sábado, 29 de setembro de 2018

UMA VISITINHA NÃO É SUFICIENTE [Jo 3.1-21]

PORQUE UMA VISITA A JESUS NÃO É SUFICIENTE PARA SATISFAZER SUA MAIS URGENTE NECESSIDADE

Anteriormente olhamos para este texto e nos perguntamos: quais as possíveis motivações de Nicodemos para se aproximar de Jesus? Estaria ele interessado em conhecer suas motivações políticas, ou então se inteirar dos métodos que ele usava para atrair a si as multidões, ou, ainda, meramente curioso para saber o que aquele estranho rabino, vindo da Galiléia, sem estudos formais, estava ensinando já que sua fama de grande professor se alastrava, e todos diziam que ele era muito mais capaz do que os escribas conhecidos.
Concluímos que é virtualmente impossível saber o que se passava no coração de Nicodemos. Mas uma coisa é certa - ele teve seu coração despertado para um encontro com Jesus, e sabemos que é Deus quem inclina o coração dos homens segundo o Seu querer (Fp 2:13), e Ele faz isso mesmo com o homem que se julgue mais independente e poderoso da mesma maneira que um humilde lavrador muda o curso de um pequeno córrego (Pv 21:1).
Outra coisa certa a respeito de Nicodemos é que, quando foi a Jesus, ele não desejava nenhuma forma de compromisso com Jesus - fosse qual fosse o seu propósito, é provável que pouca coisa além de curiosidade o movesse. Ele vai procurar Jesus à noite, às escondidas, sem querer comprometer sua respeitabilidade junto aos demais religiosos - podemos dizer que ele era um homem cioso de sua ‘boa fama’ entre os judeus. Talvez não quisesse ser confundido com seus seguidores posteriormente, se as motivações de Jesus fossem políticas. Também não queria ser contado como alguém que queria aprender métodos populistas com o popular mestre galileu. E seria inadmissível que ele, um mestre em Israel, se sujeitasse a aprender teologia com Jesus.
Como já foi dito, de tudo isto, há algo muito maior a ser levado em conta: o proposito que estava no coração de Deus ao inclinar o de Nicodemos para ir a Jesus é muito mais relevante, aliás, é o que há de mais relevante para considerarmos nesta ocasião.
Como Nicodemos foi a Jesus, você está aqui neste momento. Você teve suas motivações, e, da mesma maneira que não consigo saber as motivações de Nicodemos, também sou incapaz de conhecer as suas, mas o fato é que o mesmo que impulsionou Nicodemos até Jesus impulsionou você até este lugar, para ouvir sobre o meio de Deus para salvação dos pecadores, mesmo que, como Nicodemos, não haja consciência desta necessidade. Nicodemos era profundamente religioso, respeitado entre os líderes de seu povo, mas era um homem sem Deus, perdido, frequentador do templo, leitor das Escrituras, provavelmente dizimista e ofertante, líder religioso, mas apenas um perdido - e como Nicodemos foi instruído por Jesus, também vamos ser instruídos sobre três verdades inquestionavelmente ensinadas nas Escrituras: o conhecimento que Deus tem do nosso coração, como ele nos vê e qual a nossa necessidade mais urgente, mais fundamental, mais essencial.
Nicodemos foi a Jesus porque o Pai o enviou (Jo 6:4) como expressão de sua bondosa e soberana vontade  (Jo 6:65).


