A Igreja de Jerusalém tinha como prioridade o crescimento do reino de
Deus e não descuidava do discipulado dos novos convertidos ao mesmo tempo que
considerava essencial viver como Igreja de Cristo, como irmãos, filhos do mesmo
pai e resgatados do mesmo destino terrível para um novo destino celestial. Era
a comunidade dos amados de Deus, que possuía uma fé operosa, em que a vida dos
crentes, a vida da Igreja era uma experiência de comunhão prática e cuidados mútuos.
Vamos, então, conhecer mais desta Igreja que vive segundo o padrão
neotestamentário e que nos serve de modelo porque ela
46 Diariamente perseveravam
unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com
alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus e contando com a
simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia,
os que iam sendo salvos.
At 2.46-47
A
pergunta “O que caracteriza um membro comprometido” geralmente a resposta vai
transitar entre participar dos cultos do meio de semana, do fim de semana, ser
membro de alguma sociedade da Igreja, ocupar alguns cargos, frequentar a escola
bíblica e contribuir regularmente para a manutenção da Igreja. Temos aqui um
membro atarefado. Talvez ainda acrescentemos dominar um idioma específico de um
gueto evangélico, o famoso crentes (que muda de Igreja para Igreja, indo desde
a saudação até, em alguns casos, a citações de autores de algum renome). Talvez
você concorde com isso, mas será que não falta nada? O que mais poderíamos
desejar de encontrar num crente comprometido com Deus e com a Igreja?
i.
O COMPROMETIMENTO DA IGREJA É FRUTO DE VITALIDADE
ESPIRITUAL
Lucas
nos diz que a Igreja perseverava unânime, todos os dias, no templo e partiam o
pão de casa em casa. Já ouvi argumentos de que isto é virtualmente impossível à
Igreja do séc. XXI, especialmente em centros mais desenvolvidos, onde a vida é
mais complexa, há mais exigências, etc. Devemos nos perguntar: porque? Porque é
impossível? Talvez seja impossível para uma parte da Igreja, porque
trabalham ou estudam nos horários que a Igreja normalmente se reúnem. Mas, é
mesmo impossível para todos estar todos os dias na casa de Deus em comunhão com
os irmãos? Precisamos lembrar que esta não é uma demanda da Igreja atual.
Não é uma demanda de nossa Igreja, mas certamente não é uma impossibilidade.
A
questão da perseverança deve ser colocada de outra maneira – como pode alguém
desejar crescer na comunhão sem comungar? Qualquer desportista sabe que, se
quer ter sucesso na modalidade que escolheu deve treinar, simplesmente treinar
o máximo que puder e, quando chegar a hora de descansar, treinar, pensar no
treino e buscar alternativas para fazer o treino ainda mais rentável. Foi assim
que Cesar Cielo consegui aproveitar uma curva natural de suas pernas para
ganhar ainda mais propulsão em suas provas de natação. O que isto tem a ver com
a perseverança dos crentes? Se um crente quer ser mesmo como os crentes do
primeiro século deve buscar a comunhão como o náufrago busca a praia, como o
sedento busca a água. Deve aproveitar cada momento disponível para participar
da comunhão com qualidade.
Se
você vai louvar a Deus, por exemplo, lembre-se que esta é uma experiência
comunitária – é o povo de Deus louvando ao seu Senhor que te fez povo e não
individuo de Deus. Embora a salvação seja individual, a caminhada cristã é um
processo que acontece em comunidade (Pv
27.17). A oração, embora seja uma ação individual, é vivida
comunitariamente. Lembremos que o Senhor nos ensina a orar dizendo-nos filhos
de um mesmo pai (Mt 6.9) e nos manda
orarmos uns pelos outros (Tg 5.16).
Além
de perseverança o texto também fala de singeleza – isto é, algo que era feito
com naturalidade, com simplicidade, sem gestos estudados ou palavras que não
expressassem o sentimento do coração (I
Jo 3.18). Esta perseverança na comunhão tornaria desnecessária a abusiva e
inapropriada atitude de mandar alguém se virar para seu irmão e dizer que o ama
(e muitas vezes não ama) porque os crentes já deveriam se amar naturalmente,
singelamente.
A
singeleza da vida da Igreja que tomamos por modelo deveria envergonhar cristãos
que se vangloriam do que são ou fazem, que vivem em ostentação, possuem ouro e
prata, mas não podem mais dizer como Pedro que não possuem riquezas mas possuem
a Cristo (At 3.6).
ii.
O COMPROMETIMENTO DA IGREJA FRUTIFICA SOCIALMENTE
Uma
outra importante característica daquela Igreja que devemos desejar ser é a de
ser uma Igreja que impacta a sociedade em que está inserida. A Igreja tem feito
filantropia – tem feito muitas obras que resultam em bênção na vida de muitas
pessoas, mas é importante lembrar que a Igreja foi estabelecida com um
proposito: glorificar o nome do Senhor anunciando o evangelho das boas novas, a
salvação em Cristo Jesus.
A
Igreja de Jerusalém louvava a Deus – e caia na graça de todo o povo.
Lamentavelmente é mais comum ultimamente a Igreja cair no conceito do povo, e
isto não deve ser colocado em conta na animosidade prevista pelo Senhor Jesus (Jo 15.18-19), mas por causa de
degenerados que a si mesmo se chamam pastores, criam suas empresas
eclesiásticas e, além de pregarem outro evangelho alegremente tolerado pela
multidão incauta (II Co 11.3-4) ainda vivem
escandalosamente trazendo vergonha ao evangelho.
