sexta-feira, 17 de junho de 2016

O QUE HÁ DE ERRADO COM A IGREJA [IV]


Não quero que você esqueça o que há de errado com a Igreja quando ela:
i) sente prazer em criticar pecados e falhas dos irmãos e se tornam insensíveis aos seus próprios pecados;
ii) olha com maior simpatia e tolerância para o mundo e não mostra amor para com os da família da fé;
iii) tem cada vez menos laços fraternos e cada vez mais amizades mundanas.

Mas isso não é tudo. Há algo de errado quando os crentes se cansam de tanto trabalhar a ponto de se sentirem exauridos e fracos para se envolverem na obra de Deus [adoração, evangelização, discipulado e comunhão).

É óbvio que concordo com o ensino das Escrituras que “quem não trabalha não deve comer”. Antes de continuar, é preciso deixar claro que o texto está se referindo a pessoas que tem condições de realizar algum trabalho e assim conseguir o seu próprio sustento. Ninguém tem obrigação de sustentar vagabundo, especialmente vagabundos profissionais. Estes realmente não devem ser sustentados pelo suor de quem trabalha - e a Igreja que os sustenta está errada.

Mas a Igreja tem errado quando os crentes correm de um lado para o outro, desesperados por obterem tesouros deste mundo (Mt 6.19) num flagrante ato de descaso para com a Palavra do Senhor. Trabalhar honesta e duramente é justo, e é um dever de todo homem, e não temos a menor dúvida de que o Senhor certamente abençoa aquele que trabalha (Sl 128.2). Não há nada de errado em trabalhar e enriquecer.

O que o Senhor condena são as riquezas mal adquiridas e o mau uso das riquezas, confiando nelas a ponto de esquecer-se de dar ao Senhor a devida glória.

Há algo de errado na Igreja quando o trabalho se torna apenas um meio de adquirir bens e não uma maneira de glorificar ao Senhor, como cumprimento do mandato cultural e obtenção do sustento da família. Antes que alguém pergunte “quando é que temos o suficiente para nossa satisfação” a resposta é nunca, por isso a oração é por suprimento das necessidades (Pv 30.8-9), de acordo com o ensino do Senhor Jesus (Mt 6.11). Se o trabalho é um meio de acumular tesouros (e alguém pode ser rico, abençoado por Deus e uma bênção no reino de Deus).

Há algo de errado na Igreja quando o trabalho acaba enfraquecendo ou acabando com a comunhão entre os irmãos, pois a frenética busca por mais, mais e mais (e esta busca por mais gera mais compromissos, que geram mais frenesi) faz com que as reuniões de intercessão e edificação se tornem um fardo, sendo logo substituídas na agenda por mais trabalho, cursos e compromissos com um futuro que é “aqui e agora”. É impossível ir à Escola da Bíblia porque precisa descansar, e não dá para ficar pro chazinho após o culto porque precisa acordar cedo no dia seguinte. Coisas como devoção e misericórdia acabam sendo desprezadas como “mais um trabalho” a ser feito.

Há algo de errado na Igreja quando o muito trabalhar torna quase impossível a dedicação ao Senhor e à sua obra, e a frequência aos cultos se torna esporádica, os encontros e congressos promovidos são colocados na categoria “se der” (e em 101% das vezes não dá - esse 1% a mais fica pela falta de vontade mesmo) e a participação ativa nos trabalhos, como servo, dá lugar à religião “fast food market”... Tem que ser rápido, e qualquer coisa que agrade meu paladar pouco exigente serve.

Há algo de erado na Igreja quando a correria do dia-a-dia sufoca a alegre recepção da Palavra do Senhor que convida os cansados e sobrecarregados a irem a ele e encontrarem descanso. Confiar? Descansar? Confiar num Deus que não se vê e num Senhor que não se pode assistir na TV? É... há algo de muito errado mesmo!

Psiu! Atenção! Não estou falando de instituição religiosa, mas da Igreja do Senhor, isto é, dos que creem (I Co 15.9)!

terça-feira, 14 de junho de 2016

O QUE HÁ DE ERRADO COM A IGREJA?


Para não perdermos a linha de pensamento: há algo de errado com a Igreja quando crentes, inadvertida ou pecaminosamente se deliciam mais em criticar os pecados e falhas dos irmãos, numa atitude cega e egoísta e insensível aos próprios pecados ao mesmo tempo que não estende a mão ao aflito (Jó 6.14). Também há algo errado com a Igreja quando ela olha com maior simpatia e tolerância para o mundo e menos amor para com a própria Igreja.

Mas algo também está muito errado com a Igreja quando o numero dos amigos íntimos começa a se multiplicar no mundo e a fraternidade cristã vai sendo abandonada até se tornar apenas uma pálida lembrança ou uma ação esporádica.

É muito conhecido o adágio popular “dize-me com quem andas, e dir-te-ei quem tu és”. A única pessoa isenta, que pode se relacionar com pecadores sem correr qualquer risco de se deixar influenciar por eles foi o Senhor Jesus. Não é sem propósito que a Palavra de Deus considera bem aventurado o homem que não anda segundo o modo de pensar dos ímpios, no faz seu caminho segundo o modelo dos pecadores, nem se assenta com aqueles que escarnecem de Deus e do povo de Deus (Sl 1.1).

Algo está errado quando uma saidinha com os amigos, seja para um sorvete, uma pizza, um rolêzinho ou futebol é mais importante que congregar, que unir-se aos irmãos em Cristo para adorar ao salvador e você ainda justifica que “com os amigos é mais divertido” - é claro que é mais divertido, porque ali há satisfação da concupiscência da carne, há vazão à rebelião do coração contra Deus. Em suma, ali há a prática do pecado que é sempre tão agradável ao coração mas que tem consequências absolutamente tenebrosas (Pv 14.12).

Algo está errado quando você se pergunta: quem são meus amigos mais íntimos, quem é a pessoa pra quem eu ligo quando não tenho nada a fazer e só quero “gastar” e você é capaz de pensar em uma dezena de pessoas e assuntos mas nenhuma destas pessoas é sua irmã em Cristo e nenhum destes assuntos é santo - e algo está errado com a Igreja quando ela não oferece aos seus a genuína alegria da comunhão.

Por favor, não seja tolo de pensar: é mesmo, algo está errado com a Igreja presbiteriana. E quem disse que estou falando de Igreja presbiteriana, batista, assembleiana, vialacteana ou qualquer outra denominação? Estou falando da Igreja de Cristo, de homens e mulheres, jovens e velhos, que professam crer no Senhor Jesus mas estão se tornando como brasas retiradas do braseiro, esfriando até que nada mais reste senão um pedaço de carvão - que para nada mais serve que ocupar espaço e espalhar sujeira, a menos que retorne à comunhão, que se incendeie no amor de Cristo, no fogo do Espírito e na comunhão dos santos. Estou falando de você, de sua vida, de seu coração. O que há de errado mesmo?

