PORQUE UMA VISITA A JESUS NÃO É SUFICIENTE PARA SATISFAZER SUA MAIS URGENTE NECESSIDADE
Anteriormente
olhamos para este texto e nos perguntamos: quais as possíveis motivações de
Nicodemos para se aproximar de Jesus? Estaria ele interessado em conhecer suas
motivações políticas, ou então se inteirar dos métodos que ele usava para
atrair a si as multidões, ou, ainda, meramente curioso para saber o que aquele
estranho rabino, vindo da Galiléia, sem estudos formais, estava ensinando já
que sua fama de grande professor se alastrava, e todos diziam que ele era muito
mais capaz do que os escribas conhecidos.
Concluímos que é
virtualmente impossível saber o que se passava no coração de Nicodemos. Mas uma
coisa é certa - ele teve seu coração despertado para um encontro com Jesus, e
sabemos que é Deus quem inclina o coração dos homens segundo o Seu querer (Fp 2:13), e Ele
faz isso mesmo com o homem que se julgue mais independente e poderoso da mesma
maneira que um humilde lavrador muda o curso de um pequeno córrego (Pv 21:1).
Outra coisa certa a respeito
de Nicodemos é que, quando foi a Jesus, ele não desejava nenhuma forma de
compromisso com Jesus - fosse qual fosse o seu propósito, é provável que pouca
coisa além de curiosidade o movesse. Ele vai procurar Jesus à noite, às escondidas,
sem querer comprometer sua respeitabilidade junto aos demais religiosos -
podemos dizer que ele era um homem cioso de sua ‘boa fama’ entre os judeus.
Talvez não quisesse ser confundido com seus seguidores posteriormente, se as
motivações de Jesus fossem políticas. Também não queria ser contado como alguém
que queria aprender métodos populistas com o popular mestre galileu. E seria
inadmissível que ele, um mestre em Israel, se sujeitasse a aprender teologia
com Jesus.
Como já foi dito, de tudo
isto, há algo muito maior a ser levado em conta: o proposito que estava no
coração de Deus ao inclinar o de Nicodemos para ir a Jesus é muito mais
relevante, aliás, é o que há de mais relevante para considerarmos nesta
ocasião.
Como Nicodemos foi a Jesus,
você está aqui neste momento. Você teve suas motivações, e, da mesma maneira
que não consigo saber as motivações de Nicodemos, também sou incapaz de
conhecer as suas, mas o fato é que o mesmo que impulsionou Nicodemos até Jesus
impulsionou você até este lugar, para ouvir sobre o meio de Deus para salvação
dos pecadores, mesmo que, como Nicodemos, não haja consciência desta
necessidade. Nicodemos era profundamente religioso, respeitado entre os líderes
de seu povo, mas era um homem sem Deus, perdido, frequentador do templo, leitor
das Escrituras, provavelmente dizimista e ofertante, líder religioso, mas
apenas um perdido - e como Nicodemos foi instruído por Jesus, também vamos ser
instruídos sobre três verdades inquestionavelmente ensinadas nas Escrituras: o
conhecimento que Deus tem do nosso coração, como ele nos vê e qual a nossa
necessidade mais urgente, mais fundamental, mais essencial.
Nicodemos foi a
Jesus porque o Pai o enviou (Jo 6:4) como
expressão de sua bondosa e soberana vontade
(Jo 6:65).
DEUS CONHECE O SEU CORAÇÃO
Quando alguém é
perguntado sobre o motivo para estar em uma Igreja, em qualquer dia da semana,
quando poderia estar em lugares que certamente satisfariam mais facilmente os
desejos normais do coração de qualquer ser humano, pode-se obter uma série de
respostas, e todas válidas, tais como convite de um amigo ou familiar,
acompanhar pais ou cônjuges, prazer em ouvir uma prédica ou a música, desejo de
ter boa companhia por estar em uma cidade onde não se tem familiares,
curiosidade, desejo de estar perto de alguém de quem se gosta, e muitos outros.
Há desejos malignos também, como aconteceu há alguns anos em uma Igreja que
pastoreei quando um homem foi à Igreja com o objetivo de estudar a possibilidade
de voltar mais tarde e roubar o equipamento de som.
Mas uma coisa é
certa: seja qual for o intento do seu coração, seja qual for os seus desígnios
e pensamentos, aquele a quem Nicodemos foi visitar naquela noite há quase 20
séculos conhecia o coração de seu visitante (Lc 5:22) como Deus conhece o coração de cada um
de nós aqui nesta ocasião, mesmo que achemos que Deus está longe ou não tem
interesse no que pensamos (Sl 139:2).
Não importa como você se
apresente, nem como você se vista - Deus conhecia Nicodemos exatamente como ele
era, e conhece você exatamente como você é - sem adornos, sem maquiagens, sem
as máscaras da religiosidade, da civilidade, da camaradagem, do bom humor ou do
politicamente correto.
