quinta-feira, 28 de julho de 2016

COMO A IGREJA PODE VIVER EM RESPOSTA AO PÓS-MODERNISMO


A VIDA DA IGREJA - UMA RESPOSTA AO PÓS-MODERNISMO


Como a Igreja deve viver? Como deve ser o tipo de comportamento da Igreja? A isto a Igreja já respondeu (ou partes da Igreja já propôs respostas) de formas diferenciadas, afastando-se em clausuras, assumindo poder temporal, alienando-se em guetos ou numa superespiritualidade milenarista que acreditava ser a inauguração do céu na terra. Todas estas formas extremistas falharam em um ponto fundamental: se esqueceram de que o Senhor não deseja substituir o mundo pela Igreja, nem tirar a Igreja do mundo - pelo menos não até que seja chegado o momento da parousia, do retorno glorioso de Jesus para chamar a si os seus e inaugurar o novo tempo, com novos céus e nova terra. Enquanto isto não acontece, a Igreja do Senhor é chamada para ser o corpo vivo, espiritual, de Cristo, neste mundo, com suas dores, suas angústias, seus pecados, seu materialismo e sua inimizade contra Deus. Que respostas práticas a Igreja pode dar a um mundo que zomba de Deus, que declara que Deus está morto mas que depende de Deus para existir?

O ESTILO DE VIDA POVO DE DEUS

A Igreja deve olhar para si mesma como um corpo de embaixadores (II Co 5:20 - De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus) com uma única mensagem: voltem-se para o nosso Deus e ele perdoará graciosamente todos os seus pecados (Is 55:7 - Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar), mesmo que eles sejam abundantes e repulsivos (Is 1:18 - Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã). Como embaixadores de Cristo - ou como o corpo de Cristo - a Igreja tem a função de evidenciar o seu caráter, devendo buscar poder falar de si mesma o que Paulo falava: já não sou em que vivo, mas Cristo quem vive em mim, mesmo na carne (Gl 2:20 - ...logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim). Precisamos, assim, nos perguntar o que do caráter de Cristo a Igreja pode reproduzir como resultado da ação do Espírito Santo em seu meio pois o certo é que, se a Igreja é a comunidade dos discípulos de Cristo, devem os discípulos buscar, sempre, ser como o seu mestre - embora consciente das consequências disso (Mt 10:25 - Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?). Vejamos algumas evidências da formação do caráter de Cristo na Igreja - e só com estas evidências o mundo perceberá que há algo diferente na Igreja.

O AMOR

É evidente que a palavra amor já perdeu muito do seu significado, ou, o que é talvez mais danoso, já tenha assumido significados muito inferiores e vulgares. Todavia, entendemos que a verdadeira natureza do amor que deve existir na Igreja não é o amor pelo pecado escondido na errônea compreensão (politicamente correta, exegeticamente errada e espiritualmente danosa) sobre a tolerância com os fracos na fé (Rm 15:1 - Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos) porque Jesus morreu justamente por causa dos pecados dos fracos (Rm 5:6 - Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios) para apresenta-los sem suas fraquezas (Cl 1:22 - ...agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis) perante Deus. O amor que deve existir na Igreja é um mandamento do Senhor Jesus para seus discípulos (Jo 15:12 - O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei) e este mandamento expressa-se na verdadeira comunhão (Rm 13:8  A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei) sem qualquer forma de hipocrisia (I Jo 3:18 - Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade) porque é isto o que vai evidenciar para os observadores da Igreja a existência da verdadeira Igreja de Cristo (Jo 13:35 - Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros).

 A COMUNHÃO

Antes mesmo da sua “estreia” a Igreja já tinha por base de sua existência a comunhão - Jesus ensinou seus discípulos durante três anos, e eles tinham uma bolsa comum a todos (que ficava aos maus cuidados de Judas - Jo 12:6 - Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava) e também faziam refeições juntos. Em seu “debut” a descrição feita da Igreja é que todos estavam juntos e tinham tudo em comum (At 2:44 - Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum) e isto vai sendo mantido mesmo com o crescimento exponencial da Igreja - e é possível que fosse uma das causas deste crescimento (At 4:32 - Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum) pois a Igreja contava com a simpatia de todo o povo (At 2:47  louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos). Esta comunhão se expressava de maneira muito clara na participação das reuniões da Igreja (At 2:46 - Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração) o que nos leva a pensar na grave falha da Igreja quando despreza a comunhão (Hb 10:25 - Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima) sendo que este desprezo pela comunhão é considerada uma das formas de prática deliberada do pecado (Hb 10.26-27 - Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; 27 pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários) considerando tais desprezadores, em última análise, como adversários do Senhor (Lc 11:23 - Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha).

