A celebração da graça de Deus se tornou uma festa sem graça.
Durante muitos anos a festa de natal era, para mim, uma festa sem sentido algum. Na verdade, eu detestava a época do natal. E havia, realmente, razões para isso. Meus olhos para a festa do natal eram fechados para qualquer aspecto espiritual. E é justamente por isso o título do artigo: o natal que vemos ser “comemorado” é uma festa sem sentido algum, apesar de ser ansiosamente aguardado. A questão é: aguardado ansiosamente por quem e por que? É aguardado, por exemplo, pelas crianças, que querem nada além de presentes. É aguardado pelos lojistas, que querem vende-los. É aguardado pelos empregados, que querem as comissões das vendas que aumentam bastante. É aguardado pelos desempregados, que querem as vagas temporárias.
As cidades ficam mais bonitas, mais limpas, mais iluminadas. As lojas ficam mais enfeitadas, mais brilhantes. Parece até que as pessoas ficam mais sensíveis, mais felizes. Mas... Será verdadeira esta alegria? Ou será apenas o fruto de uma sugestão por causa do forte apelo de marketing da época - apelo religioso, estético e comercial. Depois dele, o que fica? Geralmente, pedaços de presentes das crianças, logo esquecidos em algum canto, novidades tecnológicas cobiçadas mas logo vistas como supérfluas, gastos com viagens longas e às vezes estressantes, contas a serem pagas durante o “ano novo” que não será tão feliz e próspero assim, porque os orçamentos já estão comprometidos com dívidas e mais dívidas.
Fala-se muito em “magia do natal”, e eu então me pergunto, que magia é essa mesmo? A dos duendes, das renas voadoras e do velhinho e sua gargalhada bonachona. Pegando carona nesta magia entram os refrigerantes, bolos, pães, carnes e doces. A maioria gosta do natal exatamente pelo que ele não é. Eu não gostava do natal pelo que eu não tinha. Não ganhava presentes. Não ganhava doces. Não tinha festas. A maioria hoje, mesmo os mais humildes, tem alguma coisa. Algum presente, mesmo comprado numa loja de artigos baratos. Ganham doces. Hoje ficou mais fácil fazer uma festinha. Há os que tem muitos, presentes caros, guloseimas e festas suntuosas. Mas todos com uma semelhança comigo: com ou sem presentes, todos sem Jesus. E é exatamente por isso que o natal é uma festa sem sentido.
No natal sem sentido há muita magia, muitas luzes, muita festa e muita alegria, mas, no natal sem sentido, não há lugar para Jesus, como não havia na distante Belém, no distante ano do recenseamento ordenado por César Augusto, quando Quirino governava a Síria. Também para eles era uma época diferenciada [Lc 2.1-3]. As famílias estavam se reunindo em suas próprias cidades, provavelmente levando lembranças uns para os outros. Havia comidas em fartura. Havia luzes até mais tarde, para dividirem as historias de lugares distantes e de seus próprios lugares com os que chegavam. Mas, novamente, há uma semelhança: em todo canto havia canto e alegria, mas em nenhum canto havia lugar para Jesus. Todos alegres, mas todos sem Jesus. Não havia lugar em suas ocupações, em suas preocupações. Nenhuma casa tinha lugar para Jesus.
Na plenitude dos tempos, no momento exato que Deus preparou para seu filho adentrar no palco da história, com o próprio Deus proporcionando a iluminação, Jesus foi deixado de fora da vida dos homens - veio para os que eram seus, a festa estava preparada, mas “os seus não o receberam” porque ele não nasceu em um palácio, veio para ser rei, mas não nasceu na casa real, e sim na “casa de pão” porque era também o pão da vida, o verdadeiro alimento. Seu berço era de palha, não de ouro, da mesma maneira que seu trono era de madeira. Mas onde Jesus está tem festa, o Senhor chama os seus. Chamou os pastores. Chamou os magos orientais. Chamou Simeão e Ana. Poucos, é verdade, mas sinceros. Pobres e ricos, homens e mulheres, jovens e velhos, pagãos ou religiosos. O Senhor não fez nenhuma distinção. Ele não veio para classes, veio para homens. Não veio para extratos sociais, veio para pecadores. O natal é mensagem do Deus celeste. No natal Deus remove o medo e coloca no coração dos perdidos a alegria de ter um salvador.
Em poucos dias a cristandade ocidental comemorará o nascimento redentor. Discute-se quando celebrar seu nascimento. Alguns cristãos chegam a discutir se devem celebrá-lo, o que considero uma discussão desnecessária - a preocupação do cristão deve ser anunciar o nascimento do Messias, do salvador. Celebrar Cristo! Este é o sentido da festa. É possível haver natal sem panetonne, sem vinho, sem chester e sem árvores. É possível haver natal sem comércio, sem refrigerantes ou sem velhinho jocoso. Você pode até abrir mão de presentes no natal - mesmo que julgue isso uma loucura. Mas não é possível haver natal sem Jesus. Se o natal não for a celebração da graça de Deus não terá graça alguma. Sem Jesus o natal é apenas uma festa sem sentido. É um aniversário sem o aniversariante. Faltou lugar nas casas. Faltou lugar nas estalagens. Só não pode faltar lugar no seu coração.
Anjos, pastores e pagãos - do mesmo modo que eles anunciamos a você o nascimento do salvador e convidamos: Vem celebrar Cristo. Vem celebrar o verdadeiro Cristo, o rei dos reis, o Senhor dos senhores, o salvador de seu povo. Vem celebrar o salvador - celebre-o como ele deve ser celebrado, confessando-o como seu Senhor e salvador. Já basta de celebrações vazias, já basta de festas que não celebram Cristo. Receba-o em seu coracao, e experimentará um natal diferente, com sentido real.
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