segunda-feira, 11 de novembro de 2019

DEUS CHAMA OS SEUS ESCOLHIDOS APESAR DO QUE ELES SÃO

ELES SÃO CONTADOS ENTRE “AS COISAS LOUCAS DO MUNDO”

Os cristãos são colocados como uma coisa, um objeto de escárnio. Ninguém valoriza, ninguém dá atenção a um louco a menos que isto lhe seja uma ameaça. Mas, mais que isto, ninguém segue a quem considera não possuir nenhum tipo de saber. E é este tipo de loucura que o apostolo Paulo atribui aos cristãos. A expressão paulina refere-se à qualidade da loucura atribuída a eles, na aos próprios cristãos como pessoas. Eles não eram insensatos ou malucos. É o mesmo Paulo que afirmou expor sabedoria entre os experimentados (1Co 2.6 (i.e.: de grande labor mental)) que envergonha os sábios da época.
Os sábios consideravam loucura a mensagem do evangelho, mas a verdade que lhes envergonhava é que eles não tinham nada melhor a oferecer. Suas diferentes teorias eram apenas teorias, especulações vazias que não satisfaziam nem mesmo aos seus autores. Enquanto se digladiavam tentando oferecer ensinamentos vazios a preço de ouro, o cristianismo oferecia mensagem de salvação a preço de sangue - mas de graça aos que a recebessem. Isso lhes parecia loucura. Seu nada era caro, o tudo de Deus aos homens era sem custo algum para quem não merecia. Como aceitar?
Como aceitar que escravos fossem maiores que seus senhores? Como aceitar que pecadores precederiam religiosos dedicados no reino porvir (Mt 21.31)? Para um escravo ser tratado como “coisa” não havia novidade, mas para os arrogantes coríntios era extremamente humilhante, e é justamente neste momento que Paulo mostra a imensidão da graça de Deus. Nenhum de nós escolheria alguém igual a si mesmo para salvar - mas Deus o fez. A maravilha está justamente em Deus dizer que nada somos - e nos escolher para si.

ELES SÃO CONTADOS ENTRE “OS FRACOS DO MUNDO”

Parece um paradoxo pensar que os cristãos, filhos do rei, herdeiros de todas as coisas, não possuíam poder algum. Não tinham direitos legais nas cidades, eram constantemente perseguidos e não tinham defensores. Seus bens eram espoliados - seus filhos escravizados, eles próprios lançados às masmorras e anfiteatros para jogos cruéis e servirem de pasto a leões e outros animais ferozes. Um cristão genuíno não tinha direito legal para buscar reparação nos tribunais, e, tampouco, deveriam fazê-lo porque, espiritualmente, isto significa prestar oferendas aos deuses greco-romanos. Os heróis gregos, como Hércules, Perseu, Teseu, Ulisses e outros eram idolatrados. Notemos que os cristãos eram realmente fracos no sentido. E foram escolhidos assim para serem transformados em vencedores, em heróis como mostrado na galeria da fé. Mas nenhum deles enfrentava dezenas de leões sem armas, e, ainda, cantando louvores. Nenhuma das mulheres dos poderosos podiam suportar sentar-se em uma chapa de ferro em brasa e ainda continuar anunciando Cristo como Senhor.
Nenhum de seus senadores era capaz de caminhar para o cadafalso e, tendo a oportunidade de escapar, preferir a morte como uma maneira de anunciar a vitória sobre esta mesma morte. Um simples cristão era capaz de demonstrar maior força e coragem que todo senado romano. Deus os escolheu - eles tinham certeza da vitória, a morte não era temida porque já fora vencida, seu aguilhão não representava mais motivo algum de receio ou temor. Os fortes, tão admirados pelos coríntios, admiravam os mais fracos entre os cristãos porque, estes, na sua fraqueza, demonstravam força inigualável (2Co 12.10).

ELES SÃO CONTADOS ENTRE “COISAS” HUMILDES E DESPREZADAS, SEM VALOR

Homens sem sabedoria filosófica, sem poder político-econômico, e, agora, sem nobreza de nascimento.
Eram, aos olhos dos romanos, piores que os libertos ou os livres que enchiam suas cidades.
Eram piores que os imigrantes porque estes aceitavam de bom grado os costumes de sua época.
Eram piores que os escravos, pois afirmavam terem apenas Cristo como seu Senhor. Para tornar as coisas ainda mais claras aos olhos dos pretensiosos e jactanciosos coríntios, Paulo lhes lembra que eles, em sua maioria, eram imigrantes - tidos como cidadãos de segunda categoria aos olhos dos dominadores romanos. Podiam trabalhar, ajuntar dinheiro e comprar propriedades. Com muito custo podiam comprar a cidadania romana (At 22.8-29).
A idéia de não serem de nobre nascimento estava associada a uma certa indignidade moral, uma inferioridade que não poderia ser retirada de maneira alguma. Sua cidadania seria sempre comprada, nunca natural. E eles eram, efetivamente, tratados como coisa sem valor. Um liberto que morre logo tem seu lugar tomado por outro. Um escravo já significava prejuízo. Por isso Paulo os adverte que eram tidos por desprezíveis, e, ainda, um termo ainda mais forte, sem valor algum. A jactância coríntia era reduzida a nada.
E é justamente este o poder da mensagem da cruz: o que era nada, sem valor algum, desprezada e inútil, que é usado por Deus em uma atividade recriadora. Deus não precisava, necessariamente, usar nada do material existente nos chamados. Ele pôde recriá-los. E é com estas “coisas”, essas não pessoas, que nada eram que Deus torna sem valor algum, inútil e envergonhado, aquilo que tanto era valorizado pelos homens - e podemos afirmar que isto não mudou absolutamente nada.
Era assim nos tempos de Paulo, continua assim nos nossos tempos. Os homens ainda correm atrás dos “sábios”, dos poderosos, das nobres castas de seu tempo. E para que? Para nada. Como sempre foi.

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