segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

III. A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E DESEMPENHA SUA MISSÃO QUANDO POSSUI UM ESTILO DE VIDA COMPROMETIDO COM O REINO DE DEUS

A Igreja de Jerusalém tinha como prioridade o crescimento do reino de Deus e não descuidava do discipulado dos novos convertidos ao mesmo tempo que considerava essencial viver como Igreja de Cristo, como irmãos, filhos do mesmo pai e resgatados do mesmo destino terrível para um novo destino celestial. Era a comunidade dos amados de Deus, que possuía uma fé operosa, em que a vida dos crentes, a vida da Igreja era uma experiência de comunhão prática e cuidados mútuos.
Vamos, então, conhecer mais desta Igreja que vive segundo o padrão neotestamentário e que nos serve de modelo porque ela
46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
At 2.46-47
A pergunta “O que caracteriza um membro comprometido” geralmente a resposta vai transitar entre participar dos cultos do meio de semana, do fim de semana, ser membro de alguma sociedade da Igreja, ocupar alguns cargos, frequentar a escola bíblica e contribuir regularmente para a manutenção da Igreja. Temos aqui um membro atarefado. Talvez ainda acrescentemos dominar um idioma específico de um gueto evangélico, o famoso crentes (que muda de Igreja para Igreja, indo desde a saudação até, em alguns casos, a citações de autores de algum renome). Talvez você concorde com isso, mas será que não falta nada? O que mais poderíamos desejar de encontrar num crente comprometido com Deus e com a Igreja?

i.                   O COMPROMETIMENTO DA IGREJA É FRUTO DE VITALIDADE ESPIRITUAL

Lucas nos diz que a Igreja perseverava unânime, todos os dias, no templo e partiam o pão de casa em casa. Já ouvi argumentos de que isto é virtualmente impossível à Igreja do séc. XXI, especialmente em centros mais desenvolvidos, onde a vida é mais complexa, há mais exigências, etc. Devemos nos perguntar: porque? Porque é impossível? Talvez seja impossível para uma parte da Igreja, porque trabalham ou estudam nos horários que a Igreja normalmente se reúnem. Mas, é mesmo impossível para todos estar todos os dias na casa de Deus em comunhão com os irmãos? Precisamos lembrar que esta não é uma demanda da Igreja atual. Não é uma demanda de nossa Igreja, mas certamente não é uma impossibilidade.
A questão da perseverança deve ser colocada de outra maneira – como pode alguém desejar crescer na comunhão sem comungar? Qualquer desportista sabe que, se quer ter sucesso na modalidade que escolheu deve treinar, simplesmente treinar o máximo que puder e, quando chegar a hora de descansar, treinar, pensar no treino e buscar alternativas para fazer o treino ainda mais rentável. Foi assim que Cesar Cielo consegui aproveitar uma curva natural de suas pernas para ganhar ainda mais propulsão em suas provas de natação. O que isto tem a ver com a perseverança dos crentes? Se um crente quer ser mesmo como os crentes do primeiro século deve buscar a comunhão como o náufrago busca a praia, como o sedento busca a água. Deve aproveitar cada momento disponível para participar da comunhão com qualidade.
Se você vai louvar a Deus, por exemplo, lembre-se que esta é uma experiência comunitária – é o povo de Deus louvando ao seu Senhor que te fez povo e não individuo de Deus. Embora a salvação seja individual, a caminhada cristã é um processo que acontece em comunidade (Pv 27.17). A oração, embora seja uma ação individual, é vivida comunitariamente. Lembremos que o Senhor nos ensina a orar dizendo-nos filhos de um mesmo pai (Mt 6.9) e nos manda orarmos uns pelos outros (Tg 5.16).
Além de perseverança o texto também fala de singeleza – isto é, algo que era feito com naturalidade, com simplicidade, sem gestos estudados ou palavras que não expressassem o sentimento do coração (I Jo 3.18). Esta perseverança na comunhão tornaria desnecessária a abusiva e inapropriada atitude de mandar alguém se virar para seu irmão e dizer que o ama (e muitas vezes não ama) porque os crentes já deveriam se amar naturalmente, singelamente.
A singeleza da vida da Igreja que tomamos por modelo deveria envergonhar cristãos que se vangloriam do que são ou fazem, que vivem em ostentação, possuem ouro e prata, mas não podem mais dizer como Pedro que não possuem riquezas mas possuem a Cristo (At 3.6).

