segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

V. A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E CUMPRE SUA MISSÃO QUANDO POSSUI VIDA CONSAGRADA AO SERVIÇO DO SENHOR

Como a Igreja pode manter a sua identidade cumprir a sua missão? Paulo havia deixado Timóteo em Éfeso para conduzir a Igreja corretamente segundo o evangelho que lhes fora anunciado. Havia problemas, gente que precisava ser calada porque estava causando transtornos no meio do povo de Deus. Legalismo, estoicismo, judaizantes, gnosticismo... muitos problemas, mas uma única receita. Timóteo deveria proclamar a verdade de Deus tal qual a recebera. Mas como fazer isso numa sociedade acostumada e inclinada à desobediência, numa Igreja que estava sendo incentivada a rebelar-se contra o ensino apostólico e contra os apóstolos e seus associados no trabalho evangelístico? Vejamos o que Paulo diz a Timóteo, e lembremos que o que Paulo lhe diz tem valor para ele, o pregador, e também para a Igreja cristã, para a genuína Igreja cristã, pois são as ovelhas do Senhor que ouvirão a voz do seu pastor.
11 Ordena e ensina estas coisas.
12 Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.
13 Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.
14 Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério.
15 Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto.
16 Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.
I Tm 4.11-16
A Escritura afirma que se alguém aspira ao episcopado, e por isso entendemos o serviço cristão, então, aspira a excelente obra (I Tm 3.1 - Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja) mas deve fazê-lo ciente de que será alvo de maior juízo da parte de Deus (Tg 3.1) e certamente de maior cobrança da parte dos homens.
Um servo que recebeu e respondeu ao seu chamado com qualidade, piedade e dedicação possui

AUTORIDADE

A palavra de Paulo a Timóteo é um imperativo: o trabalho de um servo do Senhor é feito na autoridade que vem do Senhor (Jo 20:21) e esta autoridade determina que o cristão seja frutífero (Jo 15:16) porque está ligado ao Senhor que envia seus servos como seus representantes, seus embaixadores (II Co 5:20).
E, em relação às coisas celestes, não são dadas sugestões nem existem alternativas, por isso a expressão de Paulo é “ordena, anuncia” como se a mensagem fosse de origem superior, como, efetivamente é. A expressão que Paulo usa (παραγελλω) indica que a mensagem vem de cima e deve ser recebida como um mandamento, uma ordenança, uma incumbência superior que não deve jamais ser negligenciada.
A Timóteo não restava outra incumbência a não ser a de ensinar o evangelho – e deveria fazê-lo como uma ordenança de Deus aos homens, não como tem acontecido e se tornado em ordens de homens para homens, ou, pior ainda, ordens dos homens ao Senhor Deus. A pregação não pode deixar de ser a comunicação da vontade de Deus aos homens para se tornar a comunicação das vontades dos homens para um deus diminuído, servil e submisso.
O servo destacado para o serviço, de posse da mensagem do seu Senhor, pode ordenar porque a autoridade é do seu Senhor e por meio de sua palavra nas mãos de seus servos o rebanho é conduzido. Ele só não tem direito de mandar buscando ver a sua própria vontade ser cumprida. A idéia expressa por “mandar”, “ordenar” inclui repartir tarefas, proibir ou autorizar, desde que dentro deste contexto extremamente restrito de fidelidade ao Senhor.
Nenhum servo é chamado para ser senhor ou feitor do rebanho (I Pe 5:2-3) mas, ao mesmo tempo, nenhum servo chamado para liderar deve ser negligente no exercício da autoridade que seu Senhor lhe delegou – nem a Igreja deve desprezá-lo por algum motivo que não seja o de infidelidade ao Senhor (I Tm 4.12).
Um servo fiel no exercício da autoridade que lhe foi delegada deve exercê-la com

