segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

CASAMENTO - UM RELACIONAMENTO DESTINADO A [NÃO] SER PERFEITO

MOTIVO Nº I: O NUBENTE É IMPERFEITO

i.                     Ele não consegue ser o provedor infalível, que supre todas as necessidades de sua esposa; não consegue ser o cabeça infalível, guiando-a com amor como Cristo amou a Igreja sem cair na armadilha do autoritarismo.

MOTIVO Nº II: A NUBENTE É IMPERFEITA

i.                     Ela não consegue ser a auxiliadora idônea, que está sempre ao lado e dá o suporte necessário ao esposo; não consegue ser a auxiliadora submissa, que reconhece que seu marido lhe foi dado por cabeça como Cristo foi dado à Igreja.

MOTIVO Nº III – AMBOS SÓ SE SATISFAZEM COM A PERFEIÇÃO

O período de preparação para o casamento, na nossa cultura, gera alguns tipos de expectativas que os judeus não enfrentavam. Os nubentes, nos tempos escriturísticos, a nubente esperava encontrar um homem de verdade na noite de núpcias, e o nubente esperava encontrar uma mulher de verdade. Em boa parte dos casos não se conheciam tão bem e tão mal como os casais dos tempos atuais.
Em certo sentido os nubentes se conhecem bem demais – mesmo quando são crentes e se preservaram aguardando a noite de núpcias. Conhecem história de vida, ações, reações possíveis e outros detalhes não mencionáveis. Isso quando são crentes. Não vale a pena falar de casamentos onde a noite de núpcias é tudo menos a primeira noite de um casal. Dito de outra maneira, o conhecimento que possuem é tão real que quase não haverá nada a descobrir quando começarem a serem, de fato, um só corpo, uma só carne (Gn 2:24 - Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne).
Porém, em sentido diverso, os nubentes não se conhecem porque idealizam o outro, criando uma espécie de ídolos para suprir uma necessidade absolutamente real e explicitada por Deus (Gn 2:18 - Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea).

IDEALIZAÇÃO DA PERFEIÇÃO

Tu és toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito.
Ct 4:7
É a expectativa de que o cônjuge venha a ser perfeito. O cônjuge espera e cobra exigentemente que o outro seja nada menos do que perfeito para que isso supra todas as suas necessidades. O casamento é visto como um relacionamento onde o eu está entronizado e deve ser servido. Eu quero, eu penso, eu sinto, eu desejo… mesmo com juras de amor infinitas para o outro é possível que, no fundo, mesmo que bem escondido até mesmo de si próprio, haja um endeusamento de si mesmo e o outro acaba sendo apenas um instrumento de autossatisfação. E a decepção é inevitável porque com certeza o outro não é perfeito – isto quando a imperfeição de ambos não se torna fonte de conflito.
E o resultado não poderia ser outro que não insatisfação e depressão porque a necessidade essencial do coração não será satisfeita pelo outro.

IDEALIZAÇÃO DA AUTOPERFEIÇÃO

Eu estou morena e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão.
Ct 1:5
É a expectativa de que o cônjuge venha a considerar o que você é como aquilo que supre todas as suas necessidades. É ver-se como perfeito, desnecessário de mudanças, e, assim, esperar que o outro se vire para se adaptar e ao mesmo tempo que se satisfação com o que você é – você acha que é suficiente para a satisfação do outro. De novo é o endeusamento de si mesmo em busca de adoradores – esposa e filhos passam a ser, mesmo que inconsciente e inconfessavelmente, vassalos que devem total gratidão por tudo o que você acha que é e faz. Mesmo o auto sacrifício é visto como uma troca onde, no fim, você quer ser honrado como governante do seu lar.
Isto tem como resultado irritação, cobranças porque nada fica do jeito que é desejado, com conflitos constantes e insolúveis porque não se satisfará no outro.