O PERDÃO

Uma das mais belas características do estilo de vida que deveria caracterizar a Igreja é o perdão - atitude que deve preceder até mesmo o culto. Se fôssemos obedecer as instruções de Jesus certamente teríamos uma montanha de ofertas sobre a mesa mas sem possibilidade de uso por parte da tesouraria da Igreja porque, devido à dureza do coração de irmãos que não se perdoam, que não se falam, estas ofertas seriam simplesmente deixadas sem, serem, no entanto, consumadas (Mt 5.23-24 - Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta). Ao tradicional costume de perdoar pouco o Senhor Jesus manda perdoar de maneira magnânima (Mt 18:22 - Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete)  porque o resultado do perdão não é outro senão o amor (Lc 7:47 - Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama). O ensino de Jesus sobre o perdão é recorrente, porque esta era e é uma necessidade constante em Sua Igreja. O perdão é parte importante da oração do cristão (Mc 11:25  E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas) e se este quer ser perdoado, deve também perdoar (observe a expressão para que), uma vez que quem não perdoa não é perdoado (Mc 11:26 - Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos perdoará as vossas ofensas). O perdão também está ligado à restauração, pois mesmo aqueles que, porventura, tenham sido julgados de acordo com a reta justiça (Jo 7:24 - Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça), sendo, por causa de seus maus frutos, apontados como pecadores e afastados da comunhão (II Ts 3:14 - Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado) podem e devem ser restaurados à comunhão quando demonstrarem seu arrependimento (Lc 6:37 - Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados) devendo a Igreja dar-lhes todo o suporte necessário para que se fortaleçam através do perdão mútuo (Cl 3:13 - Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós).

A ALEGRIA

A depressão tem sido a causa de um número enorme de suicídios ou de fracassos em várias áreas da vida. Paradoxalmente é justamente onde as pessoas parecem mais bem sucedidas que o índice é mais relevante. Países como Noruega, Suécia, Dinamarca e Japão despontam como líderes neste triste ranking. Estados brasileiros mais desenvolvidos apresentam índices mais preocupantes que estados com menor poder aquisitivo. A explicação não é das melhores: os mais pobres acreditam que a satisfação estará em atingir os padrões do “sul maravilha” ou do “primeiro mundo”. Aqueles já estão lá - e já perceberam que a satisfação não está nas coisas que podem ser conquistadas no mundo e há mais de 2000 anos as Escrituras já advertiam quanto a isto (I Jo 2:17 - Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente). A mesma Escritura mostra onde é possível encontrar alegria permanente: andando no Espírito sem buscar satisfazer as fúteis aspirações da carne (Gl 5:16 - Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne) pois os cidadãos dos céus tem as suas aspirações voltadas para as coisas celestiais e só podem alegrar-se no Senhor (Sl 32:11 - Alegrai-vos no SENHOR e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração) o que resultará em uma vida de comunhão e louvor a Deus (Sl 97:12 - Alegrai-vos no SENHOR, ó justos, e dai louvores ao seu santo nome), como diz a letra de um cântico cristão bem conhecido: “a alegria está no coração de quem já conhece a Jesus”... Alegrar-se no Senhor é uma experiência que independe de segurança, paz ou prosperidade (Fp 4:11 - Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação) mas é fruto da certeza que o Senhor não abandona os seus em momento algum (Jo 14:18 - Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros; Mt 28:20 - ...ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século) e que certamente conduzirá a história dos que nele creem até o fim determinado por sua graça (II Tm 1:12 - ...e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia). A verdadeira e completa alegria do crente advém do fato de ele estar em comunhão com Deus e com os demais crentes (I Jo 1.3 - ...o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4 Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa).

A UNIDADE

Outra característica do mundo pós-moderno é o grande número de divisões - e, na verdade, a unidade é impossível segundo o pós-modernismo porque a unidade exige algum dogma, algum ponto onde todos possam concordar, e o único dogma do pós-modernismo é, justamente, a negação de qualquer forma de dogmatismo. A Igreja oferece ao mundo a alternativa de, em Cristo, sermos um (Cl 3:15 - Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos) e, como reflexo desta unidade por intermédio do Espírito somos, de fato, um só corpo (I Co 12:12 - Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo). Esta unidade não é criada pela Igreja, é a unidade que é fruto da atuação do Espírito em pecadores trazendo-os para a Igreja. Aos pecadores cabe preservá-la (Ef 4.3-6 - ...esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; 4 há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; 5 há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos) e eles podem fazer isso de duas maneiras: a) não destruindo-a com suas próprias ações, como, por exemplo, faz a pessoa insensata, homem ou mulher, em seu lar (Pv 14:1 - A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derriba) e resistindo aos ataques do inimigo utilizando-se da armadura de Deus (Ef 6:13 - Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis).