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O QUE DEVEMOS FAZER QUANDO SOMOS ALCANÇADOS PELA PALAVRA DE DEUS

Duas perguntas: o que nós estamos fazendo aqui neste exato momento?
Nós leremos um trecho da bíblia, mais precisamente uma parte do evangelho de Lucas. Lucas não foi um dos discípulos originais, não era apóstolo, não foi comissionado pelo Senhor como Mateus e João foram. Mas Lucas escreveu um evangelho, um relato pormenorizado sobre os fatos conhecidos a respeito de Jesus, o que ele fez e disse. Ele mesmo afirma que só escreveu após uma investigação muito cuidadosa, ouvindo testemunhas oculares (Lc 1.1-4 - Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, 2 conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra, 3 igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, 4 para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído). É provável que ele tenha ouvido outras coisas que não escreveu porque não julgou necessário registrar. Você concorda com isto? Até um incrédulo, mesmo um liberal, concorda. O problema é considerar o evangelho de Lucas, como os demais, apenas um relato de relatos sobre eventos.
Quero chamar a sua atenção para isto: não estamos lidando com um texto como outro qualquer. Estamos prestes a ler é mais que isto. É a Palavra inspirada de Deus. E, sendo a Palavra de Deus, temos a obrigação de ouvir com atenção. Nada na terra é mais importante do que ouvir a Palavra de Deus. E isto nos leva à segunda pergunta: como você tem ouvido a Palavra de Deus?
Jesus afirma que, no final, existe aqueles que rejeitam a Palavra de Deus, isto é, aqueles que escutam mas não ouvem, isto é, embora ouçam com os ouvidos e entendam o sentido dela, a rejeitam – e aqueles que a ouvem e a recebem são exemplificados na parábola do semeador (Lc 8.5-17): alguns logo a tem arrebatada de seus corações pelo diabo que não quer que sejam salvos; outros são sem profundidade, sem raízes, sem firmeza, ouvem mas não dão frutos permanentes; outros ainda são sufocados pelos anseios, riquezas e as demais coisas do mundo que julgam mais importantes que dar frutos para Deus e, finalmente, aqueles que recebem a Palavra a retém e dão frutos que permanecem. A parábola do semeador fala de como os que ainda não são crentes recebem a Palavra de Deus.
Mas Jesus deixou de fora desta parábola (e vai tratar disso mais à frente) os religiosos (você pode ler qualquer tipo de religioso cristão, sejam eles protestantes, evangélicos, reformados, pentecostais, arminianos, puritanos, congregacionais, comunitários…). Tanto faz o nome que você dê a eles, qual o rótulo, pedigree ou grife – você vai encontrá-los em qualquer Igreja que procurar. E isto nos leva a mais uma indagação: como os religiosos recebiam a Palavra de Deus? Como os membros da Igreja recebem a Palavra de Deus? Ou, melhor ainda, como você deve receber a Palavra de Deus? É especialmente esta última pergunta que quero que tenhamos respondida nesta ocasião.
11 De caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio de Samaria e da Galiléia.
12 Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, 13 que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós!
14 Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados.
15 Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, 16 e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano.
17 Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove?
18 Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?
19 E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou.

INTRODUÇÃO

Os evangelhos, em sua multiforme apresentação de Jesus, mostram detalhes diferentes de uma mesma obra: a ação do Filho de Deus vindo ao mundo para salvar pecadores e as diferentes reações dos pecadores, resumidos magistralmente em duas frases do apóstolo João: a) o propósito da vinda de Jesus: ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam, mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus (Jo 1.11-12) e b) o objetivo do registro de suas ações e das reações tanto dos que o receberam quanto dos que o rejeitaram: para que os que cressem nele como o Filho de Deus obtivessem a vida eterna (Jo 20.31). Lucas também afirma claramente porque escreveu – e seu propósito é o mesmo que temos hoje ao buscar instrução neste texto: para que tenhamos plena certeza daquilo em que fomos instruído (Lc 1.4).
O texto que vamos analisar (Lc 17.11-19) está situado dentro de uma perícope maior, iniciada em Lc 15.1, que trata justamente do modo como Jesus, o verbo encarnado, foi recebido pelo que era seu, mas muitos dos quais tinham atitudes inadequadas quando ouviam a sua Palavra.
De acordo com a tônica do seu ministério (buscar e salvar o perdido) Jesus estava em uma região onde eles eram mais que abundantes – passava pelo meio da Samaria e da Galiléia, duas regiões alvo de profundo desprezo pelos fariseus. Este tipo de atitude de Jesus (misturar-se com os perdidos) provocava a ira dos religiosos – como quando ele comeu com pecadores (15.1-2), justamente aqueles que deveriam se alegrar quando os pecadores se arrependiam. Que queriam eles? Queriam que Jesus lhes desse atenção por serem “justos” e que os demais judeus lhes honrassem por suas “obras de justiça”. Aqueles religiosos estavam errados em suas atitudes. Eles deveriam alegrar-se com o resgate dos perdidos que passavam a se interessar pelo reino, pois a maioria não tinha interesse algum pela religião, desinteresse, aliás, causado pelos próprios religiosos que não se dispunham a ensiná-los adequadamente (Mt 7.29) e ainda os discriminava (Lc 18.11).
Em todo o texto transparece a expectativa e o ensino de Jesus para que todos se alegrassem com o resgate dos perdidos – os religiosos deveriam se alegrar com o fato de publicanos e pecadores se interessarem pelo reino, uma vez que, em sua grande maioria, tinham pouco ou nenhum interesse pela religião.

ONDE JESUS ESTAVA: DE CAFARNAUM A JERUSALÉM, ONDE OS PERDIDOS ESTAVAM

11 De caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio de Samaria e da Galiléia.
Mesmo para quem é pouco afeito aos relatos bíblicos consegue perceber numa leitura bem superficial que os judeus tinham grande animosidade para com os gentios, com os quais não possuíam laços de consanguinidade, com os samaritanos, que julgavam um povo misturado e indigno, numa rixa iniciada desde os dias de Neemias, e, em terceiro lugar, com os galileus, porque estes viviam nas fronteiras do norte e se relacionavam naturalmente com outros povos e eram vistos como, no mínimo, judeus relaxados ou menos puros – algo muito parecido com a discriminação que às vezes há entre estados e regiões do Brasil.
O judeu comum não se dava com samaritanos (Jo 4:9 - Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)?) e não esperava nada de bom da Galiléia (Jo 1:46 - Perguntou-lhe Natanael: De Nazaré pode sair alguma coisa boa? Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê).
Num evidente contraste com os “justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15.7 - Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos (aos seus próprios olhos) que não necessitam de arrependimento) Jesus vai em busca dos que são considerados os mais perdidos, dando, ele próprio, expressão ao mandato que depois passaria aos seus discípulos (Jo 20:21 - Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio) comissionando os para levarem a sua mensagem até os confins da terra (At 1:8 - …mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra), plano que Deus já revelara há vários séculos e não era novidade nenhuma – embora fosse uma verdade esquecida (Sl 22:27 - Lembrar-se-ão do SENHOR e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações).
Como o pastor que procura as ovelhas perdidas deixando as demais protegidas no aprisco, como a mulher que procura a dracma desaparecida sem se esquecer de onde estão as outras nove ou o pai que vai ao encontro do filho rebelde mas que, concomitantemente, não despreza e busca restaurar o que permaneceu em casa quando este fica indignado Jesus vai onde estão as outras ovelhas (Jo 10:16 - Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor).
Estas ovelhas perdidas não eram outros senão nós mesmos. Ele buscou suas ovelhas em Jerusalém. Ele buscou suas ovelhas na Judéia. Ele foi até a Samaria buscar suas ovelhas e atingiu até nós, aqui, nos confins da terra. Os fariseus não apenas não admitiam que outras ovelhas se juntassem ao antigo aprisco como se indignaram com isso. Sua visão limitada do reino de Deus levava-os a considerar que mais gente significava menor herança – e eles preferiam que a multidão continuasse perdida para que eles tivessem maior herança.