DEUS CONHECE O SEU CORAÇÃO
Quando alguém é perguntado sobre o motivo para estar em uma Igreja, em qualquer dia da semana, quando poderia estar em lugares que certamente satisfariam mais facilmente os desejos normais do coração de qualquer ser humano, pode-se obter uma série de respostas, e todas válidas, tais como convite de um amigo ou familiar, acompanhar pais ou cônjuges, prazer em ouvir uma prédica ou a música, desejo de ter boa companhia por estar em uma cidade onde não se tem familiares, curiosidade, desejo de estar perto de alguém de quem se gosta, e muitos outros. Há desejos malignos também, como aconteceu há alguns anos em uma Igreja que pastoreei quando um homem foi à Igreja com o objetivo de estudar a possibilidade de voltar mais tarde e roubar o equipamento de som.
Mas uma coisa é certa: seja qual for o intento do seu coração, seja qual for os seus desígnios e pensamentos, aquele a quem Nicodemos foi visitar naquela noite há quase 20 séculos conhecia o coração de seu visitante (Lc 5:22) como Deus conhece o coração de cada um de nós aqui nesta ocasião, mesmo que achemos que Deus está longe ou não tem interesse no que pensamos (Sl 139:2).
Não importa como você se apresente, nem como você se vista - Deus conhecia Nicodemos exatamente como ele era, e conhece você exatamente como você é - sem adornos, sem maquiagens, sem as máscaras da religiosidade, da civilidade, da camaradagem, do bom humor ou do politicamente correto.
Quando Nicodemos chegou a Jesus ele sabia exatamente o que aquele homem carregava em seu coração. Nicodemos era orgulhoso de sua condição de líder espiritual de Israel. Era influente, sua palavra era ouvida mesmo nos concílios mais elevados da nação, era membro do sinédrio, uma assembléia religiosa com 70 membros, além do seu presidente, o sumo-sacerdote. Eles governavam e julgavam os judeus de acordo com a maneira que interpretavam as leis mosaicas. Nos dias de Jesus os judeus estavam sob o jugo romano e o sinédrio tinha autoridade para julgarem apenas crimes que envolviam a quebra das tradições religiosas - mas como quase estava previsto na lei mosaica, tinham controle sobre quase todos os aspectos da vida do povo, mas sem autonomia para aplicar certos dispositivos da lei, como a pena de morte.
Ser membro do sinédrio era motivo de grande orgulho, e o apóstolo Paulo fala sobre a dificuldade causada pelo orgulho religioso como impedimento para alguém se tornar um discipulo de Cristo (Gl 1:14), devendo ser prontamente abandonado por aquele que conhece a Jesus e quer segui-lo (Fp 3:8).
Aquele conhecimento das tradições e zelo religioso que Nicodemos possuía é descrito por Isaías como mandamentos adquiridos maquinalmente (Is 29:13), obedecidos rigorosamente, mas sem envolvimento sincero do coração (Mt 15:8) e Paulo classifica como inútil por se tratar de um zelo sem o devido conhecimento relacional (Rm 10:2).

Jesus conhecia o coração de Nicodemos, sabia porque ele fora ali e não o deixaria sair antes que a necessidade de seu coração fosse satisfeita. Mas antes disso precisamos entender como Jesus via Nicodemos.

