terça-feira, 7 de março de 2017

VI. A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E CUMPRE SUA MISSÃO QUANDO ESTÁ FOCADA NO QUE É ESSENCIAL

Toda a Igreja, do menor ao maior, do neófito ao ministro (e já dissemos muitas vezes, Igreja não é instituição, Igreja é o corpo vivo de Cristo, composto por pessoas que o amam e o servem), deve compreender que seu alvo prioritário é buscar a glória de Deus, é anunciar o que Cristo fez nela e por ela (Mc 5:19) – todas as coisas devem ser vistas como instrumentos para a glória de Deus, do contrário se tornam argueiros e traves a impedi-los de olhar firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus (Hb 12:2). Cabe aos líderes conduzirem o rebanho, e ao rebanho não ser pesado aos seus guias. Existem inúmeras alternativas à fé cristã, tais como islamismo, budismo. Existem alternativas aparentemente cristãs, como espiritismo, adventismo e mormonismo, Legião da Boa Vontade. Existem até alternativas “cristãs à fé cristã”, isto é, que se parecem em quase tudo com a fé cristã, usando inclusive o nome do Senhor Jesus e sua Palavra, mas não dando ao Senhor a glória que lhe é devida (estas alternativas não merecem o nome de Igreja, mas de empresas ou, no máximo, instituições eclesiásticas). A Igreja deve cuidar para não ser enganada por ministros de satanás travestidos de ministros de justiça. A Igreja não deve se deixar seduzir por nenhuma das concupiscências do mundo (fortuna, profissão, fama, lazer, prazeres, etc.) e manter a sua identidade, podendo, assim, desempenhar sua missão a contento. Para isso a Igreja do Senhor não se desvia nem para a direita, nem para a esquerda, (Dt 5:32) mas

