terça-feira, 3 de novembro de 2009

EGOCENTRISMO E MIOPIA ESPIRITUAL

Mantenha distância de pessoas que usem muito as palavras eu e meu!

prvc Quando li esta frase fiquei a refletir sobre o assunto, e entendi que ela possui um grau de acuidade e veracidade inquestionável. Tais pessoas são egocêntricas, míopes [dificuldade ocular para enxergar o que está ao longe], para quem a única coisa que importa é a sua própria existência e satisfação. Geralmente nada enxergam além de si mesmos.

Também podemos observar que, além dos míopes egocêntricos em sua personalidade, há também aqueles que são assim em sua espiritualidade [caberia uma outra reflexão sobre a real natureza desta espiritualidade, se é, realmente, espiritualidade ou mera afetação]. Nada há mais comum e facilmente encontrável atualmente do que tais tipos de míopes espirituais. São partidários da tática 'Dá! Dá!' Nunca estão contentes, nunca estão satisfeitos. Sua vida espiritual é um eterno pedir, quando não se atrevem [e é o mais comum] a exigir, determinar, profetizar e verbos semelhantes. Quando não assume esta faceta, toma outra característica igualmente deletéria: eu penso, eu acho, eu sei que o certo é, está escrito [não da mesma forma que Jesus usou esta expressão].

Uma característica do míope é que ele nunca está conformado com o mundo que o cerca, mas é um inconformismo diferente do expresso por Paulo [Rm 12]. Ele quer as coisas do mundo, ama-as, mas quer que o mundo se conforme a ele.

Em seu relacionamento não há a necessária doação – nunca vamos encontrar atitudes como a de João, o batizador, que afirma que ele, João, deveria dar lugar ao Messias. Ele deveria diminuir, desaparecer, para que a verdadeira luz, que alumia a todo o homem, brilhasse e fosse seguida até mesmo pelos seus próprios discípulos. Nunca encontramos a atitude de Paulo, que afirma que já não vive, mas é o Senhor quem vive nele. Nunca encontrar a abnegação dos macedônios, que, sendo pobres, doaram primeiro a si mesmos e, depois, de suas posses e até acima de suas possibilidades, com o propósito de serem bênção na vida da igreja na judéia.

Nunca vamos encontrar a capacidade do perdão, o pensar a mesma coisa, o ter o mesmo sentimento. Não se aceita a ofensa e oferece-se, em troca, o perdão. O revide é a prática atual, e, quando não se oferece a violência dos atos e das palavras, oferece-se algo ainda pior – a violência do desamor, do afastamento, da frieza. Triste cristianismo este que esqueceu-se do perdão amoroso. Perdão? Amor? Isto era coisa de cristãos primitivos e ainda não evoluídos – para os tais míopes o cristianismo evoluiu, convertendo-se num shopping de bênçãos onde cada um escolhe a que quer e, através de ofertas de fé [financeiras], campanhas, orações fortes e semelhantes, conquista-se a vitória tão sonhada, embora nenhum queira dizer, como Paulo, que estava sendo oferecido por libação [isto é, em breve seria morto], mas se regozijava no Senhor por ter completado a carreira e guardado a fé, embora ainda percebesse também que precisava prosseguir para o alvo da soberana vocação em Cristo Jesus.

Isto não quer dizer que o cristão deva abdicar de seus desejos – pelo contrário, deve colocá-los diante do Senhor, e confiar que aquilo que for para glória de Deus será realizado, mas o que for para glória e engrandecimento do homem será rejeitado, esquecido e até mesmo repudiado. A essência da fé cristã é a doação – o pai doou o filho, que doou sua vida, que doou-nos o Espírito – e assim recebemos a fé e uma nova vida, que, em resposta, entregamos prazenteiramente nas mãos do Salvador, pois quem guarda a sua vida, perdê-la-á.

Mas o míope espiritual nada disso enxerga, só vê-se a si próprio. É só o seu prazer que precisa ser realizado. É o seu desejo, por mais natural [em oposição ao espiritual] que seja, que deve prevalecer. É por isso que o culto precisa ser transformado num show, quanto mais animado, quanto mais divertido, quanto mais tremendo, melhor [mesmo que não seja edificante, mesmo que não se lembre no dia seguinte de nem uma das palavras proferidas na mensagem, ou nem mesmo do texto lido].

Isto é assim porque tais pessoas eram míopes antes da chegada na comunidade da fé – e, como não tiveram seus corações verdadeiramente restaurados, continuam míopes. E não deixarão de sê-lo, porque para que isto aconteça precisam perder o coração de pedra que carregam e tê-lo substituído por um coração de carne. É possível que o míope espiritual já tenha aprendido a não usar o eu, o meu, mas, no fundo, sua atitude demonstra que o que realmente importa é a sua pessoa, o outro é ignorado, e até mesmo a vontade de Deus é colocada em segundo [às vezes não tão perto] plano. Mas como o míope só enxerga o que está perto, o que está ao fundo fica desfocado, desfigurado, e acaba não merecendo observação. Infelizmente o cristianismo está cheio de Mr. Magoos. O do desenho pelo menos era engraçado e não se dava mal no fim da história.

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