A OBEDIÊNCIA

Um dos filhos do pós-modernismo chama-se construtivismo. E um dos pilares do construtivismo é a seleção pessoal do que se pretende atender para atingir seus objetivos. Como não há dogmas, não há autoridade absoluta, mas apenas a necessária. A maior autoridade é aquela que pode dar mais ou tirar mais. E, neste contexto, nenhuma autoridade é mais rejeitada do que a autoridade espiritual porque o pós-modernismo é materialista, e rejeita todo e qualquer tipo de espiritualidade - quando muito, aceita-as como construções sociais e emocionais necessárias. Isto explica porque o pós-modernismo é essencialmente anticristão: o cristianismo é dogmático, é exigente, é exclusivista. Cristo afirma que ele é o único caminho (Jo 14:6 - Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim), lembrando as palavras do Senhor que diz que além dele não há outro salvador (Is 45:5 - Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que não me conheces), trazendo a baila verdades que o pós-modernismo detesta: a mensagem de salvação que só faz sentido se houver pecado e que este salvador é Senhor e exige guarda obediente de seus mandamentos (Lv 22:31 - Pelo que guardareis os meus mandamentos e os cumprireis. Eu sou o SENHOR) porque obediência é uma prova de que, de fato, há um relacionamento de grato amor por parte dos salvos para com seu salvador (Jo 14:15 - Se me amais, guardareis os meus mandamentos).

O MUNDO DA IGREJA FAZ SENTIDO

John Stott afirma que o mundo secularizado está em busca da transcendência, de significados e de comunhão. Todas essas coisas estão no domínio da igreja de Cristo - e a Igreja não pode abrir mão destas coisas porque, doutro modo, fica sem mensagem e torna-se apenas mais uma forma de religiosidade secularizada. Nós como cristãos vivemos num mundo pluralista, todavia temos que deixar claro para essa geração que não somos pluralistas. Não acreditamos que todas religiões são válidas e levam a Deus porque não levam. Religiões, mesmo o cristianismo se abrir mão de seus princípios fundamentais, são apenas enganos demoníacos que devem ser mantidos à distância (II Tm 3:5 - tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes). Negar a unicidade de Cristo para esta geração é, em primeiro lugar, dar atestado de morte da Igreja e dizer que ela tornou-se sal que não salga, devendo, portanto, se rejeitada e será, indubitavelmente, pisoteada pelos homens (Mt 5:13 - Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens). Mas negar a unicidade de Cristo é, também, dar um atestado de condenação aos homens e mulheres que, sem salvador, permanecerão sem salvação.

terça-feira, 26 de julho de 2016

O QUE HÁ ERRADO COM UM CRISTÃO JULGAR-SE IMPRESCINDÍVEL


Vamos lembrar de coisas que estão erradas com a Igreja: i) sente prazer em criticar pecados e falhas dos irmãos e se tornam insensíveis aos seus próprios pecados; ii) olha com maior simpatia e tolerância para o mundo e não mostra amor para com os da família da fé; iii) tem cada vez menos laços fraternos e cada vez mais amizades mundanas; iv) está cada vez mais cansada de tanto trabalhar que não tem mais forças para se envolver na obra de Deus; v) acha que o dízimo não é instituição de Deus para manutenção de sua Igreja; vi) é membro de uma igreja há alguns anos e seus amigos ficam surpresos quando descobrem.

Algo está errado quando o cristão começa a acreditar que é imprescindível para a Igreja de Cristo. Certamente você já viu um desenho de um personagem barbudo e cabeludo apontando para o leitor e a frase “Eu preciso de você”. Para começar ela não é nada original - ela é a adaptação de um cartaz estadunidense convocando os jovens para a guerra. Em segundo lugar ela expressa um ensino que é profundamente antropocêntrico e em nada reflete o ensino das Escrituras a respeito da suficiência de Deus, aquele que existe por si mesmo, e da precariedade da nossa própria existência, pois nele, e somente nele, nos movemos  e existimos (At 17.28) e se de nós se ausentasse o Espírito de Deus todos, a um tempo, expiraríamos (Jó 34.14-15).

Algo está errado quando o cristão começa a achar que somente ele é a solução para os problemas da Igreja, que somente ele sabe o que é certo, que somente ele pode... E, pior, quando se torna um ácido crítico de tudo o que os outros fazem (ou não fazem) e pensa: “Ah! Se não fosse eu aqui!” E porque? Alguns se julgam importantes por causa do talento musical, outros por causa da sua capacidade de “aglutinar pessoas”, outros por sua história na Igreja, outros pelo tamanho de sua família, outros por causa do montante do seu dízimo, como se alguém conseguisse dar mais do que as duas moedinhas da viúva pobre (Lc 21.4).

Só para você pensar: aquelas moedas não fariam a menor diferença na manutenção do riquíssimo templo de Jerusalém - mas Jesus a considerou a maior de todas as ofertas. A sua não chega nem perto.

Infelizmente muito da moderna pregação e das músicas cantadas na Igreja fazem os cristãos hedonistas e mimados chegarem à conclusão de que Deus precisa deles - que sem eles a Igreja não anda, a Igreja não sobrevive. PÁRA! Se nem as portas do inferno são capazes de prevalecer contra a Igreja, você fica aí achando que sua marra vai fazê-la cair?