O QUE JESUS BUSCAVA: PECADORES IRRECUPERÁVEIS

12 Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos 13 que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós!
Jesus já vinha tratando de um mesmo problema, isto é, o desprezo pelos perdidos e pela animosidade contra ele porque ele agia para resgatá-los. As parábolas contadas (a busca de uma ovelha, de uma dracma e até mesmo a aceitação de um filho rebelde) explicitavam o interesse de Deus pelos perdidos (Lc 19:10 - Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido) implicava em uma busca que só se encerrava com a salvação deles. Não bastava encontrar, era necessário resgatar, trazer de volta à vida.
O que antes era uma dura repreensão moral e teológica logo vai se evidenciar num nível não mais teórico como as parábolas, mas se aprofunda num nível existencial. Seu encontro com os leprosos mostra seu interesse por pessoas reais, pessoas que eram párias sociais, privados do convívio de seus familiares e alguns rejeitados por eles. Não tinham outro convívio social que não com outros leprosos. Assim como os publicanos e pecadores não eram benquistos nas sinagogas e no templo, os leprosos sequer nas cidades eram aceitos – rejeitados não apenas por publicanos, mas por toda as pessoas em virtude de sua enfermidade contagiosa e mortal.
O pior é que, na verdade, eles não queriam que ninguém fosse restaurado, que ninguém mais entrasse no reino e suas atitudes se tornavam impeditivas para que outros também almejassem reino (Mt 23:13 - Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando!). Eles eram capazes de rodear o mar para fazer um prosélito (Mt 23:15 - Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!) mas eram incapazes de olhar para os pecadores que estavam morrendo ao seu lado – alguns provavelmente afastados de Deus por sua dureza de coração.
A busca dos fariseus se dava por prosélitos, por tornar as pessoas seus próprios discípulos, seus seguidores – por isso duas vezes mais filhos do inferno do que eles mesmos porque eles não apenas escravizavam os neófitos à lei mas também aos seus costumes, aos seus amores e dissabores, tornavam-nos adeptos de suas disputas e preconceitos.
Todavia não é justo condenarmos os fariseus tão precipitadamente quando os cristãos, com maior luz, com maior conhecimento da Palavra de Deus e sendo habitação do Espírito agem do mesmo modo – seu desinteresse pelas coisas eternas, seu estilo de vida mundano só servem para afastar. Nem sal, nem luz – como é triste vermos cristãos que não vivem de maneira que os ímpios venham a glorificar a Deus ao verem seu procedimento (I Pe 1:15 - …pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento (…) I Pe 2:12 - …mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação).

O QUE JESUS FAZ: RESTAURA PECADORES

14 Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados.
Todos os dez leprosos tinham o mesmo problema – e a solução de seu problema foi o mesmo: a ordem de Jesus, à qual deram ouvidos. A mesma Palavra, o mesmo poder, os mesmos efeitos? Normalmente nenhum deles se apresentaria na cidade, muito menos em um templo. Aqueles homens, como as multidões que andavam cercando Jesus, ouviram a sua palavra – mas, diferente daqueles, atenderam de imediato ao que ele lhes dissera.
Acredito que a maioria dos milagres sempre tem a função de evidenciar a dureza dos corações dos incrédulos. Jesus afirmou que uma geração má e adúltera vivia pedindo sinais (Mt 12:39 - Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas). A mesma palavra de Jesus teve os mesmos efeitos – curou os dez leprosos. A mesma Palavra lhes deu uma ordem – cumprir as exigências da lei, mostrando-se ao sacerdote para que este os examinasse – um exame que poderia durar até 21 dias – finalmente os declarasse limpos e pudessem retornar ao convívio de suas famílias.
Dez leprosos curados, dez leprosos que atendem às Palavra de Jesus, dez leprosos para quem as exigências da religião não eram novidade (mesmo o samaritano tinha sua religião baseada apenas no pentateuco e seu templo em Samaria com seu próprio sacerdócio) – eles sabiam que só poderiam voltar pra casa depois de legalmente limpos. Estavam fisicamente limpos, mas ainda não legalmente limpos. Da mesma maneira que os fariseus não admitiam que Jesus se aproximasse dos que eles consideravam cerimonialmente indignos e, portanto, espiritualmente impuros, a maioria dos curados se preocupou apenas com os aspectos legais e cerimoniais de sua cura.
Acredito que a graça de Deus continue sendo oferecida em Cristo Jesus, sua Palavra continua sendo proclamada, suas ordens são tão claras quanto eram naquela ocasião entre a Galiléia e a Samaria… acredito que muitas pessoas ainda estão experimentando bênçãos distribuídas abundantemente pelas mãos do Senhor (Tg 1:17 - Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança). Sim, ainda há quem se aproxime do Senhor desejoso de ser curado, abençoado. Pessoas que querem alguma bênção: querem bênção na família, no emprego, saúde, livramento, proteção. Estas coisas são boas e necessárias – e sim, o Senhor é poderoso para dar isto e muito mais. Jesus faz mais que isso – ele não apenas cura enfermos mas perdoa pecados (Lc 5:24 - Mas, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados - disse ao paralítico: Eu te ordeno: Levanta-te, toma o teu leito e vai para casa).
Você já recebeu, com certeza, alguma bênção de Deus. Suas orações foram atendidas. Suas súplicas chegaram aos ouvidos de Deus e… é, e agora? O que fazer?

COMO RESPONDER A AÇÃO DE JESUS: COM GRATIDÃO

15 Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, 16 e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano. 17 Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? 18 Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? 19 E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou.
Jesus já havia dito que era necessário que houvesse alegria quando um perdido fosse restaurado. Neste episódio dez perdidos são restaurados – e nove deles, à semelhança dos fariseus, se preocupam apenas com o cumprimento da lei, indo mostrar-se ao sacerdote. Aparentemente o décimo desobedeceu a Jesus pois não foi até o sacerdote em um templo qualquer (atente para o fato de que ele foi até Jesus, o sumo sacerdote) – e faz tudo o que se esperava que o povo de Deus (o que era seu) fizesse: que glorificasse a Deus por ter sido resgatado mediante a fé, demonstrando grande gratidão pelo grande perdão obtido (Lc 7.47).
Lutero afirmava que a única coisa que diferencia um cristão e o faz merecedor deste nome é o fato de que ele ouve a Palavra de Deus – isto quer dizer que o cristão não é apenas o que escuta, mas o que ouve a Palavra com fé, a recebe e a guarda em seu coração e faz dela a fonte de orientação para suas ações posteriores, dando, em tudo, graças a Deus por intermédio de Cristo Jesus.
O samaritano, agora um ex-leproso, vai além do cumprimento da lei – aliás, poderia ir ao templo a qualquer hora, mas só depois de glorificar a Deus adorando a Jesus (v.16) por uma bênção recebida que não poderia alcançar nem mesmo cumprindo a lei mas que obteve pela graça atendendo ao mandato de Jesus antes mesmo de ter sido curado da lepra (aparentemente a cura se deu quando ele já estava indo).
O propósito do evangelho permanece o mesmo – os crentes ainda devem se alegrar porque Deus continua resgatando perdidos, párias, proscritos, mortos... ainda chama os aleijados, os cegos, os pobres para dentro do seu reino. Os crentes ainda devem se alegrar por ver que outros também estão ouvindo as palavras de Jesus e sendo curados. Os crente devem se alegrar e dar glória a Deus por suas ações e por suas palavras. O propósito das ações e palavras de Cristo continua sendo o mesmo: que, assim como ele glorificou o pai, seus discípulos também o glorifiquem numa obediência que se expressa alegremente.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