COMO DEUS JULGA O CORAÇÃO
A saudação protocolar de Nicodemos não obtém a resposta usual entre os religiosos. Acreditamos que Jesus não era grosseiro ou mal educado, mas em momento algum Jesus foi ‘politicamente correto’. É um grande absurdo afirmar que Jesus fazia como os líderes modernos que são ensinados em cursos de coaching a elogiar em público e corrigir em particular. Jesus fazia exatamente a mesma coisa em qualquer ambiente - elogiava publicamente como fez com Pedro (Mt 16:17) ou com Natanael (Jo 1:47)  e repreendia com veemência, também publicamente (Mc 8:33).
Nicodemos falou a verdade assim como Pedro disse ao admitir que Jesus era o Cristo, o filho de Deus (Mt 16:16): Jesus era Mestre, Jesus havia vindo da parte de Deus (Jo 5:36-37) e fazia os sinais que deixavam todos maravilhados porque o Senhor era com ele (Lc 5:17) mas Jesus sabia o que se passava no coração daquele orgulhoso mestre de Israel e sua confiança no que ele era.
Mas, outra coisa que Jesus também sabia era quem era realmente Nicodemos. Mesmo sendo um mestre religioso não o conhecia como o Messias, admitindo, no máximo, que ele fosse algo parecido com um profeta. João havia dito aos companheiros de Nicodemos que depois dele o Senhor viria (Jo 1:23) mas Nicodemos ainda não o reconhecia como o messias, o Filho de Deus.
Mesmo sendo mestre religioso Nicodemos possuía um coração como o de qualquer outro homem não convertido, por melhor que parecesse aos seus olhos (Jr 17:9).  Sem medo de desagradar Jesus diz a Nicodemos que ele não está apto a ver as coisas do reino do céu - literalmente, ele continua sendo um perdido, um mundano, mesmo com toda a sua religiosidade.
Nicodemos ainda não fizera como Davi, orando ao Senhor para sondar seu coração e corrigi-lo (Sl 139:23) e, por isso, ainda era contado entre aqueles para quem Jesus veio mas ainda não o haviam recebido (Jo 1:11).
Por ainda não ter saído desta atitude de rejeição ainda era um filho da ira, ainda não tinha sido feito filho de Deus porque esta dádiva é dada exclusivamente àqueles que creem no seu nome (Jo 1:12). Mesmo apresentando-se como líder espiritual, sua liderança entre Israel era a de um cego guiando cegos, de um morto cuidando de mortos (Mt 15:14)  todos em direção ao abismo.
Por mais paradoxal que pareça, quanto mais fiel fosse à sua tradição religiosa, quanto mais religioso fosse, quanto mais devoto se mostrasse, mais sinais de morte Nicodemos apresentaria, como foi, aliás, com o apóstolo Paulo (At 9:1). É como estar na direção errada - quanto mais você acelera mais longe você fica do lugar correto. Jesus sabia que Nicodemos era apenas isto: um mestre religioso, mas ao mesmo tempo um morto espiritual. Ele não tinha vida em si mesmo, não tinha recebido a vida que só pode ser encontrada em Jesus (Jo 10:28).

DEUS SATISFAZ SUA VERDADEIRA NECESSIDADE