FIDELIDADE

Como dissemos, o exercício da autoridade concedida pelo Senhor é credenciada pela fidelidade. O exercício da autoridade, baseado na fidelidade, não poderia ser desdenhado (καταφρονεω) por ninguém. Ninguém tem liberdade para ter em baixo conceito as autoridades legitimamente constituídas e que exercem o seu cargo com fidelidade às leis estabelecidas – digna de ainda maior respeito é autoridade exercida com fidelidade à Palavra do Senhor.
Mas como conseguir exercer autoridade diante de um pecador cuja inclinação natural é para a desobediência, para a transgressão? Como exercer autoridade diante de uma geração cujo coração tende, naturalmente, à rebeldia em todos os níveis (desde o lar até autoridades civis, com poder de polícia)?
A resposta é: imprimindo de maneira indelével o conteúdo do evangelho em sua própria vida, causando um impacto tal que marque (τυπος) o que a religião representa na mente e no coração dos demais. Paulo menciona cinco itens nos quais podemos e devemos ser padrão para poder impactar quem entrar em contato conosco:
·      na palavra, isto é, no que fala (Ef 4.29), pois dos nossos lábios deve sair apenas o que é bom para edificação – a própria Escritura afirma que esta não é uma ação fácil dominar o próprio espirito e falar apenas para o bem (Pv 16:32);
·      no agir (Tg 3.13) porque tudo o que se deve fazer tem que ser feito tendo como prioridade agradar primeiramente a Deus (Cl 3:23);
·      no relacionamento com o próximo (II Co 4.5) pois é na forma que nos relacionamos com a criação de Deus que demonstramos o quanto lhe somos obedientes (Mt 22:39) e valorizamos os nossos semelhantes (Fp 2:3);
·      em como vive a sua fé – demonstrando que o evangelho produz um estilo de vida digno e piedoso (Fp 1.27-29);
·      em como é em seu íntimo (Sl 18.20) pois o homem vê apenas o exterior, mas Deus vê como o homem é no coração (I Sm 16:7).
Um servo fiel no exercício da autoridade que lhe foi delegada deve exercê-la com fidelidade e com

i.      PROFUNDIDADE

Não há dúvida de que, se alguém é chamado para servir, é chamado para servir em alguma coisa. Ninguém foi chamado por Deus para fazer parte do seu corpo como se fora objeto decorativo porque Deus não se parece em nada com um colecionador de raridades, pelo contrário, quem foi chamado por Deus, mesmo não sendo em nada precioso, pelo contrário, mesmo estando morto em delitos e pecados (Ef 2:1) foi comprado mediante o precioso sangue de Jesus Cristo (I Pe 1.18-20) para, de alguma forma, proclamar as virtudes do Deus que os amou desde antes da fundação do mundo (I Pe 2.9).
Ninguém, ao fazer parte do corpo de Cristo deve se perguntar “o que há para mim aqui” porque, se é de fato membro do corpo de Cristo, já sabe que já recebeu o que não merecia, a salvação, e não recebeu a danação à qual tinha pleno direito e, se não é de fato membro do corpo de Cristo, então, realmente não há nada ali que lhe seja de legítimo uso. Mas, ao chegar ao corpo de Cristo o crente deve dizer “eis-me aqui, usa-me”. Servos que não servem são como entulho no caminho, são como navios desgovernados em alto mar – não vão para lugar nenhum, e, se forem, só servirão para causar problemas.
Para saber o que fazer, e fazer com autoridade, fidelidade e profundidade Paulo recomenda a Timóteo que se entregue à leitura, especialmente da Palavra de Deus, e que a maneje bem como obreiro que não tem do que se envergonhar (II Tm 2:15) especialmente no caso de ser convocado a dar razão da esperança que tem no coração (I Pe 3:15).
Um servo frutífero precisa conhecer a obra a que está sendo chamado, e por isso deve exercitar a sua mente com boas leituras, cultivando um padrão de vida e conhecimento acima da mediocridade. É por isso que o ensino é fonte de fadiga (I Tm 5.17) para que haja poder e conhecimento para exortar e ensinar. As mesmas instruções dadas a Timóteo chegam, também, a outro discípulo e filho na fé de Paulo, Tito (Tt 2.7-8). Uma Igreja deveria se alegrar de ver seus líderes se dedicando e se ocupando profusamente do estudo das coisas de Deus.
Um servo fiel no exercício da autoridade que lhe foi delegada deve exercê-la com fidelidade e com profundidade de tal modo que estas coisas passem a fazer parte de sua

