quinta-feira, 17 de agosto de 2017

A FONTE DE ALEGRIA AO CORAÇÃO DO CRISTÃO - I Ts 2.17-20

17 Ora, nós, irmãos, orfanados, por breve tempo, de vossa presença, não, porém, do coração, com tanto mais empenho diligenciamos, com grande desejo, ir ver-vos pessoalmente.
18 Por isso, quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho.
19 Pois quem é a nossa esperança, ou alegria, ou coroa em que exultamos, na presença de nosso Senhor Jesus em sua vinda? Não sois vós?
20 Sim, vós sois realmente a nossa glória e a nossa alegria!
I Ts 2.17-20
 O apóstolo Paulo não estava com os tessalonicenses e ele expressa com muita clareza e pungente saudade o quanto sentia a falta dos irmãos. Ele desejava estar com eles, queria gozar de sua companhia e comunhão, era o desejo do seu coração mas circunstâncias impediam a sua presença entre eles. Havia um adversário que se interpunha no caminho mas nem mesmo satanás pode impedir a esperança, a alegria e a vitória da Igreja pois ela é garantida pelo próprio Senhor.
Os crentes em Tessalônica tiveram o privilégio de receberem o evangelho, e receberam-no como Palavra de Deus e não de homens e isto causou mudanças significativas em suas vidas. Viviam pela fé independente das circunstâncias (Fp 4:12), enfrentavam as provas e tribulações com ousada confiança, viviam a sua fé e por isso muitos outros também foram impactados pelo evangelho do Senhor Jesus.
Uma das provas a que quase imediatamente foram submetidos foi a ausência de Paulo, seu pastor, seu missionário, o fundador da sua Igreja lhes foi retirado. Paulo era mais que um pai espiritual, diz-lhes ter sido qual ama que alimenta e acaricia uma criança a quem amamenta, dando-lhes de sua própria vida (I Ts 2.8), de sua própria essência para que eles fossem nutridos e tivessem vitalidade.
Apesar do pouco tempo entre eles, eles foram de tal maneira amamentados e nutridos com o genuíno leite espiritual (I Pe 2:2) que haviam aprendido, estavam amadurecidos a ponto de poderem ser exortados, consolados e admoestados pois já não eram mais considerados como crianças espirituais (I Co 3:1) mas crentes amadurecidos (I Co 14:20), aptos a receberem alimento sólido (Hb 5:14) para serem fortes e resistirem no dia mau, dias maus que não eram uma promessa mas uma realidade em suas vidas (Ef 6:13) enquanto trabalhavam para glorificar o Senhor com a convicção de que quem trabalha para o Senhor não trabalha em vão (I Co 15:58).
E esta Igreja vai se destacar por sua fé operosa, seu amor abnegado e sua firme esperança nas promessas do Senhor Jesus.
Mas em pouco tempo esta Igreja viu-se arrancada de sua ama e de seu pai espiritual e de toda uma equipe de apoio, os “tios” Silvano e Timóteo. Todavia, diferente do que seria de se esperar de uma Igreja na ausência de seu pastor (e aparentemente isto aconteceu com algumas Igrejas da Galácia - Gl 1:6), esta Igreja não conheceu a dispersão, nem o desânimo, mas continuou segundo o modelo que tiveram em Paulo e seus companheiros de viagem - embora eles tivessem essa preocupação em mente quando deixavam uma Igreja (At 20:29).
Apesar de tudo isto, esta Igreja mantinha-se operosa, amorosa e esperançosa. Porque? Vamos ver algumas de suas características.
A VERDADEIRA IGREJA NUNCA ESTÁ ABANDONADA
Logo que nasceu a Igreja viu-se privada de seu pai espiritual (I Ts 2:11-12). Óbvio que a figura de linguagem que Paulo emprega se aplica perfeitamente aos sentimentos da Igreja, relativamente ao conhecimento das doutrinas cristãs mas não podemos nos esquecer que ali em Tessalônica havia alguns judeus versados nas Escrituras que creram.
Além dos judeus também creram gregos que compunham numerosa multidão de piedosos, por natureza estudiosos, gente que procurava conhecer as doutrinas do judaísmo e que compreendiam que a expectativa messiânica se cumprira em Jesus Cristo e não apenas para os judeus, mas para todos os povos, as “outras ovelhas” (Jo 10:16), que não estavam no aprisco de Israel, o “muito povo” que Deus disse a Paulo que possuía.