Deixe-me falar-te uma coisa muito importante:

É isso mesmo. Deus não precisa de você para nada. Ele é autossuficiente, e se ele se  interessa por você não é porque você seja mais precioso do que ouro de Ofir - mas porque ele resolveu te amar e te livrar do inferno. Você não tem nada que possa barganhar com Deus simplesmente porque ele já tem tudo, ele é o Senhor do ouro e da prata, dos bosques e dos animais do bosque, e dono de todo ser que respira. Se ele se interessa por você é porque ele, graciosamente, te amou. Se ele te dá a oportunidade de servi-lo não é porque ele precise de você, mas porque ele está te oferecendo um privilégio.

Sabe seus talentos? Deus lhe deu - e se você não usá-los para glorificá-lo, se enterrá-los, até o que você acha que é seu lhe será tirado. Sabe os seus dons? São dons, são dádivas - e devem ser usados no reino para engrandecer o nome do Rei. Se você se acha mais importante do que qualquer outra pessoa na Igreja, então, você ainda não compreendeu a natureza do reino, e é muito provável que precise “nascer de novo”. Igreja não é lugar para ser importante, é lugar para servir.

Sabe o que vai acontecer quando você não estiver mais na igreja? O mesmo que aconteceu quando Tiago, Pedro, Paulo, Agostinho, Lutero, Calvino, Lloyd-Jones, Bunyan e tantos outros se foram: ela continuou, e continua, e continuará. Sabe o que aconteceu com aqueles que se julgavam mais importantes, que queriam ser grandes na Igreja? Foram considerados perdidos, como Simão, como Ananias, como Safira, como Demas e muitos outros ao longo da história.

Deixe-me concluir: não é Cristo quem precisa de você - é você quem precisa de Cristo e deve obedecê-lo, inclusive se colocando como membro do seu corpo (a Igreja) e servindo aos seus irmãos amorosamente.

terça-feira, 12 de julho de 2016

O QUE HÁ DE ERRADO COM O ESTILO DE VIDA DA IGREJA



Mantenha em sua memória coisas que estão errado com a Igreja: i) sente prazer em criticar pecados e falhas dos irmãos e se tornam insensíveis aos seus próprios pecados; ii) olha com maior simpatia e tolerância para o mundo e não mostra amor para com os da família da fé; iii) tem cada vez menos laços fraternos e cada vez mais amizades mundanas; iv) está cada vez mais cansada de tanto trabalhar que não tem mais forças para se envolver na obra de Deus; v) acha que o dízimo não é instituição de Deus para manutenção de sua Igreja.

Algo está errado quando o membro da Igreja vive de tal maneira que o mundo não consegue perceber a diferença, não se sente motivado a perguntar-lhes a razão da esperança que carregam dentro do coração (I Pe 3.15).

Algo está terrivelmente errado com a Igreja quando alguém com quem os crentes convivem há muito tempo finalmente “descobrem” que eles são membros de uma Igreja e ficam espantados com esta descoberta.

Eu sei que existem “crentes secretos”, crentes que não podem viver a sua fé com a liberdade que temos no Brasil e, enquanto isso, evangelizam, mostram que somente Jesus Cristo é o salvador. Muitos pagam preço altíssimo por isso - alguns a própria vida. Conheci anos atrás um missionário que ia para um país “fechado” para o evangelho e as suas comunicações eram somente por meio de um e-mail - sem nome, sem identificação, sem endereço. Ser descoberto poderia, na melhor das hipóteses, resultar em expulsão e, em casos extremos que tem acontecido com frequência cada vez maior, a execução.

Não há problema com estes crentes - mas e quanto àqueles que, com o mesmo comissionamento de serem testemunhas e com a facilidade de serem testemunhas em sua própria cultura, sem correr nenhum dos riscos que correm tais missionários, são, simplesmente, uma espécie de agentes secretos do reino. Lembra do personagem 007? Os “zeros“ indicavam que o agente James Bond tinha autorização para matar durante as investigações - e ele era apenas o sétimo agente com esta autorização oficial. Tem crente que acha que é como o 007, só que coloca uma vírgula antes do zero... E um zero à esquerda... É zero de leitura da bíblia (nem sequer a leva para a Igreja, e, quando acontece de levar, “esquece-a” porque vai passar na lanchonete, na sorveteria ou a praça); zero de oração (já vi casos de em um grupo de pessoas reunidas num círculo para orar quando abriram os olhos um dos crentes tinha fugido para não orar publicamente); zero de comunhão (basta olhar a chamada da Escola da Bíblia - ainda bem que não tem chamada nas reuniões de oração e cultos de doutrina); zero de evangelização (é absolutamente incapaz de mostrar uma única pessoa que já tenha conduzido a Cristo); zero de contribuição (senão não sobra pro tênis, boné, perfume, bolsa, sorvete, celular, casa, lanche, etc.).

