A VIDA DA IGREJA - UMA RESPOSTA AO PÓS-MODERNISMO
Como a Igreja deve viver? Como deve ser o tipo de comportamento da Igreja? A isto a Igreja já respondeu (ou partes da Igreja já propôs respostas) de formas diferenciadas, afastando-se em clausuras, assumindo poder temporal, alienando-se em guetos ou numa superespiritualidade milenarista que acreditava ser a inauguração do céu na terra. Todas estas formas extremistas falharam em um ponto fundamental: se esqueceram de que o Senhor não deseja substituir o mundo pela Igreja, nem tirar a Igreja do mundo - pelo menos não até que seja chegado o momento da parousia, do retorno glorioso de Jesus para chamar a si os seus e inaugurar o novo tempo, com novos céus e nova terra. Enquanto isto não acontece, a Igreja do Senhor é chamada para ser o corpo vivo, espiritual, de Cristo, neste mundo, com suas dores, suas angústias, seus pecados, seu materialismo e sua inimizade contra Deus. Que respostas práticas a Igreja pode dar a um mundo que zomba de Deus, que declara que Deus está morto mas que depende de Deus para existir?
O ESTILO DE VIDA POVO DE DEUS
A Igreja deve olhar para si mesma como um corpo de embaixadores (II Co 5:20 - De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus) com uma única mensagem: voltem-se para o nosso Deus e ele perdoará graciosamente todos os seus pecados (Is 55:7 - Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar), mesmo que eles sejam abundantes e repulsivos (Is 1:18 - Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã). Como embaixadores de Cristo - ou como o corpo de Cristo - a Igreja tem a função de evidenciar o seu caráter, devendo buscar poder falar de si mesma o que Paulo falava: já não sou em que vivo, mas Cristo quem vive em mim, mesmo na carne (Gl 2:20 - ...logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim). Precisamos, assim, nos perguntar o que do caráter de Cristo a Igreja pode reproduzir como resultado da ação do Espírito Santo em seu meio pois o certo é que, se a Igreja é a comunidade dos discípulos de Cristo, devem os discípulos buscar, sempre, ser como o seu mestre - embora consciente das consequências disso (Mt 10:25 - Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?). Vejamos algumas evidências da formação do caráter de Cristo na Igreja - e só com estas evidências o mundo perceberá que há algo diferente na Igreja.
O AMOR
É evidente que a palavra amor já perdeu muito do seu significado, ou, o que é talvez mais danoso, já tenha assumido significados muito inferiores e vulgares. Todavia, entendemos que a verdadeira natureza do amor que deve existir na Igreja não é o amor pelo pecado escondido na errônea compreensão (politicamente correta, exegeticamente errada e espiritualmente danosa) sobre a tolerância com os fracos na fé (Rm 15:1 - Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos) porque Jesus morreu justamente por causa dos pecados dos fracos (Rm 5:6 - Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios) para apresenta-los sem suas fraquezas (Cl 1:22 - ...agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis) perante Deus. O amor que deve existir na Igreja é um mandamento do Senhor Jesus para seus discípulos (Jo 15:12 - O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei) e este mandamento expressa-se na verdadeira comunhão (Rm 13:8 A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei) sem qualquer forma de hipocrisia (I Jo 3:18 - Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade) porque é isto o que vai evidenciar para os observadores da Igreja a existência da verdadeira Igreja de Cristo (Jo 13:35 - Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros).