Completando a membresia da Igreja encontramos muitas distintas mulheres, isto é, mulheres livres, da aristocracia local, que numa mudança ocorrida no início do séc. I d.C., provavelmente tinham tido tempo e oportunidade para estudo da lógica, gramática e retórica e eram capazes de, caso fossem inquiridas, explicar a razão da sua esperança, da fé que impulsionava-as a um novo estilo de vida.
Apesar do pouco convívio com Paulo estavam habilitados a aprenderem rapidamente, e, podemos dizer, a amadurecerem para viverem sua fé sem precisarem ser pajeados o tempo todo nas menos e mais corriqueiras situações da vida. Paulo não precisava estar lá para lhes ensinar rudimentos (Gl 4:3-4), como o que vestir, o que comer, com quem andar, o que falar tanto socialmente quanto o que responder sobre sua fé. Eles estavam prontos a viverem pela fé (II Co 5:7), o que lamentavelmente não tem acontecido com a sábia, culta, pajeada e instruída Igreja do séc. XXI que não é perseguida, não tem sua fé provada (Tg 1:3) e acaba se deixando amortecer, tornando-se morna e insignificante (Ap 3:16).
Aquela era uma Igreja órfã da presença do seu pastor, mas não órfã da presença e direcionamento do supremo pastor (Jo 14:18).
Talvez a Igreja moderna tenha à sua disposição uma enorme prateleira, como num supermercado, onde escolhe seus próprios pastores graças à literatura, meios de comunicação, redes sociais e, tão pajeada, tão mimada, tão satisfeita em seus deleites pseudoespirituais que não cresce, não amadurece o suficiente para andar sob a direção do Espírito.
Talvez, tendo pastores demais e não sendo pastoreada, tendo pajens demais e não sendo edificada, tendo citações demais e obediência de menos, ouvindo demais e praticando menos, seguindo demais a voz de homens esteja orfanada da direção do Espírito de Deus. 
A VERDADEIRA IGREJA NUNCA ESTÁ DIVIDIDA
É fato que a Igreja de Tessalônica, em certo sentido, se sentia orfanada por causa da ausência de Paulo, ausência que eles não desejaram mas que lhe foi imposta pelo adversário e, com certeza, dentro do propósito de Deus. Ao mesmo tempo, percebemos um profundo amor do apóstolo por aquela Igreja, esperando que a impossibilidade de estar com eles fosse apenas mais uma das breves e momentâneas tribulações às quais os crentes são submetidos por causa de sua fé (II Co 4:17).
Paulo afirma que diligenciou, isto é, fez esforços, preparativos e provisões para ir vê-los (I Ts 2:17) mas não foram suficientes para superar algumas barreiras espirituais que ele não explica (I Ts 2:18). Observe que Paulo não podia reunir-se com a Igreja não porque não desejava, mas porque estava impedido, num belíssimo ensino para muitos cristãos que dispondo de todos os recursos e tendo a Igreja bem pertinho de sua, não tendo nenhuma oposição ainda assim desprezam a comunhão.
Embora ele provavelmente não conhecesse a carta aos hebreus e sua ordem para não cometer o terrível pecado de deixar de congregar (Hb 10:25-27) ele conhecia o modelo das Igrejas da Judéia e desejava ardentemente, de coração, vencer centenas de quilômetros, a pé ou por quaisquer outros meios, vencer obstáculos espirituais e até mesmo arriscar a própria vida para estar com os irmãos a quem amava.
Paulo tinha esta disposição porque amava a Igreja. Paulo estava pronto a enfrentar todos os obstáculos porque amava os irmãos, membros do mesmo corpo que ele, o corpo de Cristo. Mas, ao mesmo tempo sabemos que, assim como a Igreja do séc. I tinha inimigos poderosos (Hb 12:4), a Igreja do nosso século também tem um inimigo vigoroso, poderoso e quase invencível. E não é a ameaça de prisão, torturas ou morte por causa de sua fé (Hb 11:35-38).
Também não é uma distância intransponível em virtude de nossos possantes veículos (motos, carros e até aviões - hoje é possível fazer em horas o que Paulo teria que fazer em meses - mesmo uma simples bicicleta é capaz de ser mais rápida que muitos dos mais modernos veículos utilizados por eles).
