ser verdade, e pode ter dado certo com a seleção de 70, mas quando o povo de Deus caminhou desta maneira, cada um fazendo o que melhor lhe parecia, o resultado foi o fracasso nos dias dos juízes. O chamado de Deus para sua Igreja é o mesmo para Israel – se ouvir, comerá o melhor da terra, mas em caso de contumaz rebelião, punição inescapável porque é o Senhor quem diz (Is 1.19-20).
Lamentavelmente o conhecimento que a Igreja tem adquirido tem se mostrado muito mais informativo, lúdico, descritivo, intelectivo do que o que realmente deve ser: o conhecimento da Palavra de Deus requer obediência porque a Palavra é imperativa – ela diz o que deve ser feito. É importante que a Igreja considere como prioridade absoluta ouvir e obedecer ao Senhor conforme ele instrui em sua Palavra, e esta obediência é ensinada pelo Senhor em pelo menos três ações concretas. Às vezes ouço cristãos dizendo: não sei o que fazer, não sei como aplicar a bíblia à minha vida. Bom, então, vou lhe apresentar três áreas onde ela pode ser eficientemente aplicada, áreas onde não há dúvidas sobre o que fazer ou como fazer. Eis três ações prioritárias que a Igreja jamais deve desconsiderar, se quiser, naquele dia final, ouvir do seu Senhor: “Bem está, servo bom e fiel” (Mt 25.21).
 16 Seguiram os onze discípulos para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes designara.
 17 E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.
 18 Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.
 19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
 20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.
Mt 28.16-20
Observe que o texto lido começa falando de obediência – os onze discípulos restantes uma vez que Judas Iscariotes havia se matado (Mt 27:5) foram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes designara, isto é, estavam obedecendo uma ordem de Jesus. A primeira atitude dos onze discípulos, ao verem Jesus, foi dar-lhe a honra que lhe era devida, isto é, o adoraram reconhecendo sua divindade e, ao mesmo tempo, uma possível tradução é que todos tinham dúvidas – certamente não a respeito de sua divindade, mas do propósito de estarem ali e para onde iriam agora – que rumo suas vidas tomariam? O texto não diz que dúvidas eram essas, e Mateus, que é testemunha ocular deste fato, não nos diz nada além disso. Adoraram a Jesus, mas, e agora? O que vem depois?
Jesus não lhes deixa sem a resposta que tanto necessitavam. Como ele mesmo foi enviado, agora ele os enviava (Jo 20:21). Como ele foi enviado na autoridade do Pai, agora ele lhes afirma possuir toda autoridade no céu e na terra, autoridade que já havia demonstrado mais de uma vez, como quando ordenou ao mar e aos ventos que se acalmassem. Sim, ele era “verdadeiro Deus” e recebia dos seus a adoração que era devida.
Com a autoridade divina, Jesus envia seus discípulos com uma missão. E é neste envio que encontramos a tarefa prioritária da Igreja que já adora a Jesus e já o reconhece como seu Senhor. A obediência não produz adoração – é a adoração, o reconhecimento de que Jesus é o Senhor e Deus que leva o crente a obedecer. Esta obediência implica em

