Os
políticos, de uma maneira geral, aperfeiçoaram a regra de que é lícito prometer
o que todos querem e entregar o que eles quiserem. Parece ser a regra. Tem sido
assim há muitos anos, políticos são conhecidos mais por suas promessas não
cumpridas do que por suas realizações.
Uma
boa e salutar orientação que os pais quase nunca conseguem colocar em prática é
a de não prometer nada que não possam cumprir, e, em decorrência disso,
cumprirem tudo o que prometerem. Antes que os filhos se animem a olhar para os
seus pais com aquela expressão “viu o que o pastor disse” isso inclui tanto as
coisas boas (passeio, brinquedo, etc.) como aquelas melhores ainda, como disciplina,
por exemplo.
É
verdade que muitos cidadãos ainda caem nas promessas vazias de políticos – e
caem porque esperam ganhar algum benefício com a eleição de sicrano ou beltrano,
e ficam na esperança de alguma benesse. Mas a maioria já sabe que tais promessas
não se realizarão e isso já entrou para o anedotário nacional. É verdade também
que muitos pais, lamentavelmente, acabam ameaçando mais do que fazendo. E isto
infelizmente alimenta a rebeldia natural do coração da criança (Pv 22:15).
Todavia,
o padrão que Deus espera encontrar em homens e mulheres que o temem é que,
tendo prometido, cumpram, não importando o preço (Sl 15:4). Ele próprio nos dá o exemplo.
Ele
é aquele de quem jamais podemos pensar que promete sem a intenção de cumprir.
Há alguém que, tendo feito uma promessa, sempre a cumpre (Nm 23:19). Uma prova de que Deus cumpre suas promessas,
independente do custo que ela porventura venha a ter está no fato de ele ter
prometido enviar o descendente da mulher, que esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3:15) e tê-lo cumprido, enviando seu
próprio filho para dar a sua vida em lugar de pecadores (Rm 5:8) alcançando para os crentes a vitória que vence o mundo (I Jo 5:4).
A APOSTASIA DE ISRAEL
Malaquias
denuncia mais uma razão ímpia do coração dos judeus – além de não terem prazer
nas coisas de Deus eles também não acreditavam na justiça de Deus. Deviam
acreditar, porque haviam voltado do exílio justamente como resultado desta
justiça – que os criara como povo, mas que, também, estabelecera condições para
abençoá-los ou para amaldiçoá-los (Dt 11.26-28). Através de Isaías
foi dado um último aviso (Is 1.19-20) e eles rejeitaram,
sendo lançados por Deus no exílio (Jr 29.14)
e de lá trazidos em resposta as piedosas orações de homens como Esdras e
Neemias.
1 Agora, ó sacerdotes, para vós outros é este mandamento. 2 Se o não
ouvirdes e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome, diz o
SENHOR dos Exércitos, enviarei sobre vós a maldição e amaldiçoarei as vossas
bênçãos; já as tenho amaldiçoado, porque vós não propondes isso no coração. 3 Eis
que vos reprovarei a descendência, atirarei excremento ao vosso rosto,
excremento dos vossos sacrifícios, e para junto deste sereis levados. 4 Então,
sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que a minha aliança continue
com Levi, diz o SENHOR dos Exércitos. 5 Minha aliança com ele foi de vida e de
paz; ambas lhe dei eu para que me temesse; com efeito, ele me temeu e tremeu
por causa do meu nome. 6 A verdadeira instrução esteve na sua boca, e a
injustiça não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão e da
iniqüidade apartou a muitos. 7 Porque os lábios do sacerdote devem guardar o
conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é
mensageiro do SENHOR dos Exércitos. 8 Mas vós vos tendes desviado do caminho e,
por vossa instrução, tendes feito tropeçar a muitos; violastes a aliança de
Levi, diz o SENHOR dos Exércitos. 9 Por isso, também eu vos fiz desprezíveis e
indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os meus caminhos e vos
mostrastes parciais no aplicardes a lei.
10 Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus? Por que
seremos desleais uns para com os outros, profanando a aliança de nossos pais? 11
Judá tem sido desleal, e abominação se tem cometido em Israel e em Jerusalém;
porque Judá profanou o santuário do SENHOR, o qual ele ama, e se casou com
adoradora de deus estranho. 12 O SENHOR eliminará das tendas de Jacó o homem
que fizer tal, seja quem for, e o que apresenta ofertas ao SENHOR dos
Exércitos. 13 Ainda fazeis isto: cobris o altar do SENHOR de lágrimas, de choro
e de gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com
prazer da vossa mão. 14 E perguntais: Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha
da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal,
sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. 15 Não fez o SENHOR um,
mesmo que havendo nele um pouco de espírito? E por que somente um? Ele buscava
a descendência que prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja
infiel para com a mulher da sua mocidade. 16 Porque o SENHOR, Deus de Israel,
diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes,
diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais
infiéis.