É... Há algo de errado com a Igreja quando seus membros são agentes secretos e não proclamam as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. E, fica aqui a indagação: será que foram chamados mesmo?

Houve um tempo em que o cristão, por onde passasse, era reconhecido imediatamente, eram apontados com zombaria e deles se dizia: “Lá vai o crente...”, ou “... o bíblia”. Seus atos, suas palavras, os ambientes que frequentava, o que bebia... Tudo era uma maneira de testemunhar que havia algo de diferente. E havia. Havia obediência, temor de Deus. Hoje é difícil descobrir quem é crente e quem não é - e isto não só por suas vestes ou seu cabelo, mas por causa da conduta.  Se você tem alguma dúvida experimente ir a qualquer lugar quando sair da Igreja após o culto. Fique por perto, ouça o que dizem (mas só por experiência, ok) e tente identificar quem é crente e quem não é. Se as conversas não ajudarem, seja um pouco mais cuidados e tente identificar pelas roupas - se são decentes ou “exuberantes” demais... quanto de corpo é mostrado, insinuado... Ainda está difícil, não está?

Atente em um detalhe: uns saíram da Igreja, lugar de adoração, e outros se produziram para mostrar o corpo na rua... Quem é quem? Ou será que o propósito de ambos não foi o mesmo? Faça este teste numa noite de festa na Feira Agropecuária. Acho que você não vai se surpreender com o resultado.

Por fim, há crentes que, de tão secretos, mas de tão secretos que conseguem ser, provavelmente são ovelhas desconhecidas até no aprisco do Senhor, e, talvez, com toda a graça de Deus, estejam entre aquelas de quem ele diz serem ovelhas a serem buscadas em outro aprisco. Sabe de quem é este outro aprisco? Sabe quantos rebanhos existem? Sabe quantos senhores existem? Tem alguns que são tão secretos que não poderão sequer fazer como aqueles que ousarão dizer: “Senhor, não fizemos isto e isto em seu nome” a quem o Senhor Jesus dirá: “Nunca vos conheci”. Que triste será - mas deixe eu concluir: não há crente de verdade sem obras, pois a fé que não se expressa em ações é uma fé infrutífera e morta.

Tem crente que é tão secreto, mas tão secreto, que quando tiver que se identificar vai dizer: “Eu sou Crent, Fals Crent”.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

COMO IDENTIFICAR A VERDADEIRA IGREJA DE CRISTO - At 2.14-21

Imagine que, de repente, você descubra uma pessoa que passou a vida inteira num lugar deserto, sem contato com nenhum grupo social, alguém que nunca teve nenhum contato com a Igreja de Cristo e que, seja por meio de alguma literatura, ou por uma mensagem ouvida no rádio sentiu-se motivado a procurar a igreja de Jesus Cristo, o Salvador.
Imagine que esta pessoa deixe sua morada, faça uma viagem meio sem rumo e chegue até uma cidade qualquer, Xinguara, por exemplo, já serve para o nosso propósito. Imagine que o nosso cidadão é um individuo esperto, apesar de não ser tão civilizado. Ele começa a andar pela cidade e vai olhando as inúmeras denominações existentes, com nomes que não lhe dizem muita coisa: Igreja Presbiteriana, Igreja Batista, inúmeras Assembleias de Deus, Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça, Mundial, Adventista do Sétimo Dia, Adventista da Promessa, Santos dos Últimos Dias, Testemunhas de Jeová, Católica Apostólica Romana, Igreja Congregacional, Cristã do Brasil, Brasil para Cristo, Deus Forte, Igreja Pentecostal Ministério de Fogo e logo em frente a Ministério Água Viva… eu poderia continuar aqui por mais alguns minutos até cansar você com uma lista que parece quase interminável. Mas não pretendo chamar a atenção para denominação alguma – nem mesmo para a minha Igreja, para a Igreja à qual eu pertenço e na qual o Senhor me chamou para ser seu ministro – exigindo de mim compromisso com a verdade e fidelidade a este chamado (I Tm 1.12-17).
Sem identificar qual o seu propósito ele pode começar a perguntar às pessoas o que elas acham das Igrejas, como elas veem o que acontece nelas, e qual o propósito delas. Sei que as respostas podem ser abundantemente divergentes, mas imagino que este homem seja extremamente criterioso e esteja buscando, com afã, encontrar o lugar certo para entregar-se ao Salvador com o qual deseja encontrar-se com urgência e como a maior de suas prioridades.
Depois de um tempo, vamos imaginar que ele finalmente chegou à conclusão de ter encontrado a verdadeira Igreja – presumamos que seja a sua Igreja. Como você acha que ele chegou a esta conclusão? Será que ele teria, de sua Igreja, o mesmo julgamento que é possível ter da Igreja primitiva, especialmente em seu nascedouro, há cerca de vinte séculos?
Vamos ver como aquela Igreja foi conhecida de maneira imediata, segundo o relato da Palavra de Deus em At 2.1-21, embora nossa atenção vá ficar restrita dos versos 14 a 21:
1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; 2 de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. 3 E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. 4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
5 Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. 6 Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. 7 Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando?
8 E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? 9 Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, 10 da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, 11 tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?12 Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer? 13 Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados!
14 Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras.
15 Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia.
16 Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: 17 E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; 18 até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. 19 Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. 20 O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor.
21 E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
At 2.14-21