É provável que nem mesmo Nicodemos soubesse a sua verdadeira necessidade ao ir ao encontro de Jesus. Ele era apenas um homem natural, e um homem natural não entende as coisas espirituais - ele não compreendia porque uma necessidade espiritual só pode ser discernida espiritualmente (1Co 2:14) e o homem natural, morto em seus pecados (Cl 2:13) é incapaz de ter sensibilidade em relação às coisas de Deus, não pode nem cogitar delas.
É esta incapacidade de entendimento espiritual que explica a aparente mudança de atitude de Nicodemos - se no primeiro momento ele parece respeitoso, no segundo ele parece irônico, como se duvidasse da sabedoria ou da sanidade de Jesus (Jo 3:4). O que Jesus disse a Nicodemos pareceu loucura, e é por considerar a fala de Jesus estranha demais que ele retruca tolamente.
Nicodemos, mesmo que desejasse, não precisava de estratégias ou conhecimento teológico, ou de boa companhia, ou de satisfação para curiosidades intelectuais. Talvez ele desejasse estas coisas ou nenhuma delas. Mas não era o que ele precisava. Talvez seus desejos sejam lícitos, ou inconfessáveis, mas é possível que não seja o que você realmente precisa.
Nicodemos tinha compromissos assumidos com seus companheiros (muitos deles eram, no mínimo, seus adversários mas provavelmente eram tambem seus inimigos, pois os fariseus e saduceus, que compunham o sinédrio, viviam em intermináveis debates e disputas) e não queria que sequer supusessem que ele queria algum tipo de compromisso com Jesus, o profeta de uma região desprezada como Nazaré (Jo 1:46).
O que fica claro da resposta de Jesus a Nicodemos é que o visitante era apenas um homem carnal, que entendia das coisas terrenas o quanto lhe era possível entender, que até entendia dos livros sagrados mas sem nenhum entendimento espiritual. Toda a nulidade da vida religiosa de Nicodemos é colocada, diante dele, por Jesus, em uma única expressão: “você ainda não viu nada a respeito do reino dos céus”.
Nicodemos é carnal, nascido da carne, tão limitado que nem das coisas terrenas tinha o entendimento necessário, e, se quisesse realmente ver o reino dos céus não seria com frases de efeito que conseguiria. Ele tinha que nascer de novo. Teria que considerar sua experiencia religiosa como um fardo, um peso, algo a ser lançado fora sem qualquer pretensão de reciclagem (Fp 3:8).
Nicodemos recebeu de Jesus o que não esperava - seus olhos foram abertos para a necessidade de enxergar uma nova realidade, que lhe fugia à percepção: ele precisava nascer de novo, precisava nascer espiritualmente, ser renovado, restaurado, recriado e isto ele não conseguiria na sua vida religiosa. Ele precisava de mais: ele precisava crer em Jesus (Jo 3:12) e Jesus lhe diz isso de maneira direta porque, sem crer em Jesus ele continuaria sendo contado entre os que, embora destinatários da presença do  messias, o rejeitaram (Jo 1:11).
Seja qual tenha sido a motivação de Nicodemos, ele recebeu mais do que esperava, mais do que desejava e somente o que precisava - e mais tarde isto seria a razão de sua salvação e de alegria nos céus porque alguém que se imaginava justo (a clássica frase: “Não mato, não roubo, não faço o mal a ninguém) reconheceu-se pecador (Lc 15:7).