POSSUI FOCO NA SUA PRIORIDADE ESSENCIAL

Nem sempre é fácil estabelecer prioridades. Certa vez um pequeno empresário, do ramo de confecções, endividado, apresentou um dilema a um especialista em pequenas empresas: ele tinha uma grande quantia a receber de diversos clientes porque vendia a prazo. Ao mesmo tempo, tinha uma boa porção de produtos em exposição e um grande débito com fornecedores. Ele tinha algumas alternativas – continuar vendendo, mesmo a crédito (e, ao mesmo tempo, fazer mais compras para fazer uma promoção a vista para quitar as dívidas mais imediatas) ou parar de comprar e tentar receber o que estava espalhado entre os credores. Depois de algumas considerações, ele continuou de portas abertas, fez mais uma compra, se endividando ainda mais, e fez uma promoção. Chamou também os clientes com débitos e renegociou o que tinha a receber, dando um generoso (eu até diria desesperado desconto) para receber o máximo possível. E a empresa sobreviveu. Sobreviveu porque ele estabeleceu uma prioridade: receber o máximo possível para quitar as dívidas que estavam vencidas e vincendas, do contrário, sua empresa fatalmente iria a falência.
Mudando o que pode ser mudado, pois a Igreja não é uma empresa e, certamente, a Igreja do Senhor Jesus não pode falir (Mt 16.18) embora Igrejas locais possam desaparecer (onde estão as Igrejas às quais o Senhor endereçou suas cartas no livro de Apocalipse, mesmo a mais fiel delas?) como aconteceu com Igrejas outrora poderosas na Europa porque cometeram um grave erro – deixaram de olhar para o autor e consumador da fé, Jesus (Hb 12.2) e passaram a olhar para o espírito do tempo, passando de sal da terra e luz do mundo (Mt 5:13) para uma entidade que dialogava dialeticamente com ele, absorvendo seus conceitos humanistas e antiteístas e anticristãos deixando de cumprir seu propósito, tendo sido, definitivamente, pisada pelos homens. A Igreja não pode perder suas prioridades – não pode perder o foco, não pode olhar para os lados nem para trás (Lc 9.62) porque não deve perder de vista o fato de que nada há mais importante para ela do que o reino de Deus. A prioridade da Igreja deve ser espelhar Cristo, testemunhar o amor de Cristo, viver para Cristo e em Cristo (Gl 2.20), ser encontrada fiel, em Cristo.
A questão que se impõe é: a Igreja conhece realmente quais são as suas prioridades? O que o crente, Igreja do Senhor, deve ter, afinal, como prioridade? Uma lista muito comum é: Deus, família, sustento e Igreja (ou Igreja e sustento). Mas nesta lista não encaixa “Cristo é tudo em todos” (I Co 12.6). O que isto quer dizer? Ora, a própria bíblia ensina: tudo quanto fizerdes (adoração, comunhão, família, trabalho) deve ser feito no Senhor e para o Senhor (Cl 3:23). Deixe-me destacar: este homens inclui você. Cada ação da Igreja deve ser fundamentada pela firme determinação de tudo fazer para o Senhor – e isto só poderá ser feito por meio de Cristo (Jo 15:5). É Cristo, e não eu ou você, quem determinamos as prioridades para a Igreja. E Cristo nos mostra suas prioridades em sua Palavra: devemos viver para ele porque ele morreu por nós – a Igreja só está viva se estiver em Cristo, porque ela é nada menos que o corpo de Cristo – ou então não é Igreja.
 19 Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; 20 mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam;  21 porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.  22 São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; 23 se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!  24 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
 25 Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?  26 Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? 27 Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?  28 E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. 29 Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.  30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?
 31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos?  32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; 33 buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. 34 Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.
Mt 6.19-34
Com base nesta mensagem de Jesus à sua Igreja no famoso sermão do monte podemos afirmar que a Igreja tem prioridades que devem ser buscadas. Um grande equívoco que a Igreja cometeu ao longo dos séculos é identificar-se com uma nação, como aconteceu com Israel, uma cultura, como a greco-romana cristianizada ou até mesmo uma pessoa, como o papa ou os modernos proprietários de “emprejas”. Isso limita tremendamente a visão que a Igreja possui de si mesma e, pior ainda, limita a capacidade da Igreja de ser o que realmente deveria ser – uma agência de anúncio das boas novas de salvação a todos os povos, de redenção a todas as culturas. A Igreja não é ocidental, não é oriental, não pertence a fulano ou beltrano. Uma Igreja assim particularizada certamente terá dificuldade em atingir culturas antagônicas. Se a Igreja é de “A” ou “B” (e tem muitas instituições eclesiásticas assim) ela não é verdadeiramente de Cristo. Se a Igreja é do Brasil ou dos Estados Unidos, e pretende propagar a cultura brasileira ou estadunidense, ela é apenas uma instituição deste mundo – e, se é deste mundo, não é do reino de Cristo (Jo 18.36). A Igreja é de Deus. Somente pertencendo a Deus é que a Igreja merece ser considerada verdadeira Igreja, o corpo vivo de Cristo vivendo sobre a terra, espiritualmente ligado ao seu Senhor e cumprindo o seu propósito, com uma missão bem definida e tendo como alvo principal de sua agenda servir ao Senhor, conhecendo sua vontade e buscando agradar-lhe em tudo. A Igreja vive e existe porque é um projeto do Pai e não porque tem projetos para o Pai. A Igreja de Cristo tem que poder dizer de si mesma: não vivemos por nós mesmos, Cristo vive em nós (Gl 2.20), não fazemos por nós mesmos, mas só fazemos porque fazemos em Cristo (Jo 15.5). Em Cristo a Igreja é capaz de viver como reino de Deus, proclamar sua justiça e viver em absoluta dependência de fé.
A Igreja deve ter como prioridade em seu viver buscar