O CONTEXTO HISTÓRICO CULTURAL ONDE A IGREJA NASCEU

Quando ocorreu o evento que historicamente ficou conhecido como o Pentecostes (nome que nada tem a ver com o Espírito Santo, mas com a festa das colheitas feita 50 dias após a páscoa) Pedro e os demais discípulos estavam reunidos no cenáculo da casa de João Marcos quando foram cheios do Espírito Santo e, em seguida, saíram pelas ruas anunciando a Jesus Cristo – a multidão de ouvintes era composta por gentes de 14 regiões com seus respectivos dialetos e cada um deles os ouviu proclamando as grandezas de Deus em sua própria língua materna – com o agravante de que os discípulos eram, em sua maioria, galileus, que falavam um dialeto aramaico específico e não o grego koiné comum àqueles povos (e o koiné não era compartilhado pelos orientais da Pártia, Média, Pérsia, Mesopotâmia e Síria). Alguns duvidaram de aquilo pudesse ser algo espiritual e zombaram acusando-os de bebedice, mas acabaram provendo a atenção necessária para que o evangelho fosse anunciado pela primeira vez em cumprimento à ordem do Senhor revestida de uma promessa de capacitação do alto (At 1:8).
Pedro, como era comum entre os discípulos, toma a palavra e a multidão passa a ouvi-lo atentamente. O público de Pedro e dos demais apóstolos era composto de judeus da Dispersão – também chamados de piedosos (eulabhj) um termo só usado no Novo Testamento para referir-se aos judeus. Era gente que tinha interesse religioso, que queria saber o que estava acontecendo com sua fé mas que em sua maioria nada sabia, de fato, sobre Jesus, a não ser, quem sabe, o que seus familiares tivessem comentado. Embora piedosos eles não receberam a ação direta do Espírito Santo porque ela havia sido prometida primariamente aos discípulos – o que não nos permite esquecer o fato de que eles foram, também, abençoados pelos eventos do pentecostes.
Com a atenção da multidão para um grupo de galileus que não falavam o dialeto galileu mas se expressava com clareza sobre as grandezas de Deus Pedro começa a sua pregação kerigmática: ele a) narra o ministério público de Jesus; b) oferece provas de que em Jesus as profecias se cumpriram; c) mostra o que o Antigo Testamento falava sobre Jesus; d) anuncia o senhorio de Cristo e e) exorta os seus ouvintes a se posicionarem positivamente, mediante arrependimento, fé em Jesus e comprometimento vital, ou conversão.
Nesta ocasião não vamos abordar a mensagem propriamente dita, mas entender, à luz do relato lucano, como a bíblia descreve o primeiro momento da Igreja, como ela se via e como ela era vista, ou em outras palavras, como foi a estreia da Igreja cristã no mundo.

COMO A IGREJA ERA VISTA

14 Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras. 15 Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia.
Quando os discípulos começaram a proclamar as grandezas de Deus, e a multidão começou a afluir para ouvir, ficou simplesmente perplexa, isto é, por algum tempo ficou incapacitada de fazer qualquer espécie de julgamento pois o que viam era incompreensível: como pessoas tidas como iletradas e ignorantes era capazes de expressar-se com clareza em mais de uma dezena de dialetos diferentes e anunciar uma mensagem ao mesmo tempo estranha e que era a resposta para todos os seus anseios, isto é, a vinda do messias, a chegada do salvador. Que messias era esse? O que tinha acontecido? O que estava acontecendo? Era, sem dúvida, uma mensagem estranha, sobre um salvador que se deixou imolar… sobre um Deus que se deixou crucificar… tudo lhes parecia irreal demais, louco demais, inacreditável demais (I Co 1:21).
Os judeus conheciam sua religiosidade formal, seus rituais e seus sacrifícios. Tinham o templo, os sacerdotes, os levitas, os doutos explicadores da lei. Isso já durava séculos e lhes parecia a única forma de religião aceitável – nem mesmo abundantes sinais foram suficientes para convencê-los e eles insistiam em pedir sinais (Jo 2:18), e continuariam a fazê-lo simplesmente porque eram cegos que viam mas não criam (Jo 9:41). Os gentios eram mais adeptos às historias épicas, sobre heróis que conquistavam cidades e enfrentavam deuses e monstros… ou adeptos de filosofias que não admitiam que nada material pudesse possuir ou produzir algum bem espiritual. Nenhum dos dois era capaz de discernir as coisas do Espírito (I Co 2:14).
Inaptos para discernirem as coisas do Espírito só lhes restava comparar a Igreja com o que conheciam – e o desassombro, a ousadia, a firmeza com que os discípulos anunciavam o reino de Deus mediante Jesus Cristo só poderia, aos seus olhos, ser considerada algum tipo de embriaguez. Não poderia ser algum tipo de loucura, pois eram muitos pregando a mesma coisa. Então, tinha que ser outra coisa, algo que todos poderiam ter feito ao mesmo tempo. Seu veredicto tolo e apressado é: embriaguez. Sim, tolo e apressado porque, se eram galileus que julgavam ignorantes quando sóbrios, pior ainda seriam se embriagados.
Isto não difere muito da forma como o mundo não cristão olha para a Igreja que busca permanecer fiel ao Senhor e a sua Palavra: se não entendem, então, a julgam, de modo que os cristãos são considerados tolos, manipulados e manipuladores, retrógrados, bobos, quadrados, descontextualizados, antiquados e um monte de adjetivos pejorativos. Quando a Igreja é julgada desta forma, nada diferente do que diziam dos cristãos primitivos (ébrios), cuja mensagem confrontava e afrontava a religião formal e estéril (At 17:6). Mas ela só será julgada assim se for um corpo estranho no mundo.

