segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

IV. A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E DESEMPENHA SUA MISSÃO QUANDO POSSUI A ORIENTAÇÃO DA PALAVRA PARA CAMINHAR

Recentemente o voleibol brasileiro recebeu a notícia de que um dos maiores vencedores como técnico estaria deixando a seleção brasileira. Sem dúvida era uma notícia aguardada, há pelo menos dois anos seu nome é especulado em um partido político como potencial candidato a diversos cargos. Mas o fato é que, com pretensão política ou não, ele conseguiu montar uma equipe vencedora, com técnicas e táticas que surpreenderam os adversários e uma impressionante formação técnica, especialmente no seu levantador e no líbero. Seu substituto, dirigido por ele durante alguns anos, certamente vai manter a mesma orientação, com a mesma identidade tática e técnica, aplicadas a situações novas que certamente surgirão, perseverando na busca dos mesmos resultados.
A Igreja também precisa manter sua identidade e cumprir sua missão – mas como fazer isso no decorrer dos anos, em culturas diferentes e com pessoas diferentes? A resposta é clara e única: mantendo-se orientada pela Palavra de Deus que é eterna e imutável. Lembremos das palavras do mestre Jesus: os céus vão passar, a terra vai passar, tudo vai passar, mas a Palavra de Deus, que nos foi dada, permanecerá eternamente (I Pe 1.25).
 A Igreja cristã só será capaz de manter a sua identidade se não for orientada pelos desejos e devaneios dos homens porque assim se tornará uma igreja mundana e não passará de ser meramente uma instituição humana. A Igreja manterá sua identidade e cumprirá sua missão se for uma Igreja biblicamente orientada.
Para manter sua identidade a Igreja deve ser biblicamente orientada para, com conhecimento, ser testemunha de Cristo, ensinando o que ele ensinou e vivendo como ele ordenou. Esta tarefa cabe à toda a Igreja – sim, a Igreja é responsável por receber alimento sólido, verdadeiro, como os de Beréia (At 17:11), reconhecendo e rejeitando todos os que se atreverem a pregarem outro evangelho como ministros infiéis (II Co 11.13-15). Todavia, esta tarefa de ensinar à Igreja é especialmente confiada aos ministros, líderes que Deus dá ao seu povo para edificação de sua Igreja. A Igreja biblicamente orientada segue os padrões estabelecidos pelas Escrituras e deste alimento deriva seu vigor espiritual.
Vejamos o que o apóstolo Paulo nos ensina a este respeito:
6 Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido.
7 Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas. Exercita-te, pessoalmente, na piedade.
8 Pois o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser.
9 Fiel é esta palavra e digna de inteira aceitação.
10 Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis.
11 Ordena e ensina estas coisas.
12 Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.
13 Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.
14 Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério.
15 Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto.
16 Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.
I Tm 4.6-16
A Igreja do Senhor é abençoada quando sua liderança ministra ao seu coração de acordo com a bíblia. A Igreja do Senhor é abençoada quando o rebanho recebe alimentação bíblica, acostuma-se com ele e passa a desejá-lo ardentemente (I Pe 2.2). É função da Igreja como um todo, sua liderança e liderados a manutenção de um ministério bíblico, conservando a sã doutrina na caminhada da fé rumo às mansões celestiais.
Nossa questão é: como a Igreja pode alcançar este alvo tão elevado? Em primeiro lugar, a sua liderança, pastores, evangelistas, mestres, professores, presbíteros, diáconos e demais líderes devem possuir o chamado do Senhor.
A bíblia tem uma palavra especifica para descrever o chamado para o ministério, indicando que os chamados são eleitos por Deus para um determinado serviço. Isto está de acordo com o ensino bíblico que afirma que foi Deus mesmo quem deu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Ef 4.11-12) e, como Deus não faz nada sem um propósito definido, podemos perceber que esta doação divina foi feita com um alvo duplo em vista: aperfeiçoar os santos para que eles desempenhem melhor o seu serviço a Deus e edificar a Igreja, o corpo de Cristo (Ef 4.12).
Às vezes a liderança da Igreja é desprezada com uma observação que é, ao mesmo tempo, verdadeira e equivocada. É muito comum dizer que “homens passam, a Igreja fica”. É verdade porque todos os homens passam, e a Igreja do Senhor fica. Mas pode ser usada como pretexto para justificar mudanças que agradam mais aos homens do que a Deus, especialmente pelo fato de que Deus deu profetas, evangelistas, pastores e mestres para edificarem a sua Igreja até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, à estatura de varão perfeito (Ef 4.13).
Entretanto, não é qualquer liderança que deve ser reconhecida como dádiva de Deus, há algumas qualificações bíblicas que precisam ser observadas nos obreiros para que eles sejam reconhecidos como portadores do chamado divino. Podemos afirma que, no desenvolvimento do seu serviço, os servos precisam apresentar um ensino de