17 Enfadais o SENHOR com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o
enfadamos? Nisto, que pensais: Qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos
do SENHOR, e desses é que ele se agrada; ou: Onde está o Deus do juízo?
Ml 2.1-17
ISRAEL CRIOU UMA IMAGEM DE UM DEUS À SUA PRÓPRIA IMAGEM (2.1-9)
Quando
a idolatria se revela na consecução de uma imagem, seja ela de ouro, prata,
madeira ou qualquer outro tipo de material, na verdade, ela apenas reflete a
imagem que o homem tem de si mesmo. Não desejando servir ao Deus vivo criam
para si mesmos deuses que, embora os sirvam, sintam-se à vontade para mudá-los
a seu bel prazer (Rm 1:25). No fundo, a idolatria é
o culto do homem ao seu próprio coração – com o tempo, este culto acaba sendo
sociabilizado e transmitido geração após geração.
Israel
era um povo de dura cerviz e que tinha dificuldade para atender aos chamamentos
do Senhor. E isto não era novo, desde Abraão os problemas de obediência – por
causa de alguma forma de incredulidade - eram constantes. Quando eles
observavam os ímpios e notavam a injustiça de suas ações levou-os a achar que,
assim como os deuses dos demais povos aparentemente não se importavam com isso,
quem sabe o seu Deus também não se importaria, afinal, eles viam os ímpios
prosperando e os justos sendo oprimidos.
O
primeiro problema que Malaquias prontamente detecta é que a liderança
espiritual de Israel – os sacerdotes – havia rejeitado o conhecimento de Deus.
E, se conhecer ao Senhor, temendo-o, é o princípio da sabedoria (Sl
111:10) o oposto também é verdadeiro, isto é, rejeitar tal
conhecimento é, sem sombra de dúvida, caminho certo para a derrocada (Os
4:6).
O
mandamento do Senhor era para que eles guardassem o conhecimento e fossem fonte
de instrução para o povo como mensageiros do Senhor dos exércitos, todavia,
eles se desviaram do caminho mas ainda queriam continuar instruindo o povo –
cegos que se propunham a guiar um povo também cego (Mt 23:16). A
primeira exortação de Malaquias era para aqueles que deveriam guardar a aliança
mas que preferiram violá-la flagrante e publicamente. Eles desprezavam os
mandatos do Senhor e por isso o povo que os seguia não os tinha em consideração
como modelos de conduta (Tg 5:10).
Mas
ainda havia culto, você pode objetar. Ainda havia templo. E ainda havia
sacrifício. Mas não era uma devoção integral. Malaquias os adverte por sua
parcialidade, por cultuarem de um jeito “mais ou menos”. A advertência de
Malaquias decorre do fato de que eles cultuavam o seu próprio deus, e não o
Deus verdadeiro. Eles não cumpriam os mandamentos do Senhor à risca – e isto
significava que eles desobedeciam integralmente o Senhor.
ISRAEL CRIOU UMA RELIGIÃO DE INDIVÍDUOS EGOCÊNTRICOS (2.10-16)
O
resumo da atitude de Israel pode ser descrito como tendo construído uma
religião de indivíduos egocêntricos onde o mais importante era, no fundo,
apenas ter uma religião. A pergunta de Malaquias sobre fraternidade, sobre
serem irmãos e terem um mesmo pai é respondida por uma análise prática do
estilo de vida adotado por Israel: deslealdade de uns para com os outros;
deslealdade para com a esposa através do divórcio; deslealdade para com Deus
casando-se com idólatras, trazendo para dentro de Israel, de suas próprias
casas, e de seu futuro (pois as mães ensinavam não apenas a língua (Ne
13:24) mas também seus costumes, dentre eles a idolatria aos filhos)
a destruição de Israel como povo santo.
O
que um povo pode esperar de seu Deus em resposta a estas atitudes? Como Israel
podia facilmente compreender pela leitura das Escrituras e pelo que Deus disse
quando estabeleceu a aliança não lhe restaria outra expectativa a não ser a
justa e dura aplicação da disciplina divina – e ela viria, não mais como um
aviso através de opressão, primeiro, e depois do exílio, mas com uma rejeição
definitiva da nação como povo exclusivo do Senhor (Is 43:10).
Para
poder ao menos viver em paz com seu estilo de vida, porque, se consciência
tivessem – e creio que tinham porque não podiam apagar de si a sensação
(colocada por Deus em seu coração) de que há um Deus a observar cada um de seus
atos (Sl 113.5-6) só restava a Israel criar para si uma nova
religião, estabelecer novos parâmetros mesmo tendo em mãos o mesmo livro, mesmo
frequentando o mesmo templo, mesmo usando o mesmo nome mas diminuindo este Deus
ao tamanho e à falta de pureza de suas ofertas. Quando adoravam, não adoravam a
Deus, mas a religião que eles mesmos criaram em seus corações – e Deus diz que
não aceita tal coisa, não tem prazer nem nas ofertas nem nos ofertantes. Sim, o
que Deus está dizendo é que uma religião hipócrita, mesmo que pareça a
verdadeira religião, é inútil e só vai gerar enfado do coração de tais
adoradores que não são os que ele procura (Jo 4:23).