i.                  FAZER DISCÍPULOS

19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Mt 28.19
Evangelização não é a tarefa prioritária da Igreja. Sua tarefa prioritária é glorificar a Deus, é adorá-lo. Evangelização é um aspecto desta glorificação (Jo 15.8) na medida em que outros conheçam a Jesus através do testemunho dos seus adoradores (II Ts 1.10) e isto não é opcional.
Fazer discípulos do Senhor Jesus é uma das tarefas mais sublimes da Igreja, pois nela ela adora ao Senhor e glorifica o salvador conduzindo outros pecadores à salvação graciosa que ele lhes deu. É a tarefa de compartilhar o que nada lhe custou, e, dando, nada perder, na verdade, ao dar ficar ainda mais enriquecido. Esta é uma das razões pelas quais o Senhor deixou sua Igreja na terra (I Pe 2.9).
É através do ‘fazer discípulos’ que a Igreja demonstra, de fato, querer ver cumprida o seu pedido na oração que o Senhor ensinou – que peçamos a vinda do seu reino (Lc 11.2). A ordem de Jesus, “fazer discípulos”, precisa ser compreendida e obedecida. As palavras de Jesus exigem compreensão e ação. Excesso de teoria nada produz, ação sem propósito pode levar ao caos.
Um discípulo é, em essência, alguém que está aprendendo ao mesmo tempo que pratica o que aprende. Aprendizado é algo prático. Um discípulo é um ouvinte praticante. A ordem de Jesus é para que as pessoas sejam ensinadas através do ouvir, e aprendam enquanto praticam. Um discípulo de Jesus nega-se a si mesmo para seguir a Jesus (Lc 14.26), amando a Deus, abominando o pecado e buscando a santidade (Lv 20.7), servindo e amando a Cristo e a sua Igreja, apesar das imperfeições da Igreja por amor do seu perfeito Senhor, amar os perdidos e deseja-los vê-los todos adorando a Jesus, buscando convertê-los através da pregação e de boas obras de amor, justiça e misericórdia (Tt 2.11-14).
Enfim, um discípulo é alguém que vive no mundo como se do mundo não fosse, e faz isso pela fé em Cristo e no seu evangelho (Rm 1.17) esperando em Cristo pela glória vindoura, não dando valor para a glória deste mundo (e nem para suas aflições) porque tem uma esperança que o sustenta em meio às muitas aflições (I Co 4.17-18).
Discípulos não são feitos ao acaso, mas por meio do ministério da Palavra, confiada à Igreja, mediante pregação, ensino, evangelização e aconselhamento (II Tm 3.16-17) e isto pode ser feito tanto formal quanto informalmente em conversas, tanto no templo como em qualquer outro lugar. E isto é um imperativo de Jesus para todos os seus seguidores (Mt 28.19).
Discipular significa exortar à partir da Palavra de Deus, chamando as pessoas a se tornarem mais parecidas com Cristo, ensinar as pessoas o que Cristo ordenou, ensinar as pessoas a obedecerem tudo o que Cristo mandou, ensinar as pessoas a obedecerem no contexto de sua vida, na Igreja e fora dela. Discipular, enfim, significa que a Igreja deve chamar gente de todas as nações para que sigam a Cristo e se tornem também seus discípulos.
Fazer discípulos, como ordena o Senhor, significa que os mesmos necessitarão ver o modelo de Cristo em nós (Fp 4.9), e não servindo de motivos para escândalo, fazendo tropeçar (graças a Deus não se perder) os que querem entrar no Seu Reino (Lc 17.1-2).