i.                  O REINO DE DEUS

Um grande equívoco da Igreja foi o de comparar-se com Israel e julgar-se detentora do direito de ser (ou ter) um reino na terra, demarcando territórios e usurpando poderes que deveriam ser de autoridades instituídas por Deus, mas civis. Lamentavelmente ao longo dos séculos seus líderes se comportaram – e modernamente alguns ainda se comportam – como se fossem tiranos de uma instituição terrena, muitas vezes chegando a possuir poder bélico e condenando à morte aqueles que deveria se esforçar para salvar do inferno. Não retendo o cabeça (Cl 2.19) acabam sob o domínio de usurpadores, que estabelecem guetos que são tudo menos a verdadeira Igreja de Cristo. Uma verdade insofismável é que o reino de Deus não é deste mundo, Jesus afirmou isto claramente, não será estabelecido nesta terra – não como a conhecemos atualmente, mas somente quando vier o novo céu e a nova terra (II Pe 3.13). Todavia, em seu equívoco, quando a Igreja buscou ter um reino nesta terra ela se esqueceu que o reino de Deus é uma dádiva divina (Lc 13.32) e que viver neste reino implica, antes de mais nada, em renúncia a este mundo, aos prazeres e concupiscências deste mundo, inclusive o poder terreno (Ef 4.22). Ser parte do reino de Deus equivale a não ter nada com este reino onde são apenas peregrinos (I Pe 2.11) porque são cidadãos de outro reino (Ef 2.19) e você pode até possuir dupla cidadania em países deste mundo, mas ninguém pode possuir dupla cidadania, mundana e celeste porque não pode servir a dois senhores (Lc 16.13). Se você, que é a Igreja, que é parte do reino de Deus deseja realmente desfrutar deste reino precisa entender que, antes de mais nada, seu coração não pode estar demasiado ligado às coisas naturais (Rm 14.7) que trazem ansiedade e que exigem atenção, cuidados e muitos esforços diários (Lc 12:29).
Além de considerar como tendo primazia o reino de Deus que lhe é dado, a Igreja também deve buscar

ii.                   A JUSTIÇA DE DEUS

Podemos entender justiça (δικαιοσυνη) como uma condição aceitável diante de Deus, como pureza de vida ou mérito na retribuição. Se a justiça buscada for a do mérito, o pecador tem um sério problema porque o salário do pecado é a morte (Rm 6:23) e não há quem não peque (Ec 7:20). Por esta justiça ninguém é aceitável diante de Deus – a justiça dos homens está muito abaixo do padrão de Deus. Então, temos que entender a justiça do reino como aquela que nos é outorgada pelo Rei – em Cristo a justiça de Deus foi plenamente satisfeita, e é por ela que a Igreja é vencedora, é por Sua justiça que a fome e sede do pecador são saciadas (Mt 5.6) quando o Redentor clama “Está consumado” numa cruz, o justo pelos injustos. A incapacidade do homem de produzir a justiça torna essencial a demonstração da justiça divina (Jr 1:10). Nossa incapacidade de produzir qualquer coisa agradável aos olhos de Deus (Is 64.6) nos leva a admitir a justiça do reino, em Cristo, que nos criou para que andássemos em boas obras previamente preparadas (Ef 2:10) ao contrário do que é comum pensar, de que talvez fôssemos capazes de andar fazendo boas obras e merecêssemos o reino. Apesar de incapazes de merecer a salvação por obras de justiça segundo a lei (Gl 2.16) ainda é exigido dos cidadãos do reino que sua justiça exceda a dos meramente religiosos que geralmente mais criteriosos em demonstrar a justiça própria (Mt 5.20). O padrão de Deus de justiça (Mt 5.48) só pode ser alcançado em Cristo (Rm 8.1). O problema não está na prática das boas obras, mas a confiança nas próprias obras como forma de justificação (Fp 3.9) por isso somos exortados a confiar na justiça de Deus (II Co 5.21).
Além de buscar o reino e a justiça de Deus, a Igreja deve levar uma