CONCLUSÃO
Seja qual tenha sido a sua motivação para vir a este lugar nesta ocasião você veio porque Deus queria que, como Nicodemos ouviu, você também ouvisse sobre a necessidade de não confiar na sua tradição religiosa, nem no status que adquiriu na sociedade ao longo de uma vida de estudos e trabalhos porque isto pode ser - e realmente é - muito bom para as necessidades terrenas, mas não resolve a sua principal necessidade: a salvação de sua alma, a sua salvação, a vida eterna em lugar da morte eterna no inferno.
E para isto você precisa nascer de novo. Para isto você precisa crer em Jesus como seu Senhor e salvador, única maneira de entrar no reino eterno (2Pe 1:11). Para isto você não tem outra escolha a não ser a de se entregar a ele e reconhece-lo como seu Deus, seu rei, seu único dono, em tudo quanto intentar fazer (Pv 3:5) e em tudo que for executar (Pv 16:3).
E para isto você precisa invocá-lo agora, enquanto é tempo (Is 55:6) porque chegará um tempo que, não fazendo-o agora, no momento oportuno (2Co 6:2) será tarde demais para você (Pv 1:28).

PORTAS SEMPRE ABERTAS


Há alguns anos, conversando com um jovem que hoje já não é tão jovem assim, e é também ele pastor evangélico, fiquei surpreso quando ele me disse que havia um dia de culto em sua igreja que quem não fosse membro não poderia entrar - um ancião ficava na porta da Igreja e só permitia a entrada dos membros comungantes e seus filhos. Indaguei o porque daquilo e ele me informou que era porque era dia de Ceia, e, neste dia, somente os discípulos tinham acesso ao culto. Dizendo de outra maneira, naquele dia a Igreja estava de portas fechadas. Algum tempo depois, deparei-me, agora na Igreja Presbiteriana, com uma programação dentro da Igreja que era exclusiva de quem tivesse participado de um evento para eclesiástico chamado ECC, surgido na Igreja católica. Nem mesmo o pastor da Igreja poderia estar presente se não fizesse o ECC, mas casais não cristãos, idólatras, tinham acesso e podiam até ministrar alguma forma de ensino - e, mais uma vez, a portas fechadas.
A pergunta é: a Igreja de Cristo pode fechar as portas para alguém que esteja interessado em ouvir o evangelho, seja com que ‘roupagem’ ele se apresente? A Igreja pode fechar as portas ao pecador? Ao fazer esta indagação, lembro-me da parábola do filho pródigo, a historia de um pai e seus dois filhos, cada um à sua maneira, portador de um coração endurecido.
O primeiro é o mais famoso, o mais falado, o gastador. De fato, ele fez muita coisa errada, desprezou o pai, desprezou a família e desprezou seu próprio povo em sua busca por prazeres mundanos. E teve o resultado que merecia, embora não o buscasse. Passou a ser ridicularizado como estrangeiro, passou fome, foi desprezado no meio de um povo estranho e sofreu a mais odienta das humilhações que um judeu podia imaginar sofrer: cuidar de porcos.
Enquanto isto seu irmão vivia na casa do pai, comia da mesa do pai, era o único herdeiro da fortuna que sobrara do seu pai, e, ainda, herdaria o que havia de mais importante: o direito de ser o senhor de sua própria casa - agora exclusivamente sua. Em seu coração o seu irmão não tinha direito a mais nada, não tinha direito a comer da mesa do pai, não tinha direito a vestir-se com as vestimentas providenciadas pelo pai. Tudo era dele, tudo era para ele - em sua fidelidade filial, tornara-se um egoísta sem sentimentos fraternais. E, para ele, em seu coração endurecido as portas da casa do pai estariam definitivamente fechadas para o irmão que partiu.
Mas, para o pai, sempre haveria lugar para o filho rebelde e arrependido, e, embora o texto não fale de condições impostas pelo pai, aquele filho, em terras distantes, cumpriu exatamente a exigência de Deus ao seu povo em 2Cr 7: ele se humilhou, primeiro diante de Deus, e depois se dispôs a, arrependido, voltar para a casa do pai e pedir-lhe o necessário perdão. As portas do coração do pai não estavam nem jamais estarão fechadas aos que partirem em busca de outras experiencias, mesmo que isto signifique lançar fora aquilo que ajuntaram em toda uma vida, como, por exemplo, no caso de rebatismos de crentes. As portas da Igreja permanecem e permanecerão abertas para todo aquele que, arrependido, buscar a casa do Pai Celestial.
Pr. Marthon Mendes

