quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SÉRIE PERSONAGENS - RUTE, A COMPANHIA QUE SE ABRIGOU AOS PÉS DO SENHOR

SÉRIE PERSONAGENS: RUTE

A história de Rute (re’üth - companhia feminina, companheira) está ambientada no período dos Juízes, aproximadamente 1200 anos antes de Cristo, mais ou menos nos dias do sacerdote Eli. Nos escritos judaicos é dito que Rute era uma princesa moabita imbuída de elevados ideais, não estava satisfeita com a idolatria de seu próprio povo e quando chegou a oportunidade, abriu mão do privilégio da realeza em sua terra, aceitando uma vida de pobreza entre um povo que ela admirava.
É uma história que começa errado, com desobediências, e termina de uma maneira maravilhosa por causa da graça de Deus.
Israel enfrentava uma crise causada pela opressão cananéia, com pouca produção de alimentos e o que ainda era produzido era, muitas vezes, objeto de saque. Na tentativa de fugir ao juízo de Deus sobre a desobediência do povo (Jz 3:7). Elimeleque, um homem de Belém (o mishnáh diz que ele era um rico mercador), cujo nome significa Deus é meu rei (o que parece uma evidente ironia pois ele não demonstra preocupação alguma com a vontade de Deus), tomou sua mulher, Noemi e seus filhos Malom e Quiliom (cujos nomes são cananeus, significando, respectivamente, fraqueza, doença e definhamento, tristeza porque provavelmente nasceram no tempo de provação, de fome em Belém - seus nomes também demonstram a forte influência que o relacionamento com os povos estrangeiros exercia sobre o povo de Deus).
Elimeleque é um retrato fiel de Israel - um povo que fazia o que bem lhe parecia (Jz 21:25). E sem querer, ele também acaba tipificando Israel como agente do mandato de Deus - seu relacionamento com os cananeus resultam em morte para ele e seus filhos, rejeição por parte das nações e, eventualmente, a conversão de um incrédulo.
UMA SÁBIA ESCOLHA
Após a morte de seu marido (Malom) Rute foi orientada por Noemi a retornar para sua família porque seria impossível ela herdar os bens da família uma vez que não havia como cumprir o levirato (um irmão do morto tomava a viúva como sua esposa, e o filho deste costume era considerado filho do morto). Quando ouve a insistente orientação para retornar para os seus (Rt 1.8) Rute responde junto com a outra viúva cananéia que não voltariam (Rt 1.10), mas, mesmo depois que Orfa muda de idéia (Rt 1.14), ela permanece firme (Rt 1.16-17).
A história de Rute mostra que Deus é poderoso e misericordioso, transformando o mal em bem, como fez com José (Gn 50:20). Aparentemente o tempo da crise já havia passado, e Noemi e Rute retornam a Belém no tempo da sega da cevada (Rt 1.22).
Apesar do uso que é feito do verso 17 (em declarações de amor, noivados e casamentos) ali temos o relato de uma conversão ou de uma profissão de fé: o ponto fundamental é: o teu povo e o meu povo e o teu Deus é o meu Deus. Ela não declara que será uma hebréia, mas que já se sente uma, já se sente parte do povo de Deus com todas as implicações que isso pode ter. Por isso para ela é impossível voltar para Moabe, seu estilo de vida e seus ídolos, assim como é impossível a um verdadeiro convertido voltar à uma vida de pecados (I Jo 3.6). Orfa pôde voltar para Moabe porque não fora, realmente, convertida - ela escolhe o caminho que lhe era mais fácil temendo a rejeição dos israelitas. Fora casada com um hebreu, mas não convertida (II Pe 2.22). Houve mudança em seu estado civil, mas não em seu coração.
Rute e Noemi viviam uma situação precária - não podiam requerer as terras pertencentes a Elimeleque. Noemi tinha receio de que Rute, sendo moabita, sofresse alguma forma de rejeição em virtude da ordem para não tomar esposa entre os povos da terra (Dt 23.3), especialmente amonitas e moabitas, filhos de Ló, o que, talvez, explique a sua insistência para que elas não a acompanhassem (Ex 34.15-16).
UMA DISPOSIÇÃO HUMILDE
Certamente Rute havia tomado conhecimento dos dispositivos da lei que permitiam aos estrangeiros, órfãos e viúvas colherem os grãos que caíam dos feixes juntados pelos trabalhadores (Lv 19.9-10) e, ainda, os cantos dos campos, próximos aos caminhos (Lv 23.22), o que explica o fato de Jesus colher trigo nos campos e não poder ser acusado de furto (Lc 6:1).
Todavia, este era o período dos juízes - cada um fazia o que bem lhe parecia e provavelmente alguns preferiam aumentar a renda do que atender ao mandato do Senhor (nada muito diferente de trabalhar demais, ou usar o dia do Senhor para interesses pecuniários e não repouso ou exercícios devocionais).
Este dispositivo se aplicava a qualquer tipo de colheita (Dt 24:19-21).
Rute demonstra alguma preocupação em relação a isto, a ponto de deixar escapar a expectativa de não poder rebuscar (Rt 2.2).
A PROVIDÊNCIA DIVINA
