DEVEMOS CONFIAR E
LOUVAR PORQUE DEUS, NOSSO GOVERNANTE SUPREMO PROVIDENCIA PARA QUE O CRENTE NÃO
FIQUE SEM CONSOLO ATRAVÉS DE CRISTO, DIGNO DE ABRIR O LIVRO E SER LOUVADO POR
TODOS OS CRISTÃOS.
Tem o cristão alguma
razão para perder a esperança? Tem o cristão alguma razão quando fica inseguro
quanto ao futuro? O apóstolo Paulo afirma que, independente das circunstancias
que tenha que enfrentar, ele tinha segurança por que estava certo em quem cria
(II Tm 1.12). Séculos antes de João ter a visão que relata em seu livro, outro
homem teve o privilégio de ter uma visão do trono, não um trono qualquer ou
vazio, como estava o trono de Israel, mas o trono do Rei dos Reis, e, embora
caindo por terra temeroso por sua existência, foi alvo da graça de Deus e, na
sequência, Deus lhe afirmou que, apesar de todo o sofrimento que seu povo
experimentava e ainda experimentaria, ainda assim o Senhor jamais deixaria o
trono vazio.
E foi justamente em
um período de angústia e perseguição, exilado em uma ilha-presídio inóspita,
que o discípulo amado (justamente o discípulo amado, que, do nosso ponto de
vista deveria ter sido o mais protegido, embora o nosso caminho seja diferente
do caminho do Senhor) teve as visões que descreve no livro de apocalipse.
Dado o contexto de
perseguição em que a Igreja vivia, era necessário que João transmitisse a
mensagem do Senhor para a Igreja de uma maneira que a mesma entendesse e que os
inimigos da fé ficassem confusos. Por isso o simbolismo tão acentuado do seu
livro. Não nos aprofundaremos em esclarecer o que os símbolos usados por João
significam ao mesmo tempo em que buscaremos compreender o que, de fato, os
discípulos de Jesus receberiam do Senhor como mensagem para fortalecer a sua fé
em dias tão difíceis.
Ap 5.1-14
1 Vi, na mão direita
daquele que estava sentado no trono, um livro escrito por dentro e por fora, de
todo selado com sete selos.
2 Vi, também, um
anjo forte, que proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de lhe
desatar os selos?
3 Ora, nem no céu,
nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o livro, nem mesmo
olhar para ele; 4 e
eu chorava muito, porque ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo
de olhar para ele.
5 Todavia, um dos anciãos
me disse: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu
para abrir o livro e os seus sete selos.
6 Então, vi, no meio
do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro
como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os
sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra.
7 Veio, pois, e
tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono; 8 e, quando tomou o livro, os
quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do
Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que
são as orações dos santos, 9
e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os
selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que
procedem de toda tribo, língua, povo e nação 10 e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e
reinarão sobre a terra.
11 Vi e ouvi uma voz
de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número
era de milhões de milhões e milhares de milhares, 12 proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi
morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e
louvor.
13 Então, ouvi que
toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e
tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao
Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos
séculos.
14 E os quatro seres
viventes respondiam: Amém! Também os anciãos prostraram-se e adoraram.
É natural que,
num contexto de perseguição, a difícil pergunta, cheia de angústia, seja mais
uma vez feita, como nos dias de Isaías e Jeremias: Onde está Deus? Onde está o
Senhor nosso Deus? Provavelmente muitos cristãos tinham esta pergunta em seu
coração, e talvez chegassem mesmo a verbalizá-la. Onde está Deus?
João oferece como
resposta uma contundente declaração sobre quem e Deus é onde ele está. Havia
guerras, havia perseguição, havia mortes e enfermidades, mas nada disso
indicava que Deus havia se ausentado e abandonado os seus. No capítulo anterior
João descreve Deus e o seu trono celeste. Deus continua no trono. Deus continua
reinando. Deus não abre mão de seu soberano governo.
Mas, se Deus está
mesmo governando, como os cristãos podem experimentar este governo? De que
maneira este governo influencia a vida diária dos cristãos? São respostas para
perguntas como essas que o capítulo 5 do livro de apocalipse nos fornece.
DEUS, NOSSO GOVERNANTE SUPREMO...
