ELES SÃO CONTADOS ENTRE “AS COISAS LOUCAS DO MUNDO”
Os cristãos são colocados como uma coisa, um objeto
de escárnio. Ninguém valoriza, ninguém dá atenção a um louco a menos que isto
lhe seja uma ameaça. Mas, mais que isto, ninguém segue a quem considera não
possuir nenhum tipo de saber. E é este tipo de loucura que o apostolo Paulo
atribui aos cristãos. A expressão paulina refere-se à qualidade da loucura
atribuída a eles, na aos próprios cristãos como pessoas. Eles não eram
insensatos ou malucos. É o mesmo Paulo que afirmou expor sabedoria entre os experimentados
(1Co 2.6 (i.e.:
de grande labor mental)) que envergonha
os sábios da época.
Os sábios consideravam loucura a mensagem do
evangelho, mas a verdade que lhes envergonhava é que eles não tinham nada
melhor a oferecer. Suas diferentes teorias eram apenas teorias, especulações
vazias que não satisfaziam nem mesmo aos seus autores. Enquanto se digladiavam
tentando oferecer ensinamentos vazios a preço de ouro, o cristianismo oferecia
mensagem de salvação a preço de sangue - mas de graça aos que a recebessem.
Isso lhes parecia loucura. Seu nada era caro, o tudo de Deus aos homens era sem
custo algum para quem não merecia. Como aceitar?
Como aceitar que escravos fossem maiores que seus
senhores? Como aceitar que pecadores precederiam religiosos dedicados no reino
porvir (Mt 21.31)? Para um escravo ser tratado como “coisa” não havia novidade, mas para
os arrogantes coríntios era extremamente humilhante, e é justamente neste
momento que Paulo mostra a imensidão da graça de Deus. Nenhum de nós escolheria
alguém igual a si mesmo para salvar - mas Deus o fez. A maravilha está
justamente em Deus dizer que nada somos - e nos escolher para si.
ELES SÃO CONTADOS ENTRE “OS FRACOS DO MUNDO”
Parece um paradoxo pensar que os cristãos, filhos
do rei, herdeiros de todas as coisas, não possuíam poder algum. Não tinham
direitos legais nas cidades, eram constantemente perseguidos e não tinham
defensores. Seus bens eram espoliados - seus filhos escravizados, eles próprios
lançados às masmorras e anfiteatros para jogos cruéis e servirem de pasto a
leões e outros animais ferozes. Um cristão genuíno não tinha direito legal para
buscar reparação nos tribunais, e, tampouco, deveriam fazê-lo porque,
espiritualmente, isto significa prestar oferendas aos deuses greco-romanos. Os
heróis gregos, como Hércules, Perseu, Teseu, Ulisses e outros eram idolatrados.
Notemos que os cristãos eram realmente fracos no sentido. E foram escolhidos assim para serem transformados em
vencedores, em heróis como mostrado na galeria da fé. Mas nenhum deles
enfrentava dezenas de leões sem armas, e, ainda, cantando louvores. Nenhuma das
mulheres dos poderosos podiam suportar sentar-se em uma chapa de ferro em brasa
e ainda continuar anunciando Cristo como Senhor.
Nenhum de seus senadores era capaz de caminhar para
o cadafalso e, tendo a oportunidade de escapar, preferir a morte como uma
maneira de anunciar a vitória sobre esta mesma morte. Um simples cristão era
capaz de demonstrar maior força e coragem que todo senado romano. Deus os
escolheu - eles tinham certeza da vitória, a morte não era temida porque já
fora vencida, seu aguilhão não representava mais motivo algum de receio ou
temor. Os fortes, tão admirados pelos coríntios, admiravam os mais fracos entre
os cristãos porque, estes, na sua fraqueza, demonstravam força inigualável (2Co 12.10).
ELES SÃO CONTADOS ENTRE “COISAS” HUMILDES E DESPREZADAS, SEM VALOR
Homens sem sabedoria filosófica, sem poder
político-econômico, e, agora, sem nobreza de nascimento.
Eram, aos olhos dos romanos, piores que os libertos
ou os livres que enchiam suas cidades.
Eram piores que os imigrantes porque estes
aceitavam de bom grado os costumes de sua época.
Eram piores que os escravos, pois afirmavam terem
apenas Cristo como seu Senhor. Para tornar as coisas ainda mais claras aos
olhos dos pretensiosos e jactanciosos coríntios, Paulo lhes lembra que eles, em
sua maioria, eram imigrantes - tidos como cidadãos de segunda categoria aos
olhos dos dominadores romanos. Podiam trabalhar, ajuntar dinheiro e comprar
propriedades. Com muito custo podiam comprar a cidadania romana (At
22.8-29).
A idéia de não serem de nobre nascimento estava
associada a uma certa indignidade moral, uma inferioridade que não poderia ser retirada
de maneira alguma. Sua cidadania seria sempre comprada, nunca natural. E eles eram, efetivamente, tratados como coisa sem
valor. Um liberto que morre logo tem seu lugar tomado por outro. Um escravo já
significava prejuízo. Por isso Paulo os adverte que eram tidos por desprezíveis, e, ainda, um termo ainda mais forte,
sem valor algum. A jactância coríntia era reduzida a nada.
E é justamente este o poder da mensagem da cruz: o
que era nada, sem valor algum, desprezada e inútil, que é usado por Deus em uma
atividade recriadora. Deus não precisava, necessariamente, usar nada do
material existente nos chamados. Ele pôde recriá-los. E é com estas “coisas”,
essas não pessoas, que nada eram
que Deus torna sem valor algum, inútil e envergonhado, aquilo que tanto era
valorizado pelos homens - e podemos afirmar que isto não mudou absolutamente
nada.
Era assim nos tempos de Paulo, continua assim nos
nossos tempos. Os homens ainda correm atrás dos “sábios”, dos poderosos, das
nobres castas de seu tempo. E para que? Para nada. Como sempre foi.
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