Também não é falta de informação por causa de eventuais falhas de comunicação uma vez que temos dezenas de comunicadores instantâneos, como telefone, facebook, WhatsApp e outros mais - mesmo com nossas falhas conseguimos comunicar-nos em horas ou dias, enquanto no passado a Igreja precisava esperar meses por informações. E nem é por causa de agenda sobrecarregada por excesso de trabalhos, cursos, atividades sociais ou lazer - talvez seja por excesso de valor ao que não deveria ser prioridade e desprezo pelo que deveria ser a mais absoluta prioridade da agenda dos crentes.
O grande inimigo da comunhão da Igreja atual é uma vontade amortecida pela ausência de amor. Como pode alguém não amar a Igreja de Deus ao mesmo tempo dizendo amar a Deus (I Jo 4:20)? Como pode afirmar que ama o invisível se não ama a manifestação visível do imenso amor de Deus, a sua Igreja? Não congregar por impedimento ou falta de oportunidade é até compreensível, mas ausentar-se da congregação com os irmãos por livre, espontânea e relaxada vontade é desobediência e terrível pecado, é calcar aos pés o sangue do cordeiro (Hb 10:29). Você pode até concordar comigo agora, mas no próximo dia de culto vai achar alguma razão para não congregar, alguma desculpa para não considerar como prioritário o que está aprendendo agora. Você pode achar que estou enganado ao afirmar isso, mas os próximos dias mostrarão se sois ouvintes ou operosos praticantes da Palavra (Tg 1:22).
A Igreja se tornou modelo e motivo de ações de graças porque amava, verdadeiramente, e não apenas da boca pra fora. É tempo da Igreja moderna olhar-se no espelho, arrepender-se de seu desamor e de um eventual fingimento e tornar-se modelo de fé operosa, amor abnegado e firme esperança no se eu fez tudo o que era necessário para nos salvar da condenação que individualmente merecemos e nos tornar seu povo, uma família unida pela fé. 
A VERDADEIRA IGREJA PRODUZ FRUTOS ATRAVÉS DA COMUNHÃO
Apesar de ter tentado ao menos duas vezes visitar os irmãos e não ter conseguido, isto em nada diminuiu o amor mutuo, todavia Paulo ainda não havia desistido de seu intento porque ele via na comunhão com os irmãos a fonte de três bênçãos que só era possível obter em verdadeira comunhão com os irmãos.
Em primeiro lugar Paulo, carinhosamente, lhes diz que eles são a antecipação do seu gozo eterno, a sua esperança já realizada (I Ts 2.19-20). Para ele a comunhão com os irmãos é a experimentação, já, aqui e agora, das delicias do reino para o qual foram todos chamados pelo Senhor Jesus já que ambos tinham a mesma fé, o mesmo amor e a mesma expectativa; Paulo não esperava nada dos tessalonicenses porque eles já eram o que ele sempre esperara, sua alegria não era egoísta, seu prazer e alegria era vê-los bem, e ver a Igreja bem era o que  completaria a sua alegria (Fp 2:2) além da natural alegria da salvação que ele já possuía em Cristo Jesus (Fp 3:8-9).
Em segundo lugar Paulo lhes diz que eles eram a sua alegria e, com efeito, que alegria maior um pai pode querer que a de ver seus filhos amadurecidos, bem estabelecidos, frutíferos. Que maior alegria um missionário pode ter que a de ver seus filhos a fé serem modelo para todos os que tem conhecimento de sua fé, amor e esperança? E o que poderia ser melhor que viver no meio deles, experimentando tudo isto in loco? Se ele mostrou este desejo para com os romanos, uma Igreja que ele não plantou (Rm 1:10-12) imaginemos o que ele sentia por aqueles por quem tinha gerado (I Co 4:15). Para ele, o melhor lugar para se alegrar é no meio do povo de Deus, povo que foi chamado para uma viva esperança.
