Ninguém nega que o objetivo dos escritores do Novo Testamento
era mostrar que Jesus é o Filho de Deus. João é, provavelmente, o mais enfático
nesta afirmação (Jo 20:31 Estes, porém, foram registrados para que
creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida
em seu nome) embora os outros evangelistas também abordem esta questão.
Não era nada fácil para os judeus aceitarem uma reivindicação
tão impactante como a de que Jesus era o Filho de Deus, titulo atribuído a
Jesus 44 vezes no Novo Testamento – mas não havia outro jeito, pois negar a
Jesus como o Filho de Deus significa negar a própria revelação de Deus e
permanecer condenado com o mundo (I Jo 5:5 - Quem é o que
vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?).
É muito fácil encontrar alguém que lhe diga que Jesus não é o
Filho de Deus. Um vai lhe dizer que ele é só um espírito de luz, um iluminado
mas não o Filho de Deus – alias, no fim das contas, nem Deus mesmo existe,
apenas um ser supremo e inefável, e como poderia um ser assim possuir um filho?
Também vai encontrar outro que lhe dirá que ele é o mais exaltado dos seres, a
mais especial das criaturas, o homem perfeito, um anjo celeste, mas não o Filho
de Deus. Mais adiante outro lhe dirá que ele foi um homem especial, um mestre
moral inigualável, um profeta como nenhum outro que já existiu (ou um profeta de
menor importância, como é o caso dos muçulmanos) mas sem admitir que ele seja o
Filho de Deus.
Na sua escola você ainda vai encontrar pessoas que chamarão
Jesus de mestre religioso, manipulador, mito, fraude… são tantas descrições
diferentes. Mas não era muito diferente nos dias de seu ministério terreno.
Muitos não sabiam quem ele era… tinham preconceitos por causa de sua origem…
seus irmãos tinham um comportamento que demonstrava incredulidade. Mas o que
fazer quando, finalmente, estivermos diante de Jesus e tivermos que responder a
pergunta: você crê que Jesus é o Filho de Deus?
Os
escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: Ele está possesso de
Belzebu. E: É pelo maioral dos demônios que expele os demônios (Mc 3:22).
Após os espíritos imundos proclamarem que Jesus é o Filho de
Deus (Mc 3:11 Também os espíritos imundos, quando o viam,
prostravam-se diante dele e exclamavam: Tu és o Filho de Deus!) os irmãos
de Jesus não se contiveram ao vê-lo, em casa, cercado pela multidão e
atendendo-os a ponto de não poderem, sequer, se alimentar. Para resolver o
problema eles agiram no sentido de retirá-lo de lá como se estivesse fora do
uso das suas faculdades mentais (Mc 3:21 E, quando os
parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora
de si). Para eles a alegação de que Jesus, seu próprio irmão,
fosse o Filho de Deus era uma loucura – e Jesus deveria ser detido antes que
tivesse problemas com as autoridades religiosas.
E é justamente estas autoridades que se apresentam. Logo vem
a Caná uma comissão de inquérito para investigar o que estava acontecendo.
Marcos diz que os estudiosos da lei, examinadores dos mínimos detalhes e das
maiores dificuldades legais do texto bíblico, os escribas, aqui chamados de
gramáticos “foram descidos de Jerusalém”. Eles vieram investigar, e a conclusão
a que estavam chegando era que Jesus realmente fazia os milagres de que ouviram
falar. E mais ainda, que Jesus tinha autoridade sobre os espíritos imundos.
Eles não podiam contestar o que estava acontecendo e o grande número de
testemunhos a esse respeito. Mas… e este era o problema deles, eles tinham
descido de Jerusalém para investigar um homem… não para admitir que este homem
fosse o Filho de Deus.
Eles desceram com seus conceitos já estabelecidos e
precisavam encaixar Jesus dentro destes conceitos. E a única explicação para a
autoridade de Jesus sobre os demônios era que Jesus era instrumento de um
demônio com maiores poderes do que os que ele expulsava.
Para eles não importava quão bem às pessoas Jesus podia
fazer. Para ele não importava sequer que eles não conhecessem ou tivessem acompanhado
o que Jesus fazia. Para eles só importava uma coisa: encaixar Jesus na sua
caixinha de preconceitos. E como Filho de Deus ele jamais se encaixaria.
Precisavam arrumar outra coisa. Se ele não era o enviado de Deus, então, com
tanto poder assim só poderia ser enviado de belzebu ou, pior ainda, estar sob
sua influência direta, sob sua posse. Eram tão insensatos em suas conclusões
que, para enquadrar Jesus, tinham que afirmar algo absolutamente contraditório:
como é possível que uma pessoa que se diz sábia consiga afirmar que um chefe iria
expulsar aqueles que estariam, justamente, fazendo as suas vontades, e devemos
lembrar que uma das características do ministério de Jesus foi “curar os
oprimidos do diabo porque Deus era com
ele (At 10:38 - …como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito
Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos
os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele)?