ii.               ZELAR PELA PALAVRA

20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.
Mt 28.20
A primeira tarefa que a Igreja deve considerar, sob o mandato do Senhor, é a de fazer discípulos. Mas algumas perguntas se impõem: como? Sob que base? Qual deve ser o ensino a ser transmitido? A Igreja não pode ir por todo o mundo sem uma mensagem definida, consistente, coerente. E, mais do que isso, ela tem que possuir mais que uma simples mensagem, ela precisa transmitir a mensagem que é o poder de Deus para salvação do que vier a crer (Rm 1.16).
Isto não deveria ser algo necessário de ser lembrado para a Igreja, mas se tornou absolutamente essencial pelo fato de que é cada vez mais comum as Igrejas se guiarem por visões e estratégicas, dependendo mais do interesse e caráter dos seus líderes do que, propriamente, confiando no poder da Palavra que dá vida e impulsiona a vida da Igreja a uma vida de santidade (Jo 17.17e). Lamentavelmente é possível encontrar pessoas que, de bíblia em punho, falam tudo o que querem menos o que Jesus quer que seja dito.
Aos apóstolos, verdadeiros apóstolos que conviveram com o Senhor antes e depois de sua ressurreição, com exceção de Paulo que não teve o privilégio de ser chamado antes da cruz, o Senhor diz que o Espírito os guiaria a toda a verdade (Jo 16.13) que não seria nenhuma descoberta nova, nenhuma nova visão, mas a lembrança das coisas que Jesus lhes dizia (Jo 14.25-26). Isto quer dizer que não há novas verdades – somente aquelas que constam do “ensino dos apóstolos” (Ef 2.20). Qualquer que se apresente com novas visões e revelações não passa de enfatuados que querem enganar a Igreja para que os sigam, afastando-a de sua tarefa de zelar pela verdade (Jd 1.3) mesmo que isso exija uma batalha diligente e constante.
O que a Igreja precisa compreender é que ela deve guardar tudo o que o Senhor ensinou. Nada do que Jesus disse ou fez foi sem sentido ou propósito. E tudo o que ele fez e disse que fosse necessário para a nossa salvação e edificação foi registrado (Jo 20.31) pois só assim, só guardando as palavras do Senhor no coração ela evita o pecado da desobediência, intencional ou não (Mt 22.29) ou do desvio negligente (Dt 5.32).
Porque ninguém sem a sã doutrina não se pode chegar a “varão perfeito”, completo em Cristo, acabando por tornar-se como “meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina” (Ef 4.11-14). Apóstolos, profetas, mestres, evangelistas – todos eles têm a mesma função, com aplicações diferentes: anunciar o que o Senhor Jesus ensinou. O que passar disso nada mais é do que outro evangelho, e sem ser o poder de Deus, é absolutamente sem aproveitamento algum, anátema (Gl 1.8).
 Sem o genuíno leite espiritual, a Igreja simplesmente adoece, e, doente, não pode crescer para a salvação (I Pe 2.4-5). Como Timóteo cada discípulo do Senhor deve permanecer fiel, com raízes fortes e profundas naquilo que foi ensinado pelo Senhor através de seus servos (II Tm 3.14-15).
A Igreja contemporânea está ameaçada por muitos ensinos falsos que não passam de ensinos de demônios (I Tm 4.1), por isso, devemos combater veementemente tudo que coloca empecilhos à eterna vontade de Deus. Nada mais falso do que usar erroneamente a bíblia para combater o esforço doutrinário que a Igreja deve empreender (II Co 3:6) porque o que Paulo diz aos coríntios é que a lei aponta para o pecado e para a condenação, serve de luz sobre o pecado e de base para a condenação, mas é pela letra que conhecemos o evangelho que salva.