Como introdução
deste capítulo João afirma que o trono não está vazio. Ele afirma
explicitamente que o nosso Senhor exerce o seu governo com eterno poder. E,
exercendo o seu poder, apresenta-se com um decreto em forma de rolo, escrito
por dentro e por fora, selado com sete selos, isto é, o que estava escrito por
fora identificava o autor e a razão de existir do rolo, mas só podia ser lido
se os selos fossem rompidos - João afirma que o rolo estava completa ou
perfeitamente selado. Estava escrito por dentro e por fora - nada poderia lhe
ser acrescentado. Embora usualmente os selos antigos fossem feitos de material
que poderia ser facilmente rompido, como uma fita colada com cera e marcada com
um símbolo através de um anel ou um pequeno rolo de metal, a ênfase não está no
selo, mas na autoria do mesmo, isto é, ele pertencia àquele que se assentava no
trono, e, ao mesmo tempo, na dignidade daquele que o leria.
Nenhum ser, por mais
forte que fosse, ousaria infringir uma determinação do Senhor em seu santo
trono - e é justamente isto o que mostra a proclamação, isto é, a convocação
feita através do anjo forte: Quem é digno de abrir o livro e lhe desatar os
sete selos? Não se trata de força ou habilidade - trata-se de dignidade, algo
que só é conferido ao SENHOR e ao Cordeiro neste livro.
De imediato era
possível perceber que não há nenhum ser que, por si mesmo, consiga opor-se ao
poder do Senhor. Nem mesmo os césares que perseguiam a Igreja, nem satanás e
seus servos malignos, ninguém estava em condições de desafiar o governo de
Deus. Ele não está guerreando... João mostra-o sereno, governando à partir do
seu trono sublime nos altos céus. Por mais incomodo que os poderes do mundo e
satanás pareçam, eles exercem apenas uma espécie de poder debaixo da permissão
de Deus.
À primeira vista, o
fato de haver um livro selado, nas mãos de Deus, poderia causar desespero,
fruto da curiosidade por saber o que nele estava escrito e ao mesmo tempo da
impossibilidade de alcançar tal conhecimento. Sabemos que o rolo refere-se à
manifestação da vontade de Deus, o plano completo de Deus para o mundo e para
suas criaturas, e isto envolve, sem dúvida, a salvação do seu povo. É a
completitude do mistério que estava sendo revelado, mencionado por Paulo e por
Pedro, aos quais os anjos anelam perscrutar. Mas não podem, não possuem poder
para abrir o rolo. E é justamente isto o que João relata. Quem, em todo o céu e
em toda a terra, estaria habilitado a romper o selo e abrir o livro? Havia
alguém no céu capaz de fazer isso? A triste e humilhante resposta é não. E na terra? Mais uma vez a
resposta é não.
Mais desesperador
ainda era saber que, mais do que abrir, não havia ninguém que fosse digno
sequer de olhar para o livro. O que havia lá? Como saber? João precisava saber.
Ele queria saber. Ele queria, desesperadamente, saber. E, por isso, ele chora.
E chora copiosamente. A repetição de que ninguém podia abrir o livro é
explicada não pela força, mas pela falta de dignidade, de merecimento. E duas
vezes é dito que ninguém podia sequer olhar para ele. A ênfase é necessária,
porque olhar pode indicar também fazer uma leitura, compreender - e os decretos
de Deus eram para conhecimento exclusivo seu, e daquele a quem ele quisesse, no
tempo determinado, revelar.
...PROVIDENCIA PARA QUE O CRENTE NÃO FIQUE SEM CONSOLO...
João chorava porque
sabia que naquele rolo encontrava-se a completitude da história redentiva de
Deus, do que Deus pretendia fazer com seu povo. Mas, se não havia ninguém que
tivesse dignidade para descobrir seu conteúdo, a história redentiva não chegaria
ao fim - e a criação continuaria sofrendo o cativeiro do pecado.
Todavia, a Escritura
nos mostra que nosso Deus é Deus que consola o seu povo, usa seus emissários
para trazer consolo e conforto àqueles que choram. E ele efetivamente o faz.