RAZÕES ÍMPIAS PARA NÃO HONRAR A DEUS

É provável que você não desejasse estar aqui hoje. Talvez você quisesse ver outra coisa. Talvez preferisse ouvir outra coisa. Talvez sua vontade fosse estar fazendo outra coisa. Talvez seu coração desejasse ouvir algum discurso mais rápido – ou uma pessoa mais eloquente, mais agradável. Mas me permita lembrar o que a bíblia diz sobre o nosso, o meu e o seu, coração: ele é enganoso. Ele quer muito o que geralmente não é sua mais real e profunda necessidade.
Mas há uma coisa que eu preciso que você saiba: Deus não quer que você saia daqui sem antes falar ao seu coração (Is 55:11). Deus quer falar com você para transformar sua mente, sua vontade, suas emoções, enfim, Deus quer falar com você para tratar com seu coração. E ele designou este momento, este pregador, para instruir seu coração pela verdade da Escritura, para repreender sua consciência pela santidade da Escritura, para nutrir seu Espírito pela admoestação da Escritura, para restaurar sua alma pelo poder restaurador da verdade da Escritura.
Nosso tema desta noite trata das razões do coração, razões ocultas que muitos têm para não honrar a Deus. E quero falar daqueles que não temem serem amaldiçoados por Deus.
Porque as pessoas não temem a Deus? Porque não acreditam em seu caráter – porque não acreditam no que ele fala de si próprio ou porque não conhecem nada sobre seu caráter porque não conhecem ou não querem conhecer nada de sua revelação. A acusação feita por Deus aos sacerdotes daqueles dias pelo profeta Oséias (Os 4:6) pode ser dirigida aos novos sacerdotes da era cristã – os discípulos de Jesus do sec. XXI (I Pe 2:9).
Uma das mais cruéis mentiras ditas a respeito de Deus é que ele é um Deus tão amoroso que não lançará ninguém no inferno. Segundo os mentirosos que se autoproclamam mensageiros de Deus ele não condenaria ninguém, nenhuma de suas criaturas, e, no fim, até o próprio satanás poderia ser salvo. Lamentavelmente muitos tem falado estas coisas e muitos, muitos mesmo, tem acreditado nestas mentiras que são repetidas, repetidas, e repetidas até que para os ouvintes isso pareça verdade. 
É uma mentira comum nos meios não cristãos e muito constante nos meios pseudo cristãos que, de tanto descaso e descrença na justiça de Deus consideram apenas a provação como o máximo de punição que Deus poderia dar a alguém, numa espécie de purgatório na terra – e consequentemente a doutrina da cruz acaba esquecida, a doutrina da redenção deixa de ser anunciada e os pecadores não consideram importante arrependerem-se de seus pecados, se converterem a Deus e terem, deste modo, seus pecados perdoados (At 3:19). Mas isto não é novo, como já dizia o sábio Salomão (Ec 1:9), e já era absurdamente comum nos dias de Malaquias:
7 Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o SENHOR dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos de tornar?
8 Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.
9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.
Ml 3.7-9

UM POVO ENDURECIDO E NÉSCIO QUE NÃO APRENDE COM SUA PRÓPRIA HISTÓRIA

7 Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o SENHOR dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos de tornar?
É bem conhecido o adágio que diz que “um povo que não aprende com a sua história tende a repetir os mesmos erros”. Este ditado é particularmente aplicável à história de Israel – murmuradores e desobedientes na saída do Egito, desobedientes e apóstatas durante o período dos juízes, afundando em idolatria e paganismo durante os dias dos reis. Avisados por Moisés, reiteradamente avisados pelos juízes, insistentemente advertidos pelos profetas (II Rs 17:13), especialmente por Isaías (Is 1.18-20) eles não aprenderam nem mesmo tendo passado pelo duro período de exílio babilônico voltaram à sua terra por causa da fidelidade de Deus e não da fidelidade de Deus e apesar de sua própria infidelidade (porque eu o Senhor não mudo). A maneira como eles haviam sido identificados por Deus, como um povo de dura cerviz, os descrevia perfeitamente (II Rs 17:14).
Geralmente somos muito rápidos para condenar um povo assim. Também somos rápidos para condenar quem não aprende com os próprios erros, como, por exemplo, o jovem que é preso roubando e, quando sai da prisão, comente novos crimes e é preso novamente. Condenamos também a jovem que, cedendo às inclinações pecaminosas da carne, engravida sem querer de um jovem qualquer, pouco tempo depois engravida novamente… ou de um usuário de drogas ou alcoólatra que passa por tratamentos de desintoxicação e logo tem uma recaída. E estamos certos – eles estão errados e deveriam aprender com seus erros.
Nós sempre dizemos – “eles não querem aprender”. Mas não era assim com Israel? Deus lhes diz: voltem, voltem! Corrijam seus próprios erros. Consertem seus maus caminhos, mudem seus maus hábitos, façam a coisa certa (Is 1.16-17). O problema de Israel não era que eles não soubessem o que fazer – eles não queriam fazer o que sabiam ser seu dever (Tg 4:17). Israel era um povo difícil.
Mas… mas… sempre tem um “mas”… parece que as coisas não mudaram muito – o povo que se chama pelo nome de Deus continua sendo um povo de dura cerviz. Não apenas o povo de antes de Cristo, mas também foi de dura cerviz nos dias de Cristo e continuaram a ser depois da descida do Espírito Santo (At 7:51).
Assim como Israel não aprendia com seu erros, o novo Israel também não tem aprendido. Havia descompromissados nos dias passados (Jr 48:10) e certamente há iguais nos nossos dias. Havia desobedientes nos dias de Malaquias – como os há atualmente. Certamente havia aqueles que não aprendiam com seus erros e tampouco com os erros de seus pais, como hoje existe os que não aprendem com os erros do antigo Israel e nem com os seus próprios erros – sim, ainda temos, no meio do povo de Deus, um povo endurecido e néscio que não aprende com sua própria história – e talvez pior que Israel, porque Israel ao menos conhecia a sua história.

