Recentemente
publicamos lições que se referiram a mulheres da Bíblia – Noemi e Rute, que
fazem parte da linhagem davídica, da tribo de Judá. Agora vamos conhecer uma
terceira mulher, Ana, cujo nome significa "graça", sendo parte da
linhagem sacerdotal, levítica. Embora não tenham se conhecido, elas viveram num
período próximo, e suas histórias convergiam para que seus descendentes fossem
de grande importância na vida um do outro – Samuel e Davi. O descendente de
Rute consolidaria o período dos reis, enquanto o de Ana faria a transição entre
os juízes e os reis. Ana é, sem dúvida, uma das muitas mulheres que merecem o
epíteto de "mulher virtuosa" da Bíblia. Viveu por volta da segunda
metade do séc. XII a.C. na cidade de Ramá, a 18km de Siló, nas proximidades de
Betel.
Mas,
mesmo sendo uma mulher virtuosa, Ana era, provavelmente, como muitas pessoas
que conhecemos: possuem quase tudo o que poderiam desejar para a felicidade e
se apegam ao que não tem para se fazerem infelizes: cônjuge amoroso – mas que
sabia mas não entendia a razão de sua angústia, boas condições financeiras, com
casa, comida, roupas, segurança (I Sm
1.24). Ficava especialmente afligida todo ano
quando iam a Siló, para adorar o Senhor. A tristeza de Ana era aumentada pelo
fato de que, embora seu marido a amasse, ele havia tomado outra esposa e com
ela havia tido filhos e filhas (I Sm 1:4).
Penina
sabia que Elcana amava Ana (I Sm 1:5
- A Ana, porém, dava porção dupla, porque ele a amava, ainda mesmo que o SENHOR
a houvesse deixado estéril) e que se casara com ela para garantir que possuiria
filhos, e, por isso, vingava-se irritando-a com a sua desdita (I Sm 1:6),
tida como maldição entre os hebreus antigos, havendo, inclusive, uma tradição
que permitia o divórcio caso a mulher não concebesse ao cabo de 10 anos.
Não
sabemos depois de quantos anos de casamento, mas alguns já se haviam passado (I Sm 1.7) e a dor de Ana crescia a ponto de, além de não
comer, sentir-se verdadeiramente desesperada e procurar auxílio onde ela sabia
que poderia encontrar – no Senhor (Sl
113.9).
Na
sua amargura Ana orou ao Senhor e chorou abundantemente (I Sm 1.10). Como a oração era em lugar público, com o passar do
tempo ela acabou sendo notada pelo sacerdote Eli, que sem querer, faz com que
aquela mulher temente a Deus, de coração dedicado ao Senhor sofra mais uma
agressão, tendo-a por embriagada (I Sm
1.14).
Em
nossos dias isso daria afastamento da Igreja, ou denúncia eclesiástica, danos
morais, muito falatório e queixumes – mas não seria essa a atitude de Ana, da
crente Ana. Ela, ofendida, manteve-se equilibrada, buscou não a reparação mas o
conserto (Mt 18:15), esclareceu devidamente a situação (I Sm 1.15-16) e acabou abençoada (I Sm 1.17).
Ana
nos é apresentada como exemplo de resiliência no sofrimento, humildade diante
de Deus e equilíbrio diante da ofensa.
Mas
não é apenas isso. No dia seguinte retornam para Ramá, bem perto de Siló, e,
após algumas horas de viagem, Ana, Elcana, Penina e os filhos voltaram para
casa. Elcana coabitou com Ana e ela ficou grávida (I Sm 1.19-20), dando ao
menino o nome de Samuel (o Senhor ouve).
Elcana
não se opõe a consagração do menino, algo normal entre os levitas,
especialmente pelo fato de que Samuel não era seu primogênito, nem ele poderia
favorece-lo por mais que amasse Ana (Dt
21.15-16). Samuel receberia educação especial, como nazireu, sendo colocado
a serviço no templo quando fosse desmamado – e foi entregue com no mínimo dois,
mas, mais provavelmente 3 anos (I Sm
1.24).
Pode
nos parecer estranho e desumano, mas Samuel fora pedido para ser dado, veio
para ser entregue, e isso agradou ao Senhor. O pedido de Ana fora feito com a
promessa de que Samuel seria do Senhor – e o mesmo Senhor que ouve e atende
também ouve e cobra (Jó 22:27). Precisamos entender
que Deus nunca nos dá algo que não possamos lhe dar de volta. Qualquer coisa
que consideremos nosso e que neguemos ao Senhor torna-se objeto de idolatria no
coração, ocupará o lugar de Deus em nossos sentimentos. Nada é mais importante
do que Deus (Jó 1:21).
Isso
é uma preciosa lição para nossa geração não aprendeu a cumprir seus compromissos,
especialmente os compromissos eclesiásticos e espirituais.
Mesmo
depois de ter cumprido a sua promessa de entrega-lo, e, ainda mais, depois de
ter tido mais outros filhos (I Sm 2.21) na continuou a contribuir
para o bem estar do menino (I Sm 2.19).
Concluímos
destacando três atitudes de Ana que devem ser imitadas pelos crentes de todos
os tempos, e em todos os lugares.
FIDELIDADE
O
que Ana prometeu, ela cumpriu (I Sm 1.25). Tendo, agora, apenas um
filho, entregou tudo o que tinha. Nada reteve para si além da plena benção da
realização de seu maior desejo. Ela queria ser mãe, se tornara mãe. Estava
livre das chacotas de Penina, podia experimentar o amor de seu marido sem a
amargura que lhe corroía a alma (I Sm
2.20). Observe que Penina não é mais mencionada e a benção é dada ao casal, e
não apenas a Ana. Isto é importante porque Elcana também se afligia com sua dor
(I Sm 1. 8).
TESTEMUNHO
Ana
não apenas entregou o menino, mas fez questão de, anos depois (no mínimo dois),
ao entregá-lo faz questão de lembrar ao homem de Deus que aquele menino é
resposta de oração, é fruto da sua súplica perante o Senhor e compartilha que a
benção dada por intermédio Eli de fato se tornou uma realidade – e ali estava a
prova, literalmente, o testemunho vivo de uma benção tão ardentemente suplicada
(I Sm 1.26-28)
LOUVOR
Sua
fidelidade e testemunho, sua abnegação ao entregar o único filho (até então, e
ela não tinha garantias de que teria outros – e só os teve depois de cumprir o
prometido) resulta num alegre cântico de louvor ao Senhor (I Sm 2.1-2).
Deus transformou o desprezo que a angustiava em louvor pelas bênçãos
derramadas.
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