Há um hino com uma estrofe curiosa em nosso hinário, o de nº
270, que causava alguns debates teológicos no nosso seminário nos fins dos anos
1990. Ei-lo:
“Morri na cruz por ti, foi
para te livrar
Meu sangue ali verti e posso
te salvar
Morri, morri na cruz por ti,
Que fazes tu por mim?”
A discussão girava em torno
da estrofe final, repetida verso a verso: “Que fazes tu por mim?” seminaristas
e teólogos questionavam-se a respeito da inexistência de uma expectativa de Jesus
a nosso respeito. Que podemos fazer por Jesus? Ele precisa realmente de algo de
nós? Se considerarmos a possibilidade de haver uma necessidade essencial, então
tenho que concordar com meus colegas e alguns professores: ela é inexistente.
Todavia, se considerarmos como um imperativo, uma ordem de Jesus para que
façamos algo como resultado do que Ele fez (e é óbvio que isto não deve jamais
ser visto como uma retribuição ou complemento sinergista da obra de Cristo, mas
apenas como um ato de obediência ao Senhor que nos deu vida) então há muito o
que podemos e devemos fazer. Não fazê-lo é não ter frutos, e não ter frutos
significa colocar-se à mercê do machado (Lc 3.9.
Jo 14:21 - Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me
ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me
manifestarei a ele.
Neste sentido a obediência
aos mandamentos de Jesus, a prática das boas obras que foram de antemão
preparadas para que andássemos nelas é, sim, um imperativo.
Esta obediência pode ser expressa de duas maneiras, e todas
estão ao alcance de cada um de nós. A primeira é uma obediência passiva, isto
é, uma obediência que leva a deixar de fazer determinadas coisas. Um exemplo é
o da mulher surpreendida em adultério, talvez pelo próprio marido, talvez por
curiosos. Ela não era inocente, mas seus acusadores não a levaram a Jesus por
causa do pecado dela, mas por causa do pecado deles (eles queriam pegar Jesus
em uma armadilha conceitual, de interpretação e aplicação da Lei mosaica).
Resumindo, eles estavam sendo ardilosos e, eles próprios, estavam desobedecendo
a Lei. E Jesus diz, após a retirada dos acusadores:
Jo 8:10-11 - Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher,
perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te
condeno; vai e não peques mais.
Mas eu acredito que isto só
não é suficiente. É preciso ir além, como já dissemos em outro texto (JESUS CRISTO
MUDOU MEU VIVER - vide Ef 4.28) é preciso que aquele que teve um encontro
transformador com Jesus vá além da simples abstenção da prática pecaminosa. Ele
precisa estar pronto a ir e falar aos seus o bem que Jesus lhe fez. A isto
chamo de obediência positiva.
Lc 8:39 - Volta para casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti. Então,
foi ele anunciando por toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito.
Presbiterianos! Tão ciosos de
nossa bela teologia! E tão desprezadores da nossa doutrina. Não há nenhum
equivoco aqui. Teologia e doutrina podem parecer a mesma coisa sob muitos
aspectos, mas os presbiterianos geralmente se gabam te ter a melhor teologia só
que esta teologia lamentavelmente não se expressa em conhecimento das
escrituras e sua aplicação na prática diária - isto é doutrina.
Recentemente, nas
proximidades da Igreja, vi alguns adultos orientando adolescentes a propagarem
sua crença. No dia seguinte, dirigindo-me para a Igreja, em plena terça-feira,
vi uma família de outra orientação religiosa, batendo de porta em porta com o
mesmo afinco. Não se vê presbiterianos fazendo isso. Me prove o contrário e
diga-me quando foi a última vez que você fez algo parecido? A verdade é que ele
fazem o que fazem em busca de algo como “pontuação para a salvação”, e nisto
sua teologia está errada - mas sua prática não. Mas, e nós, que os criticamos
tanto, será que não estamos nos esforçando demais para pensar, fazer e falar o
que não edifica? Já não é mais que hora de começar a ser crente de verdade e
fazer algo que testemunhe que, realmente, Jesus nos salvou?