segunda-feira, 6 de junho de 2016

RAZÕES ÍMPIAS PARA NÃO HONRAR A DEUS

Os políticos, de uma maneira geral, aperfeiçoaram a regra de que é lícito prometer o que todos querem e entregar o que eles quiserem. Parece ser a regra. Tem sido assim há muitos anos, políticos são conhecidos mais por suas promessas não cumpridas do que por suas realizações.
Uma boa e salutar orientação que os pais quase nunca conseguem colocar em prática é a de não prometer nada que não possam cumprir, e, em decorrência disso, cumprirem tudo o que prometerem. Antes que os filhos se animem a olhar para os seus pais com aquela expressão “viu o que o pastor disse” isso inclui tanto as coisas boas (passeio, brinquedo, etc.) como aquelas melhores ainda, como disciplina, por exemplo.
É verdade que muitos cidadãos ainda caem nas promessas vazias de políticos – e caem porque esperam ganhar algum benefício com a eleição de sicrano ou beltrano, e ficam na esperança de alguma benesse. Mas a maioria já sabe que tais promessas não se realizarão e isso já entrou para o anedotário nacional. É verdade também que muitos pais, lamentavelmente, acabam ameaçando mais do que fazendo. E isto infelizmente alimenta a rebeldia natural do coração da criança (Pv 22:15).
Todavia, o padrão que Deus espera encontrar em homens e mulheres que o temem é que, tendo prometido, cumpram, não importando o preço (Sl 15:4). Ele próprio nos dá o exemplo.
Ele é aquele de quem jamais podemos pensar que promete sem a intenção de cumprir. Há alguém que, tendo feito uma promessa, sempre a cumpre (Nm 23:19). Uma prova de que Deus cumpre suas promessas, independente do custo que ela porventura venha a ter está no fato de ele ter prometido enviar o descendente da mulher, que esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3:15) e tê-lo cumprido, enviando seu próprio filho para dar a sua vida em lugar de pecadores (Rm 5:8) alcançando para os crentes a vitória que vence o mundo (I Jo 5:4).

A APOSTASIA DE ISRAEL

Malaquias denuncia mais uma razão ímpia do coração dos judeus – além de não terem prazer nas coisas de Deus eles também não acreditavam na justiça de Deus. Deviam acreditar, porque haviam voltado do exílio justamente como resultado desta justiça – que os criara como povo, mas que, também, estabelecera condições para abençoá-los ou para amaldiçoá-los (Dt 11.26-28). Através de Isaías foi dado um último aviso (Is 1.19-20) e eles rejeitaram, sendo lançados por Deus no exílio (Jr 29.14) e de lá trazidos em resposta as piedosas orações de homens como Esdras e Neemias.
1 Agora, ó sacerdotes, para vós outros é este mandamento. 2 Se o não ouvirdes e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome, diz o SENHOR dos Exércitos, enviarei sobre vós a maldição e amaldiçoarei as vossas bênçãos; já as tenho amaldiçoado, porque vós não propondes isso no coração. 3 Eis que vos reprovarei a descendência, atirarei excremento ao vosso rosto, excremento dos vossos sacrifícios, e para junto deste sereis levados. 4 Então, sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que a minha aliança continue com Levi, diz o SENHOR dos Exércitos. 5 Minha aliança com ele foi de vida e de paz; ambas lhe dei eu para que me temesse; com efeito, ele me temeu e tremeu por causa do meu nome. 6 A verdadeira instrução esteve na sua boca, e a injustiça não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão e da iniqüidade apartou a muitos. 7 Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é mensageiro do SENHOR dos Exércitos. 8 Mas vós vos tendes desviado do caminho e, por vossa instrução, tendes feito tropeçar a muitos; violastes a aliança de Levi, diz o SENHOR dos Exércitos. 9 Por isso, também eu vos fiz desprezíveis e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os meus caminhos e vos mostrastes parciais no aplicardes a lei.
10 Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus? Por que seremos desleais uns para com os outros, profanando a aliança de nossos pais? 11 Judá tem sido desleal, e abominação se tem cometido em Israel e em Jerusalém; porque Judá profanou o santuário do SENHOR, o qual ele ama, e se casou com adoradora de deus estranho. 12 O SENHOR eliminará das tendas de Jacó o homem que fizer tal, seja quem for, e o que apresenta ofertas ao SENHOR dos Exércitos. 13 Ainda fazeis isto: cobris o altar do SENHOR de lágrimas, de choro e de gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da vossa mão. 14 E perguntais: Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. 15 Não fez o SENHOR um, mesmo que havendo nele um pouco de espírito? E por que somente um? Ele buscava a descendência que prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. 16 Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis.
17 Enfadais o SENHOR com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o enfadamos? Nisto, que pensais: Qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do SENHOR, e desses é que ele se agrada; ou: Onde está o Deus do juízo?
Ml 2.1-17