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

MOTIVOS HUMANOS PARA UMA VISITA A JESUS

João 3.1-21

Existem diversos motivos que levam as pessoas a irem a uma Igreja, e até mesmo a uma tentativa de aproximação com Jesus. Nicodemos é um exemplo de homem que tinha um genuíno interesse em Jesus.
Não é necessário duvidar da honestidade de quem entra em uma Igreja e afirma que quer conhecer mais sobre Jesus, ou que quer conhecer a Jesus. Jesus é, realmente, um personagem intrigante, talvez o personagem mais intrigante, mais emblemático e mais enigmático da história da humanidade.
Muitos conviveram com ele e poucos compreenderam alguma coisa dele (Jo 7:12). Até mesmo seus irmãos, que o viram crescer e cresceram junto com ele, tiveram dificuldade para compreender suas ações, pois inicialmente não creram nele (Jo 7.5).
Ao longo dos séculos Jesus tem sido visto como pedagogo, revolucionário, comunista ou um simples enganador (Jo 7:12). Mas quem é Jesus, realmente, é uma intrigante pergunta cuja resposta, mesmo depois de dois séculos, só pode ser respondida corretamente de uma maneira: “Não sei, só sei que ele é o messias de Deus, o Salvador do mundo”.
Antes destes séculos se passarem, um homem quis conhecer a Jesus, e se esforçou para isso, chegando a colocar a sua própria respeitabilidade social em risco por causa disto, pois sabia que seus amigos não apenas não gostavam de Jesus, desconfiavam dele (Jo 12:19) e ainda passaram a planejar matá-lo pouco depois (Jo 5:18), intento de que não desistiriam facilmente, mesmo sendo denunciados pelo próprio Jesus (Jo 8:40).
Seu nome é bastante conhecido, sua história também: Nicodemos, mestre de Israel, respeitado pelos judeus, um dos maiorais de Israel. Nicodemos tinha uma desvantagem, naquele momento: Jesus havia acabado de se manifestar, ainda estava no começo de seu ministério e era, sem dúvida, uma grande interrogação. A seu favor, porém, estava o fato de que ele vivia o que nós apenas ouvimos falar.
O que levaria um homem culto, bem relacionado, influente e politicamente respeitável a procurar Jesus, ainda mais da forma que procurou, de noite, buscando o abrigo da escuridão provavelmente desejando não ser reconhecido - o que certamente lhe causaria problemas entre seus pares do sinédrio? O que Nicodemos queria naquela noite, quando foi procurar Jesus?
Talvez você não tenha sequer imaginado este tipo de pergunta, e talvez você nem mesmo se faça este tipo de pergunta? Qual a sua razão para estar aqui nesta noite? Qual a sua razão para buscar conhecer alguma coisa mais sobre Jesus? O que você quer, qual a sua motivação, afinal?
Nicodemos podia estar à procura de Jesus em busca de satisfação para sua curiosidade. Podia ter várias perguntas em mente, podia ter várias indagações, e, dadas as circunstâncias do período que eles viviam, Nicodemos poderia fazer algumas indagações: 
MOTIVAÇÃO POLÍTICA
Apesar do pouco tempo de ministério Jesus já conseguira o que muitos dos fariseus mais esforçados não conseguiam: uma multidão de seguidores. E seguidores que não se esquivavam de mostrar a sua admiração pelo seu jeito de ser (Mt 9:36), espantados pelos seus feitos que chamavam a atenção e causavam grande espanto (Mt 15:30) e pelo seu ensino, em uma comparação bastante desfavorável para os escribas fariseus, que se consideravam os maiorais da interpretação bíblica (Mc 1:22). A bíblia afirma enfaticamente e por várias vezes que as multidões iam após ele. O que isto significava? O que estava sendo preparado por aquele líder de pobres, de iletrados, de publicanos e pecadores?
Um dos temores dos líderes do sinédrio israelita era que Jesus fosse mais um revoltoso, e se questionavam se ele não seria mais um dos muitos populistas que surgiam de tempos em tempos naquelas regiões esquecidas da Galiléia, naquele canto esquecido do império romano, como o próprio Jesus menciona a respeito de alguns revoltosos que se esconderam na torre de Siloé e foram esmagados quando ela caiu (Lc 13:1-2) e mais tarde o rabino Gamaliel lembraria quando os fariseus quiseram impedir os apóstolos de anunciarem a ressurreição de Jesus (At 5:36-36).
Como não era incomum os profetas se envolverem em questores sócio-políticas, é possível que esta preocupação ocupasse a mente dos fariseus - e Nicodemos é um dentre eles. O próprio João batista ousara denunciar o rei por seu relacionamento com a e por isso foi mandado prender e decapitar (Mc 6:17). Os religiosos já tinham demonstrado esta preocupação quando João Batista começou a pregar e a batizar (Jo 1:22) e insistiram com ele para saber se ele se autoproclamava como um tipo messiânico, como outros já surgidos (Jo 1:25).
