Entre os coríntios crentes certamente havia pessoas
instruídas, entretanto, eles não eram considerados como os homens sábios de seu
tempo. Se olhassem todo o cristianismo nascente, certamente poucos rivalizariam
com o próprio Paulo em conhecimento. Entretanto, o que nós vemos é Paulo
lembrar-lhes que não havia muitos filósofos entre eles. Não era nestes que o
Senhor estava interessado.
Não fazia parte do plano de Deus criar uma nova
escola filosófica, nem homens confiantes na sua própria cultura (Rm 3.27). A percepção de Paulo era de que os homens haviam rejeitado a
sabedoria de Deus, e, autodeclarando-se sábios, tornaram-se loucos. Em lugar do
criador resolveram adorar a criaturas ou, ainda, a si mesmos e seus ídolos
ideológicos (Rm
1.22). Era isso o que os coríntios estavam valorizando. E o que isso havia
feito por eles antes do ingresso de
Paulo entre eles?
A resposta é nada. Então, o conhecimento que eles
estavam valorizando agora também nada poderia fazer a favor deles, e, pior,
estava agindo contra eles pois os levava a contendas sem fim. O evangelho foi
aceito pelos simples não porque era ineficiente com os sábios, pelo contrário, porque foi oculto aos sábios e revelado aos pequeninos (Lc 10.21). A palavra diz que assim foi porque foi do agrado de Deus, foi assim
que Deus quis fazer porque ele não necessita em nada da sabedoria humana, tola
e ineficaz. Deus usou para sua glória os que não tinham nada a oferecer, o que
só enfatiza ainda mais a sua graça e poder.
NÃO SÃO CONTADOS ENTRE OS PODEROSOS
Embora houvesse convertidos na “casa de César” é
certo que não havia muitos homens cristãos ocupando altos cargos neste tempo,
especialmente porque os oficiais e governantes deveriam prestar o tão combatido
culto ao imperador (1Jo
4:2). Lembremos que
mesmo um governador romano era inferior à autoridade de Jesus.
Comparemos a autoridade de Jesus (Mt 28.18) com a autoridade derivada que Pôncio Pilatos possuía (Jo 19.10- 11). Qualquer cristão convertido deveria abandonar seus postos de poder,
passando a ser considerados como se fossem a escória do mundo, peregrinos e
forasteiros na terra. A valorização dos poderosos, e a divisão da Igreja em
partidos, especialmente os “fortes”, pode indicar que alguns deles achavam que
não haveria mal algum em curvar-se ante o culto imperial, permanecer no poder e
ter condições de ajudar os cristãos - como se eles já não tivessem o auxílio
necessário por intermédio do Espírito Santo.
O poder que importava e que ainda importa para os
cristãos é o poder que vem de Deus, o poder do Espírito. E é por isso que Paulo
lembra aos coríntios que, quando entre eles (1Co 2.4-5). Nenhum poderoso em Corinto podia chamar para si a autenticação de
suas palavras e atos como possuindo autoridade vinda do próprio Deus. Paulo o
fazia. E não podia ser questionado, nem por aqueles que estavam assumindo
pertencerem a outros grupos.
NÃO SÃO CONTADOS ENTRE OS DE NOBRE NASCIMENTO
O cristianismo floresceu entre os homens comuns do
séc. I. Libertos, senhores e escravos compunham um numeroso grupo social que
não dispunha de privilégios - que, aliás, Paulo possuía (At 22:27-28) mas ao qual não dava qualquer valor (Fp 3.8: Sim, deveras considero tudo como
perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor;
por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar
a Cristo).
Dinheiro podia comprar cidadania romana, mas jamais
poderia comprar o acesso a Deus ou as bênçãos espirituais em Cristo Jesus (At 8:20), pelo contrário, o dinheiro pode ser
uma terrível armadilha que engana quem o tem e quem se aproveita das migalhas
que caem da mesa.
Mas de que servia ter o título de cidadão romano e
não ter o nome escrito no livro da vida. De que adiantava aos coríntios valorizarem
os nobres romanos, que os prendiam e perseguiam, e ter a nobreza de serem
declarados filhos de Deus? Na verdade a nobreza de nascimento se apresentava
como um empecilho à fé, uma vez que os nobres, tanto gregos quanto romanos, se
julgavam descendentes de deuses ou semideuses, ou de fundadores das cidades a
quem chamavam “heróis”, e os adoravam como os modernos romanos adoram seus
santos. Tinham seu próprio culto familiar, ao seu heroico antepassado. Deixar
de cultuar o herói e o antepassado significa a abandonar a família, perder o
direito familiar, deixar de ser cidadão e passar a ser considerado um estranho
em sua própria casa. Como esperar que alguém assim abandonasse tudo por Cristo,
um obscuro galileu morto na Palestina? Houve alguns, é verdade, mas foram
poucos, e eram menos ainda nos dias do apóstolo Paulo.
Após lembrar quem os coríntios não eram, isto é, nem sábios, nem poderosos nem nobres, e,
mais especificamente, a quem Deus tinha preferido preterir, Paulo passa a
mostrar-lhes quem eles realmente são. E o quadro não é nada animador se
olharmos das perspectivas do mundo circundante porque o apóstolo lhes diz que,
eles, os chamados, são loucos, fracos e insignificantes.
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