No boletim anterior dissemos que, lamentavelmente, muitos cristãos militam contra si próprios e contra a igreja que dizem amar quando, ao invés de viverem, proclamarem e amarem a verdade, preferem doces mentiras ou o que costumo chamar de “verdades de conveniência”...
Paulo adverte que, mesmo na Igreja, haveria aqueles que teriam “coceiras” nos ouvidos, ao mesmo tempo que sempre achariam quem lhes satisfizesse estes anseios (II Tm 4.3).
O primeiro passo para a queda de Adão e Eva foi abandonarem a verdade - consideraram que poderia haver algo além da verdade de Deus, buscaram uma “segunda opinião”... E acharam. O resultado é conhecido. Deixar de amar a verdade é a primeira atitude de alguém que está trabalhando contra o reino de Deus (Lc 11.23).
Apresento agora a segunda maneira de um cristão agir para evitar ser instrumento de destruição de sua própria igreja.
NÃO REJEITE QUEM FALA A VERDADE
Nossos dias são caracterizados pelo relativismo epistemológico. Dito de outra maneira, nega-se que haja alguma forma de verdade, mas apenas aparências de verdade. Se falamos a alguém que algo é verdade invariavelmente recebemos a resposta: “esta é a sua verdade”... “Se você pensa assim”... O dialogo passou a ser a conversa de dois estrangeiros falando o mesmo idioma, mas, estranhamente, uma língua totalmente diferente. Usam as mesmas palavras com significados diferentes, e ninguém se entende. Isto quando há diálogo, porque, muitas vezes, um e outro preferem se calar para não serem ofensivos, em nome do “politicamente corretos” todos se tornam “silenciosamente alheios’.
E, se alguém tenta dizer a verdade, é visto como fanático, inconveniente, fonte de atrito - esquecendo-se que faca que não sofre atrito não serve para corte (Pv 27.17). Quem se distancia da verdade logo, por consequência, torna-se alheio e contrário a quem quer que diga a verdade.
Lembremos que a verdade a que nos referimos é a proclamação de todo o conselho de Deus como fazia Micaías (I Rs 22.14). É este o aviso de Paulo: aqueles que se distanciam da verdade não suportarão a sã doutrina, e, certamente, também terão dificuldades de permanecer perto de quem a proclame (Jo 6.60).
O problema não é desconhecimento da verdade. É rejeição, como Paulo acusa em Rm 1.25: eles conhecem a verdade, mas preferem trocá-la por suas próprias mentiras, pois estas lhes são mais convenientes, e, caso se tornem inconvenientes, podem ser trocadas - e sempre haverá quem proponha novas mentiras para substituir as velhas.
Certo pastor relata que, saindo da Igreja, foi cumprimentar os membros e um deles lhe pediu para conversar reservadamente, em nome de sua família, que era tradicional, numerosa e de elevados recursos, respondendo por grande porcentagem da arrecadação da Igreja. Seu propósito era advertir ao pastor que suas mensagens não estavam agradando porque ele falava muito em pecado, em queda, em santificação e isto estava incomodando-os, pois sentiam que a pregação estava sendo direcionada para eles, como se fosse um recado. Pacientemente o pastor perguntou-lhes o que ele, então, deveria pregar. E a resposta foi que deveria falar mais de amor, de comunhão, de fraternidade, de relacionamentos saudáveis.
Não há nada de errado com estas coisas, desde que elas não ocupem o lugar que cabe à cruz de Cristo (I Co 2.2) e à cruz do cristão (Lc 9.23). Mas quem já não suporta a verdade passa a não suportar quem diz a verdade. Quem odeia a verdade, odeia quem proclama a verdade. É por isso que o mundo odiava Cristo (Jo 7.7) e odeia seus discípulos (Jo 17.14).
A nós cabe, por amor à verdade amarem também quem lhes disser a verdade - ainda que esta verdade seja incomoda, dolorida. Precisamos da verdade, precisamos conhece-la e nos orientarmos por ela, mesmo que isto signifique ter que dar meia volta, reconhecer erros e recomeçar. Mas só vale a pena recomeçar se for por causa da verdade, porque que proveito tem recomeçar à partir de uma nova e sedutora mentira?
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