23 Então, convocando-os Jesus,
lhes disse, por meio de parábolas: Como pode Satanás expelir a Satanás? 24
Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; 25
se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir. 26
Se, pois, Satanás se levantou contra si mesmo e está dividido, não pode
subsistir, mas perece. 27 Ninguém pode entrar na casa do valente
para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a
casa.
Como mudar o seu ponto de vista sobre Jesus? A única resposta
é: ouvindo o que Jesus tem a dizer sobre si mesmo. Conhecendo a Jesus,
conhecendo o seu ensino. Ele já havia mostrado ao povo e aos próprios escribas
que seu ensino era diferente (Mc 1:22 - Maravilhavam-se da
sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os
escribas) e por isso mesmo os escribas o odiavam. E ele simplesmente
lhes mostra, através de uma comparação indireta, isto é, através de uma
parábola, a insensatez do que falavam.
Como pode alguém fazer uma obra – mesmo o próprio satanás –
destruindo a própria obra que ele faz? É uma tolice, tão tola quanto a de
pessoas que, julgando-se amaldiçoadas, colocam elas próprias as mãos em sua
própria cabeça para quebrar a maldição – algo tão inútil quanto estar caindo de
um avião e segurar na gola da própria camisa… a pergunta de Jesus, nos versos
23 a 26 aos gramáticos, aos entendidos da lei, aos homens que se diziam capazes
de explicar os mais intricados problemas da religião era: como pode satanás
querer estabelecer um reino destruindo o seu exército? Como pode satanás querer
estabelecer uma casa, isto é, um lugar onde sua vontade seja respeitada e
obedecida, se ele próprio a divide, mesmo depois de tê-la estabelecida? No fim,
ele próprio acabará derrotado. Isso não faz sentido algum.
Faz sentido para você? Não, não faz sentido. E não fazia
sentido para os judeus que seguiam Jesus. Mas não precisava fazer sentido.
Aquela comissão de inquérito precisava encontrar uma explicação – e Jesus vai
em seu socorro, dando-lhe a explicação que eles não queriam aceitar.
Jesus estava desfazendo as obras das trevas. Isso era um
fato. Jesus expulsava demônios. Isso todos viam. Jesus curava enfermos que
ninguém mais era capaz de curar. Isto era inquestionável. Jesus ressuscitava
mortos – quem mais poderia fazê-lo? Qual a explicação? Jesus no-la dá no verso
26: ele não é um servo de satanás. Ele não é da parte de satanás, pelo
contrário, ele é maior, mais forte, incomparavelmente mais poderoso que
satanás. Ele não pode sequer ser comparado a satanás. Satanás está em sua casa,
em seu reino (I Jo 5:19 - Sabemos que somos de Deus e que o mundo
inteiro jaz no Maligno) e ele a invade, ele o amarra e toma o que ele
julgava ser seu de direito (Mt 4:9 - …e lhe disse: Tudo
isto te darei se, prostrado, me adorares). Jesus sequer admite a
hipótese de ter que lutar contra o valente como se fossem iguais: ele o vence e
o incapacita. Ele é, em suas próprias palavras, o mais valente, o mais
poderoso.
28 Em verdade vos digo que
tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que
proferirem. 29 Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não
tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno. 30 Isto,
porque diziam: Está possesso de um espírito imundo.
O problema dos escribas era que, em seu preconceito, eles se
tornaram cegos para a luz que estava no mundo (Jo 8:12 - De novo, lhes
falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas
trevas; pelo contrário, terá a luz da vida) e fizeram de tudo para
apagá-la. Mesmo diante do esclarecimento de Jesus às suas observações confusas
eles continuaram incrédulos porque isto não lhes foi dado (Jo
3:27 - Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe
for dada). Eles não eram homens espirituais, não tinham discernimento
espiritual algum (I Co 2:14 - Ora, o homem natural não aceita as coisas
do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque
elas se discernem espiritualmente) e só cogitam daquilo que é de sua
natureza carnal (Rm 8:5 - Porque os que se inclinam para a carne
cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas
do Espírito).
Os escribas cometiam o grave erro de atribuir ao mal o bem
que ele jamais poderia fazer. Poderia enganar, como Simão, o mago, fazia, mas
não podiam fazer um morto reviver. Podiam chorar e até oferecer palavras de
conforto para uma mãe enlutada, mas jamais restituir-lhe o único filho com vida
(Lc 7. 13-15 - Vendo-a, o Senhor se compadeceu dela e lhe
disse: Não chores! 14 Chegando-se, tocou o esquife e, parando os que
o conduziam, disse: Jovem, eu te mando: levanta-te! 15 Sentou-se o
que estivera morto e passou a falar; e Jesus o restituiu a sua mãe). Poderiam
julgar alguém e dizer que era inocente, mas jamais poderiam perdoar pecados (Lc
7:49 - Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este
que até perdoa pecados?).
