terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

II. A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E DESEMPENHA SUA MISSÃO QUANDO POSSUI UMA FÉ OPEROSA

Conhecemos a história da Igreja de Jerusalém: era uma Igreja que tinha como prioridade o crescimento do reino de Deus, dando tudo de si mesma para que o reino fosse expandido, para que o nome de Cristo fosse anunciado. Era uma Igreja que tinha como prioridade o discipulado dos novos convertidos, gente de todos os cantos do mundo antigo que não conhecera o Senhor Jesus. Judeus e prosélitos, gentios gregos e romanos, escravos, libertos e livres. Era uma Igreja que tinha como prioridade viver  como cristãos, viver como crentes, ser a Igreja de Cristo, a embaixada do reino de Deus num mundo perdido. E esta Igreja tinha uma identidade e a mantinha.
Como a Igreja do séc. XXI pode manifestar sua verdadeira identidade e manter-se como testemunha da verdade de acordo com a bíblia? De que maneira a Igreja deve manter o seu caráter como verdadeira Igreja de Cristo? Vejamos o que a Escritura nos diz:
41 Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.
42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.
43 Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos.
44 Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.
45 Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
At 2.41-47
Vamos, então, conhecer mais desta Igreja que vive segundo o padrão neotestamentário e que nos serve de modelo porque ela

POSSUI UMA FÉ OPEROSA

44 Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.
45 Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
 Já conhecemos a vida da Igreja cristã, suas prioridades de acordo com os versos 41 a 43. O primeiro passo para a Igreja preservar sua identidade e cumprir sua missão é conhecer a sua história para saber de onde veio, para saber como deveria funcionar a Igreja que era e é dirigida de maneira especial pelo Espírito Santo, primeiro através dos apóstolos e, agora, pelos verdadeiros pastores.
É necessário perguntar: porque a Igreja não vive segundo o padrão neotestamentário? Porque a Igreja não apresenta tanto quanto deveria uma fé operante e precisa ser constantemente exortada a um despertamento? Porque necessitamos clamar por um avivamento na Igreja de Cristo no sec. XXI? Ninguém em sã consciência, que seja minimamente observador, ousaria dizer que a Igreja como a conhecemos hoje é um corpo absolutamente saudável. Entre feridas e cânceres, a Igreja sofre com enfermidades que dificultam seus movimentos, que minam a sua vitalidade e a impedem de ser mais operosa – vivendo da maneira que seu criador deseja (Tt 2:14) e batalhando pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Ef 2.10).
Quando a Igreja está saudável, cada membro faz sua parte, e, embora as feridas externas sejam inevitáveis, cada parte do corpo cuida da outra, cada membro faz sua parte, e o corpo todo, bem ajustado, isto é, em comunhão e funcionando harmonicamente glorifica a Deus porque tem um mesmo coração e um mesmo propósito (Fp 2.1-4). Assim, podemos destacar duas características desta vida operosa e não apenas conceitual (Tg 1.25).

i.               A VIDA DA IGREJA É UMA EXPERIÊNCIA DE COMUNHÃO PRÁTICA

Tenho enorme dificuldade pensar apenas conceitualmente em comunhão. Imaginemos um casal que diz se amar mas moram, por opção, em casas diferentes encontrando-se esporadicamente – mesmo podendo morar juntos e passarem juntos todo o tempo ainda assim preferem a distância e esperam que os encontros aconteçam ao acaso. Imagine um filho que diz amar seus pais mas, mesmo podendo estar com eles, prefere o distanciamento e, eventualmente, manda-lhes uma mensagem (quase sempre “reencaminhada”) pelo WhatsApp?
Quando alguém chega na Igreja ele quer, entre outras coisas, comunhão. O mundo está cheio de gente que, mesmo em meio a multidão, encontra-se sozinho, sem direção, sem amigos (pode ter muitos contatos e muitos conhecidos, até mesmo muitos familiares, e ainda assim estar dozinho).
É gente que, como eu e você, como cada um de nós, quer comunhão com o Pai. Quer comunhão com o Filho. Quer comunhão por meio do Espírito. Quer, de alguma maneira, enfim, acabar com o problema de ser “sem Deus no mundo e estranho às promessas da aliança“ (Ef 2.12).
A Igreja de Jerusalém estava pronta para oferecer estas coisas. Não tinha ouro, não tinha prata, não tinha nem mesmo templos ou quaisquer recursos multimídia – mas tinha comunhão, vivia a comunhão de maneira prática e diária porque o amor de Deus e a Deus os unia. Andavam todos na mesma direção, buscavam no mesmo autor a consumação da mesma fé (Hb 12.2).
A Igreja precisa lembrar-se que o fruto do Espírito mencionado por Paulo aos Gálatas é essencialmente relacional (Gl 5.22-23). Só se pode amar pessoas, a alegria é algo que ninguém consegue experimentar sem externar para outras pessoas, paz sem outras pessoas não é paz, é solidão.
Já as obras da carne, embora não sejam exclusivamente relacionais, têm grande influência nos relacionamentos quebrados (Gl 5:19-21).
A comunhão da Igreja, na prática, é fruto do Espírito, ela não é conceitual, não é e não pode ser apenas teórica – e é algo que só pode ser alcançado pela atuação do Espírito porque, no Espírito, é impossível aos cristãos andarem cada um na sua própria direção e buscarem seu próprio interesse, pois são guiados pelo Espírito rumo a uma mesma direção – a Cristo (Jo 6:37) o autor e consumador da fé (Hb 12:2).