ii.     PERSONALIDADE

Conta-se que, quando missionários ingleses chegaram em uma aldeia e anunciaram o evangelho, falando das coisas boas que Jesus fizera (At 10:38) foram surpreendidos por uma afirmação dos nativos de que eles conheciam a Jesus e que ele estivera ali, com eles, naquela longínqua aldeia nos rincões da África. Obviamente os ingleses não acreditaram, disseram que Jesus havia morrido há muito tempo, e novamente foram surpreendidos pelos africanos que disseram que sim, ele havia morrido, e estava enterrado bem ali, bem naquela aldeia, e chamaram os ingleses para ver o lugar. Lá chegando, encontraram o túmulo do dr. David Livingstone – que vivera de tal maneira o evangelho de Cristo (Gl 2:20) a ponto de ser confundido com o próprio Cristo por aqueles no meio de quem vivera (Fp 4:9).
Esta “lenda” ilustra uma verdade. Ditos populares tem força e significado. Um deles é o que afirma que um exemplo fala mais do que mil palavras – mas eu só concordo com ele até o ponto em que considero que não se deve esquecer de explicar o que os exemplos signifiquem (dialogo entre um islâmico e um cruzado). No testemunho cristão não basta o exemplo – o fazer é sempre acompanhado pelas boas novas do porquê fazer. Boas obras, por exemplo, sem evangelho é só ação social – de homem pra homem, faz o homem se sentir bem e esquecer que é apenas um pecador, sem a motivação correta que é glorificar a Deus. Paulo diz a Timóteo que ele deveria ser como um médico que prescreve um tratamento para uma doença que ele mesmo sofre e também se trata (v. 16).
Os riscos que qualquer servo de Deus corre estão presentes nas admoestações de Paulo: cuidar dele mesmo para não se deixar enredar por falsas doutrinas, aplicando à sua vida tudo o que ele já aprendeu para ter uma vida piedosa (II Pe 1.3-7) e servir de exemplo para os demais. Como Esdras, seu coração deve estar disposto a buscar, cumprir e ensinar a lei do Senhor (Ed 7.10).

CONCLUSÃO

Não há nada melhor para o cristão do que ser considerado um servo fiel e consagrado, e receber do Senhor o seu galardão (Mt 25.23). Não há segredo nem receita mágica para isso – o servo do Senhor deve se empenhar para cumprir o conselho de Deus, ser fiel no pouco que lhe for confiado, reconhecendo-se como indigno e incapaz de atender o padrão de perfeição do seu Senhor (Lc 17.10). Todavia, não é o fato de não podermos ir além do que é devido que o cristão vai ser relapso em sua vida pessoal, em sua piedade e no seu testemunho, com ou sem palavras. Nada é mais devastador do que ser relapso e preguiçoso.
Nada é mais devastador para o servo que não saber a vontade do seu Senhor. E não há como saber a vontade do Senhor sem se empenhar em conhecê-la, tendo-a sempre diante de si mesmo, meditando nela, falando dela.
Um cristão genuíno deve buscar jamais ser comparado como os diversos tipos de religiosos, com saduceus, escribas e fariseus, que importunavam o Senhor Jesus nos dias de seu ministério terreno. Eles foram duramente repreendidos pelo Senhor Jesus. Primeiro, aos saduceus, Jesus lhes denuncia a arrogância ritualística, sede de poder religioso, sem, entretanto, conhecimento de Deus (Mc 12.24).
Assim como Jesus repreende os religiosos por sua falta de conhecimento de Deus e do seu poder, Tiago também exorta os cristãos a serem extremamente cuidadosos com uma profissão de fé que não se expressa em prática do que se aprende e se apregoa (Tg 1.22-25).
Imagine-se, agora, como um servo – nada além de um servo, como eram os servos nos dias do Novo Testamento. O servo era um escravo, uma pessoa cuja vontade deveria anular-se para cumprir a vontade do seu Senhor. E, imagine-se, agora como um escravo comissionado, isto é, um escravo que recebeu uma missão e que deve executá-la a contento. Você é efetivamente um servo – e o seu Senhor efetivamente lhe deu uma missão de ser sua testemunha, anunciar sua vontade e fazer discípulos para ele. Agora, inverta os papéis. Imagine que você é o Senhor – é claro que você não é.
Se você fosse o Senhor, você estaria satisfeito com o que você, como servo que é, está fazendo? Há fidelidade ao Senhor e, decorrente desta fidelidade, há autoridade do Senhor? Você foi designado como modelo – tem sido isto para aqueles que observam a seu proceder (I Pe 3.15-16).

Volte a olhar para si mesmo como um servo – e como servos o que se requer é que o servo viva em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus (II Pe 3.11-12), vivendo hoje como se Cristo fosse voltar amanhã – e, efetivamente vai voltar em dia e hora que não sabemos – e, pode, sim, ser amanhã (Mt 24.44).

Nenhum comentário:

FAÇA DESTE BLOG SUA PÁGINA INICIAL