COMO A IGREJA SE VIA

15 Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia. 16 Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: 17 E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; 18 até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. 19 Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. 20 O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor.
Recentemente um projeto de lei tentou mudar a nominação legal das Igrejas, de entidades religiosas para sociedades religiosas. Parece coisa de pouca importância, mas isto tornava cada membro da Igreja um sócio da mesma, podendo ser responsabilizado civilmente como se fosse uma empresa qualquer. Muitos cristãos não se incomodaram com a mudança, e muitos donos de igreja consideraram a coisa natural – desde que continuassem isentos de impostos.
Ao mesmo tempo, muitos consideram a Igreja como algo semelhante a um clube, uma associação onde passam algumas horas por semana, e onde podem usufruir de alguns benefícios pois sempre terá alguém prestando algum tipo de serviço. Há muitas considerações sobre o que é a Igreja, e inclusive considerações teológicas verdadeiras, como, por exemplo, considerá-la o corpo de Cristo. Mas é como a Igreja do pentecostes (e não devemos confundi-la com os grupos pentecostistas) se via que queremos identificar esta Igreja: ela se via como o cumprimento da promessa redentiva de Deus. Ela não era outra coisa senão o cumprimento da promessa de Deus de derramar do seu Espírito sobre toda a carne (Jl 2:28). O que a Igreja dizia era que o povo de Deus não precisava mais esperar o Messias. Ela estava ali justamente para atestar o fim da esperança messiânica.
Os judeus estavam convictos (e com razão) de que eram o povo escolhido por Deus (Am 3:2), mas ao mesmo tempo lidavam com as enormes frustrações de dominações e exílio justamente por seus desvios, frustrações que nem mesmo reis como Davi ou Salomão conseguiram superar completamente – chegando a conclusão que homem algum poderia colocá-los na posição de proeminência mundial que julgavam sua de direito: isso só Deus poderia fazer, passando a aguardar, então, a chegada do Messias, que seria marcada pelo grande e terrível dia do Senhor, o dia da intervenção de Deus na história.
A mensagem da Igreja a respeito de Jesus substituía o desânimo de uns e a frustração de outros pela certeza. Jesus era o fim, o qeloj, isto é, a realização, e não a frustração da esperança messiânica. Nele as promessas se cumprem e o reino é chegado (Lc 11:20). Jesus é apresentando pela igreja primitiva como aquele que dá sentido a toda a história – sua vinda representa a intervenção de Deus na história humana causando uma transformação que somente os que obedecem ao Senhor já poderiam experimentar (At 5:32). A vinda de Jesus, sua vida, morte e ressurreição tinham o desígnio de afetar todos os aspectos da história humana, não sem razão esta história é dividida, apesar de um pequeno erro de cálculo, em antes e depois de seu nascimento.
O que a Igreja está dizendo àqueles milhares de judeus é: "Por muitas gerações sonhastes com o Dia do Senhor, o dia em que Deus irromperia na história. Agora, em Jesus, esse dia chegou". Dezenas de milhares deles podiam testemunhar que, de fato, viram os eventos que se seguiram à morte de Jesus e foram registrados por Lucas (Lc 23.44-45) exatamente como fora previsto por Joel. Temos o impressionado testemunho de um não judeu que reconhece ser Jesus Cristo o Filho de Deus (Mt 27:54), reconhecimento que só poderia ser feito mediante o próprio Deus (Mt 16:17).
A Igreja não era outra coisa senão o efetivo cumprimento das profecias a respeito do novo povo de Deus, o povo do messias, o povo que era, de fato, sacerdócio real e nação santa (I Pe 2:9), a nação formada por suas testemunhas (Is 43:10).