A COMUNHÃO
Antes mesmo da sua “estreia” a Igreja já tinha por base de sua existência a comunhão - Jesus ensinou seus discípulos durante três anos, e eles tinham uma bolsa comum a todos (que ficava aos maus cuidados de Judas - Jo 12:6 - Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava) e também faziam refeições juntos. Em seu “debut” a descrição feita da Igreja é que todos estavam juntos e tinham tudo em comum (At 2:44 - Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum) e isto vai sendo mantido mesmo com o crescimento exponencial da Igreja - e é possível que fosse uma das causas deste crescimento (At 4:32 - Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum) pois a Igreja contava com a simpatia de todo o povo (At 2:47 louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos). Esta comunhão se expressava de maneira muito clara na participação das reuniões da Igreja (At 2:46 - Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração) o que nos leva a pensar na grave falha da Igreja quando despreza a comunhão (Hb 10:25 - Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima) sendo que este desprezo pela comunhão é considerada uma das formas de prática deliberada do pecado (Hb 10.26-27 - Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; 27 pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários) considerando tais desprezadores, em última análise, como adversários do Senhor (Lc 11:23 - Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha).
O PERDÃO
Uma das mais belas características do estilo de vida que deveria caracterizar a Igreja é o perdão - atitude que deve preceder até mesmo o culto. Se fôssemos obedecer as instruções de Jesus certamente teríamos uma montanha de ofertas sobre a mesa mas sem possibilidade de uso por parte da tesouraria da Igreja porque, devido à dureza do coração de irmãos que não se perdoam, que não se falam, estas ofertas seriam simplesmente deixadas sem, serem, no entanto, consumadas (Mt 5.23-24 - Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta). Ao tradicional costume de perdoar pouco o Senhor Jesus manda perdoar de maneira magnânima (Mt 18:22 - Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete) porque o resultado do perdão não é outro senão o amor (Lc 7:47 - Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama). O ensino de Jesus sobre o perdão é recorrente, porque esta era e é uma necessidade constante em Sua Igreja. O perdão é parte importante da oração do cristão (Mc 11:25 E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas) e se este quer ser perdoado, deve também perdoar (observe a expressão para que), uma vez que quem não perdoa não é perdoado (Mc 11:26 - Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos perdoará as vossas ofensas). O perdão também está ligado à restauração, pois mesmo aqueles que, porventura, tenham sido julgados de acordo com a reta justiça (Jo 7:24 - Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça), sendo, por causa de seus maus frutos, apontados como pecadores e afastados da comunhão (II Ts 3:14 - Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado) podem e devem ser restaurados à comunhão quando demonstrarem seu arrependimento (Lc 6:37 - Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados) devendo a Igreja dar-lhes todo o suporte necessário para que se fortaleçam através do perdão mútuo (Cl 3:13 - Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós).
A ALEGRIA
A depressão tem sido a causa de um número enorme de suicídios ou de fracassos em várias áreas da vida. Paradoxalmente é justamente onde as pessoas parecem mais bem sucedidas que o índice é mais relevante. Países como Noruega, Suécia, Dinamarca e Japão despontam como líderes neste triste ranking. Estados brasileiros mais desenvolvidos apresentam índices mais preocupantes que estados com menor poder aquisitivo. A explicação não é das melhores: os mais pobres acreditam que a satisfação estará em atingir os padrões do “sul maravilha” ou do “primeiro mundo”. Aqueles já estão lá - e já perceberam que a satisfação não está nas coisas que podem ser conquistadas no mundo e há mais de 2000 anos as Escrituras já advertiam quanto a isto (I Jo 2:17 - Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente). A mesma Escritura mostra onde é possível encontrar alegria permanente: andando no Espírito sem buscar satisfazer as fúteis aspirações da carne (Gl 5:16 - Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne) pois os cidadãos dos céus tem as suas aspirações voltadas para as coisas celestiais e só podem alegrar-se no Senhor (Sl 32:11 - Alegrai-vos no SENHOR e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração) o que resultará em uma vida de comunhão e louvor a Deus (Sl 97:12 - Alegrai-vos no SENHOR, ó justos, e dai louvores ao seu santo nome), como diz a letra de um cântico cristão bem conhecido: “a alegria está no coração de quem já conhece a Jesus”... Alegrar-se no Senhor é uma experiência que independe de segurança, paz ou prosperidade (Fp 4:11 - Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação) mas é fruto da certeza que o Senhor não abandona os seus em momento algum (Jo 14:18 - Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros; Mt 28:20 - ...ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século) e que certamente conduzirá a história dos que nele creem até o fim determinado por sua graça (II Tm 1:12 - ...e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia). A verdadeira e completa alegria do crente advém do fato de ele estar em comunhão com Deus e com os demais crentes (I Jo 1.3 - ...o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4 Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa).