ii.                O COMPROMETIMENTO DA IGREJA FRUTIFICA SOCIALMENTE

Uma outra importante característica daquela Igreja que devemos desejar ser é a de ser uma Igreja que impacta a sociedade em que está inserida. A Igreja tem feito filantropia – tem feito muitas obras que resultam em bênção na vida de muitas pessoas, mas é importante lembrar que a Igreja foi estabelecida com um proposito: glorificar o nome do Senhor anunciando o evangelho das boas novas, a salvação em Cristo Jesus.
A Igreja de Jerusalém louvava a Deus – e caia na graça de todo o povo. Lamentavelmente é mais comum ultimamente a Igreja cair no conceito do povo, e isto não deve ser colocado em conta na animosidade prevista pelo Senhor Jesus (Jo 15.18-19), mas por causa de degenerados que a si mesmo se chamam pastores, criam suas empresas eclesiásticas e, além de pregarem outro evangelho alegremente tolerado pela multidão incauta (II Co 11.3-4) ainda vivem escandalosamente trazendo vergonha ao evangelho.
Normalmente a Igreja se alegra com uma ou algumas conversões por ano – a Igreja de Jerusalém recebia novos convertidos todos os dias. Certamente há alegria no céu por um pecador que se arrepende (Lc 15.10) – mas a Igreja deveria se entristecer por milhares ao seu redor que se perdem por que a antítese “jubilo no céu” por um pecador que se arrepende não é, necessariamente, “júbilo no céu por um pecador que vai pro inferno” e sim que Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ez 18:32).
Para cada pecador alcançado milhares são esquecidos, não são sequer buscados, não são alvos das nossas orações nem da nossa ação evangelizadora e muitas vezes a Igreja nem se dá conta de sua omissão, ensimesmada em seus pequenos dilemas e ciúmes cotidianos. Isto mostra que a Igreja precisa se comprometer mais com a sociedade (mais uma vez reitero que falo de evangelização e não de filantropia), se comprometer mais de forma mais adequada e menos escandalosa (Rm 16.17).
Belos templos e fachadas luminosas podem atrair homens mundanos e mariposas – mas podem impedir as pessoas de verem a luz do evangelho através da Igreja se esta não for, de fato, a Igreja do Senhor Jesus que vive para testemunhar do seu glorioso salvador, louvando a Deus com alegria e singeleza de coração, vivendo com simplicidade e em comunhão, perseverando na verdade conforme ensinada pelos apóstolos.

CONCLUSÃO

Perder a identidade é algo perturbador. Lembro de uma cena de um filme que faz parte da série Bourne em que o personagem, sem saber qual a sua real identidade, encontra vários passaportes, nomes, datas e locais de nascimento diferentes e todos com a mesma foto: a sua. Qual a verdadeira? Quem ele era? Porque aqueles passaportes todos? O que ele fazia, porque estava sendo perseguido e quem eram seus perseguidores? Em quem ele poderia confiar? Ficava difícil até se defender por não saber de onde poderia vir a perseguição. No filme ele dá um jeito, afinal, é um filme, uma série onde, no fim, tudo se resolve, bem ou mal.
Mas, e a Igreja, o que acontece com ela quando perde a sua identidade? O que acontece com o crente que não sabe quem é, não sabe de onde veio, não sabe como deve agir, não sabe qual o seu propósito – e, na melhor das hipóteses, acha que seu propósito como crente é ir nos cultos, contribuir financeiramente e presencialmente, fazendo algum trabalho esporádico nas atividades da Igreja. Ok, estas coisas são boas e fazem parte do que se espera de um membro da Igreja de Jesus Cristo, mas ainda não são suficientes para que a Igreja desempenhe cabalmente o seu ministério.

UMA PALAVRA AOS CRENTES

Mas, pergunte a você mesmo, você que é crente, está na Igreja e faz parte da Igreja: quais são as minhas características essenciais, o que faz, de mim, no final, diferente dos membros de outras religiões que possuem os seus próprios deuses?
Em primeiro lugar, você deve conhecer a sua história! Deve saber como sua Igreja nasceu e qual o propósito dela? Saber quais as lutas que teve que enfrentar para não se tornar mais um dado religioso no mundo e fazer com que o evangelho da salvação chegasse até você como foi estabelecido no princípio e que faz de você parte desta família de Deus (Ef 2.19-20)?
Em segundo lugar, você deve conhecer e amar a doutrina conforme pregada por Jesus e seus discípulos, os apóstolos, estando disposto a viver e morrer para que a fé não seja corrompida pelos lobos devoradores que sempre intentaram, intentam e intentarão adentrar no rebanho (At 20.29).
Em terceiro lugar, você deve valorizar a comunhão a ponto de buscar, antes de mais nada, o reino de Deus (Mt 6.) e o bem estar dos irmãos (Fp 2.4) valorizando a comunhão dos santos mais do que qualquer outra coisa.
Em quarto lugar, você deve entende que não é um voluntário numa entidade qualquer, onde faz apenas o que lhe dá prazer ou interessa – você é um membro do corpo e, se necessário, a mão deve sustentar o pé, o pé deve levar alimento à boca, mas, acima de tudo, você deve estar disposto a envolver-se ativamente na proclamação do evangelho do Senhor Jesus porque essa é a missão primordial da Igreja da qual você é parte e para isso você não precisa nem mesmo sair de sua casa, de sua cidade ou de seu emprego (Mc 16.15) porque, onde você está, você já está no mundo (Jo 17.15).

MAIS UMA PALAVRA

Talvez você, que não é membro de uma Igreja, se pergunte: e eu? O que devo fazer? Deve examinar todas as coisas que ouviu. Deve se perguntar se, porventura, não acabou de encontrar a resposta para seus anseios de significado. Deve chegar a uma conclusão – porque, afinal, você foi trazido aqui nesta ocasião para ouvir sobre a verdadeira Igreja, e só vale a pena fazer parte de uma Igreja se ela for a verdadeira Igreja.
Você está convidado a conhecer mais sobre a realidade da Igreja, sobre o propósito de Deus ao criar a Igreja e sobre o seu papel nesta Igreja: Deus abençoar você e você ser um meio através do qual Deus vai abençoar outras vidas.
Você está convidado para colocar seu coração diante do Senhor e humildemente recebe-lo como seu Senhor e salvador, e, como Isaías (Is 6.8) ou Maria (Lc 1.38), dizer-lhe para fazer de sua vida o que ele desejar.

Você está convidado para amar a Deus sobre todas as coisas, experimentar do amor dele e assim amar aos irmãos que ele vai colocando do seu lado, porque Deus é amor e quem não ama não conhece a Deus (I Jo 4.8) porque é o amor que ele derrama sobre nós ao dar-nos seu único filho (Rm 5.8) é que nos capacita a amá-lo também (I Jo 4.19).

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