Quando Nicodemos chegou a
Jesus ele sabia exatamente o que aquele homem carregava em seu coração.
Nicodemos era orgulhoso de sua condição de líder espiritual de Israel. Era
influente, sua palavra era ouvida mesmo nos concílios mais elevados da nação,
era membro do sinédrio, uma assembléia religiosa com 70 membros, além do seu
presidente, o sumo-sacerdote. Eles governavam e julgavam os judeus de acordo
com a maneira que interpretavam as leis mosaicas. Nos dias de Jesus os judeus
estavam sob o jugo romano e o sinédrio tinha autoridade para julgarem apenas
crimes que envolviam a quebra das tradições religiosas - mas como quase estava
previsto na lei mosaica, tinham controle sobre quase todos os aspectos da vida
do povo, mas sem autonomia para aplicar certos dispositivos da lei, como a pena
de morte.
Ser membro do sinédrio era
motivo de grande orgulho, e o apóstolo Paulo fala sobre a dificuldade causada
pelo orgulho religioso como impedimento para alguém se tornar um discipulo de
Cristo (Gl 1:14),
devendo ser prontamente abandonado por aquele que conhece a Jesus e quer
segui-lo (Fp 3:8).
Aquele conhecimento das
tradições e zelo religioso que Nicodemos possuía é descrito por Isaías como
mandamentos adquiridos maquinalmente (Is 29:13), obedecidos rigorosamente, mas sem
envolvimento sincero do coração (Mt 15:8) e Paulo classifica como inútil por se
tratar de um zelo sem o devido conhecimento relacional (Rm 10:2).
Jesus conhecia o coração de
Nicodemos, sabia porque ele fora ali e não o deixaria sair antes que a
necessidade de seu coração fosse satisfeita. Mas antes disso precisamos
entender como Jesus via Nicodemos.
COMO DEUS JULGA O CORAÇÃO
A saudação protocolar
de Nicodemos não obtém a resposta usual entre os religiosos. Acreditamos que
Jesus não era grosseiro ou mal educado, mas em momento algum Jesus foi
‘politicamente correto’. É um grande absurdo afirmar que Jesus fazia como os
líderes modernos que são ensinados em cursos de coaching a elogiar em público e
corrigir em particular. Jesus fazia exatamente a mesma coisa em qualquer
ambiente - elogiava publicamente como fez com Pedro (Mt 16:17) ou com
Natanael (Jo 1:47) e repreendia com veemência, também
publicamente (Mc 8:33).
Nicodemos falou a verdade
assim como Pedro disse ao admitir que Jesus era o Cristo, o filho de Deus (Mt 16:16): Jesus era Mestre, Jesus havia
vindo da parte de Deus (Jo 5:36-37) e fazia os sinais que deixavam todos maravilhados porque o
Senhor era com ele (Lc 5:17) mas Jesus sabia o que se passava no coração daquele orgulhoso
mestre de Israel e sua confiança no que ele era.
Mas, outra coisa que Jesus
também sabia era quem era realmente Nicodemos. Mesmo sendo um mestre religioso
não o conhecia como o Messias, admitindo, no máximo, que ele fosse algo
parecido com um profeta. João havia dito aos companheiros de Nicodemos que
depois dele o Senhor viria (Jo 1:23) mas Nicodemos ainda não o reconhecia
como o messias, o Filho de Deus.
Mesmo sendo mestre religioso
Nicodemos possuía um coração como o de qualquer outro homem não convertido, por
melhor que parecesse aos seus olhos (Jr 17:9).
Sem medo de desagradar Jesus diz a Nicodemos que ele não está apto a ver
as coisas do reino do céu - literalmente, ele continua sendo um perdido, um
mundano, mesmo com toda a sua religiosidade.
Nicodemos ainda não fizera
como Davi, orando ao Senhor para sondar seu coração e corrigi-lo (Sl 139:23) e,
por isso, ainda era contado entre aqueles para quem Jesus veio mas ainda não o
haviam recebido (Jo 1:11).
Por ainda não ter saído
desta atitude de rejeição ainda era um filho da ira, ainda não tinha sido feito
filho de Deus porque esta dádiva é dada exclusivamente àqueles que creem no seu
nome (Jo 1:12). Mesmo apresentando-se como líder espiritual, sua liderança entre
Israel era a de um cego guiando cegos, de um morto cuidando de mortos (Mt 15:14)
todos em direção ao abismo.
Por mais paradoxal que
pareça, quanto mais fiel fosse à sua tradição religiosa, quanto mais religioso
fosse, quanto mais devoto se mostrasse, mais sinais de morte Nicodemos
apresentaria, como foi, aliás, com o apóstolo Paulo (At 9:1). É como
estar na direção errada - quanto mais você acelera mais longe você fica do
lugar correto. Jesus sabia que Nicodemos era apenas isto: um mestre religioso,
mas ao mesmo tempo um morto espiritual. Ele não tinha vida em si mesmo, não
tinha recebido a vida que só pode ser encontrada em Jesus (Jo 10:28).