i.                  QUALIDADE

Paulo propõe a Timóteo que, como obreiro do Senhor designado para edificar a Igreja em Éfeso, ele deveria ensinar a verdade, mas, também, tinha a missão de combater as fábulas e opiniões de homens sem o devido respaldo bíblico que estavam entrando sorrateiramente na Igreja. Havia ali uma mistura de genealogia hebraica com os costumes mitológicos do panteão greco-romano, e mentes acostumadas com as filosofias pagãs tendiam a identificar os heróis da fé com os heróis gregos e até mesmo como semideuses (o que, inevitavelmente, acabou ocorrendo com alguns considerando Jesus menor que Deus ou considerando os homens como mais que homens).
Para combater este tipo de filosofia Timóteo tinha como estratégia expor para a Igreja de Éfeso qual a vontade de Deus para seu povo, vontade que é sempre boa, perfeita e agradável (Rm 12:2) e que também é imutável, impedindo que a Igreja assumisse uma forma de pensar mundanizada, secularizada, socialmente contextualizada mas sem conteúdo bíblico, e, ao fazer isso, ao dedicar-se em apresentar com eficiência a mensagem de Deus, ele seria considerado bom ministro de Cristo (v. 6).
A melhor maneira de entendermos isso é que ele deveria buscar ter seu ensino qualificado (I Tm 4:13), demonstrando que suas exortações à Igreja provinham de conhecimento da Palavra de Deus e do desejo de ser encontrado fiel ao Senhor (I Co 4.2) expondo (υποτιθημι – possuindo recursos para estabelecer) a verdade de Deus como um legítimo chamado para o serviço cristão.
O que qualifica o chamado não é um título eclesiástico, uma credencial institucional, mas fidelidade ao Senhor em seu ensino e procedimento, comprometimento com a Palavra de Deus, vivendo-a e ensinando-a para que seja, efetivamente, reconhecido como “homem de Deus” (II Rs 4.9). Cada cristão tem responsabilidade semelhante – embora nem todos sejam pregadores, ou mestres, ou evangelistas, todos precisam estar prontos a, quando exigidos, explicarem a razão da esperança de vida eterna que possuem no coração (I Pe 3:15).
Não devemos nos enganar, os inimigos da fé trabalham arduamente para oferecerem argumentos tentando demonstrar a irracionalidade da fé. Tentam demonstrar que suas muitas teorias, todas elas contraditórias entre si, são verdadeiras e todas se esforçando contra uma só – contra o ensino das Escrituras. Não precisamos conhecê-las todas – precisamos conhecer o ensino da Palavra de Deus, e, com ela, combater todo tipo de adversário (II Co 10:4-6) e, pela graça de Deus, acreditarmos que o mais ferrenho inimigo da fé poderá tornar-se um valoroso irmão em Cristo como aconteceu com Paulo (Rm 1:16).
Mas não basta conhecimento, porque mesmo um incrédulo pode ter profundo conhecimento do texto bíblico sem, evidentemente, conhecer a Deus, como o próprio Paulo afirma a respeito de si mesmo e de seus compatriotas judeus (Rm 10:2). É preciso que, ao lado do conhecimento, encontremos também uma vida de