Deus demonstra a sua providência de uma maneira geral (Mt 5:45 - para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos) mas o faz de maneira particular na vida dos seus eleitos. Desta maneira, procurando rebuscar nos campos em colheita Rute acaba indo colher nas terras de Boaz, membro da mesma família que Malom (Rt 2.3 - Ela se foi, chegou ao campo e apanhava após os segadores; por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz, o qual era da família de Elimeleque).
Por alguma razão Boaz identifica, em meio aos segadores, aquela jovem - Belém era uma pequena aldeia, habitada por basicamente uma família, logo, qualquer pessoa estranha seria percebida facilmente. Inquirindo aos seus ceifeiros sobre quem era ela, recebe como resposta que era uma estrangeira, ao mesmo tempo sua aparentada e muito esforçada (Rt 2.6-7).
Boaz procura saber mais sobre Rute (Rt 2.11) e, com o intento de atender às necessidades de suas parentes, Boaz vai até Rute e lhe dá permissão para colher quanto necessitasse e não apenas recolher as sobras, como era comum. Também lhe permite beber água junto com os trabalhadores (Rt 2.8-9).
De uma maneira discreta Rute pede que Boaz a tome por serva (Rt 2.13 - Disse ela: Tu me favoreces muito, senhor meu, pois me consolaste e falaste ao coração de tua serva, não sendo eu nem ainda como uma das tuas servas) e é tratada como alguém da família (Rt 2.14 - À hora de comer, Boaz lhe disse: Achega-te para aqui, e come do pão, e molha no vinho o teu bocado. Ela se assentou ao lado dos segadores, e ele lhe deu grãos tostados de cereais; ela comeu e se fartou, e ainda lhe sobejou) dispondo para que ela pudesse ter com fartura para atender a Noemi.
SABEDORIA PARA ACEITAR CONSELHOS
Surpresa com a eficiência de Rute, que chegou em casa com aproximadamente 22lt de cevada, Noemi procura saber quem é o proprietário da terra onde Rute colheu, e, ao descobrir que é Boaz, identifica-o como homem de bom coração e um dos parentes com direito a tomar posse das terras de Elimeleque (Rt 2.20).
Noemi percebe que a boa vontade de Boaz poderia, também, tornar-se em benção para o que ainda restava de sua família. O marido de Rute fora o filho primogênito de Elimeleque - tendo, portanto, o direito de herança. Morto ele, um parente chegado poderia tomar Rute por esposa e assim ela e Noemi teriam a propriedade como fonte de renda.
SOB A ALIANÇA PROVIDENCIAL
Noemi resolveu fazer uso da lei do levirato (Dt 25.5-6) e instrui Rute sobre o que fazer (Rt 3.1-4). Era uma atitude ousada e corajosa, de pedir proteção legal a Boaz, mas ao mesmo tempo muito arriscada, pois se ela fosse surpreendida por um servo poderia ser tida como uma aventureira ou prostituta.
Ao acordar, e ser advertido sobre seus deveres (Rt 3:9) Boaz entendeu claramente a mensagem: alguém tinha que ser o resgatador de Rute e Noemi, mas a família estava deixando de cumprir este papel social. Ele aceita a atitude de Rute como uma repreensão velada (Rt 3.10) e, em virtude do bom testemunho dela, resolve agir para resolver o problema (Rt 3.11), aparentemente desejando ser o resgatador mas sabendo que a lei precisa ser cumprida e que nao era dele a prioridade (Rt 3.12).
HONRADA ENTRE OS SEUS
Ao amanhecer Boaz toma providências, convida os anciãos belemitas para uma reunião pública no “fórum” da época (Rt 4.1-2) para resolver a questão da posse da propriedade de Noemi, bem como o levirato de  Malom. O belemita se interessa pela propriedade, mas ao ser informado do levirato preferiu abrir mão (Rt 4.6). A maneira como ele responde não deixa claro se a questão era uma divisão posterior de herança ou se relacionava às mulheres - Rute e a sua esposa.
Então Boaz recebe o direito de efetuar a compra da herança - pagando-o a Noemi e casando-se com Rute o valor dispendido ficava sob sua guarda (Rt 4.9-10). É um curioso caso de casamento sem noiva que dá certo.
Rute gerou um filho, que foi considerado filho de Noemi, a quem deram o nome de Obede (Rt 4.17).

 LIÇÕES PRECIOSAS
Elimeleque buscou descanso e prosperidade longe de Deus - encontrou a morte (Pv 14:12);
Rute buscou amparo no meio do povo de Deus - e encontrou descanso e amparo (Mt 11:28).
Noemi saiu feliz de casa, com família e bens (Lc 15.13);
Noemi voltou carente e o povo não lhe deu hospitalidade, como o filho pródigo (Lc 15.28);
Rute e Noemi precisaram de um resgatador (Rm 3:25).
RUTE, UM EXEMPLO A SER SEGUIDO
Uma mulher segundo o coração de Deus:
· Devotada ao seu esposo (Rt 1.8: 8 - ...disse-lhes Noemi: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o SENHOR use convosco de benevolência, como vós usastes com os que morreram e comigo);
· Devotada à sua família (Rt 1.16 - Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus);
· Devotada a Deus (Rt 1.17 - Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti).
Lembremos que não foi a disposição de Elimeleque ou de Malom que tornaram Rute uma benção - mas a graça de Deus em fazer uma moabita uma crente devotada.

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