UM POVO ENDURECIDO E CEGO QUE NÃO ACEITA SER ADVERTIDO DE SEUS ERROS

8 Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.
“É o meu trabalho”. Com esta frase um jovem, muito jovem, definiu a sua opção pelo mundo do crime. “É um trabalho como qualquer outro”, muitos defendem, por exemplo, a prostituição. Lamentavelmente estas frases não evidenciam uma resposta hipócrita ou zombeteira – elas são expressão de uma visão de mundo que acredita ser natural a transgressão dos mandamentos do Senhor, pois, em alguns casos, já deixou de ser transgressão de leis civis porque estas são uma construção social e já se tornaram normativas (Os 4:2) a ponto de sobre elas até impostos serem cobrados (Ml 2:17).
Ageu, contemporâneo de Malaquias, faz uma contundente descrição do descaso com que Israel tratava as coisas de Deus (Ag 1:4) e uma das expressões desde descaso era a infidelidade ao mandamento de contribuírem para a manutenção do templo (Dt 14:22). Sua infidelidade de contribuição era apenas uma inescapável consequência de sua infidelidade de coração (Mt 15:8). Que outra explicação há para investir o (não tão) excedente em painéis (que era a mais moderna moda, assimilada da babilônia onde haviam passado algumas décadas como escravos) e não contribuírem para a casa do Senhor?
Tudo não passava de uma questão de prioridade – e honrar a Deus não era sua prioridade porque não acreditavam na fidelidade, não criam na justiça nem na bondade de Deus. Infelizmente podemos facilmente constatar que muitos cristão são piores que os fariseus – aqueles eram criteriosos mantenedores da sua religião, ainda que sem atentarem para a reta justiça, destituídos de misericórdia e incrédulos, enquanto estes preferem serem considerados roubadores e desobedientes (Mt 23:23). Reflita comigo: um roubador pode ser considerado uma pessoa justa, uma pessoa bem aventurada (Mt 5:6)? Um roubador pode ser considerado uma pessoa que ama a misericórdia e confia em Deus para sua provisão (Ml 3:10).
O chamado do Senhor é para que Israel “torne”, isto é, restitua o que foi roubado. Diferente de Zaqueu, que deu metade do que possuía aos pobres e ainda prometeu devolver quatro vezes mais se, porventura, tivesse defraudado alguém, Israel faz pouco caso e zomba do chamado de Deus para devolver o que havia retido injustamente.
É, não nos devemos deixar iludir com uma consciência cauterizada: um roubador é e será sempre um transgressor, um rebelde desobediente, exatamente igual aos fariseus, porque, assim como Deus não se agradava de suas ofertas porque não se agradava deles, também não se agrada dos roubadores porque não se agrada deles (Os 7:1) devido a sua desobediência e vã cobiça (Mt 6:19).
Porque muitos membros da Igreja se negam a honrar a Deus com as primícias e os dízimos de suas rendas? O pior problema é que, como o antigo Israel, o novo Israel não quer que seus pecados sejam denunciados, que suas más práticas sejam expostas diante de si mesmos – mas a boa notícia que o convite feito ao antigo Israel permanece vigente. O Senhor ainda diz: “vinde, pois, e arrazoemos”. É como se Deus dissesse: “Venha até mim, e me diga o que te leva a ficar com o que me pertence. Me exponha suas razões”. E talvez você diga que ganha pouco, que não ganha o suficiente, que tem que realizar determinados projetos. Talvez você ame mais os seus cosméticos… o seu carro… sua casa… sua aparência com seus calçados e roupas… seus gatos… seu cachorro… seu celular e seus joguinhos… e afinal Deus vai desnudar seu coração e você vai ver que a razão é que você não o tem como prioridade, que você não confia que ele seja capaz de te manter se você devolver apenas a décima parte e ficar com a maioria dos seus ganhos. No fundo, no fundo, você não o ama o suficiente e tampouco ama a sua obra.

UM POVO ENDURECIDO E REBELDE QUE NÃO TEME TER SEUS PECADOS PUNIDOS

9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.
Uma regra básica de cuidado de filhos é não prometa o que você não pode ou não pretende cumprir. Provavelmente eu e você falhemos nisso mais do que gostaríamos – especialmente quando prometemos coisas boas. Também falhamos quando prometemos disciplinar e não o fazemos. Israel achava que Deus não o julgaria – mesmo já tendo feito isso inúmeras vezes ao longo da história e curiosamente achava que suas restaurações eram tudo menos indicativos do julgamento de Deus sobre suas más ações (Is 26:10).
Israel cometia a tolice de pensar que suas más obras poderiam passar desapercebidas aos olhos do Senhor (Sl 94:7) esquecendo-se que o Senhor está absolutamente atento ao que fazem os filhos dos homens (Sl 113.5-6) e que retribuirá a cada um segundo as suas obras (Ap 22:12) pois conhece cada detalhe do que fazem suas criaturas (Jó 31:4).
O problema é que Israel não queria contribuir com seus dízimos e suas ofertas para sua própria edificação espiritual – ou que outros o fizessem ou, pior ainda, que ninguém o fizesse porque não desejava ser edificado. Israel não queria que ninguém lhe dissesse sobre o Deus vivo e verdadeiro porque isto significava que este Deus vivo e verdadeiro exigiria plena obediência, submissão da vontade entrega total de si mesmo (Mt 22:37). No fundo eles não queriam investir numa religião que lhes denunciava seus pecados, que lhes exortasse ao arrependimento, à conversão e a uma vida digna diante do Senhor seu Deus (Mq 6:8).
Só que, ao fazer isso, eles estavam desobedecendo a Deus e à aliança que fora estabelecida por Deus com eles. E é curioso que o estatuto do dízimo é colocado numa sequencia imediata do abandono da idolatria e do autogerenciamento (vd. Dt 12.1-9), mas, antes disso, Deus lembra que a obediência seria recompensada com muitas bênçãos, todavia, a desobediência seria recompensada com maldições (Dt 11:26-28).
Deus não deixou de ver. Deus não é menos justo nem menos poderoso. Ele ainda abençoa e ainda disciplina. Esta é a mensagem dos profetas Ageu, Oséias e Malaquias. Esta é a mensagem da Palavra de Deus para o povo de Deus, em todas as épocas e em todos os lugares. Por acaso o seu Deus só lhe serve para ser fonte de bênçãos? Então, não é o Deus das Escrituras, assim como um Deus somente exigente e punitivo também não é o Deus revelado nas sagradas páginas. Mas não se deixe enganar – o braço do Senhor ainda pode te alcançar mesmo nos confins da terra, aqui em Xinguara (Sl 139.7-9), tanto para derramar bênçãos sem medida como para disciplinar e corrigir aqueles a quem ama (Ap 3:19).
O que você precisa entender neste momento é que Deus não mudou – ele é o mesmo sempre (Ml 3:6). O antigo Israel acreditava que Deus não os puniria e colheu frutos amargos. O novo Israel que provavelmente crê na mesma mentira satânica repetida inúmeras vezes ainda tem tempo de arrependimento, ainda pode atentar para a voz de Deus que afirma categoricamente que não deixará os pecados impunes (Sl 94:10). Não faça parte de um povo que, voluntariamente, se faz réu e se afasta do caminho da bênção para se colocar sob a maldição do Todo Poderoso.

