segunda-feira, 10 de março de 2014

COMO COMPLETAR BEM A CARREIRA - MENSAGEM MATUTINA NO ENCONTRO DE UMPs PRAR - PRCA

10 Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. 11 Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. 12 Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; 13 tudo posso naquele que me fortalece. 14 Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação.
Fp 4.10-14
Ao analisar o Sl 131 chegamos a algumas conclusões: muito do cansaço dos cristãos é devido à busca desenfreada empreendida atrás de algo que não deveria ser o alvo. Muito do cansaço é porque estamos correndo a carreira que não nos foi proposta. Ao invés de correr perseverantemente a carreira que nos está proposta (Hb 12.1) fazemos diferente, corremos insistentemente uma carreira que não é nossa, e, mesmo que cheguemos ao fim daquela carreira, não teremos atingido o nosso alvo – todo o cansaço terá sido em vão.
Vamos relembrar aqui alguns dos erros que estão sendo cometidos pelos cristãos. Não precisamos voltar nossos olhos para os incrédulos – nosso problema, agora, é nosso próprio coração. Mas como é o coração de crentes cansados? Em muitos casos, os crentes estão cansados por possuírem:
i.                    UM CORAÇÃO SOBERBO, obcecado por si mesmo e pelas próprias realizações;
ii.                 UM OLHAR ALTIVO, de desprezo pelo próximo, considerando-o inferior e digno de sujeição;
iii.               UM EGO PRESUNÇOSO, considerando que é capaz de superar até mesmo os limites que Deus estabeleceu;
iv.               UMA MENTE PRETENSIOSA a ponto de julgar a própria revelação de Deus insuficiente.
O resultado de possuir um coração assim é que acabamos nos tornando como crianças birrentas, insatisfeitas mesmo quando tem tudo o que poderiam desejar e ainda assim vivem esperneando por algo de que não precisam.
Dito de outra maneira, não há descanso para quem não está combatendo o bom combate. Como, então, sentir-se realizado após completar a carreira?
Se você realmente correu a carreira que lhe está proposta, mesmo durante a prova, seu sentimento será de confiança no Senhor.

CONFIE NO SENHOR E ISSO PORÁ FIM ÀS ANSIEDADES (Fp 4.10)

Cremos que estamos certos ao afirmar que os crentes estão cansados porque correm atrás do que não precisam, atrás do que não deveria ser prioridade e, mais especificamente, atrás do que não satisfaz. Salomão e Isaias já haviam percebido este mal. Salomão diz que é vaidade, como correr atrás do vento (Ec 2.11) e o resultado é aborrecimento com a vida (Ec 2.17), talvez uma expressão para descrever alguma forma de desalento profundo, uma depressão.
Através do profeta Isaías o Senhor exorta Israel a não cometer a tolice de correr atrás do vento. Numa linguagem menos poética, Isaías diz que se Deus não for a prioridade da vida do homem o resto é afadigar-se, ajuntar dinheiro para comprar o que não satisfaz (Is 55.2) com a única condição de querer e ouvir ao Senhor – sem mais correrias, sem sacrifícios, sem provas de Deus, apenas ouvir ao Senhor (Is 1.19).
Este mal não é exclusivo dos dias de Isaías. Nos dias de Habacuque, mesmo descrevendo sua confiança no Senhor, ele deixa escapar que havia uma procura cuidadosa pelos produtos do campo (Hc 3.17), e sua carência não era nem por falta de esforços, como diz seu contemporâneo Ageu (Ag 1.6). Ageu fala que eles plantavam e colhiam, trabalhavam e recebiam mas nunca era suficiente, nunca dava.
O antídoto para esta ansiedade, para esta correria atrás de nada é aprender a alegrar-se no Senhor. Dada a situação do apóstolo Paulo, que em alguns momentos enfrentou as sórdidas prisões da Judéia e dos destacamentos romanos, não é de se estranhar que ele enfrentasse algumas carências mesmo que, como cidadão romano, tivesse alguns privilégios, como, durante uma parte do seu período de prisão, residir em uma casa e custear as suas despesas (At 28.30) e assim ele precisasse de ajuda.
Mas a sua alegria vem, primeiro, no Senhor – o cuidado da Igreja é uma expressão do cuidado do Senhor sobre a sua vida. É repousante saber que é o Senhor que nos cuida, é o Senhor quem nos guarda, é o Senhor quem nos abençoa (Nm 6. 24). A orientação de Deus é para que nos alegremos no Senhor, isto é, tenhamos a nossa satisfação nele, e, assim, o nosso coração, moldado por ele, estará satisfeito (Sl 37.4).
Deus não tem compromisso de atender os desejos mesquinhos de um coração que não lhe foi entregue. Deus não tem que atender os desejos de um coração que não foi transformado. Ele não fez promessa nenhuma àqueles que ainda não receberam um novo coração (Ez 36.26).
Somente depois da alegria no Senhor é que Paulo menciona a gratidão pelo constante cuidado dos Filipenses. Era do Senhor que Paulo esperava a satisfação de suas necessidades, e os filipenses eram o instrumento que o Senhor usava. A premissa de Paulo era que a glória deveria ser dada ao construtor, não às ferramentas. E isso punha fim às ansiedades reais. Se extinguia as ansiedades reais, quanto mais as desnecessárias.
…lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.
I Pe 5.7