DEUS SATISFAZ SUA VERDADEIRA NECESSIDADE
É provável que nem
mesmo Nicodemos soubesse a sua verdadeira necessidade ao ir ao encontro de
Jesus. Ele era apenas um homem natural, e um homem natural não entende as
coisas espirituais - ele não compreendia porque uma necessidade espiritual só pode
ser discernida espiritualmente (1Co 2:14) e o homem natural, morto em seus
pecados (Cl 2:13) é
incapaz de ter sensibilidade em relação às coisas de Deus, não pode nem cogitar
delas.
É esta incapacidade de
entendimento espiritual que explica a aparente mudança de atitude de Nicodemos
- se no primeiro momento ele parece respeitoso, no segundo ele parece irônico,
como se duvidasse da sabedoria ou da sanidade de Jesus (Jo 3:4). O que Jesus disse a Nicodemos pareceu loucura, e é por considerar a
fala de Jesus estranha demais que ele retruca tolamente.
Nicodemos, mesmo que
desejasse, não precisava de estratégias ou conhecimento teológico, ou de boa
companhia, ou de satisfação para curiosidades intelectuais. Talvez ele
desejasse estas coisas ou nenhuma delas. Mas não era o que ele precisava.
Talvez seus desejos sejam lícitos, ou inconfessáveis, mas é possível que não
seja o que você realmente precisa.
Nicodemos tinha compromissos
assumidos com seus companheiros (muitos deles eram, no mínimo, seus adversários
mas provavelmente eram tambem seus inimigos, pois os fariseus e saduceus, que
compunham o sinédrio, viviam em intermináveis debates e disputas) e não queria
que sequer supusessem que ele queria algum tipo de compromisso com Jesus, o
profeta de uma região desprezada como Nazaré (Jo 1:46).
O que fica claro da resposta
de Jesus a Nicodemos é que o visitante era apenas um homem carnal, que entendia
das coisas terrenas o quanto lhe era possível entender, que até entendia dos
livros sagrados mas sem nenhum entendimento espiritual. Toda a nulidade da vida
religiosa de Nicodemos é colocada, diante dele, por Jesus, em uma única
expressão: “você ainda não viu nada a respeito do reino dos céus”.
Nicodemos é carnal, nascido
da carne, tão limitado que nem das coisas terrenas tinha o entendimento
necessário, e, se quisesse realmente ver o reino dos céus não seria com frases
de efeito que conseguiria. Ele tinha que nascer de novo. Teria que considerar
sua experiencia religiosa como um fardo, um peso, algo a ser lançado fora sem
qualquer pretensão de reciclagem (Fp 3:8).
Nicodemos recebeu de Jesus o
que não esperava - seus olhos foram abertos para a necessidade de enxergar uma
nova realidade, que lhe fugia à percepção: ele precisava nascer de novo,
precisava nascer espiritualmente, ser renovado, restaurado, recriado e isto ele
não conseguiria na sua vida religiosa. Ele precisava de mais: ele precisava
crer em Jesus (Jo 3:12) e Jesus lhe diz isso de maneira direta porque, sem crer em Jesus
ele continuaria sendo contado entre os que, embora destinatários da presença
do messias, o rejeitaram (Jo 1:11).
Seja qual tenha sido a
motivação de Nicodemos, ele recebeu mais do que esperava, mais do que desejava
e somente o que precisava - e mais tarde isto seria a razão de sua salvação e
de alegria nos céus porque alguém que se imaginava justo (a clássica frase:
“Não mato, não roubo, não faço o mal a ninguém) reconheceu-se pecador (Lc 15:7).
CONCLUSÃO
Seja qual tenha sido
a sua motivação para vir a este lugar nesta ocasião você veio porque Deus
queria que, como Nicodemos ouviu, você também ouvisse sobre a necessidade de
não confiar na sua tradição religiosa, nem no status que adquiriu na sociedade
ao longo de uma vida de estudos e trabalhos porque isto pode ser - e realmente
é - muito bom para as necessidades terrenas, mas não resolve a sua principal
necessidade: a salvação de sua alma, a sua salvação, a vida eterna em lugar da
morte eterna no inferno.
E para isto você
precisa nascer de novo. Para isto você precisa crer em Jesus como seu Senhor e
salvador, única maneira de entrar no reino eterno (2Pe 1:11). Para isto você não tem outra
escolha a não ser a de se entregar a ele e reconhece-lo como seu Deus, seu rei,
seu único dono, em tudo quanto intentar fazer (Pv 3:5) e em tudo que for executar (Pv 16:3).
E para isto você precisa
invocá-lo agora, enquanto é tempo (Is 55:6) porque chegará um tempo que, não fazendo-o agora, no momento
oportuno (2Co 6:2) será tarde demais para você (Pv 1:28).