iii.            VALORIZAR A COMPANHIA DE JESUS

20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.
Mt 28.20

A mesma Igreja que faz discípulos e Jesus, isto é, ensina os convertidos a guardarem as coisas que o próprio Senhor Jesus ensinou também deve dar valor a estar na presença do Senhor, como expressa magistralmente o salmista ao afirmar que um dia nas portas da casa de Deus vale mais que mil dentro das tendas onde o nome do Senhor não é temido nem honrado (Sl 84:10).
De todas as bênçãos que Deus concedeu a Moisés, nenhuma ele valorizava mais que a presença do Senhor (Ex 33.14-16). Quando Moisés terminou sua missão, Josué, seu sucessor também recebeu promessas, mas certamente nenhuma mais valiosa do que a de ser com ele por onde quer que fosse (Js 1:5).
Todas estas promessas de Deus apontam para o cuidado pessoal, direto e constante de Deus, a ponto de seu próprio Filho ser intitulado “Deus conosco” (Mt 1:23). Quando Jesus chamou seus discípulos ficou claro que seu chamado era para, prioritariamente, estarem com ele (Mc 3:14) pois só assim poderiam ser testemunhas oculares (II Pe 1.16).
A um grupo de discípulos atônitos que tinham acabado de passar pela experiência de perder seu líder e mestre, a ponto de se esconderem com medo dos judeus (Jo 20:19) e que experimentaram recuperar seu ânimo com a presença do mestre Jesus faz a promessa de ir para o Pai mas não deixá-los desamparados (Mt 28.20). Agora, porém, havia uma diferença fundamental – eles acreditavam naquilo que Jesus lhes dizia – e sua promessa era de estar com eles, todos os dias, até a consumação do século.
Foi esta certeza que impulsionou a Igreja, que fez dela a mais impactante agência de propaganda que a história jamais viu. Um grupo de galileus iletrados consegue, apenas com a força da Palavra, ser vitoriosa sobre a organização religiosa judaica, sobre a organização militar romana e sobre a filosofia grega (II Co 10.4-6).
É a presença do Senhor, e não a inteligência de seus membros, ou as estratégias dos planos anuais, bianuais ou plurianuais que garantem que a Igreja é, de fato, mais do que vencedora (Rm 8:37). A Igreja que sabe disso tem como sua prioridade andar com seu Senhor, andar na presença do seu Senhor, amá-lo incessantemente. Cristo tem grande prazer em ter sua Igreja consigo, e vem até sua Igreja para que ela goze da maior das bênçãos que uma Igreja pode desejar – sua presença festiva (Ap 3.20).

CONCLUSÃO

O grande erro de Adão e Eva, após pecarem, foi o de se esconderem da presença de Deus (Gn 3:8). É grande erro, mesmo quando estiver errado, afastar-se da presença de Deus como se isso fosse resolver os problemas causados pelo pecado (Ef 4:17). A Igreja deve valorizar a obra de Jesus, que veio para evangelizar paz (Ef 2:17), isto é, trazer boas novas de paz da parte de Deus para com os homens pecadores e rebeldes.
Qual a nossa relação com aquela Igreja que ouviu o Senhor ordenar-lhes que, sob sua autoridade, fizesse discípulos de todas as nações e ensinasse a estes convertidos as coisas que ele tinha ensinado? Toda, ou nenhuma. Pensemos:
i.          Ou é como se nós estivéssemos lá, ou não somos discípulos de Jesus, e este mandamento não é para nós. Todavia, eu acredito que, da mesma maneira que aprendemos no evangelho, é como se ouvíssemos estas benditas palavras de sua própria boca, ou, então, não somos seus discípulos;
ii.       Ou temos a mesma relação direta com aquela Igreja apostólica como ela estava em relação ao mundo que a cercava ou então o mundo não tem qualquer significado ou importância para nós. Os discípulos de Jesus foram compelidos a anunciarem o evangelho, mesmo que isto lhes custasse a vida (I Co 9:16). Desta maneira, ou o mandato do Senhor era urgente para os pecadores de então e já não faz mais sentido para nós hoje, e não somos mais necessários como discípulos que fazem discípulos, ou, então, ele continua urgente – ou então Deus não tem mais nenhum pecador como alvo do seu amor.
iii.    Ou o mandato do Senhor é, hoje, tão importante hoje como ontem e nós somos absolutamente inúteis. Mas eu creio que o mandato do Senhor é um mandato universal (para todos os discípulos e para todas as nações); é intelectual (é para discípulos entenderem e disseminarem seus ensinos) e é abençoador, pois leva o pecador, outrora inimigo, a tornar-se filho de Deus (Jo 1:12).

Ou nós somos parte da mesma Igreja, e, portanto, precisamos aprender a ser Igreja e a levar adiante o plano do Senhor para sua Igreja, ou então estamos apenas brincando de ser crente – e isto é uma absoluta perda de tempo. Temos uma identidade, somos Igreja do Senhor, temos uma missão – ser Igreja do Senhor. Não deixemos de fazer o que é nosso dever e razão de existir.

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