Tirar a glória que é de Deus (Mt 15:31 - De modo que o
povo se maravilhou ao ver que os mudos falavam, os aleijados recobravam saúde,
os coxos andavam e os cegos viam. Então, glorificavam ao Deus de Israel) para dar
a satanás é uma blasfêmia que não lhes seria perdoada (Is
42:8 - Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a
outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura). Fazer
com que as pessoas que seguiam a Jesus não cressem nele e, assim, fossem
condenadas ao inferno era uma atitude insana e digna de duro julgamento. Com
todo o estudo que tinham estavam se mostrando meras pedras de tropeço (Mc
9:42 - E quem fizer tropeçar a um destes pequeninos crentes, melhor lhe fora
que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no
mar).
Ter um conceito errado de Jesus pode ter consequências
funestas. Blasfemar contra a obra feita pelo Espírito, negar-se a glorificá-lo
pelo que ele faz na obra da redenção de pecadores é buscar a condenação pela
eternidade (Jo 3:36 - Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o
que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele
permanece a ira de Deus).
Embora não possamos chamar de “um dos mandamentos” há uma
injunção bíblica para que todo ser que respira (nós, então) louvemos ao Senhor
(Sl 150:6 - Todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!). Todavia,
esta não é uma ordem isolada, pois ela é derivada do mandamento de somente ao
Senhor adorar, somente a ele dar culto (Mt 4:10 - Então, Jesus lhe
ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus,
adorarás, e só a ele darás culto).
Uma olhada para o céu, para o mar, para os montes, para os
animais, para as plantas, para as flores já deveria ser suficiente para
lembrarmos de louvar ao Senhor que criou todas as coisas, e que sustenta todas
as coisas. Mas o ser humano, teimosamente, glorifica a criatura (a natureza) ao
invés de dar ao Criador a glória devida (Rm 1:25 - …pois eles mudaram
a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do
Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!). Ao
invés de dizerem adoremos ao nosso Criador (Sl 95:6 - Vinde, adoremos e
prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou)
prostram-se nos pedestais da pseudociência chamada evolução.
Uma olhada para o mundo que nos cerca deveria ser suficiente
para ver a enorme distancia entre a obediência à orientação de Deus mediante
sua Palavra, inspirada pelo Espírito da verdade (I Jo 4:6 - Nós somos de
Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não
nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro) e o
mundanismo que, lamentavelmente, tem adentrado inclusive nas Igrejas, mesmo
aquelas que se proclamam as mais bíblicas.
Não é preciso investigar muito para perceber que a filosofia
do mundo já formatou boa parte da consciência dos cristãos (Rm
12:2 - E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação
da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus), que deveriam resistir-lhe oferecendo uma nova
perspectiva de acordo com a vontade do Espírito (II Co 10:5 - …e toda altivez
que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento
à obediência de Cristo) – e antes que você saia pensando que tem que
declarar guerra à filosofia do mundo o primeiro pensamento cativo ao de Cristo
deve ser o seu próprio.
Deixe-me te dar um quadro muito claro da maneira que você deve
olhar para Jesus, aliás, a única maneira que realmente é correta: Jesus é o
filho unigênito de Deus (Jo 3:18 - Quem nele crê não é julgado; o que não crê
já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus). Jesus é
o salvador de pecadores que estavam mortos em seus delitos e pecados (Ef 2:1
- Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados). Jesus é
o Senhor, por direito de criação (Jo 1:3 - Todas as coisas
foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez) e de
redenção (Jr 31:11 - Porque o SENHOR redimiu a Jacó e o livrou da mão
do que era mais forte do que ele).
Sem a ação iluminadora do Espírito você nunca compreenderá
isto – e continuará irremediavelmente perdido. Com o coração endurecido, cheio
de preconceitos religiosos, filosóficos, sociais ou de quaisquer outros você
não será em nada diferente dos preconceituosos religiosos que foram até ele
para acusa-lo de ser nada menos que um emissário de satanás.
Creio que ele te trouxe aqui com um propósito. É possível que
ele tenha te chamado aqui, cristão, para que você repense sua filosofia, suas
aspirações, para que você coloque sua visão de mundo aos pés de Cristo e lhe
peça para ter, finalmente, a mente de Cristo (I Co 2:16 - Pois quem conheceu
a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo).
É possível que ele lhe tenha trazido aqui para que você ouça
sua voz, e você deixe a opressão da filosofia e do mundanismo para colocar-se
sob o suave senhorio do salvador (Mt 11:30 - Porque o meu jugo
é suave, e o meu fardo é leve).
O que você não pode é sair daqui sem ter uma visão
correta sobre quem é Jesus – e à partir desta visão, se posicionar a respeito
dele (Lc 11:23 - Quem não é por mim é contra mim; e
quem comigo não ajunta espalha).