ISRAEL CRIOU UMA IMAGEM DE UM DEUS À SUA PRÓPRIA IMAGEM (2.1-9)

Quando a idolatria se revela na consecução de uma imagem, seja ela de ouro, prata, madeira ou qualquer outro tipo de material, na verdade, ela apenas reflete a imagem que o homem tem de si mesmo. Não desejando servir ao Deus vivo criam para si mesmos deuses que, embora os sirvam, sintam-se à vontade para mudá-los a seu bel prazer (Rm 1:25). No fundo, a idolatria é o culto do homem ao seu próprio coração – com o tempo, este culto acaba sendo sociabilizado e transmitido geração após geração.
Israel era um povo de dura cerviz e que tinha dificuldade para atender aos chamamentos do Senhor. E isto não era novo, desde Abraão os problemas de obediência – por causa de alguma forma de incredulidade - eram constantes. Quando eles observavam os ímpios e notavam a injustiça de suas ações levou-os a achar que, assim como os deuses dos demais povos aparentemente não se importavam com isso, quem sabe o seu Deus também não se importaria, afinal, eles viam os ímpios prosperando e os justos sendo oprimidos.
O primeiro problema que Malaquias prontamente detecta é que a liderança espiritual de Israel – os sacerdotes – havia rejeitado o conhecimento de Deus. E, se conhecer ao Senhor, temendo-o, é o princípio da sabedoria (Sl 111:10) o oposto também é verdadeiro, isto é, rejeitar tal conhecimento é, sem sombra de dúvida, caminho certo para a derrocada (Os 4:6).
O mandamento do Senhor era para que eles guardassem o conhecimento e fossem fonte de instrução para o povo como mensageiros do Senhor dos exércitos, todavia, eles se desviaram do caminho mas ainda queriam continuar instruindo o povo – cegos que se propunham a guiar um povo também cego (Mt 23:16). A primeira exortação de Malaquias era para aqueles que deveriam guardar a aliança mas que preferiram violá-la flagrante e publicamente. Eles desprezavam os mandatos do Senhor e por isso o povo que os seguia não os tinha em consideração como modelos de conduta (Tg 5:10).
Mas ainda havia culto, você pode objetar. Ainda havia templo. E ainda havia sacrifício. Mas não era uma devoção integral. Malaquias os adverte por sua parcialidade, por cultuarem de um jeito “mais ou menos”. A advertência de Malaquias decorre do fato de que eles cultuavam o seu próprio deus, e não o Deus verdadeiro. Eles não cumpriam os mandamentos do Senhor à risca – e isto significava que eles desobedeciam integralmente o Senhor.

ISRAEL CRIOU UMA RELIGIÃO DE INDIVÍDUOS EGOCÊNTRICOS (2.10-16)

O resumo da atitude de Israel pode ser descrito como tendo construído uma religião de indivíduos egocêntricos onde o mais importante era, no fundo, apenas ter uma religião. A pergunta de Malaquias sobre fraternidade, sobre serem irmãos e terem um mesmo pai é respondida por uma análise prática do estilo de vida adotado por Israel: deslealdade de uns para com os outros; deslealdade para com a esposa através do divórcio; deslealdade para com Deus casando-se com idólatras, trazendo para dentro de Israel, de suas próprias casas, e de seu futuro (pois as mães ensinavam não apenas a língua (Ne 13:24) mas também seus costumes, dentre eles a idolatria aos filhos) a destruição de Israel como povo santo.
O que um povo pode esperar de seu Deus em resposta a estas atitudes? Como Israel podia facilmente compreender pela leitura das Escrituras e pelo que Deus disse quando estabeleceu a aliança não lhe restaria outra expectativa a não ser a justa e dura aplicação da disciplina divina – e ela viria, não mais como um aviso através de opressão, primeiro, e depois do exílio, mas com uma rejeição definitiva da nação como povo exclusivo do Senhor (Is 43:10).
Para poder ao menos viver em paz com seu estilo de vida, porque, se consciência tivessem – e creio que tinham porque não podiam apagar de si a sensação (colocada por Deus em seu coração) de que há um Deus a observar cada um de seus atos (Sl 113.5-6) só restava a Israel criar para si uma nova religião, estabelecer novos parâmetros mesmo tendo em mãos o mesmo livro, mesmo frequentando o mesmo templo, mesmo usando o mesmo nome mas diminuindo este Deus ao tamanho e à falta de pureza de suas ofertas. Quando adoravam, não adoravam a Deus, mas a religião que eles mesmos criaram em seus corações – e Deus diz que não aceita tal coisa, não tem prazer nem nas ofertas nem nos ofertantes. Sim, o que Deus está dizendo é que uma religião hipócrita, mesmo que pareça a verdadeira religião, é inútil e só vai gerar enfado do coração de tais adoradores que não são os que ele procura (Jo 4:23).
Malaquias conclui dizendo para que Israel cuidasse de si mesmos, isto é, de seu coração, de seu estilo de vida, que se convertessem verdadeiramente a Deus e não confiassem apenas em seus costumes e em suas religião vazia (Rm 2:25). O que Israel precisava era de uma conversão verdadeira, como a proclamada séculos depois pelo apóstolo Paulo (At 26:20), uma conversão que se expressasse com um estilo de vida descrito um século antes pelo profeta Isaías (Is 1.16-17).