Diferente do pseudocristianismo moderno, onde os desejos do coração dos homens se
resumem a coisas que a graça comum oferece a justos e ímpios, o conforto que
João recebe, o conforto que João transmite aos crentes não é algo que possa ser
encontrado em qualquer lugar. João afirma que um dos anciãos lhe chama a
atenção. Diz-lhe para parar de olhar para as impossibilidades dos homens ou dos
anjos. Diz para tirar os olhos da criação e mantê-los no criador. Diz para ele
que há uma pessoa digna - aquele para quem
devemos olhar firmemente, aquele de quem ele próprio, João, afirma que
vem a fé.
Diz-lhe o ancião
para lembrar-se daquele que venceu a morte, daquele que ressurgiu de entre os
mortos e de quem já havia sido dito possuir a aprovação do Senhor. Cristo é
razão da nossa esperança. E é isto que o ancião lembra a João. Há um ser digno
de abrir o selo, e o ancião passa a descrevê-lo:
· Ele
é o leão da tribo de Judá, aquele que, segundo a profecia de Jacó, seria rei
sobre as nações;
· Ele
é a raiz da tribo de Davi, o descendente que e assentaria eternamente no trono,
cujo reinado não terá fim;
Estes títulos
identificam quem é digno de abrir o selo, mas na sequencia o ancião diz porque
ele é digno: porque ele venceu. Ele não foi derrotado, ele é o vencedor, aquele
que sai vencendo e para vencer. Esta é a grande notícia. Jesus venceu. Quem
está nele também é vencedor. Em Cristo o crente é mais que vencedor. Perseguido
e preso? Açoitado e morto? Porém, ainda vencedor. Os cristãos são desafiados a
serem vencedores e perseverantes - e Jesus afirma ter vencido pelos seus. Jesus
venceu o diabo. Venceu o mundo. Venceu a morte. É digno de abrir o selo, e este
é o conforto dado ao coração de João e que ele transmite aos irmãos - a
história do sofrimento terá fim nas mãos de Jesus.
...ATRAVÉS DE CRISTO, DIGNO DE ABRIR O LIVRO E SER LOUVADO...
Ninguém poderia
fazer o cordeiro iria fazer por um motivo simples: porque ninguém é como ele,
ninguém fez o que ele fez. João afirma que, sem saber de onde surgiu, mas
evidentemente ainda não fora visto por ele, havia de pé, ao lado do trono,
entre os seres e os anciãos um cordeiro “como tendo sido morto”, referindo-se,
provavelmente, à ferimentos e a sangue, mas, ao mesmo tempo, já não estando
mais morto uma vez que está de pé, tendo, portanto, vida em si mesmo. A
descrição não é de um cordeiro normal, mas a ênfase em sete chifres, sete olhos
refere-se a poder e conhecimento perfeitos. E é este cordeiro que é recebido de
maneira grandiosa. Somente ele é digno de abrir o rolo. Somente ele é capaz de
quebrar seus sete selos. Somente ele, e mais ninguém, porque ele não é uma mera
criatura, é o criador. É o Senhor dos céus e da terra, o Senhor da vida, o
Senhor dos senhores, o rei dos reis.
A dignidade de Jesus
não é apenas teórica - ela é prática, ela se manifesta em atos concretos e
irrefutáveis . E o cordeiro, que fora morto, toma o livro da mão direita
daquele que governa o destino do universo - o pai cede o governo ao filho,
embora continue governando com ele. Aquilo que Deus havia dito a respeito de
Jesus, “este é o meu filho amado, em quem me comprazo” agora é provado da
maneira mais gloriosa, mais completa que se podia imaginar. Se ele havia dito
isto perante poucas testemunhas, agora o céu e a terra eram testemunhas da
aprovação inconteste de Deus.
O mesmo que agira na
criação, o mesmo que agira na redenção, agora age na glória. Ele toma o livro
da mão direita do SENHOR - e o livro lhe é entregue. De imediato os quatro
seres viventes e os vinte e quaro anciãos prostram-se diante do cordeiro - não
do leão, não da raiz de Davi, mas daquele que redimiu o seu povo mediante a sua
obra expiatória. Foi pelo sangue do cordeiro que o povo de Deus foi liberto.
Foi o sangue do cordeiro que pagou o preço dos pecados do seu povo.