O QUE A IGREJA DEVIA SER

21 E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
O terceiro aspecto que queremos destacar neste texto é que a Igreja tinha uma clara visão de sua missão: ela não era um clube religioso. Ela não era uma associação de crentes que se limitariam a aguardar o retorno prometido do Senhor Jesus. Ela era uma comunidade com uma mensagem. Melhor ainda, ela era a comunidade com a mensagem. E a sua mensagem era a respeito de Jesus.
A Igreja sabia que sua existência tinha um propósito: ela existia para proclamar as virtudes daquele que a tirou das trevas para a sua maravilhosa luz. Ela existe para proclamar as virtudes daquele que as tirou das trevas para a sua maravilhosa luz. Ela continuará existindo e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16:18) porque ela existe para anunciar em claro alto som que só há salvação em Jesus Cristo (At 4:12 - E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos), o único que pode fazer a mediação entre o Deus infinitamente santo e os homens, infinitamente pecadores (I Tm 2:5) porque ele, o justo, morreu em favor desta multidão de injustos (I Pe 3:18).
Foi em Cristo, e só em Cristo, que Deus estava com o propósito de reconciliar o mundo consigo mesmo (II Co 5:19). E esta mensagem é da Igreja (II Co 5:18). Nenhum outro organismo sobre a terra tem a honra e a obrigação, e o dever, de cumprir esta tarefa – ainda que a Igreja estabeleça ONGs, creches, asilos e coisas semelhantes, esta tarefa é, foi e sempre será da Igreja.
Foi assim nos primeiros dias (At 5:29), foi assim no ministério imediatamente posterior (I Co 9:16) e deve ser sempre assim (At 18:9) e, caso ela se cale obedecendo ao mundo terão contra si o clamor deste mesmo mundo (Lc 19:40 ).
É preciso insistir neste ponto: a Igreja era a comunidade dos que creram (At 4:32) havia gentes de numerosas nações, cumprindo tipificamente a profecia de Joel. Mas esta multidão não era composta por crentes silenciosos, por agentes secretos do reino de Deus, como acontece hoje – agentes tão secretos, mas tão secretos, que talvez nem Deus tenha seus nome escritos na lista de seus embaixadores, no livro da vida. Assim que são tornados Igrejas são tornados também testemunhas públicas (At 1:8) e deveriam falar a todos do que viram, ouviram e experimentaram (I Jo 1.1-) porque não podiam deixar de fazê-lo (At 4:20).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Imaginemos aquele nosso personagem chegando até sua Igreja. Talvez falem muitas coisas dela - talvez até falem coisas ruins, e isto não é problema desde que não seja verdade (Mt 5:11) como aconteceu com a Igreja no dia do pentecostes.
A defesa de Pedro sobre o que esteava acontecendo na Igreja foi simples - assim como um justo não precisa ficar buscando explicações ou justificativas se não cometeu nenhum crime.
Imaginemos que aquele personagem chegue à conclusão que a Igreja é realmente o corpo vivo de Cristo, o cumprimento das promessas e profecias feitas pelo Senhor através dos séculos de revelação registrados nas Escrituras. E você é parte desta Igreja. Agora, falta apenas uma coisa: você precisa instruí-lo na verdade, você precisa dizer-lhe o que Jesus tem feito por ti (Lc 8:39), precisa discipulá-lo como Filipe fez com o eunuco para fazer dele um discípulo do Senhor (Mt 28:19) ensinando-lhe todas as coisas que o Senhor tem ensinado (Mt 28:20).
Não importa o mundo diga da Igreja, não importa a maneira como a julgue - seu julgamento sempre será contaminado pelo ódio que sente pelo Senhor da Igreja (Jo 15:19). O mundo só não pode ter razões para falar contra a Igreja, seu testemunho deve ser irrepreensível (I Pe 3:16).
Mas... Você, Igreja, precisa ir mais além. Precisa proclamar as virtudes, isto é, aquilo que Jesus fez e falou... Precisa dizer ao mundo que só há salvação em Jesus Cristo. Precisa dizer a todos que Jesus é o único mediador. Precisa afirmar que ele é o Filho eterno de Deus e precisa saber explicar isso com as Escrituras nas mãos. Enfim, precisa entregar a mensagem que lhe foi confiada, se és, realmente, parte da Igreja do Senhor.
Não faz muito sentido alguém ser salvo e não saber dizer nada sobre seu salvador. Nem o cego de nascença passou por isso - ele, ao menos, sabia o que ele era (Jo 9:17) e o que lhe tinha sido feito (Jo 9:15), os resultados de sua ação (Jo 9:25  Ele retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo) a ponto de ensinar correta teologia aos doutores da lei (Jo 9.30-33) e depois soube quem fez (Jo 9.35-38).
Cristão, Igreja, faça o mesmo: creia, adore, e anuncie o que Jesus lhe fez.

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