ISRAEL CRIOU UMA RELIGIÃO FADADA AO FRACASSO (2.17)

Israel pretendia apresentar a um Deus em quem não cria, ao qual não obedecia, uma religiosidade inútil e vazia e, paradoxalmente, esperava ser abençoado. Reclamava de não ser próspero como as demais nações, esquecendo-se de que existiam apesar de seus pecados, e não por causa de seus acertos. Deus lhes deu existência por seu amor, e não por causa do amor deles (Dt 26:5).
Como Deus via esta adoração de Israel a um Deus feito à sua imagem? Com enfado. Como Deus via a religião de homens egocêntricos? Com enfado! O que significa isto? Enfado é uma sensação de tédio, de fadiga espiritual, uma espécie de mal estar causado por algo entediante. É como assistir a uma peça longa, mal ensaiada por atores incompetentes. É um estado de espírito no qual predomina o aborrecimento, uma sensação de gastura que resulta em zanga. O contrário de enfado é prazer, agrado, alegria e enlevo – tudo o que não era encontrado no coração de Deus ao observar a religião de Israel (Ml 1:10).
Sim, o resultado da religiosidade de Israel era um só – fracasso. Eles não atingiam o objetivo da religião (agradar ao Deus vivo) e por isso se contentavam em acreditar num Deus inferior e injusto. Acreditavam que Deus não via suas ações, não ligava para suas impiedades e não recompensaria suas más ações.
Parece que Israel fazia para si mesmo uma pergunta: que Deus serve para eu servir? E, então, arrumou para si mesmo um Deus que satisfizesse seus interesses, segundo o seu próprio molde. Mas é isso que agrada a Deus? É isso o que iria trazer a aprovação de Deus para eles? Não é diferente dos nossos dias – muito da religiosidade que vemos hoje, embora com algumas diferenças circunstanciais, é muito parecida em seus aspectos principais.
Ela tem origem no coração do homem, no que o homem pensa e imagina. Ela serve a deuses que não são o Deus verdadeiro e segundo um sistema de adoração que não é o desejado pelo Deus verdadeiro. Há muito de afirmar honrar a Deus, mas com o coração mais voltado para o mundo e seus prazeres (Rm 13:13-14). E, acima de tudo, é uma religiosidade que satisfaz o homem nas suas concupiscências, mas que não satisfaz o anseio essencial do coração humano e muito menos agrada a Deus.

COMO NÃO ADERIR A UMA RELIGIÃO QUE CONDUZ AO FRACASSO

Então, devemos nos perguntar: que tipo de adorador Deus procura? A resposta é dada pelo próprio Senhor – adoradores que o adorem em Espírito e em verdade (Jo 4:23-24).
Vejamos algumas orientações de Deus através de outro profeta. Miquéias lembra que Deus já declarou o que ele deseja – e não são sacrifícios, não são campanhas, não são procissões, mas a prática da justiça, a misericórdia amorosa e o andar em humildade com Deus (Mq 6:8). A estes Deus dá a conhecer a sua aliança (Sl 25:14).
Deus deseja que você o adore com conhecimento e com o coração. O seu cultuar ao Senhor tem que ser espiritual e verdadeiro, e, também, tem que ser integral, vivo. Tem que ser com o abandono da impiedade, tem que ser santo. Tem que ser como Deus orienta – tem que ser agradável a Deus. E para saber o que agrada a Deus você precisa conhecer a vontade de Deus, e isso inclui a sua razão (Rm 12:1).
Você tem que empenhar sua vontade, sua emoção, seu coração (Dt 6:5). Lembre-se, por fim, que o culto não é feito para agradar a você. Não é feito para agradar aos membros da Igreja. Não é feito para agradar a quem visita a Igreja. Não é feito para agradar pecadores – é feito para que pecadores se humilhem perante o Deus vivo, tenham a oportunidade de confessar seus pecados, adorem ao Deus vivo e sejam por ele abençoados.

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