quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O JULGAMENTO CIVIL DE JESUS - Lc 23:5-11

O VERDADEIRO REI É JULGADO PELO USURPADOR

Na época de Jesus Roma dominava a maior parte dos reinos do mundo, semelhante ao império persa no período de Daniel. Assim como Dario respeitava cada povo e permitia o culto aos seus deuses, César permitia que as províncias tivessem a sua religião e organização social.
Havia várias regiões em Israel que eram comandadas por governadores designados por Roma. Além disso, havia representantes locais do império que tinham função de liderança sobre os judeus. Herodes, o Grande, e seus sucessores fizeram essa função. Herodes não era um nome propriamente dito, mas um título, assim como César, imperador romano.
Houve pelo menos quatro “Herodes” no Novo Testamento. Alguns deles governaram em períodos diferentes. O Herodes que mandou matar as crianças de Belém não foi o mesmo Herodes do tempo de João Batista.
Herodes, o Grande, avô de Antipas (Herodes mandou matar o próprio filho, Aristóbulo, pai de Antipas, por temer que este lhe tomasse o trono), era idumeu, nascido na região da Iduméia. Sua mãe era nabatéia. Não tendo sangue real judeu correndo em suas veias fez aliança com o império romano para manter-se no poder quando os partos tomaram Jerusalém e prenderam João Hircano II.
Herodes era o conselheiro chefe  e fugiu para Roma ficando sob proteção de Marco Antônio e este pediu ao césar Otaviano que estabelecesse o “confiável Herodes” como rei dos judeus, de modo que um descendente de Esaú assumisse o trono em 40 a.C. Não possuía descendência israelita e o remoto laço de parentesco se dava mediante uma tribo distante de Esaú (Edom) e seus descendentes tiveram laços consanguíneos com os macabeus ao casar-se com Mariane, neta de Aristóbulo II e de Hircano II em 37 a.C.
Conquistou a confiança dos judeus quando construiu o templo em Jerusalém, anteriormente destruído no período macabeu. Essa iniciativa fez dele um defensor da religião aos olhos do povo, embora, evidentemente, trabalhava para Roma obedecendo criteriosamente à palavra de César.
Herodes deixou descendentes que seguiram o mesmo estilo cruel e criminoso de governar: Arquelau, etnarca da Judéia, Felipe, tetrarca dos territórios do norte e da Transjordânia, e seu neto Antipas (filho de Aristóbulo), tetrarca da galiléia e Peréia.
Herodes Antipas, dominava parte da Judéia e localidades próximas ao rio Jordão. Daí o conflito com João, o Batista, que vivia naquela região. Antipas resolvia os problemas de ordem religiosa e de organização social. Somente as questões que afrontavam o governo romano como sonegação de impostos e insurreições eram encaminhadas ao procurador romano, naquela época representado por Pôncio Pilatos. Este sim representava a autoridade direta romana – inclusive sobre o próprio rei Herodes.
Problemas que envolvessem a religião e a lei dos judeus eram julgados por Herodes. Isso explica o porquê de Pilatos enviar Jesus à jurisdição de Herodes, uma vez que Jesus era galileu e a galiléia fazia parte do governo religioso de Herodes, pois a problemática era no âmbito da religião. Mesmo assim, e mesmo não vendo em Jesus nada de que o considerasse digno de morte Pilatos resolve usar Jesus politicamente enviando-o a Herodes apesar da acusação que os judeus faziam de um crime político (Lc 23:5).
Como vimos, apesar de cuidar de assuntos relacionados à cultura e religião dos judeus Herodes tinha tênues laços com os judeus, e seu interesse na religião era apenas para tê-la como instrumento de controle do povo de modo que nem ele nem os líderes religiosos tivessem problemas (Jo 11.48-50).
Vejamos o que a Palavra de Deus nos diz em Lc 23.6-11:
6 Tendo Pilatos ouvido isto, perguntou se aquele homem era galileu. 7 Ao saber que era da jurisdição de Herodes, estando este, naqueles dias, em Jerusalém, lho remeteu. 8 Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal. 9 E de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia. 10 Os principais sacerdotes e os escribas ali presentes o acusavam com grande veemência. 11 Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos.
A Bíblia diz Herodes Antipas ouviu a fama de Jesus Cristo. Temeroso e supersticioso, ele até começou a sugerir que Jesus fosse João Batista redivivo (Mc 6:14-16). Depois ele procurou matar Jesus, e alguns fariseus aconselharam o Senhor a fugir (Lc 13:31). Mas Jesus não se intimidou diante das ameaças de Herodes Antipas considerando-o desprezível e malicioso como uma raposa (Lc 13:32) porque era rei maior até mesmo do que a daquele que tinha maior autoridade em Israel naquele momento (Jo 19:10-11).