Foi exatamente a mesma indagação que foram apresentar ao Senhor Jesus (Lc 22:67), e quando a multidão recebeu Jesus como o rei eles quiseram calar a multidão (Lc 19:37-39) com medo de que os romanos achassem que eles próprios apoiavam alguma forma de insurreição contra o império (Jo 19:21).
Mas é evidente que Nicodemos não aborda este assunto, e pensar em motivação política é um exercício de imaginação porque, embora ele inicie a conversa com Jesus com outro tipo de argumento - O que você veio fazer aqui? Da parte de quem você vem? Que tipo de autoridade você recebeu para fazer estes sinais? Você é, de fato, alguma espécie de profeta enviado por Deus?
Digamos que ainda hoje tem pessoas que se aproximam da Igreja com interesse sócio-políticos. Garanto que não são os melhores nem mais recomendados motivos. 
MOTIVAÇÃO METODOLÓGICA
Como este Jesus, sem educação formal, sem ter estudado em nenhuma das grandes escolas rabínicas da época, consegue arrebanhar multidões desta maneira? Qual é o segredo de seu método? Qual o segredo de sua popularidade?
Como é que ele faz para, não buscando agradar ninguém, como Paulo mais tarde o imitaria (Gl 1:10) e até mesmo dizendo palavras duras tanto para os líderes religiosos (Mt 23:33-34) e, estranhamente, para os seus próprios seguidores, mesmo os mais íntimos (Jo 6:66-70), ainda assim tenha multidões de seguidores?
Como é que pode algo assim - como pode atitudes tão antipopulares até mesmo dentro da própria família (Mt 12:48-49) dar tão certo? Qual o segredo deste homem? Como ele pode conseguir tantos seguidores que nem mesmo os maiores mestres sofistas de seus dias conseguiam?
Como ele conseguia? Como este tal de Jesus conseguia se nem mesmo Gamaliel, o maior mestre rabino de Israel em seus dias, conseguia? Um fenômeno como o de Jesus era inexplicável. E a pergunta de Nicodemos poderia ser a mesma dos seus colegas fariseus: como ele consegue que “o mundo” o siga (Jo 12:19).
Como Jesus, sem educação formal, sem ter frequentado nenhuma escola, sem apoio político, e até mesmo a margem do processo político, vindo de uma região desprezada (Jo 7:40-41) e ao mesmo tempo sem laços conhecidos com os poderosos de seu tempo (Jo 7:42) e até mesmo sem se preocupar com o fato de ter contra si o mais poderoso dentre eles (Lc 13:31-32) podendo, inclusive, ser facilmente acusado de rebeldia contra o império quando aceitou as homenagens populares, entrando em Jerusalém como se fora um rei dos tempos davídicos (Mt 21:9).
Saber como Jesus fazia e conseguir fazer igual seria um trunfo enorme para aqueles religiosos. Eles já se esforçavam para controlar politicamente a nação de Israel, e, se tivessem acesso aos mesmos métodos, ao que eles chamavam de truque metodológico de Jesus (Jo 7:12) então talvez conseguissem controlar mais facilmente os agitadiços judeus e assim obteriam um trunfo nas suas negociações com os romanos.
Como, tendo todas as probabilidades contra si, ele conseguia? Qual era o seu segredo? Qual era o seu método? Como aprender com Jesus e ser tão popular como ele? Ter multidões seguindo-o por todos os lados, ter gente disposta a fazer coisas impossíveis bastando para isso que ele dissesse, como, por exemplo, deixar a segurança de um barco para andar sobre águas revoltas? Qual o segredo de controle de grupo, de domínio de multidões que Jesus porventura possuía? Muitos teólogos e teóricos tentaram encontrar o segredo do método de Jesus, e Nicodemos poderia ter sido apenas o primeiro deles. Mas seria esta a razão certa para procurar Jesus, buscar ser glorificado entre os homens (Jo 12:43)? 
MOTIVAÇÃO INTELECTUAL
O que este Jesus tem ensinado de tão especial? O que ele está ensinando e quais as implicações deste ensino para a nação de Israel? A opinião da multidão sobre o ensino de Jesus e o dos fariseus não era nada abonadora para os fariseus: Jesus ensinava como quem tem autoridade (Mc 1:21-22), isto é, como quem entendia o que estava falando.
Diferente dos escribas e fariseus (dos quais Nicodemos fazia parte) Jesus era capaz de ensinar o que entendia das Escrituras sem se preocupar com o que outros mestres haviam dito ao longo dos séculos, primeiro indo além deles (Lc 6:27-28) e chegando mesmo a ir contra o ensino já consolidado dos costumes rabínicos (Mc 5:31-32).