iii.                 VIDA DE DEPENDÊNCIA DE DEUS

Das muitas coisas que o Senhor Jesus nos diz para fazer, algumas são extremamente difíceis. Dentre elas está a orientação para não nos inquietarmos (Mt 6.34). Somos por natureza inquietos. Ficamos inquietos pela expectativa de coisas boas e, também, pelo temor de coisas ruins. Os acontecimentos do futuro são uma grande incógnita para nós. Não sabemos quando chegarão. Não sabemos se chegarão. Não sabemos como chegarão. A inquietude invade o coração por coisas básicas, como o comer, o beber. A inquietude invade o coração por coisas secundárias, como o vestir e o morar. A inquietude invade o coração seja na manutenção ou na busca por recuperação da saúde. Tudo é motivo para a inquietude. A solidão é motivo para a inquietude. A pessoa amada é motivo para inquietudes. Jesus nos dá um modelo precioso sobre o cuidado de Deus para com os seus. Ele diz que o Senhor cuida dos pássaros (e eles nascem, vivem, comem, bebem e morrem). O Senhor cuida das ervas do campo (e elas nascem, vivem, florescem e morrem) mas o Senhor tem um cuidado especial pelos seus, na vida (Sl 37.25) e na morte (Sl 116:15). Para ilustrar o que significa confiar em Deus lembre-se que você não deve se inquietar por onde o Senhor te levará porque ele não apenas conhece o caminho, ele é o caminho. Nos inquietamos porque achamos que tudo depende de nós quando na verdade tudo está nas mãos de Deus, certo e determinado e nosso esforço deve ser sempre o de buscar estar no centro de sua vontade, porque, se ele quiser, faremos o que intentamos (At 18.21) ou, se ele quiser, morreremos (Dn 3.17-18) mas sem jamais deixar de confiar no Deus que dirige não apenas o nosso destino, mas o destino das nações (Sl 33.10). O Senhor conhece cada uma de nossas necessidades, conhece necessidades que não conhecemos, atende necessidades nossas que sequer imaginamos, que não pedimos (Mt 6:8) e o que a Igreja precisa aprender é buscar compreender o que Deus deseja para sua vida, confiar nele e lançar sobre ele a sua ansiedade (I Pe 5:7). O nosso problema não está em não termos o cuidado de Deus, mas em não confiarmos o suficiente e acreditarmos que só tendo o que desejamos, o que achamos necessário é que ficaremos realmente bem (Sl 127.). Confiar não é deixar de pensar nos meios e consequências – confiar é pensar nos meios e nas consequências, e entregar o resultado de tudo a Deus (Tg 4.15), e, se os meios não forem os que planejamos, a consequência será sempre aquela que o Senhor considera o maior bem para os seus (Rm 8.28).

CONCLUSÃO

É muito comum, ao fim do ano, os conselhos das Igrejas se reunirem com as demais lideranças para traçar alvos, metas e estratégias. Isto não é pecaminoso, planejar é necessário para organizar os trabalhos da Igreja, os eventos que acontecerão – o próprio Senhor Jesus nos orienta a planejar (Lc 14.28-30). É legal estabelecer alvos e trabalhar para alcançá-los. Cabe à liderança da Igreja conduzirem o rebanho, e cabe ao rebanho não ser pesado aos seus guias. Ambos precisam estabelecer alvos factíveis e prestar auxílio para alcançá-los. Alvos financeiros, alvos de crescimento, alvos de melhora na frequência e até mesmo alvos mais difíceis de medir, como a comunhão e a alegria da Igreja durante os cultos. Mas o alvo prioritário da Igreja não pode ser esquecido – ela foi criada para glorificar a Deus, dar testemunho da salvação mediante a fé em Jesus Cristo para que outros pecadores conheçam a graça de Deus.
Não podemos fugir a esta meta prioritária: glorificar a Deus. É possível encontrar Igrejas que não se preocupam com isso, que se propõem outras metas, que, na verdade, se colocam como alternativas “cristãs à fé cristã”, parecendo-se em quase tudo com a fé cristã, usando o nome de Cristo e com a bíblia nas mãos – mas glorificam a si mesmas, a gloria é da instituição ou de pessoas. Não nos deixemos enganar por ministros de satanás travestidos de ministros de justiça. Não nos deixemos seduzir por estas propostas de termos como alvos prioritários as coisas deste mundo, tais como fortuna, profissão, fama, lazer, prazeres, bens... lembremos que o amor ao mundo é um sintoma de uma terrível enfermidade – o desconhecimento de Deus (I Jo 2.15-17).

Lembre-se que seus alvos prioritários devem passar por estas três características essenciais: você deve priorizar o reino de Deus – que não é comida, nem bebida; você deve priorizar a justiça de Deus – que não pode ser alcançada pelo braço do homem mas é revelada na graça redentora de Cristo; você deve confiar que Deus vai te conduzir às águas tranquilas e pastos verdejantes – mesmo que no caminho tenhas que passar pelo vale da sombra da morte. Enquanto você caminha até lá, se você tem o Senhor como seu guia e senhor, você não sentirá necessidade, sua alma não arderá de desejos por mais nada além da gloriosa presença do Senhor ao seu lado. Qualquer outra meta que não tenha como prioridade glorificar a Deus não passa de um ídolo.

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