ii.                A VIDA DA IGREJA É UMA EXPERIÊNCIA DE ZELO MÚTUO

Já vi pessoas ficarem profundamente decepcionadas com a Igreja porque, em algum momento, em alguma necessidade (especialmente quando esta é pública) os ‘irmãos’ deixaram de dar a assistência, ou ao menos de estar presente mesmo sem palavras. Até mesmo os amigos de Jó, Elifaz, Bildade e Zofar, mesmo sem discernimento de Deus, ficaram ao seu lado por dias. Isso deve ter sido maravilhoso e reconfortante ao coração do sofredor (Jó 2.11-13) numa das mais belas cenas de companheirismo que eu consigo enxergar na bíblia, porque a mais bela de todas pode ser encontrada na cruz do Calvário. Depois eles erraram, e induziram Jó a errar cobrando um julgamento de Deus segundo o seu próprio padrão de justiça, esquecendo-se da verdade de que não há nenhum justo sobre a terra.
Nosso modelo mostra uma Igreja que cuidava dos necessitados (At 2:45). Aquela Igreja verdadeiramente cheia do Espírito cuidava dos necessitados a ponto de não haver necessitados entre eles. O termo aqui não é filantropia, mas comunhão e diaconia. Era uma Igreja que vivia como se estivessem aguardando o retorno do Senhor Jesus para aqueles dias – e efetivamente aguardavam o retorno de Jesus ainda naqueles dias. Certa vez vi alguém dizer que não se deve discutir com um incrédulo porque vão passar a eternidade separados mesmo, mas muito mais recomendável é buscar comunhão com todos como se fôssemos todos passar a eternidade juntos.
E os crentes em Jerusalém experimentaram um grau de comunhão inigualável porque amavam-se uns aos outros e dispunham das coisas em benefício coletivo. Lastimável é quando usa-se as pessoas por amor às coisas em benefício próprio. Este padrão não serve para a Igreja porque amar o mundo e as coisas que há no mundo é próprio de quem não conhece a Deus (I Jo 2.15).
Imaginemos, por um momento, duas pessoas chegando-se ao Senhor. Ouviram a mensagem salvadora em Jesus Cristo e disseram ao Senhor: “Eis-me aqui, quais as regras, quais as normas, qual o regulamento a seguir para ser cidadão do seu reino”. Imaginemos Jesus dizendo: “Creiam em mim”! “Amem a Deus sobre todas as coisas”! “E não se esqueçam de que devem ter amor mútuo, cuidando um do outro, ajudando a não cair, ajudando a levantar, curando quando for ferido”. Continue imaginando, e imagine que este seja o momento de provar que és, de fato, seguidor obediente de Jesus. Agora imagine que estas pessoas sejam como nós – se “amar ao próximo” for a chave para a eternidade, se “amar ao seu irmão” fosse condição sine qua non para a entrada no reino, com quantos irmãos você teria que se reconciliar? Diante de quantas pessoas você teria que procurar reconciliação por ser um cidadão do reino.
Agora, pare de imaginar, porque isto não é um exercício de imaginação, é um imperativo do Senhor (Jo 15:12) – você deve amar e cuidar de seu irmão como cuida de si mesmo. Não há opção para o cristão além de amar, sempre, independente da circunstância (Jo 15:9).

CONCLUSÃO

Se os irmãos em Jerusalém, em Éfeso, em Antioquia, em Damasco viviam deste jeito devemos nos perguntar quem está errado? Esta Igreja que vivia em zelosa comunhão e à qual o Senhor, dia-a-dia, acrescentava os que iam sendo salvos, ou a Igreja moderna que pensa com grandiosidade em termos de programas, programações, estratégias e estatísticas, edificações, equipamentos, etc.] mas que não vê, em muitos casos, acréscimo nenhum por dias, semanas, meses e até anos a fio.
Quem está errado? Será que estamos nos esquecendo que somos orientados pela Palavra a repartir (Sl 112.9) e a amar e cuidar do nosso próximo pois é assim que cumprimos a lei de Cristo (Gl 6.2)? Porque acumular como se fosse viver aqui para sempre e não repartir como peregrino e estrangeiro, sabendo que há uma pátria celeste onde estas coisas não tem nenhum valor?
A Igreja que vive segundo o padrão neotestamentário, tem que conhecer sua história, mas tem, também, que possuir uma fé que é mais do que palavras. Não pode amar apenas de palavras (I Jo 3:18) porque não é possível aquecer ou alimentar alguém apenas com palavras.
O que a Igreja do séc. XXI, com tantos avanços tecnológicos, pode fazer para recuperar o padrão de amor e cuidados mútuos exibidos pela Igreja de Jerusalém? Acho que os recursos tecnológicos são só recursos – e podem inclusive atrapalhar. A Igreja deve entender que precisa, antes de mais nada, valorizar a comunhão pelos motivos certos – a Igreja é um corpo, um só corpo, um só edifício, tem um mesmo Deus e todos são irmãos em Cristo, comprados pelo mesmo sangue, retirados de um mesmo lamaçal de pecado e igualmente pecadores.
Se a Igreja passar a considerar o outro tão digno do seu amor quanto acha que é digna de ser objeto de amor ela estará próxima de, de fato, ser Igreja. E, finalmente, quando ela passar a considerar o outro superior a si mesmo (Fp 2:3) então será como deve ser, um corpo, em que o olho, a mão e todos os demais órgãos se mobilizam para tirar algo que incomoda o corpo então chegará a maturidade.

A Igreja não precisa se preocupar em criar comunhão ou unidade – ela é fruto do Espírito, ela é criada pelo Espírito e à Igreja cabe preservar a unidade do Espírito no vinculo da paz (Ef 4:3) num esforço diligente, constante e consciente. Basta à Igreja querer, apenas, ser Igreja.

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