sábado, 29 de dezembro de 2012

DE DEUS OU DOS DEMÔNIOS: O DESAFIO DE PRIORIZAR O AMOR VERDADEIRO

15 Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo. 16 Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? 17 Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão. 18 Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? 19 Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? 20 Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. 21 Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. 22 Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele?

I Co 10.15-22

13Os coríntios, embora verdadeiramente crentes, ainda tinham que se debater com alguns pecados, e sua cultura e mente ainda estavam fortemente contaminadas pelo perigo da idolatria, praticamente onipresente na cidade. Como quase tudo tinha aparência de mal [mercado, praça, fórum, banhos, etc.] os cristãos são orientados por Paulo a fugirem dela [I Co 10.14: Portanto, meus amados, fugi da idolatria], porque, naquele momento histórico, era impossível vencer a idolatria - fato que só se consumaria, ao menos oficialmente, séculos depois. O apóstolo sabia que os coríntios se vangloriavam de seu raciocínio lógico, de seu conhecimento filosófico, e, no caso especial dos cristãos, também do conhecimento das Escrituras. Eram, pois, enriquecidos de uma maneira tal [I Co 1.4: Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento] que deveriam estar habilitados a compreenderem o que Paulo lhes falava.

Paulo se dirige a criteriosos, isto é, pessoas que eram habilitadas a fazerem julgamentos coerentes à partir dos fatos. E é para esta capacidade de raciocínio dos cristãos coríntios que Paulo apela, colocando diante deles duas realidades diametralmente antagônicas, mas que alguns deles estavam tentando, se não conciliar, ao menos facilitar a convivência: a celebração da ceia, um culto eminentemente espiritual, e os sacrifícios pagãos. Os coríntios são desafiados a examinarem os dois e apresentarem um veredicto. Se eram, de fato, criteriosos, seriam sábios para julgar, não se deixariam influenciar por um autojulgamento hipócrita que podia resultar numa sensação de segurança sem fundamento, como Paulo denuncia no verso 12 [Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia]. Antes que os coríntios apelassem para o célebre “nada a ver”, ou é só uma questão cultural, Paulo lhes chama a atenção para a real extensão do problema: é uma questão de comunhão espiritual. E com quem os coríntios querem ter comunhão? Esta é a questão para a qual o texto nos chama a atenção. Assim, entendemos que temos aqui alguns princípios para nortearem a nossa comunhão espiritual.

Ao abordar a questão da idolatria Paulo já havia mencionado as consequências horizontais da mesma, isto é, o escândalo diante dos gentios e o flagelo sobre a consciência dos irmãos mais frágeis ou mais sensíveis. O que para muitos era uma mera questão de “pode” ou “não pode”, uma espécie de “lei de crente” primitiva, é colocada por Paulo em seu devido contexto: cada cristão é responsável pela edificação de seu irmão - e também deve vigiar para não lhe ser pedra de tropeço [Mt 18.6: Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar].

Nesta passagem o enfoque paulino é vertical, isto é, ele chama a atenção para o relacionamento do cristão com Deus ou com os demônios que se agradam da idolatria, como de qualquer outra forma de rebeldia contra o Senhor. O que poderia ser uma complexa questão filosófica ou sociológica é colocada por Paulo como aquilo que ela realmente era: uma simples mas totalmente relevante questão de ordem espiritual: não é possível ser um adorador íntegro de Deus tendo a mente e o coração voltados para os ídolos e os demônios que os mesmos representam. A maneira de Paulo se expressar, chamando-os de “meus amados”, demonstra uma preocupação profunda e genuína pelos coríntios. Ele quer vê-los bem, quer vê-los longe do pecado, quer vê-los o mais longe possível da idolatria. Infelizmente alguns se perguntavam, em relação ao pecado e à idolatria, que era, também, uma realidade social coríntia: “até onde posso ir sem comprometer a minha fé ou a minha salvação”, o que já demonstrava uma disposição errada do coração, um desejo de experimentar do mundo, um certo deleite em suas concupiscências, que, como uma droga, é oferecida em pequenas doses gratuitas, mas cobra, no final, um preço altíssimo.

Mas a verdadeira questão não é até onde se pode ir, mas o quão distante se pode ficar do pecado. Resistir e fugir são instruções claras de como enfrentar o pecado. Quando a palavra nos diz para julgar todas as coisas [I Ts 5.21: ...julgai todas as coisas, retende o que é bom] não quer dizer que elas devem ser experimentadas, mas apenas que devem ser julgadas, analisadas e, de acordo com sua natureza, aprovadas ou reprovadas. Paulo chama os cristãos coríntios de sábios, isto é, versados, conhecedores das Escrituras, da historia dos hebreus, do evangelho do Senhor Jesus, e é para esta sabedoria que ele apela, não a sabedoria segundo o mundo [I Co 1.26: Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento] que é loucura diante de Deus [I Co 3.19: Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles].

O ponto principal da questão para o apóstolo Paulo é: com quem os coríntios queriam ter comunhão? Observemos que a comunhão pode ser observada do ponto de vista social, carnal, horizontal, comunitário. E para ilustrar isto Paulo equipara, didática mas não essencialmente, os sacrifícios hebraicos com a ceia do Senhor, contrastando-os com os sacrifícios pagãos, sem fazer qualquer distinção em seus objetivos. De acordo com Paulo, podemos aprender três verdades fundamentais sobre a idolatria: i. PRIORIDADES ESPIRITUAIS AFETAM OS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS; ii. PRIORIDADES ESPIRITUAIS AFETAM OS RELACIONAMENTOS ESPIRITUAIS e iii. PRIORIDADES ESPIRITUAIS PRODUZEM CONSEQUÊNCIAS ETERNAS.

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