O IDEAL NÃO É REAL – O RELATO DE UMA CRISE

O que fazer quando as frustrações vierem? Mesmo no livro de cantares encontramos um quadro de frustração mesmo quando ambos possuem o mesmo alvo. O centro do livro, no capítulo 5, versos 2 a 6, nos mostra a frustração do noivo e da noiva:
2 Eu dormia, mas o meu coração velava; eis a voz do meu amado, que está batendo: Abre-me, minha irmã, querida minha, pomba minha, imaculada minha, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos, das gotas da noite. 3 Já despi a minha túnica, hei de vesti-la outra vez? Já lavei os pés, tornarei a sujá-los? 4 O meu amado meteu a mão por uma fresta, e o meu coração se comoveu por amor dele. 5 Levantei-me para abrir ao meu amado; as minhas mãos destilavam mirra, e os meus dedos mirra preciosa sobre a maçaneta do ferrolho. 6 Abri ao meu amado, mas já ele se retirara e tinha ido embora; a minha alma se derreteu quando, antes, ele me falou; busquei-o e não o achei; chamei-o, e não me respondeu.
Temos uma mulher que aguardava o seu amado – e ele vem a ela, mesmo com dificuldades (sua cabeça está cheia de orvalho e os cabelos das gotas da noite).
Com alguma relutância ela acaba indo atender, mas se demora em vestir-se e à procura de seus sapatos (nada é novo debaixo do sol, já dizia o sábio Salomão - Ec 1:9 - O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol), perfumes e óleos, para agradá-lo da melhor maneira possível, e quando chega à porta ele já não está.
O resultado é um triste desencontro, ele a buscou, e não a encontrou, ela o chamou, e ele não respondeu.
Para complicar mais o quadro terceiros, que nada tem a ver com a história, se apresentam no caminho gerando sofrimento (Ct 5:7 - Encontraram-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me e feriram-me; tiraram-me o manto os guardas dos muros) e até mesmo zombaria social (Ct 5.8-10 - Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe direis? Que desfaleço de amor. Que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, que tanto nos conjuras?).

A SOLUÇÃO É DESTRUIR O ÍDOLO

Como, então, um relacionamento que é feito para (não) ser perfeito ainda vale a pena? É essencial que você tire do trono o seu ídolo particular, que pode estar buscando satisfação num cônjuge, em filhos, em trabalho, em igreja, em qualquer coisa que suas mãos podem alcançar.
É essencial que você veja que o outro, por mais que você aparentemente o idolatre, não vai satisfazer plenamente seu ídolo maior que é você mesmo.
É essencial que você entenda que por mais que você se esforce para ser o provedor você não vai ser justamente merecedor da adoração que deseja como retribuição.
É essencial que ambos compreendam que no trono da vida de vocês, nem o homem nem a mulher merecem se sentar no trono e receberem adoração. Por mais que vocês queiram – e afirmem não querer, o trono não lhes pertence. Ele é de Deus, e desejar a gloria que é dele só vai gerar disputas e conflitos – mas vale mesmo a pena lutar por algo que não lhes pertence?

DE QUEM É O TRONO

Por fim, é indispensável que homem e mulher se lembrem que seus problemas começaram quando a mulher tomou decisões sozinha. Os problemas não foram resolvidos quando o homem tomou decisões com os olhos apenas nos problemas e não conseguiu achar a solução.
Para valer a pena homem e mulher precisam compreender que o centro, que o trono de suas vidas é Deus – é ele quem deve ser adorado, é ele quem satisfaz todas as necessidades de um casal, é nele que está a satisfação que um e outro buscam e que devem ser instrumentos de Deus na vida um do outro, como ferro que se afia com ferro (Pv 27:17 - Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo).
Homem, você não é como Deus para a mulher – nem vai conseguir satisfazê-la completamente nem será digno de ser adorado por ela.
Mulher, você não é como Deus para o homem – ele não vai prover todas as suas necessidades nem você fará tudo que o agrade para merecer a sua adoração.

Homem e mulher – vocês foram dados um ao outro para se complementarem e, juntos, adorarem ao Senhor Deus, não apenas seu criador, mas também seu Senhor e salvador.

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