A UNIDADE
Outra característica do mundo pós-moderno é o grande número de divisões - e, na verdade, a unidade é impossível segundo o pós-modernismo porque a unidade exige algum dogma, algum ponto onde todos possam concordar, e o único dogma do pós-modernismo é, justamente, a negação de qualquer forma de dogmatismo. A Igreja oferece ao mundo a alternativa de, em Cristo, sermos um (Cl 3:15 - Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos) e, como reflexo desta unidade por intermédio do Espírito somos, de fato, um só corpo (I Co 12:12 - Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo). Esta unidade não é criada pela Igreja, é a unidade que é fruto da atuação do Espírito em pecadores trazendo-os para a Igreja. Aos pecadores cabe preservá-la (Ef 4.3-6 - ...esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; 4 há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; 5 há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos) e eles podem fazer isso de duas maneiras: a) não destruindo-a com suas próprias ações, como, por exemplo, faz a pessoa insensata, homem ou mulher, em seu lar (Pv 14:1 - A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derriba) e resistindo aos ataques do inimigo utilizando-se da armadura de Deus (Ef 6:13 - Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis).
A OBEDIÊNCIA
Um dos filhos do pós-modernismo chama-se construtivismo. E um dos pilares do construtivismo é a seleção pessoal do que se pretende atender para atingir seus objetivos. Como não há dogmas, não há autoridade absoluta, mas apenas a necessária. A maior autoridade é aquela que pode dar mais ou tirar mais. E, neste contexto, nenhuma autoridade é mais rejeitada do que a autoridade espiritual porque o pós-modernismo é materialista, e rejeita todo e qualquer tipo de espiritualidade - quando muito, aceita-as como construções sociais e emocionais necessárias. Isto explica porque o pós-modernismo é essencialmente anticristão: o cristianismo é dogmático, é exigente, é exclusivista. Cristo afirma que ele é o único caminho (Jo 14:6 - Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim), lembrando as palavras do Senhor que diz que além dele não há outro salvador (Is 45:5 - Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que não me conheces), trazendo a baila verdades que o pós-modernismo detesta: a mensagem de salvação que só faz sentido se houver pecado e que este salvador é Senhor e exige guarda obediente de seus mandamentos (Lv 22:31 - Pelo que guardareis os meus mandamentos e os cumprireis. Eu sou o SENHOR) porque obediência é uma prova de que, de fato, há um relacionamento de grato amor por parte dos salvos para com seu salvador (Jo 14:15 - Se me amais, guardareis os meus mandamentos).
O MUNDO DA IGREJA FAZ SENTIDO
John Stott afirma que o mundo secularizado está em busca da transcendência, de significados e de comunhão. Todas essas coisas estão no domínio da igreja de Cristo - e a Igreja não pode abrir mão destas coisas porque, doutro modo, fica sem mensagem e torna-se apenas mais uma forma de religiosidade secularizada. Nós como cristãos vivemos num mundo pluralista, todavia temos que deixar claro para essa geração que não somos pluralistas. Não acreditamos que todas religiões são válidas e levam a Deus porque não levam. Religiões, mesmo o cristianismo se abrir mão de seus princípios fundamentais, são apenas enganos demoníacos que devem ser mantidos à distância (II Tm 3:5 - tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes). Negar a unicidade de Cristo para esta geração é, em primeiro lugar, dar atestado de morte da Igreja e dizer que ela tornou-se sal que não salga, devendo, portanto, se rejeitada e será, indubitavelmente, pisoteada pelos homens (Mt 5:13 - Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens). Mas negar a unicidade de Cristo é, também, dar um atestado de condenação aos homens e mulheres que, sem salvador, permanecerão sem salvação.
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