ii.               PIEDADE

Como já afirmamos, Paulo identificou um risco para o ministério de Timóteo e para a Igreja que, provavelmente, já estava causando alguma espécie de estrago: conversas inconsequentes, improdutivas e inapropriadas, uma espécie de mistura entre os mitos greco-romanos e as histórias bíblicas, algo parecido com as novelas como as que, embora com temática bíblica, se permitem muita liberdade criativa, ou o filme “Noé” que simplesmente “não é” fonte de edificação para crentes, fantasioso e que podem induzir os cristãos a desvios doutrinários, como pudemos ver muitos crentes discutindo sobre os personagens que, são, simplesmente, personagens com motivos bíblicos.
Paulo não considerou isso um “probleminha” estético, mas uma grave ameaça à pureza da fé. Contra isto a liderança cristã deve estar pronta a se opor com, ao lado do ensino correto, uma vida piedosa.
Pedro também enumera uma série de características desejáveis de se encontrar em quem teme ao Senhor – conhecimento é uma delas, e piedade outra muito importante (II Pe 1:6-7).
Em nossa época o que mais se fala é em cuidar do corpo, exercitar o corpo para ter saúde às vezes nos esquecemos que é preciso, também, exercitar-se espiritualmente, isto é, viver a fé na prática, e isto pode ser traduzido por possuir uma vida piedosa (Mq 6:8) – e esta é uma aplicação do mandamento do Senhor Jesus de que é dever do crente amar ao próximo como a si mesmo.
Timóteo é chamado por Paulo para ser um modelo, e com ele cada crente deve aprender que precisa conhecer a Palavra do Senhor. E o crente que conhece a Palavra de Deus sabe que sua vontade não é a imposição de uma clausura (Gl 5:1) ou de um peso (I Jo 5:3).
Assim como cada um de nós, Timóteo foi exortado a aplicar o seu conhecimento da bíblia no seu dia-a-dia, numa vida de dedicação a Deus e de serviço ao próximo em cuidadosa obediência aos mandamentos do Senhor – e o nome disso é piedade, ainda que quem não conhece o senhorio de Jesus considere isto uma escravidão ou alienação (Mt 11.28-30).
Se você investe em você, em seu corpo e em seu espírito, em conhecimento e piedade, você será mais facilmente notado e terá mais oportunidades de testemunho que não devem ser desperdiçadas (Cl 4:5) para a edificação de outros (Mt 22.39).
Assim, aprendemos que o conhecimento produtivo conduz à piedade numa atitude de completa

iii.            DEDICAÇÃO

Se é normal que esperemos de funcionários de uma empresa qualquer que eles trabalhem bem, que desenvolvam bem suas funções e, muitas vezes, sejam avaliados como tais, e uns serão considerados bons (Mt 25:23) enquanto outros serão avaliados, por seus frutos (Mt 7:20) como maus servos (Mt 25:26). Da mesma forma também devemos esperar que os servos de Deus se dediquem no seu serviço. Nossa relação com Deus é mais intensa do que a de qualquer funcionário com uma empresa – ou, ao menos, deveria ser.
Em nossa relação com Deus temos laços de filiação – Deus é nosso pai, e falamos com ele em oração chamando-o assim (Mt 6:9) e nós somos feitos seus filhos (Jo 1:12). O Senhor é nosso pastor (Jo 10:14) e nós ovelhas do seu rebanho (Sl 100:3). O Senhor é, ao mesmo tempo, nosso amigo (Jo 15:15) e também dono com direito de impor sua vontade (Jo 15:14) porque nos comprou por alto preço (I Co 6:20).
Paulo fala aos gálatas que eles devem servir aos seus senhores (e isto pode incluir até o serviço escravo) com o máximo de dedicação porque, ao final, estão servindo ao Senhor (Cl 3.22-23).
Tanto, maior, entretanto, deve ser o empenho dos servos chamados para o serviço do Deus vivo (v. 10). Lembremos que o Jesus Cristo se entregou para criar um povo exclusivamente seu, zeloso, com uma vida repleta de boas obras (Tt 2.14) que glorificam a Deus e não de meros relatórios que glorificam homens e instituições.
Todo o nosso empenho em servir aos senhores terrenos deve ser feito como obediência ao nosso Senhor celestial. A simples tentativa de obedecer, em mesmo nível, a dois senhores é considerada uma impossibilidade – um dos dois será desagradado, e certamente o Senhor que nos remiu de nossos pecados, e nos comprou mediante o sangue de seu Filho Jesus Cristo tem o direito de exigir dedicação absoluta – dizendo de outra maneira, ou você é nascido de novo e totalmente dedicado ao Senhor, ou você é apenas um religioso – e a religiosidade de nada aproveita (Jo 3:3).