Malaquias
conclui dizendo para que Israel cuidasse de si mesmos, isto é, de seu coração,
de seu estilo de vida, que se convertessem verdadeiramente a Deus e não
confiassem apenas em seus costumes e em suas religião vazia (Rm
2:25). O que Israel precisava era de uma conversão verdadeira, como
a proclamada séculos depois pelo apóstolo Paulo (At 26:20), uma
conversão que se expressasse com um estilo de vida descrito um século antes
pelo profeta Isaías (Is 1.16-17).
ISRAEL CRIOU UMA RELIGIÃO FADADA AO FRACASSO (2.17)
Israel
pretendia apresentar a um Deus em quem não cria, ao qual não obedecia, uma
religiosidade inútil e vazia e, paradoxalmente, esperava ser abençoado.
Reclamava de não ser próspero como as demais nações, esquecendo-se de que
existiam apesar de seus pecados, e não por causa de seus acertos. Deus lhes deu
existência por seu amor, e não por causa do amor deles (Dt 26:5).
Como
Deus via esta adoração de Israel a um Deus feito à sua imagem? Com enfado. Como
Deus via a religião de homens egocêntricos? Com enfado! O que significa isto?
Enfado é uma sensação de tédio, de fadiga espiritual, uma espécie de mal estar
causado por algo entediante. É como assistir a uma peça longa, mal ensaiada por
atores incompetentes. É um estado de espírito no qual predomina o
aborrecimento, uma sensação de gastura que resulta em zanga. O contrário de
enfado é prazer, agrado, alegria e enlevo – tudo o que não era encontrado no
coração de Deus ao observar a religião de Israel (Ml 1:10).
Sim,
o resultado da religiosidade de Israel era um só – fracasso. Eles não atingiam
o objetivo da religião (agradar ao Deus vivo) e por isso se contentavam em
acreditar num Deus inferior e injusto. Acreditavam que Deus não via suas ações,
não ligava para suas impiedades e não recompensaria suas más ações.
Parece
que Israel fazia para si mesmo uma pergunta: que Deus serve para eu servir? E,
então, arrumou para si mesmo um Deus que satisfizesse seus interesses, segundo
o seu próprio molde. Mas é isso que agrada a Deus? É isso o que iria trazer a
aprovação de Deus para eles? Não é diferente dos nossos dias – muito da
religiosidade que vemos hoje, embora com algumas diferenças circunstanciais, é
muito parecida em seus aspectos principais.
Ela
tem origem no coração do homem, no que o homem pensa e imagina. Ela serve a
deuses que não são o Deus verdadeiro e segundo um sistema de adoração que não é
o desejado pelo Deus verdadeiro. Há muito de afirmar honrar a Deus, mas com o
coração mais voltado para o mundo e seus prazeres (Rm 13:13-14). E,
acima de tudo, é uma religiosidade que satisfaz o homem nas suas
concupiscências, mas que não satisfaz o anseio essencial do coração humano e
muito menos agrada a Deus.
COMO NÃO ADERIR A UMA RELIGIÃO QUE CONDUZ AO FRACASSO
Então,
devemos nos perguntar: que tipo de adorador Deus procura? A resposta é dada
pelo próprio Senhor – adoradores que o adorem em Espírito e em verdade (Jo
4:23-24).
Vejamos
algumas orientações de Deus através de outro profeta. Miquéias lembra que Deus
já declarou o que ele deseja – e não são sacrifícios, não são campanhas, não
são procissões, mas a prática da justiça, a misericórdia amorosa e o andar em
humildade com Deus (Mq 6:8). A estes Deus dá a
conhecer a sua aliança (Sl 25:14).
Deus
deseja que você o adore com conhecimento e com o coração. O seu cultuar ao
Senhor tem que ser espiritual e verdadeiro, e, também, tem que ser integral,
vivo. Tem que ser com o abandono da impiedade, tem que ser santo. Tem que ser
como Deus orienta – tem que ser agradável a Deus. E para saber o que agrada a
Deus você precisa conhecer a vontade de Deus, e isso inclui a sua razão (Rm
12:1).
Você
tem que empenhar sua vontade, sua emoção, seu coração (Dt 6:5). Lembre-se,
por fim, que o culto não é feito para agradar a você. Não é feito para agradar
aos membros da Igreja. Não é feito para agradar a quem visita a Igreja. Não é
feito para agradar pecadores – é feito para que pecadores se humilhem perante o
Deus vivo, tenham a oportunidade de confessar seus pecados, adorem ao Deus vivo
e sejam por ele abençoados.
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