LIMITE-SE À PORÇÃO QUE O SENHOR LHE CONFIOU (Fp 4.11-13)

Outra fonte de cansaço se chama insatisfação. Andar à procura do que não é essencial, necessário ou urgente. Não é incomum encontrar irmãos outrora ativos na comunidade reclamando de cansaço, de esgotamento mental e espiritual. É uma das queixas que pastor mais ouve, e está ficando cada vez mais difícil a formação de equipes de educação cristã comprometidas com o trabalho a cada fim de ano. Porque?
Porque estão sobrecarregados, estão com mais funções, mais atividades do que foram capacitados para isso. Estão produzindo pelos que enterram seus talentos. É verdade que, se ninguém faz, alguém tem que fazer. Não há como fugir a esta realidade. Mas não deveria ser assim.
Se todo o corpo trabalhasse uniformemente certamente cresceria mais saudavelmente (Ef 4.16), produziria mais e, certamente cresceria muito mais do que tem crescido.
Em Paulo consigo ver a plena consciência de sua limitação, sabendo do que era sua obrigação e do que ele não deveria fazer. Ele fora nomeado apóstolo aos gentios (Rm 15.16), e, embora amando os seus patrícios (Rm 9.3), desenvolveu seu ministério evangelizando-os (At 18.6).
Mas, mesmo nesta dedicação aos gentios Paulo não foi além do que lhe foi confiado. Apesar de ter passado por tantas provas (II Co 11.24-28) e feito mais do que muitos dos apóstolos (I Co 15.10) Paulo não foi além do que lhe foi confiado pelo Senhor.
Quando Paulo fala que não quis edificar sobre fundamento alheio (Rm 15.20) além de defender seu apostolado entre os gentios ele limita o seu trabalho e a sua responsabilidade (Ez 3.18).
Limitar-se à carreira que o Senhor nos propôs (Hb 12.1) significa não se esforçar em vão, mas tendo um alvo definido (I Co 9.26).
Se nós fizermos isso, nos limitarmos ao nosso papel de ser sal e luz, de sermos seus embaixadores, de exortarmos o mundo a que se reconcilie com Deus (II Co 5.20).
Já é uma tarefa grande demais. Já é muito ser sal e luz, ser evangelizador, proclamador da salvação em Jesus Cristo, enfrentar as ciladas do maligno com armas espirituais (II Co 10.4) manter a comunhão e ser fiel ao ensino recebido num procedimento santo (I Pe 2.12) e ainda somar a isso aquilo que Deus não nos confiou significa que a possibilidade de não sermos bem sucedidos torna-se ainda maior. Se nos limitarmos à porção que nos foi confiada, ainda que sejamos classificados como servos inúteis (Lc 17.10), ouviremos do Senhor que, embora inúteis, formos fiéis, e então ele nos confiará o reino (Mt 25.23).

ADMITA SUA LIMITAÇÃO E DESCANSE NO SENHOR (Fp 4.13)