O NOVO ISRAEL AINDA PODE CORRIGIR SEUS CAMINHOS

O que para o antigo Israel é apenas história para o novo Israel é oportunidade de arrependimento e mudança. O que foi uma história de constantes disciplinas por causa da maldição divina sobre um povo rebelde é, para nós, exemplos a serem evitados. A história de Israel é a história do povo de Deus – é a história do coração do homem. É a minha história, é a sua história. É a história da Igreja de Deus, é a história da Igreja Presbiteriana. É, com certeza, a história da Igreja Presbiteriana em Xinguara.
É muito comum acusar Israel de dureza, necedade, cegueira e rebeldia. Quão habilidosos são os crentes do presente em ver os argueiros nos olhos daqueles que já passaram. Somos até capazes de ver como erramos em escolhas feitas no passado – mas ainda estamos engatinhando na arte de reconhecer os erros do presente. Israel errou. Errou por ser um povo endurecido e néscio, que não aprendeu com sua própria história – afastando-se constantemente de Deus e sofrendo por isso (Os 4:6). Israel errou, errou por se deixar tornar um povo endurecido e cego, que não aceitou ser advertido por seus erros, nem com amor, nem com juízo (Is 1:3). Israel errou, errou por permitir que seu coração se endurecesse e se rebelasse contra o Senhor sem temer que seus pecados fossem punidos, mesmo sabendo que para Deus a rebelião e a obstinação mereciam o mesmo julgamento que a feitiçaria e a idolatria e traz como consequência a rejeição por parte de Deus (I Sm 15:23).
Mais uma vez, Deus não mudou. E ele ainda te convida a ir a ele e corrigir seus maus caminhos. A primeira coisa que precisa ser corrigida é a dureza de coração. Você precisa olhar para você mesmo e ver o quão pecaminoso você é – e se arrepender de seus pecados. Arrependimento é mudança de mentalidade, é uma nova percepção a respeito do que se é e do que se faz. É perceber que em você não habita bem intrínseco algum (Rm 7:18) e que sem a graça de Deus só lhe resta, realmente, o desespero (Rm 7:24). A segunda coisa que precisa ser corrigida é a direção de sua vida. Desde Adão e Eva o homem quer dirigir os próprios destinos – e sempre encontra a morte no fim da jornada (Pv 16:25). Você pode tentar e tentar, mas ao cabo sempre será caminho de morte. Tudo o que você fizer resultará em caminho de morte – a alternativa é que alguém morra por você – por isso você precisa se converter de seus maus caminhos e fazer dele, aquele que morreu por você, seu caminho (Jo 14:6). A terceira coisa que precisa ser corrigida é aquilo que você faz. É praticar aquilo que demonstre que você realmente entendeu o que significa confessar a Cristo como Senhor e salvador. Ele não é somente salvador – ele não é só aquele que salva o homem de seus pecado. Deus o fez Senhor e Cristo (At 2:36), e, sendo Senhor, ele tem direito de exigir de você, que se diz seu servo, obediência absoluta especialmente com a quantidade de conhecimento que você tem agora (Lc 12:48).
Alguém poderia dizer – mas, tudo isso por causa do dízimo. É claro que não. Não seja tolo. Deus não precisa de seu suado dinheirinho. Se não é com alegria, então Deus não tem prazer em receber (II Co 9:7) e melhor seria que as portas da Igreja estivessem fechadas (Ml 1.10). Se você não fizer, Deus continuará sustentando sua obra. Jerusalém foi reedificada nos dias de Neemias com dinheiro de Artaxerxes (Ne 2:8). Paulo foi para Roma e ali evangelizou a casa de César com transporte providenciado pelo próprio império romano. É por causa do seu coração. É por causa da sua alma. É porque, se você não se arrepender e não se converter, você nunca terá a motivação correta para praticar o que o Senhor requer de ti. Você pode até dizimar, pode até ofertar, como Caim e Saul – mas sua oferta será inútil e ofensiva (Gn 4:5) e seu dízimo reprovável como o dos ricos contrastados com a viúva pobre (Mc 12:44).
Sabe, você pode sair daqui hoje dizendo: nada a ver. Não vou mudar. Deus tenha misericórdia de sua alma. Ou pode sair daqui como o publicano no templo, e exclamar: Senhor, sê propício a mim, pecador (Lc 18:13). Há coisas que você decide, você é responsável – como nos dias de Josué, quando o antigo Israel é chamado para escolher a quem servir. Como vai ser? A quem vai servir?

RAZÕES ÍMPIAS PARA NÃO HONRAR A DEUS

NÃO ACREDITAR NAS PROMESSAS DE DEUS

Você acredita em tudo o que lhe prometem? Acredita em tudo o que seus amigos lhe promete? Acredita em tudo o que seus pais lhe prometem? Acredita em tudo o que os seus governantes lhe prometem? Acredita nas promessas de vendedores? Provavelmente a resposta à maioria das perguntas anteriores seja: “Não”, e, mesmo que tenha que fazer alguma observação, alguma ressalva, a resposta quase sempre não é um “sim” totalmente confiante.
Porque? Porque somos naturalmente desconfiados? Não, não somos. Porque aprendemos a não confiar? Certamente. Deixe-me ilustrar isso. Há 4 anos, brincando com meu filho, colocava-o em pé em minha mão e levantava-o acima da minha cabeça. E ele permanecia ali por quanto tempo seu equilíbrio permitisse, e, então, sorrindo, se deixava amparar. Algum tempo depois ele começou a duvidar da minha capacidade de sustentá-lo… tornou-se mais desconfiado. Por outro lado, o mesmo que não queria entrar na água, tanto em piscina quanto em rio, agora joga-se em meus braços – seus receios pessoais suplantaram o medo, e, acima de tudo, a sua confiança de que o pai o susterá suplantou a natural desconfiança e instinto de preservação. Ele sabe que pode confiar. E confia!
Neste diálogo de Deus com os hebreus, através de Malaquias, vemos explicitada a terceira razão que o povo, em sua impiedade de coração, usava em seus arrazoados interiores, na maioria das vezes sem ousar explicitá-los, para justificar o seu distanciamento de Deus e de seus caminhos. Eles caiam na tolice de achar que Deus não lhes conhecia o coração, esquecendo-se do aviso que haviam recebido através de Jeremias (Jr 17:10).
Porque Israel não servia ao Senhor com integridade – servia-o, é verdade, mas de coração dobre, servia-o sem que o seu coração estivesse realmente devotado ao Senhor – seu coração estava por demais longe, ainda que dissessem a si mesmos que eram o povo de Deus – e o pior é que, muito provavelmente, acreditavam que estavam agindo como o verdadeiro povo de Deus (Mc 7:6).
Malaquias anuncia a vinda do mensageiro de Deus, daquele que prepara o caminho do Senhor. Malaquias anuncia coisas maravilhosas, mas, mesmo assim, sua chegada, que deveria ser de paz e alegria, para os ímpios que não honravam a Deus acabaria se tornando motivo de preocupação e angústia. Vejamos o que nos diz o profeta no cap. 3, versos 1 a 6.
1 Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; de repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos.
2 Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem poderá subsistir quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros. 3 Assentar-se-á como derretedor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata; eles trarão ao SENHOR justas ofertas. 4 Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR, como nos dias antigos e como nos primeiros anos. 5 Chegar-me-ei a vós outros para juízo; serei testemunha veloz contra os feiticeiros, e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o salário do jornaleiro, e oprimem a viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o SENHOR dos Exércitos.
6 Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.
Certa vez li um trabalho de conclusão de curso de teologia de um seminário não presbiteriano (o candidato era presbiteriano), que, após anos de estudos, chegou à conclusão que não era possível confiar nas promessas de Deus porque a história desmentiria Deus, isto é, os fatos mostrariam que Deus foi incapaz de cumprir as suas promessas. Questionado, ele foi incapaz de mostrar uma única promessa de Deus que não foi cumprida no seu devido tempo e limitava-se a questionar se os seus examinadores conheciam escritores liberais como Karl Barth e Rudolf Bultmann. Se a história desmente Deus, como ele propunha, como poderia ele subir ao púlpito e ministrar a santa ceia, por exemplo, que tem como base o cumprimento de uma promessa (a vinda do Cristo) e uma nova promessa (o seu retorno  glorioso)?
Talvez fosse muito bem recebido pelos israelitas do V sec. a.C… e talvez fosse bem recebido por muitos membros ou não de Igrejas atualmente, pois a maioria não acredita que Deus cumprirá todas as suas promessas. Rejeitado como candidato ao ministério apesar de seu diploma de teologia, tornou-se design de revista e anos mais tarde disse, em tom de ironia, ser grato por não ter se tornado pastor pois estava ganhando muito mais do que se tivesse passado no exame... estava ganhando o mundo, mas causando dano à sua própria alma (Lc 9:25).

A INCREDULIDADE DE ISRAEL EXIGIA UM SINAL (3.1)

1 Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; de repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos.
Não há sinal maior de falta de fé do que a necessidade de algum tipo de prova visível para alguma promessa. Mais de uma vez Deus já havia afirmado que haveria um dia em que ele firmaria a justiça e a paz entre os homens – mas o que se via era justamente o contrário, a infidelidade, a injustiça e a desarmonia (Is 59.12-15). Assim como um filho não deseja o retorno de seus pais enquanto ele pode ser surpreendido fazendo bagunça em casa, da mesma maneira Israel já não se importava, já não desejava e nem mesmo esperava o dia em que o Senhor viria a seu santo templo. E, mesmo quando ele viesse, não seria recebido com a honra que lhe era devida (Jo 1:11).
Não havia problema algum com a promessa de Deus. Deus sempre se mostrara um Deus fiel a si mesmo, jamais deixando de cumprir uma só de suas promessas (Ez 12:25). Deus sequer demorava em cumprir suas promessas pois demora pressupõe atrasos, e Deus sempre age no tempo que ele mesmo determinou (Ez 39:8).
Aliás, o que diferenciava o verdadeiro Deus dos falsos era, além de sua própria existência (Is 45:6) em contraste com a nulidade dos falsos deuses, era o fato de que Palavra de Deus sempre se cumpria (Is 48:3). Observe quão numerosos são os textos nos quais Deus fala de sua fidelidade em cumprir suas palavras – antes e durante o exílio. Israel precisava destas advertências – mas não as escutava.
A primeira prova de que Israel não acreditava nas promessas do Senhor estava no fato de que eles não acreditavam que Deus viria habitar no meio de seu povo (Êx 29:45), promessa que não foi retirada nem mesmo depois de numerosas provas de incredulidade de Israel (Ez 43:9) e que ainda estava de pé nos tempos pós exílicos (Zc 2:11). Se era um sinal que eles queriam, um sinal eles teriam: Deus enviaria seu mensageiro e logo depois o próprio Anjo do Senhor se manifestaria em seu templo de uma maneira gloriosa como eles ainda não conheciam, segundo o profeta Ageu, um dos contemporâneos de Malaquias (Ag 2:9).

A INCREDULIDADE DE ISRAEL TORNARIA A ALEGRIA EM JUÍZO (3.2-5)

2 Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem poderá subsistir quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros. 3 Assentar-se-á como derretedor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata; eles trarão ao SENHOR justas ofertas. 4 Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR, como nos dias antigos e como nos primeiros anos. 5 Chegar-me-ei a vós outros para juízo; serei testemunha veloz contra os feiticeiros, e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o salário do jornaleiro, e oprimem a viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o SENHOR dos Exércitos.
Deixe-me voltar à ilustração dos filhos que, devido as circunstâncias de sua própria desobediência, não desejam que seus pais retornem, ou pelo menos não tão rapidamente a ponto de surpreendê-los em suas desobediências, mas que, ao mesmo tempo, não conseguem viver sem que sejam mantidos por eles. Por semelhante modo Israel se encontrava num estado tal de desobediência e incredulidade que a vinda do Senhor, que deveria ser uma oportunidade de grande alegria (Lc 2:10) acabava se tornando momento de terror e medo.
Na história de Israel já havia acontecido um episódio que demonstra isto com muita clareza. Enquanto Deus manifestava a sua glória a Israel dando-lhe a lei os judeus pediam que Deus não lhes falasse (Êx 20:19); quando se aproximavam de Moisés não podiam fitar-lhe a face porque o brilho de Deus que resplandecia na face dele lhes lembrava sua pecaminosidade (Êx 34:30). O grande e terrível dia do Senhor deveria ser dia de grande alegria para os justos (Ml 3:18). Israel tivera a oportunidade de comparar o que era servir a Deus e servir aos demais senhores da terra. Israel havia trocado o Senhor por falsos deuses a quem chamara de seu baal, ou de seu “marido” – e Israel sabia que havia uma grande diferença, mas ainda continuava com o coração endurecido e não desejava servir ao Senhor com inteireza de coração (II Cr 12:8).
Mas o Senhor certamente tornaria para o meio do seu povo, como na parábola dos servos maus ou dos lavradores maus – ambos sabiam que o Senhor um dia retornaria, mas, lamentavelmente seus interesses pessoais se sobrepunham ao amor que deveria ter por aquele que lhes dera tudo o necessário para a subsistência (casa, alimento, terra para produzir). Não era a volta do Senhor que era a razão do medo – era o fato de que o Senhor voltaria para exigir o que lhe era devido, exigiria o fruto da santidade e purificaria seu povo das escórias que haviam ocupado espaço em suas vidas e corações.
As ofertas que Deus reprovava (o coxo, o dilacerado, as sobras) dariam lugar a ofertas pacíficas, a ofertas de gratidão, a ofertas agradáveis. O coração quebrantado e cheio de alegria na presença do Senhor frutificaria em ofertas que agradariam o coração do Senhor, e o povo do Senhor poderia, então, fortalecer-se com a aprovação do Senhor Deus (Ne 8:10) e a prática de obras agradáveis aos olhos do Senhor em substituição às obras rebeldes que os caracterizavam.

A INCREDULIDADE DE ISRAEL SÓ NÃO SERIA SUA RUÍNA DEFINITIVA POR CAUSA DA IMUTÁVEL GRAÇA DIVINA (3.6)

6 Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.
O fato é que Israel caíra em desgraça por causa de suas iniquidades, o exílio foi causado não pela força dos assírios, mas pelo fato de que abandonaram ao Senhor (Os 14:1). Não fora um acidente – não fora o caso de uma estratégia militar inimiga bem sucedida ou falta de planejamento defensivo. Tratava-se pura e simplesmente de uma dura disciplina de Deus. Uma disciplina anunciada e merecida, mas ao mesmo tempo um tratamento de Deus para seus corações endurecidos (Os 2:14).
Malaquias trata com um povo que havia passado pelo exílio, havia passado pelo deserto, e mesmo neste deserto Deus lhes falara ao coração. Homens como Daniel, Esdras e Neemias foram instrumentos de Deus para a restauração daquele povo (Ez 37:21). Mas Malaquias tem que tratar com um povo que parecia ter se esquecido de tudo isso. Por seu comportamento, por suas atitudes, por sua própria justiça há muito que Israel já deveria ter deixado de existir (Lm 3:22). Era, como o próprio Deus constata, povo de difícil trato, povo que não se deixava conduzir, povo de dura cerviz (Dt 9:6).
Deixe eu dizer novamente: Israel não merecia existir. Desde a saída do Egito, antes de entrar na terra prometida, eles já mereciam ter sido exterminados e só não o foram pela intercessão de Moisés (Ex 32.9-11). O problema de Israel era o fato de que ele era o mesmo – eram murmuradores no Egito (Ex 5.20-21), murmuradores e desobedientes na saída do Egito por não terem água e alimento (Êx 17:3), murmuraram antes de entrarem na terra prometida quando receberam o relatório dos dez espias (Nm 14:2).
Sim, o problema de Israel é que Israel não mudava – não é a toa que várias vezes o Senhor lhes diz: tornai para mim (Zc 1:3). Se o problema de Israel era o fato de que eles não mudavam, por outro lado, a bênção para eles é o fato de que Deus é imutável, e, tendo prometido abençoá-los e fazer dele bênção para todas as nações, não mudou de ideia e continuou tratando com seu povo, povo rebelde, é verdade, mas, ainda assim, seu povo.