Aqueles que eram
grandes, estavam diante do trono de Deus, agora adoram o cordeiro,
atribuindo-lhe perfeições divinas: santidade, eternidade. Glorificam-no,
honram-no e rendem-lhe ações de graças. Se às vezes nos impressionamos com
louvores do povo de Deus, muito mais impressionante deve ter sido este louvor
celeste ao cordeiro que venceu. Louvam ao Cordeiro com a mais forte ênfase, com
toda a dedicação possíveis. Ninguém mais era capaz de tomar o rolo da mão de
Deus. Ninguém mais era capaz de descerrar o plano de Deus para o universo -
somente ele, somente o cordeiro. Ninguém mais era digno de abrir o selo e,
abrindo-o, ninguém mais era digno da adoração dos anjos e homens - e estes se
prostram em adoração perante o Cordeiro que venceu e revelará o conteúdo do
rolo, pondo, fim, assim à história da redenção de todo o seu povo, à triste
história do pecado e do cativeiro da criação, transformando aqueles a quem
salvou de filhos da ira para filhos do amor, levando-os para seu reino e
separando-os para a regência sobre a terra.
Mas o louvor não
cessa - não são apenas os seres e os anciãos, mas milhões de milhões e milhares
de milhares de milhares de anjos que continuam exaltando o cordeiro como digno
por causa da sua obra, da sua vitória sobre a morte. O que já era
impressionante se torna inimaginável. Cristo é louvado por milhões de milhões e
milhares de milhares - um número incontável de adoradores. Poderíamos pensar:
alguém que tem tanto louvor não precisa de mais nada. Evidente que não precisa,
mas quer. E seu querer não pode ser frustrado.
E assim João retrata
o louvor dos anciãos, dos quatro seres, da multidão de anjos e, finalmente, da
sua criação: toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e
sobre o mar, e tudo o que neles há: todos louvaram, não apenas ao Cordeiro, mas
também àquele que está assentado no trono. É o louvor completo, perfeito,
eterno - que só acontece em virtude de Cristo ser digno de abrir o rolo.
...POR TODOS OS CRISTÃOS.
Diante de um quadro
de tal magnitude, com o testemunho de João a respeito da glória, do poder e da
honra que Cristo possui, os cristãos podiam viver em seu tempo sem temer as
perseguições ou os perseguidores. Podiam, como Paulo, confiar naquele em quem
eles criam e, se necessário fosse resistir até ao sangue, deveriam fazê-lo
alegremente dando a todos a razão da esperança que carregavam no coração: o seu
Deus reina, o seu salvador é digno de ser louvado e o imperador não é divino e
não deve receber honra alguma - somente a Cristo é que se deve dar louvor.
Nenhum louvor que
podemos prestar a Deus deve ser visto como se fora um favor - ele já tem muito
mais do que podemos fazer, mas, ainda assim, ele providenciou um meio para que,
resgatados em Cristo, libertos do pecado, comprados para sermos reino de
sacerdotes.
Mas, ao mesmo tempo,
cada ato de louvor do cristão, mesmo em meio à perseguição, deve ser visto como
uma expressão do temor e gratidão por aquele que foi morto e reviveu, que tomou
o rolo e abriu o selo, que descerrou o destino dos homens e das nações.
Podemos confiar, e
continuar louvando a Deus porque cadeias e tribulações concorrem para o nosso
bem. Podemos confiar quando tudo vai bem, mas não podemos deixar de confiar
quanto tudo não nos parece bem, mas, com certeza, está sob o pleno controle de
Deus. O Senhor continua assentado no trono. O destino das nações está em suas
mãos e ninguém pode usurpar o seu governo.
Somente Cristo
recebeu autoridade para reger as nações. Somente ele é digno de reinar
eternamente. Podemos e devemos louvá-lo já, hoje, aqui e agora.
Ele é grande rei
sobre toda a terra. Ele é o rei dos reis, o Senhor dos senhores. Ele é digno de
nossa adoração. Ele é digno do nosso louvor. Ele é digno de que não apenas nós,
mas toda a terra, e isto vai efetivamente acontecer, se prostre diante dele. A
ele, pois, a honra, a glória e o louvor.
Temos razão, sim,
para termos esperança. Temos, sim, razão para não nos sentirmos inseguros
quanto ao futuro, porque ele está nas mãos do Senhor que nos amou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário