Fui dar um pequeno passeio com a família na noite de natal. Gurupi não tem shopping, mas tem posto de gasolina. E fomos pra lá... Brincamos, passeamos, comemos, e na volta eu vinha pensando... E já foi o natal... Passei por um pequeno estabelecimento de venda de pequenas porções de bebidas alcoólicas [eufemismo para boteco, botequim...]... E vi uma cena lamentável, algumas pessoas bebiam, e dois senhores, acho que na faixa dos 50, 55 anos, meio que ensaiando passos de uma música qualquer, caindo pelos cantos... Nos jornais, as notícias do trânsito [mortes], policiais [um morto e 5 feridos gravemente em Osasco], e muita, muita bebedeira. No Chile teve até papai Noel [Noel, que tem a ver com natal?] que morreu ao trocar o trenó pelo paraquedas…
É. Já foi o natal. Mas que natal, realmente, se foi? Será que o natal que se foi, que acabou esta noite, é o natal de Cristo, o verdadeiro natal? Será que, de verdade, tantos votos de “que Cristo nasça em seu coração” significarão alguma coisa amanhã? Quantos presentes serão simplesmente trocados, esquecidos nos próximos dias? Quantas famílias sofrendo pelos efeitos da bebedice, especialmente acidentes de trânsito, discussões? Quantas ressacas e problemas estomacais? Quanta sujeira nas ruas para serem limpadas, quantas lojas para serem arrumadas novamente...
Eu não gosto deste natal... Não gosto de suas luzes, de seu barulho, de seu custo e de sua artificialidade... Não gosto do natal mercantilizado, falso como beijos de bajuladores. Não gosto de ver gente que não tem a menor ideia do significado da encarnação do redentor com palavras vazias nos lábios, tais como “feliz natal” ou ainda “que Jesus nasça em seu coração”... Este natal eu torço para que passe logo...
Quando vejo colegas, pastores, levantando a voz contra a celebração do natal coloco-me ao seu lado se é a este natal que se opõem. Tem o meu apoio e minha companhia. Também sou contra o natal que tem Cristo como pretexto, e como mero pretexto, mas com um pano de fundo pagão e mercantil. Não precisamos deste natal. Os cristãos não precisam deste natal. Sei que é difícil separar uma coisa de outra - ainda mais com a data já tornada tradicional de celebração [e não considero a data importante, sob hipótese alguma].
Então, se me perguntam: porque celebras o natal? Tenho que pedir paciência ao leitor para poder responder, porque o natal para mim não é uma data, é um evento histórico, é o evento que divide a história da humanidade, e, mesmo antes de acontecer, já dividia a historia do mundo e o próprio mundo em esperança ou desespero. Mesmo os que viveram antes do nascimento do redentor viveram na esperança de que ele aconteceria, aliás, mais que esperança, na certeza, fruto da fé, que ele aconteceria. Andaram errantes pelo mundo, obedeceram sem questionar porque sabiam que aquele que lhes prometera o redentor é fiel para cumprir cada uma das suas promessas. Celebro o natal porque ele é a esperança viva, que salva mesmo antes de ser feito carne, como bem lembrou-me uma amiga “valente”...
Os que viveram nos dias de sua encarnação puderam sentir a realização de seus anseios, como, de uma maneira especial, um ancião chamado Simeão. Os que com ele andaram experimentaram uma palavra poderosa [Mt 7.29] e uma presença marcante [Lc 24.32] - e ele ainda reserva uma palavra de esperança para os que viessem depois [Jo 20.29]. Como não celebrar a realização de todas as promessas, desde a primeira, ainda no Éden? Se andei com colegas por um tempo, temo que aqui comecemos a nos apartar. Continuarei celebrando a vinda do redentor, não porque há, no ano, uma data especial, mas porque o ano só é especial porque o redentor veio para nós.
O natal de um dia só é irrelevante e inútil. O natal que aponta para os mercados, para as árvores pagãs, para os presentes com preços elevados, para as bebedices e glutonarias não é o verdadeiro natal, não é a verdadeira celebração do nascimento de Jesus porque não aponta para o Jesus das Escrituras, não aponta para aquele que andou por toda parte fazendo o bem e ensinando o caminho do Senhor, caminho que os bêbados e glutões não querem seguir, que os incrédulos nem ousam olhar. O natal que não aponta para a cruz, que não lembra que quem nasceu é o redentor que não pede comiseração por ter ido para em uma manjedoura, mas que recebe adoração mesmo na manjedoura não é o verdadeiro natal.
Ao celebrar o nascimento do redentor devemos lembrar que, apesar de servo, ele é o Senhor de toda a terra. Apesar de vindo em humildade, era digno de toda a honra. E é preciso lembrar também que hoje só lembramos, não repetimos, o nascimento do messias. Ele não está mais numa manjedoura. Não está mais deitado em um estábulo. Ele está assentado num alto e sublime trono, tem pleno direito de exigir adoração e obediência e, em momento desconhecido para nós, virá ainda uma vez, não para outra manjedoura, mas para um trono de juízo, separando justos de injustos. Celebro o natal não porque um menino nasce, mas porque ele nasceu, cresceu, morreu e ressuscitou. Celebro o natal do homem-Deus, juiz de toda a terra, porque sem a encarnação não haveria ressurreição.
Para mim o natal não foi. Ele é. Cristo não nasceu em meu coração em tempo algum - eu nasci de novo por causa de Cristo, da água e do Espírito [Jo 3.5], da vontade de Deus e não de homens [Jo 1.13]. O natal que passa não é cristão. É comercial. É explorador, é tolo, é fútil, é mentiroso. Peço-lhes um favor: não me convide para este natal. Ele não faz sentido para mim - mas, ao mesmo tempo, permita-me convidar-te para conhecer o redentor, o salvador Jesus Cristo. Conhecendo-o, conhecerás o natal que celebro. Conhecendo-o perceberá o verdadeiro sentido do natal, como na antiga canção: “eu sei o sentido do natal, que na história tem o seu lugar, Cristo veio para nos salvar...”
Para o natal que se vai, gostaria de poder dizer: não volte... Mas sei que vai voltar. Antes mesmo que alguns tenham conseguido pagar as prestações deste, ele estará novamente à porta, com seus sons e luzes... Tudo bem, faz parte da nossa cultura. Mas vá, sua presença é breve. Não me causa dano que vás...
Meu coração [e o coração dos verdadeiros crentes] celebra outro natal - eterno, cheio de significado; eficaz, cheio de poder; salvador, porque cheio da graça de Deus, superabundando onde abundou o pecado. Nesta celebração que vivemos no dia-a-dia há amor, alegria, paz, perdão, certeza de salvação e comunhão uns com os outros e com o Senhor nosso Deus. Se você não sabe o que é amor, o que é comunhão, o que é perdão, então, tenho que ser muito franco com você: você ainda não celebrou o verdadeiro natal. O Cristo, ainda que nascido, é para ti um desconhecido porque o que você conhece é o dos presépios - e este não salva, este não transforma, este não restaura pecadores, não transforma filhos da ira em filhos de Deus.
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