Normalmente
a Igreja se alegra com uma ou algumas conversões por ano – a Igreja de
Jerusalém recebia novos convertidos todos os dias. Certamente há alegria no céu
por um pecador que se arrepende (Lc 15.10) – mas a Igreja deveria se entristecer por milhares ao seu redor que
se perdem por que a antítese “jubilo no céu” por um pecador que se arrepende
não é, necessariamente, “júbilo no céu por um pecador que vai pro inferno” e
sim que Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ez 18:32).
Para
cada pecador alcançado milhares são esquecidos, não são sequer buscados, não
são alvos das nossas orações nem da nossa ação evangelizadora e muitas vezes a
Igreja nem se dá conta de sua omissão, ensimesmada em seus pequenos dilemas e
ciúmes cotidianos. Isto mostra que a Igreja precisa se comprometer mais com a
sociedade (mais uma vez reitero que falo de evangelização e não de
filantropia), se comprometer mais de forma mais adequada e menos escandalosa (Rm 16.17).
Belos
templos e fachadas luminosas podem atrair homens mundanos e mariposas – mas
podem impedir as pessoas de verem a luz do evangelho através da Igreja se esta
não for, de fato, a Igreja do Senhor Jesus que vive para testemunhar do seu
glorioso salvador, louvando a Deus com alegria e singeleza de coração, vivendo
com simplicidade e em comunhão, perseverando na verdade conforme ensinada pelos
apóstolos.
CONCLUSÃO
Perder
a identidade é algo perturbador. Lembro de uma cena de um filme que faz parte
da série Bourne em que o personagem, sem saber qual a sua real identidade,
encontra vários passaportes, nomes, datas e locais de nascimento diferentes e
todos com a mesma foto: a sua. Qual a verdadeira? Quem ele era? Porque aqueles
passaportes todos? O que ele fazia, porque estava sendo perseguido e quem eram
seus perseguidores? Em quem ele poderia confiar? Ficava difícil até se defender
por não saber de onde poderia vir a perseguição. No filme ele dá um jeito,
afinal, é um filme, uma série onde, no fim, tudo se resolve, bem ou mal.
Mas,
e a Igreja, o que acontece com ela quando perde a sua identidade? O que
acontece com o crente que não sabe quem é, não sabe de onde veio, não sabe como
deve agir, não sabe qual o seu propósito – e, na melhor das hipóteses, acha que
seu propósito como crente é ir nos cultos, contribuir financeiramente e
presencialmente, fazendo algum trabalho esporádico nas atividades da Igreja.
Ok, estas coisas são boas e fazem parte do que se espera de um membro da Igreja
de Jesus Cristo, mas ainda não são suficientes para que a Igreja desempenhe
cabalmente o seu ministério.
UMA
PALAVRA AOS CRENTES
Mas,
pergunte a você mesmo, você que é crente, está na Igreja e faz parte da Igreja:
quais são as minhas características essenciais, o que faz, de mim, no final,
diferente dos membros de outras religiões que possuem os seus próprios deuses?
Em
primeiro lugar, você deve conhecer a sua história! Deve saber como sua Igreja
nasceu e qual o propósito dela? Saber quais as lutas que teve que enfrentar
para não se tornar mais um dado religioso no mundo e fazer com que o evangelho
da salvação chegasse até você como foi estabelecido no princípio e que faz de
você parte desta família de Deus (Ef
2.19-20)?
Em
segundo lugar, você deve conhecer e amar a doutrina conforme pregada por Jesus
e seus discípulos, os apóstolos, estando disposto a viver e morrer para que a
fé não seja corrompida pelos lobos devoradores que sempre intentaram, intentam
e intentarão adentrar no rebanho (At
20.29).
Em
terceiro lugar, você deve valorizar a comunhão a ponto de buscar, antes de mais
nada, o reino de Deus (Mt 6.) e o
bem estar dos irmãos (Fp 2.4)
valorizando a comunhão dos santos mais do que qualquer outra coisa.
Em
quarto lugar, você deve entende que não é um voluntário numa entidade qualquer,
onde faz apenas o que lhe dá prazer ou interessa – você é um membro do corpo e,
se necessário, a mão deve sustentar o pé, o pé deve levar alimento à boca, mas,
acima de tudo, você deve estar disposto a envolver-se ativamente na proclamação
do evangelho do Senhor Jesus porque essa é a missão primordial da Igreja da
qual você é parte e para isso você não precisa nem mesmo sair de sua casa, de
sua cidade ou de seu emprego (Mc 16.15) porque, onde você está,
você já está no mundo (Jo 17.15).
MAIS
UMA PALAVRA
Talvez
você, que não é membro de uma Igreja, se pergunte: e eu? O que devo fazer? Deve
examinar todas as coisas que ouviu. Deve se perguntar se, porventura, não
acabou de encontrar a resposta para seus anseios de significado. Deve chegar a
uma conclusão – porque, afinal, você foi trazido aqui nesta ocasião para ouvir
sobre a verdadeira Igreja, e só vale a pena fazer parte de uma Igreja se ela
for a verdadeira Igreja.
Você
está convidado a conhecer mais sobre a realidade da Igreja, sobre o propósito
de Deus ao criar a Igreja e sobre o seu papel nesta Igreja: Deus abençoar você
e você ser um meio através do qual Deus vai abençoar outras vidas.
Você
está convidado para colocar seu coração diante do Senhor e humildemente
recebe-lo como seu Senhor e salvador, e, como Isaías (Is 6.8) ou Maria (Lc 1.38), dizer-lhe para fazer de
sua vida o que ele desejar.
Você
está convidado para amar a Deus sobre todas as coisas, experimentar do amor
dele e assim amar aos irmãos que ele vai colocando do seu lado, porque Deus é
amor e quem não ama não conhece a Deus (I Jo 4.8) porque é o amor que ele derrama sobre nós
ao dar-nos seu único filho (Rm 5.8) é que nos capacita a
amá-lo também (I Jo 4.19).
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