sábado, 13 de outubro de 2018

SOBRE A NATUREZA DA FÉ, RELIGIÃO E DESTINO [Jo 3.1-21]


A história do encontro de Nicodemos é uma história de paradoxos. Poucos cristãos atuais conseguiriam passar pelo rigoroso crivo religioso que caracterizava a religiosidade farisaica da qual Nicodemos era adepto.
Posso afirmar que, a menos que estivesse longe demais de uma sinagoga ou incapacitado por algum motivo Nicodemos jamais deixava de estar presente a um culto público, e por isso havia se destacado entre os seus correligionários a ponto de conseguir uma importantíssima cadeira no sinédrio.
Também posso afirmar que Nicodemos não se eximia de oferecer sacrifícios por seus pecados, levando ao templo aquilo que a lei exigia e as suas posses permitiam.
Não duvido que Nicodemos era um homem extremamente escrupuloso em suas contribuições para a manutenção da casa do tesouro, onde, por causa de homens como ele, havia mantimentos para os sacerdotes e demais levitas, calculando conscienciosamente os seus ganhos, pesando até mesmo a produção do seu endro e da sua hortelã da horta no fundo do quintal.
Também não duvido que Nicodemos responderia com facilidade sobre o conteúdo da lei, citando profusamente diversos trechos bíblicos (lembre-se que a bíblia ainda não estava dividida em capítulos e versículos) para defender a unidade e a unicidade do Deus de Israel.
Nicodemos certamente também estaria disposto a ir a qualquer lugar se isto resultasse em fazer um prosélito, isto é, tornar um gentio um judeu, submetendo-o aos rituais de iniciação como parte do povo de Deus, como o sacrifício e a circuncisão.
Sim, com isto em mente posso afirmar que Nicodemos seria um membro zeloso e respeitável de qualquer igreja séria de nossa cidade - talvez não de qualquer igreja, porque não toleraria os excessos e muito menos a doutrina rala e rasa de muitas denominações que existem aos borbotões em todos os cantos. Provavelmente ele tentaria fechar-lhes as portas. Mas...
Com tudo isto, Nicodemos não era membro da Igreja de Jesus Cristo. Vamos repassar rapidamente: ele sabia onde devia congregar, e congregava, quotidianamente, invariavelmente, constantemente, fielmente. Nicodemos certamente orava ao Senhor muitas vezes ao dia, em público e em particular. Nicodemos sabia onde entregar os seus dízimos e suas ofertas - e ele o fazia escrupulosamente. Nicodemos sabia que devia estudar as Escrituras, e estudava profundamente. Vou facilitar mais um pouco:
[ x ] Frequentador assíduo;
[ x ] Homem de oração;
[ x ] Dizimista fiel;
[ x ] Ofertante liberal;
[ x ] Estudioso das Escrituras.
Se você fosse fazer uma conferida em sua religiosidade, como ficaria a pequena lista que segue abaixo:
[  ] Frequentador assíduo?
[  ] Ora constantemente?
[  ] Dizimista fiel?
[  ] Ofertante liberal?
[  ] Estudioso das Escrituras?
Com tudo isto, Nicodemos ainda era um perdido, morto em delitos e pecados. Era um homem obediente, um exemplo perfeito daquilo que João descreve como “os que eram seus mas que não o receberam”. Talvez você não consiga satisfazer nem mesmo o padrão religioso dos fariseus. Provavelmente poucos cristãos sejam mais frequentes à Igreja do que Nicodemos era. Provavelmente poucos orem tanto quanto ele orava, fossem quais fossem os seus motivos. Provavelmente poucos contribuíssem com mais regularidade e fidelidade do que ele contribuía. Com certeza poucos leem e meditam nas Escrituras tanto quanto ele mas, e isto é somente pela graça de Deus, mesmo com todas as suas falhas talvez você seja um eleito, um salvo, já tenha sido feito um filho de Deus, o que ainda não tinha acontecido com Nicodemos com toda a sua religiosidade.
Não confunda as coisas - religiosidade sem Deus não leva a lugar nenhum, é zelo sem entendimento, é tatear como cego no escuro, é viver sem Deus no mundo. Todavia, não existe nenhum filho de Deus que não esteja religado a Deus por meio de Jesus Cristo. E esta é a verdadeira religião, a religião que vai se expressar na obediência, na frequência aos cultos, no estudo da palavra e na contribuição para o bem da obra do Senhor.

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