A história do encontro de
Nicodemos é uma história de paradoxos. Poucos cristãos atuais conseguiriam
passar pelo rigoroso crivo religioso que caracterizava a religiosidade
farisaica da qual Nicodemos era adepto.
Posso afirmar que, a menos que estivesse longe demais de uma
sinagoga ou incapacitado por algum motivo Nicodemos jamais deixava de estar
presente a um culto público, e por isso havia se destacado entre os seus
correligionários a ponto de conseguir uma importantíssima cadeira no sinédrio.
Também posso afirmar que Nicodemos não se eximia de oferecer
sacrifícios por seus pecados, levando ao templo aquilo que a lei exigia e as
suas posses permitiam.
Não duvido que Nicodemos era um homem extremamente
escrupuloso em suas contribuições para a manutenção da casa do tesouro, onde,
por causa de homens como ele, havia mantimentos para os sacerdotes e demais
levitas, calculando conscienciosamente os seus ganhos, pesando até mesmo a
produção do seu endro e da sua hortelã da horta no fundo do quintal.
Também não duvido que Nicodemos responderia com facilidade
sobre o conteúdo da lei, citando profusamente diversos trechos bíblicos
(lembre-se que a bíblia ainda não estava dividida em capítulos e versículos)
para defender a unidade e a unicidade do Deus de Israel.
Nicodemos certamente também estaria disposto a ir a qualquer
lugar se isto resultasse em fazer um prosélito, isto é, tornar um gentio um
judeu, submetendo-o aos rituais de iniciação como parte do povo de Deus, como o
sacrifício e a circuncisão.
Sim, com isto em mente posso afirmar que Nicodemos seria um
membro zeloso e respeitável de qualquer igreja séria de nossa cidade - talvez
não de qualquer igreja, porque não toleraria os excessos e muito menos a
doutrina rala e rasa de muitas denominações que existem aos borbotões em todos
os cantos. Provavelmente ele tentaria fechar-lhes as portas. Mas...
Com tudo isto, Nicodemos não era membro da Igreja de Jesus
Cristo. Vamos repassar rapidamente: ele sabia onde devia congregar, e
congregava, quotidianamente, invariavelmente, constantemente, fielmente.
Nicodemos certamente orava ao Senhor muitas vezes ao dia, em público e em
particular. Nicodemos sabia onde entregar os seus dízimos e suas ofertas - e
ele o fazia escrupulosamente. Nicodemos sabia que devia estudar as Escrituras,
e estudava profundamente. Vou facilitar mais um pouco:
[ x ] Frequentador assíduo;
[ x ] Homem de oração;
[ x ] Dizimista fiel;
[ x ] Ofertante liberal;
[ x ] Estudioso das Escrituras.
Se você fosse fazer uma conferida em sua religiosidade, como
ficaria a pequena lista que segue abaixo:
[ ] Frequentador
assíduo?
[ ] Ora
constantemente?
[ ] Dizimista fiel?
[ ] Ofertante
liberal?
[ ] Estudioso das
Escrituras?
Com tudo isto, Nicodemos ainda era um perdido, morto em
delitos e pecados. Era um homem obediente, um exemplo perfeito daquilo que João
descreve como “os que eram seus mas que não o receberam”. Talvez você não
consiga satisfazer nem mesmo o padrão religioso dos fariseus. Provavelmente
poucos cristãos sejam mais frequentes à Igreja do que Nicodemos era.
Provavelmente poucos orem tanto quanto ele orava, fossem quais fossem os seus
motivos. Provavelmente poucos contribuíssem com mais regularidade e fidelidade
do que ele contribuía. Com certeza poucos leem e meditam nas Escrituras tanto
quanto ele mas, e isto é somente pela graça de Deus, mesmo com todas as suas
falhas talvez você seja um eleito, um salvo, já tenha sido feito um filho de
Deus, o que ainda não tinha acontecido com Nicodemos com toda a sua
religiosidade.
Não confunda as coisas - religiosidade sem Deus não leva a
lugar nenhum, é zelo sem entendimento, é tatear como cego no escuro, é viver
sem Deus no mundo. Todavia, não existe nenhum filho de Deus que não esteja
religado a Deus por meio de Jesus Cristo. E esta é a verdadeira religião, a
religião que vai se expressar na obediência, na frequência aos cultos, no
estudo da palavra e na contribuição para o bem da obra do Senhor.
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