Em terceiro lugar Paulo os chama de coroa de exultação. Ele estava se referindo não a um símbolo de realeza, pois em momento algum ele chama a si mesmo de príncipe ou filho do rei, uma das muitas tolices do cristianismo hedonista contemporâneo, mas compara a vida cristã a uma corrida ou uma prova no ginásio, numa arena ou num jogo semelhante a uma olimpíada, em busca da vitória completa (I Co 9:25). Ele se refere a uma coroa feita de ramos trançados de louros, um símbolo que era dado aos vencedores nos jogos públicos, com a diferença que a que ele receberia não murcharia nos dias seguintes (I Pe 5:4).
Os tessalonicenses, sua fé, suas obras, seu amor, sua abnegação, sua firmeza diante das lutas e sua esperança em Cristo eram a coroa, eram o prêmio que Paulo almejava quando foi àquela região e lhes anunciou o evangelho. 
CONCLUSÃO
Paulo dizia palavras carinhosas e profundamente afetuosas à Igreja. E pelo que conhecemos do apóstolo Paulo sabemos que não era bajulação (Ef 6:6). Paulo não buscava agradar a homens, não buscava reconhecimento humano ou honrarias, ou qualquer tipo de glória entre eles (Gl 1:10). Na verdade, eles já eram a glória que o apóstolo desejava.
Eles haviam se tornado o que cada um de nós, o que cada crente, o que cada cristão deve ser. Eles eram modelo por sua fé, por seu amor e por sua firmeza na esperança da volta de Cristo para todos os que os conheceram ou souberam de sua vida (I Ts 1:7-8) após a transformação sofrida quando receberam o evangelho como o que de fato ele era e é, mensagem de Deus (I Ts 1:9-10).
Esses crentes serviram e servem de modelo para nós e temos que buscar as seguintes respostas em nossas vidas: imitamos os tessalonicenses em sua fé? E em seu amor? E em sua esperança? Em que, como Igreja ou como indivíduos que professam a mesma fé temos tido sucesso e em que temos falhado? Como Igreja temos sido fiéis ao Senhor no mais básico dos mandamentos: o de, como os tessalonicenses, nos amarmos mutuamente, amarmos uns aos outros como o Senhor Jesus Cristo mandou que seus discípulos fizessem (Rm 12:10) e assim dariam prova não apenas de que eram, de fato, nascidos de novo (I Jo 3:14) como também verdadeiros discípulos do Senhor, não apenas ouvintes de sermões (Jo 13:35).
Como é feliz a Igreja, seus pastores e seus membros, quando há afeição, quando há este amor, esta estima mútua. Como é maravilhoso quando a Igreja se alegra não com eventos, mas uns com os outros mesmo em meio a problemas, vivendo os problemas e superando os problemas juntos (Fp 1:27). Como é maravilhoso quando o simples fato de ter irmãos já é motivo de exultação e alegria. Como é excelente quando os que semeiam se alegram com a colheita e, quando os frutos se tornam árvores frutíferas e todos se regozijam na presença do Senhor e se regozijarão em sua vinda.
Como é feliz a Igreja que sabe que, mesmo que seus intentos sejam frustrados, mesmo que não obtenham a satisfação de alguns de seus desejos, mesmo que estes desejos sejam santos, o Senhor continua sendo Senhor e tudo faz para realização de seu propósito eterno, para confirmar seus intentos, para louvor de sua glória e para o bem daqueles que são chamados segundo o seu propósito, isto é, para seu bem, para sua alegria.
Se você é cristão, se você é crente, se você tem uma fé viva e operosa, se você tem um amor que é verdadeiro e não busca os seus próprios interesses e uma esperança que não se abala quando as circunstâncias parecem contrárias aos planos de Deus então você está no caminho certo.
É este tipo de crente que eu quero que você seja. É este tipo de crente que Paulo desejava que houvesse em Tessalônica, em Filipos, em Éfeso, na Galácia e em todos os lugares por onde ele passou. É este tipo de crente que o Senhor quer que você seja, independente de sua idade ou formação, independente de sua história até este momento. Se passa por sua cabeça ser membro de uma igreja para ser diferente do que aprendemos com o modelo que o Senhor nos deu nesta Igreja então eu te peço para não fazer isso. Você não fará qualquer bem, nem a si mesmo nem às pessoas que estiverem perto de você.
Qualquer outra coisa é desprezível e não agrada ao Senhor - e para qualquer outra coisa o Senhor dirá: nunca vos conheci (Mt 7:21-23). Tenho certeza que a frase que você quer ouvir é outra, com indizível gozo e alegria.

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