Nicodemos podia querer descobrir o que este Jesus tinha de tão especial para ensinar, pois já havia algum tempo que ninguém conseguia entender exatamente o que ele queria dizer, desde o dia em que, ainda jovenzinho, se assentara com os doutores da lei e os interrogava (Lc 2:46).
Nicodemos talvez desejasse entender as parábolas que Jesus contava, parábolas que eram proferidas diante de todo o povo mas que Jesus fazia questão de explicar em particular (Mt 13:10-11).
Por exemplo, como entender que tipo de reino era este que Jesus dizia ter se ele próprio não queria ser feito rei (Jo 6:15).
Como entender que tipo de tesouro era este que, para recebe-lo, o pretendente deveria abrir mão de todos os outros tesouros que porventura tivesse acumulado durante toda a sua vida, considerando estes tesouros como coisas de nenhum valor, como mais tarde faria o apóstolo Paulo (Fp 3:8)?
Nicodemos podia desejar ter as explicações que Jesus dava aos seus discípulos porque não queria ficar sem entender (Mt 13:14) embora, de vez em quando, eles entendiam com muita clareza o que Jesus estava ensinando, enfurecendo-se contra ele como quando ele contou a parábola dos lavradores maus (Mt 21:45).
Dê uma lida novamente nas primeiras palavras ditas por Nicodemos a Jesus no v. 2: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Não há definição de assunto, não há uma pergunta, não há nenhuma inquirição específica - parece uma saudação protocolar de uma visita institucional. Ele queria conhecer Jesus, queria satisfazer uma curiosidade que talvez nem ele mesmo soubesse qual era. O que temos de concreto é que ele chama Jesus, duas vezes, de mestre e outras duas de enviado por Deus.
Será que ele tinha consciência do que estava declarando ou era apenas uma tentativa de não ser frontalmente antipático, usando a mesma fórmula usada por outros de seus colegas fariseus (Mc 12:14)?
O que ele não imaginava é que Jesus não veio para satisfazer curiosidade ou sede de conhecimento intelectual - veio para buscar e salvar o perdido, mesmo o religioso perdido, como Nicodemos. 
CONCLUSÃO
Não sabemos quais os pensamentos de Nicodemos. Nem sabemos quais os seus propósitos. Sabemos, entretanto, que ele vai até Jesus às escondidas, à noite - e não é à toa que Jesus diz-lhe no final deste capítulo que as obras dos filhos de Deus devem ser feitas às claras, à luz do dia, e não nas trevas, onde os filhos das trevas fazem suas obras, tramam seus ardis. Nicodemos não era discípulo de Jesus, e por isso se escondia, com medo de ser envergonhado entre os seus amigos por ter procurado a Jesus.
Mas uma coisa é certa, independente do propósito do coração de Nicodemos, temos que levar em conta o propósito do coração de Deus. Jesus veio para buscar e salvar o perdido - e Nicodemos, apesar de profundamente religioso, apesar de respeitado entre seus, não passava de um perdido. Perdido na casa do Pai, perdido entre os afazeres religiosos, mas apenas um perdido, um morto-religioso que precisava nascer de novo.
Conhecendo a história de Nicodemos e o propósito da vinda de Jesus sou levado a considerar uma quarta razão para Nicodemos ter ido procurar a Jesus, mesmo sem ele saber, mesmo sem ele desejar, mesmo sem ele considerar esta hipótese, não há dúvida que Nicodemos foi a Jesus porque o Pai o enviou (Jo 6:44). Jesus é enfático ao afirmar que ir a ele é o resultado de uma concessão da vontade soberana de Deus (Jo 6:65) porque é Deus quem efetua no coração do pecador, perdido, moribundo, morto mesmo o querer e o realizar (Fp 2:13).
Esta é a única razão realmente válida para se buscar a Jesus - o chamado de Deus ao seu coração, mesmo que não se saiba o porque inicialmente, mas aquele que é chamado por Deus vai a ele, busca-o e acha-o (Jr 29:13), e é bom que você o busque agora, enquanto ainda é tempo, enquanto ele ainda se deixa encontrar (Is 55:6).
Porque você está aqui? Em busca de informação? Curiosidade? Quer saber porque certas coisas acontecem na vida dos cristãos ou que vantagens você pode achar? Que saber porque os cristãos enfrentam as provações sem desistirem (2Co 4:8-9) e com a confiança de que, no final, Deus fará com que tudo resulte em benção para seu povo e glória para si mesmo (Rm 8:28). Esta é uma pergunta importante. Mas mais importante ainda é: como você vai sair daqui? Curiosidade satisfeita ou salvo pela fé, por crer no Senhor Jesus e entregar sua vida àquele que conhece o seu coração?

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