VOCÊ TEM RAZÕES DE SOBRA PARA HONRAR A DEUS

Porque muitos cristãos, muitos membros de Igreja, e muitos que não são membros de Igreja mas que consideram-se cristãos não honram a Deus com o que são, com o que sabem e com o que possuem? Antes que nos apressemos a julgar com demasiada dureza a Israel – e de fato o que não faltava para os israelitas era razões para honrarem a Deus, inclusive pelas numerosas promessas que Deus fez e cumpriu. Os israelitas que receberam a profecia de Malaquias eram, eles mesmos, um sinal evidente do cumprimento da promessa de Deus de enviá-los e trazê-los de volta do exílio.
Quem de nós ousaria afirmar que não tem razões para confiar na fidelidade de Deus? Quem de nós ousaria afirmar que Deus não é fiel e que Deus não é capaz de cumprir as suas promessas? Quem ousaria alinhar-se com aquele ministro de satanás que desejava infiltrar-se na Igreja e tornar-se, ao menos formalmente, ministro do evangelho de Cristo?
Lamentavelmente sou obrigado a afirmar – e provar – que há muitos que se alinham com os judeus dos dias de Malaquias. Não honram a Deus porque não acreditam no cumprimento de suas promessas – nem mesmo na mais importante, na mais gloriosa de todas as suas promessas: o retorno do rei para separar suas ovelhas dos cabritos. Sim, ele virá para julgar vivos e mortos. Embora as nossas obras não sejam a causa da nossa salvação, elas, indubitavelmente, serão os sinais da reprovação. Será pela evidência de suas obras que o Senhor dirá: “apartai-vos de mim” (Mt 7:23).
É hora de você examinar a si mesmo e perguntar-se: que evidências há na minha vida de santidade ou reprovação? Deixe-me dar-te algumas dicas bem práticas:
Qual é a sua prioridade no seu dia-a-dia?
Você anda como cidadão do reino de Deus em sua casa: o esposo deve amar a esposa; a esposa deve ser submissa ao esposo; os pais devem cuidar dos filhos e discipliná-los segundo a clara orientação do Senhor, sem, entretanto, provocá-los à ira; os filhos devem ser submissos ao seus pais porque assim ordena o Senhor – em que você está errando nestas áreas? Porque você está errando nestas áreas?
Você anda como cidadão do reino no seu trabalho, como Daniel, que resolveu firmemente não se contaminar com as práticas babilônicas, tendo sido lançado em uma cova com leões por negar-se a agir como os demais homens de seu tempo. Você está disposto a pagar o preço ou está errando? Porque está errando?
Você reserva tempo para sua devoção pessoal, tendo o reino de Deus como sua prioridade, ou prefere compromissos outros, e, quando não tem compromisso, assume um compromisso com o nada em seu sofá, computador, celular, amigos ou vizinhança? Onde mesmo isto vai te levar, que galardão você receberá das mãos do Senhor por isso? Porque você está fazendo isso? Porque você não se motiva para fazer o que é devido?
Qual o seu envolvimento com a obra do Senhor?
Você está envolvido com alguma atividade na obra do Senhor? Há quem diga que há três opções para se fazer isso: fazendo, orando ou contribuindo. Acredito que há uma só maneira de se envolver com a obra do Senhor: fazendo. E faz-se agindo, orando e contribuindo, cada uma destas ações de acordo com a oportunidade que o Senhor nos dá.
A quem você tem consagrado o seu ser? Você não se criou… você não se formou. Seus lindos e maravilhosos olhos foram desenhados pela mão de Deus, cada linha da sua digital foi projetada de uma maneira especial. Foi o Senhor quem te entreteceu no ventre de sua mãe (Sl 139:14) e te capacitou para ser o que você é. O que você tem feito com esta dádiva maravilhosa de Deus que é o seu próprio ser? Deus não chamou você para ser apenas uma espécie de jarro decorativo num banco de Igreja.
A quem você tem consagrado o que você sabe fazer? Provavelmente há coisas na Igreja que você é a melhor pessoa para fazer – nem que seja o mais humilde e simples dos serviços. Certamente há muitos sobrecarregados e se cansando porque estão fazendo o que você poderia fazer. Mas você se recusa a fazer – quer ser servido, mesmo que seja por uma pessoa com as mãos cheias de outras coisas enquanto as suas estão estendidas apenas para receber.
O que você tem feito com o que o Senhor tem lhe dado, com o fruto da obra das suas mãos que ele tem abençoado? Tem entregue ao Senhor as primícias da tua renda? Tem entregue ao Senhor a parte que é dele e que ele não te autoriza a usar nem por um momento que seja, porque não lhe pertence (Ml 3:8)? Com o que você tem contribuído para a manutenção da casa do Senhor?
Não saia daqui sem fazer um conserto de si mesmo diante de Deus. Não sabe como fazer? Talvez não saiba mesmo – há tantos que são meros ouvintes e jamais praticam a Palavra, enganando-se a si mesmos, considerando-se crentes sem sê-lo (Tg 1:22). Já pensou se o Senhor resolvesse lhe tirar tudo o que você tem alcançado com o tempo que você deveria consagrar ao Senhor e você usa para outras coisas – a proporção é de 1 para 7, ou seja, 15% do que você tem? Deixe eu continuar – e se Deus resolvesse tirar de você não apenas o que você tem roubado dele quando não devolve a sua décima parte, acrescida, esta mesma, da quinta parte, isto é, mais 12%. Não pense somente em dinheiro ou propriedades, pense em tudo, no que você é, na sua família, na sua carreira…
Isso não é tudo. O Senhor afirma que vai estabelecer juízo – o que tem sido motivo de alegria pode vir a tornar-se razão de juízo de Deus, e não é a toa que Malaquias diz que o povo era amaldiçoado com maldições que não vinham de satanás, mas do próprio Deus (Ml 2:2) como Israel bem o sabia.
Eu não vou pedir para Deus amaldiçoar você, como alguns insensatos andam fazendo na TV, meu papel é, como Malaquias, advertir-te para que a maldição não recaia sobre sua vida, sobre sua casa. Quero te exortar a se perguntar: em que tenho errado nestas coisas que não agradam a Deus? Você pode fazer uma lista, se quiser. Pode anotar no espelho de seu quarto, se achar conveniente. Ou nas páginas de seu diário – tanto faz. Pode até fazer uma anotação mental. Não importa. O que é importante é que você se faça esta pergunta e encontre suas respostas, mas precisam ser respostas honestas.
Agora, faça uma nova pergunta: porque tenho errado nestas coisas? Quais as minhas motivações para agir desta maneira e não da maneira correta? Porque eu me sinto motivado para agir errado e não consigo motivação para agir certo?
A resposta é: porque você tem tentado satisfazer a você mesmo e seus próprios desejos. A solução é: conhecer ao Senhor, e, em seguida, buscar conhecer ainda mais ao Senhor, até que tudo seja claro, até que haja plena satisfação no Senhor (Os 6:3) e, então, você vai experimentar a verdadeira alegria.

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