CONCLUSÃO

Todos nós nos espantamos e às vezes até evitamos olhar para fotos ou filmes de pessoas subnutridas, raquíticas, esqueléticas. Dói nos olhos, dói no coração ver mães tentando amamentar seus filhos quando elas não têm nada mais do que pele e ossos. E o mais terrível é pensar que o que nós jogamos fora em uma única refeição é mais do que muitos deles conseguem ter para comer durante toda uma semana. Pior ainda é saber que são dezenas, milhares de pessoas nesta situação e abrimos nossas geladeiras abarrotadas de alimentos, ou nossos armários, e dizemos que “não tem nada para comer”.
Esta triste situação também é encontrada na Igreja contemporânea. Quantos não tem nenhum alimento espiritual verdadeiro, recebem palha como se fosse o melhor que as Escrituras pudessem oferecer. Muitos oferecem apenas vento e ainda assim conseguem seduzir multidões. Por outro lado, há os que podem encontrar alimento substancial, sólido e cheio de frescor, mas ainda assim preferem deixar cair sob a mesa em grande desperdício (Mt 15.2). O Rev. John MacAalister traz uma dura e preciosa exortação aos crentes contemporâneos "Enquanto milhares de cristãos perseguidos morrem pela sua fé ao se reunirem no domingo como igreja, milhares de cristãos livres matam a sua fé ao deixarem de se reunir no domingo como igreja. Reúna-se com a sua igreja local. Priorize o rico banquete da comunhão dos santos no domingo acima das migalhas de uma praia ensolarada, um shopping, um estádio de futebol ou uma cama aconchegante."
Os estádios antigamente eram lugar de matança de cristãos por sua fé para diversão dos ímpios, hoje, eles são locais onde cristãos matam a sua fé se divertindo com (e como) os ímpios.
 Os crentes não sabem ser crentes porque não recebem a doutrina dos apóstolos – e é responsabilidade da Igreja identificar, à luz das Escrituras, o que é de fato doutrina bíblica e o que é invenção dos homens. A Igreja deve ser como os judeus de Beréia – conferir o discurso com a Escritura, ser criteriosa, julgar o que se diz em nome do Espírito (I Jo 4:1). Mas quem prega também deve ser fiel e diligente no aprendizado, no ensino e no testemunho, como Paulo exorta a Timóteo (I Tm 4:12) para que todos, crentes e não crentes, tenham um padrão para verificar a seriedade da Igreja no cumprimento de sua missão, ser sal e luz, anunciando a Palavra de Deus com fidelidade.
Com o grande número de pseudoapóstolos e falsos profetas que surgem na atualidade (provavelmente jamais houve tantos na história da Igreja) seria de esperar uma Igreja melhor nutrida, mas o que se vê é anemia espiritual, fraqueza generalizada, e, apesar de as Escrituras terem se tornado o livro mais lido em nossos dias ela tem sido relegada a mero texto que serve de pretexto para todo tipo de ensino falacioso e falso.
Assim como a Igreja precisa ser composta de pastores fiéis, ela também precisa ser composta de crentes como os bereanos, que examinam as Escrituras para se estão, efetivamente, sendo conduzidos de acordo com a Palavra do Senhor.
O que você pode fazer para que isso aconteça. Primeiro, você precisa ser crente de verdade, crente no Senhor Jesus, porque as coisas do Espírito se discernem espiritualmente (I Co 2:14). Segundo, você precisa ter a comunhão dos santos e o aprendizado da Palavra como prioridade em sua vida, como vemos na Igreja de Jerusalém. Terceiro, não desperdice as oportunidades de crescer na graça e no conhecimento do Salvador através de sua Palavra. Há muitos que gostariam de ter o salão de cultos que você tem à sua disposição. Há muitos que gostariam de ter toda a parafernália que você tem à sua disposição. 
Há muitos que gostariam de ter a liberdade de cultuar a Deus numa multidão de formas litúrgicas diferentes, mas nem isso tem. Há muitos que.. bem, há muitos que são Igreja mesmo não tendo nada disso. O que você tem feito com estes privilégios? Um grave problema é não ter ensino (Pv 29:18) – mas é problema tão grave a quantidade de cristãos que vivem reclamando que está com fome com a geladeira cheia e a lixeira da cozinha cheia de comida desprezada (I Ts 5:20)?
Seja grato a Deus por tudo quanto ele tem lhe dado, pelo que Ele é e faz em sua vida, pela salvação em Cristo Jesus e pela liberdade de adorá-lo aqui. Atenda ao seu chamado para seus adoradores, para suas ovelhas, busque-o de todo o seu coração e comprometa-se inteiramente com seu reino e sua Palavra.

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