O INTERESSE DE HERODES EM JESUS

Herodes Antipas havia herdado o caráter de seu avô. Em Roma havia agido sempre de maneira sorrateira, a ponto de ter que sair da cidade para não ser morto por causa de dívidas. Analisando suas ações em relação a Jesus podemos afirmar que Herodes tinha três interesses em Jesus:

USO POLÍTICO

Jesus precisava ser conhecido e controlado, porque representava um risco ao seu controle sobre os judeus. Seu avô já tentara matá-lo para não perder o trono (Mt 2:13) por causa das perguntas dos viajantes do oriente (Mt 2:2). Para ele Jesus não era nada mais do que um instrumento de controle religioso – inicialmente ele tinha medo que Jesus fosse o próprio João Batista que lhe ameaçava a popularidade denunciando publicamente as suas impiedades (Mc 6:18) e por isso foi morto por incitação da filha da mulher que possuía indignamente (Mc 6:19-24). Mais tarde decidiu matar a Jesus por questões políticas – para ele a religião era um mero instrumento de poder. E Pilatos também sabia disso (Lc 23:12) e aproveitou Jesus como moeda de troca para apaziguar o rancoroso e ladino rei depois de ter mandado matar alguns galileus (Lc 13:1).

SATISFAÇÃO DE CURIOSIDADE RELIGIOSA

Herodes já havia ouvido muitas coisas sobre Jesus – a sua fama corria por todo lugar. Certamente sabia que Jesus havia entrado em Jerusalém sob a aclamação das multidões (Mt 21:9). E não devemos duvidar de que isto o incomodava. erodes não é em nada diferente das multidões que enchem as igrejas procurando satisfazer sua curiosidade. Ele não queria a presença de Jesus como Nicodemos, como Zaqueu, como Jairo, a mulher hemorrágica ou o centurião de Cafarnaum. Ele só queria matar sua curiosidade. Queria saber se Jesus era mesmo capaz de fazer o que as pessoas diziam o tempo todo. Quem sabe Jesus fizesse um sinal miraculoso que o agradasse e que agradasse à plateia em seu palácio. Quem sabe Jesus o agradasse para não ser morto como João Batista foi. Mas, assim como com os religiosos que pediam sinais, aquele era só mais um incrédulo que não teria um show da fé particular (Lc 11:29).

SATISFAÇÃO DE CURIOSIDADE INTELECTUAL

Herodes também tinha curiosidade intelectual, interrogava Jesus porque sabia que Jesus ensinava de uma maneira diferenciada e isto todos reconheciam (Mc 1:22) e os escribas, com todas as suas artimanhas intelectuais, atitudes imorais e subterfúgios religiosos nunca haviam conseguido apanhá-lo (Lc 20:19-26). Em outra ocasião Jesus utiliza-se da mesma maneira de argumentar, e os escribas mesmo tendo sido desafiados a provar que havia algum erro no que ele fazia ou ensinava, são envergonhados mais de uma vez, e por isso ele os reprovava publicamente (Jo 8:46) e eles eram obrigados a calarem-se por temerem a opinião pública (Mat 21:23-24).

COMO JESUS LIDA COM ESTAS COISAS

Herodes Antipas foi a única pessoa em toda a Escritura com quem Jesus se recusou a falar. Ele não era digno de estar ali, ele não era o legítimo rei dos judeus. Ele estava num lugar que não era seu, era um usurpador (do latim usurpare, agarrar para uso próprio, apossar-se. Usurpar é a ação intrusiva, invasiva e criminosa individual de apossar-se mediante força, trapaça ou ato indigno coisas, bens, propriedades, títulos, cargos, função ou atribuição que não lhe é próprio, para o qual não tem nem pode obter dignidade de função, ofício, prerrogativa ou direito. Se exercido por mais de uma pessoa torna-se em associação para o crime).
Jesus falou com publicanos. Jesus falou com pecadores. Jesus falou com meretrizes. Jesus falou com leprosos, com samaritanos e com gentios. Jesus falou até com o diabo e seus demônios. Jesus falou até com os religiosos que tramaram e executaram seu julgamento indigno e também falou com o governador romano, Pilatos, porque eles estavam no lugar que tinham direito de estar.
 Herodes provavelmente desse pouca importância aos brados e acusações dos religiosos contra Jesus. Ele só queria ter sua curiosidade satisfeita – e viu-se frustrado nisso.
Herodes, não tendo satisfeitos os seus interesses, irado, trata Jesus com desprezo, escarnece dele e o devolve a Pilatos (Lc 23.10).
O destino de Herodes Antipas, um homem que teve a oportunidade de aprender com o Senhor e desprezou porque os Herodes tradicionalmente não aceitavam a idéia de nenhuma autoridade sobre eles (Mt 11:28).
Herodes preferiu ficar bem com o governante do mundo (César) e rejeitou se submeter ao Senhor dos senhores, e o fim de sua vida não é nada honroso. Foi derrotado por forças árabes sob o comando de seu e sogro Aretas IV e seus súditos consideravam sua derrota como retribuição divina por seus pecados cometidos (seu casamento irregular com Herodias, o assassinato de João Batista e a rejeição de Jesus).
Em 39 d.C. Herodes Antipas se envolveu em intrigas com seu sobrinho Herodes Agripa I e foi denunciado como conspirador e banido de sua tetrarquia pelo imperador Calígula, sendo exilado na Gália (França) onde morreu algum tempo depois.
Que lições podemos aprender com os erros de Herodes?
Jesus jamais se prestará a joguetes políticos e interesses mesquinhos.
Jesus jamais se prestará a ser animador de auditório satisfazendo curiosidade religiosa ou intelectual.
Jesus jamais satisfará os arrogantes anseios de satisfação do coração e da mente do homem.

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