A terceira orientação que Paulo nos apresenta é: descanse no Senhor. Desde que Eva ouviu a cantilena da serpente de ser possível "ser como Deus" o homem tem tentado se esquecer de que é uma criatura, falha e cheia de limitações. No afã de ser como Deus, mesmo não sendo onipotente, quer fazer mais, e mais, na tentativa de fazer tudo acaba acumulando fardos, cada vez mais pesados.
A única solução para este homem sobrecarregado é ouvir as palavras do Senhor Jesus (Mt 11.28). O problema é que muitos estão tão sobrecarregados que são como crianças com fone de ouvidos – já são ruins de escutar, com os fones, então, fica quase impossível.
Nossa insensatez às vezes não nos deixa perceber que as coisas que mais amamos, pelas quais nos esforçamos não passam de pesos que nos embaraçam na nossa carreira. Se ganhar uma corrida sem embaraços já é difícil, com pesos então é praticamente impossível.
Paulo, entretanto, diz-nos que pode tudo naquele que o fortalece, isto é, em Cristo (expressão genitiva que designa origem e posse, e que ele usa 86 vezes das 90 que aparece na bíblia) ele é capaz de tudo. Mas o que é esse tudo mesmo?
Tenho visto cristãos dizerem que podem conseguir qualquer coisa, e se arriscando em atitudes temerárias brandindo este verso das Escrituras. O que ele quer dizer realmente?
Para entendermos o que Paulo está dizendo, precisamos voltar aos versos anteriores. Ele descreve sua vida, sua carreira, seu ministério. E, a despeito de sua importância na história da expansão do evangelho, vemos um relato de lutas que a grande maioria de nós não gostaria de enfrentar. Vamos dividir em duas áreas: pessoal e social.
Paulo provavelmente vinha de uma família de recursos, talvez não rica, mas de recursos moderados e de relativa importância social, a ponto de poder estudar em Jerusalém com um dos mais renomados professores de seu tempo, Gamaliel (At 22.3).
Ele era reconhecido entre os judeus por sua devoção ao judaísmo, podendo afirmar que deixava muitos deles para trás (Gl 1.14) o que é atestado pela confiança que lhe é depositada pelo sinédrio (At 9. 1-2).
Respeitado entre os judeus, era, também, respeitado entre os romanos por possuir cidadania romana (At 22.25-26) tinha alguns direitos especiais mesmo estando na prisão – o que, certamente, foi de grande utilidade para a pregação do evangelho entre os gentios (At 9.15).
Houve época em que era missionário mantido por uma igreja (At 13.1), em outras trabalhou para se manter sem ser pesado à Igreja (At 18.3).
Passou fome, sede, foi humilhado, acorrentado, como em Filipos (At 16.24), sofreu tentativa de extorsão durante dois anos (At 24.25).
No meio de tudo isso o "mais que vencedor" (Rm 8.37), aquele que experimentava as aflições preditas (Jo 16.33) e descritas por Jesus (Mt 5.11) diz que pode todas as coisas. Que coisas, afinal?
A afirmação do apóstolo é que, para completar a carreira, ele estava disposto a suportar tudo o que fosse preciso, esmurrando o seu próprio corpo (I Co 9.27), isto é, dizendo não para as suas próprias vontades, para ser encontrado em Cristo.
Como ninguém é capaz de fazer tudo, e ainda fugir às dificuldades, nada mais razoável do que descansar nas mãos daquele que venceu o mundo por nós (Jo 16.33). É o único meio de pôr fim à ansiedade de uma alma desassossegada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Paulo pode, evidentemente, chamar-nos para sermos seus imitadores (I Co 4.16). Mas, antes que alguém dissesse que ele estava querendo atrair seguidores para si mesmo, ele acrescenta que só deve ser imitado naquilo que ele imitava a Cristo (I Co 11.1). E quem poderá dizer que Cristo combateu o bom combate, não completou a carreira (Mc 10.45), como Paulo bem sabia e lembra a Timóteo (I Tm 2.6). Ou, ainda, quem poderia dizer que Cristo não descansava em Deus (Lc 23.46) para cumprir sua missão, exatamente como Davi previra (Sl 31.5)?
Paulo nos convoca a combater o mesmo combate que ele combateu, da mesma maneira que ele foi visto combatendo (Fp 1.30) sem desistir, apesar de tantas dificuldades e perseguições que teve que enfrentar (II Co 11.24-27) até que finalmente, chegando ao fim, ele pode dizer que continua prosseguindo (Fp 3.14) com a certeza de não haver sido relaxado ou falhado (II Tm 4.7).
Quero relembrar três conselhos para quem quer completar a carreira, como Paulo:

CONFIE NO SENHOR E ISSO PORÁ FIM ÀS ANSIEDADES

Diz-nos o salmista que o Senhor o ouve (Sl 40.1). O Deus do salmista é o mesmo Deus que nos chamou para si mesmo. Ele socorreu Paulo em sua estada em Roma com a instrumentalidade dos filipenses – e ele ainda é poderoso para salvar (Sf 3.17) porque ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb 13.8).

LIMITE-SE À PORÇÃO QUE O SENHOR LHE CONFIOU E NÃO CORRERÁ DE UM LADO PARA OUTRO

Confiando no Senhor saberemos que ele nos dará exatamente aquilo de que temos necessidade, nem mais, nem menos. Davi podia dizer que, tendo o Senhor como seu pastor não sentia necessidade de mais nada (Sl 23.1). A correria e a canseira é porque queremos mais do que é a nossa porção, e o salmista diz que já temos a porção ideal (Sl 119.57). Não custa lembrar as palavras do Senhor aos levitas (Nm 18.20).

ADMITA SUA LIMITAÇÃO, CORRA APENAS A SUA CARREIRA E DESCANSE NO SENHOR QUANTO ÀS DEMAIS COISAS


Um dos motivos porque corremos tanto não é outra coisa senão inveja. Queremos o mesmo ou mais do que os outros tem, e esquecemos do conselho bíblico de não cobiçar a prosperidade dos outros (Sl 37.7). Precisamos entender que, para completar a carreira, dois requisitos se fazem necessários. O primeiro é importante (a fidelidade a Deus) mas o segundo é fundamental (a fidelidade de Deus). Lembremos que a vitória não é alcançada por quem corre (Rm 9.16) mas é dada para quem é buscado (Lc 19.10).

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