Em
primeiro lugar, precisamos definir quais são os nossos símbolos de fé. Ao lado
da bíblia, única regra de fé e prática,
única autoridade incontestável a definir o que devemos crer e como devemos
dirigir a vida em toda e qualquer circunstância, temos alguns outros documentos humanos que expressam o
melhor entendimento que se tem sobre a bíblia e são adotados pela Igreja
reformada, da qual a Igreja Presbiteriana do Brasil faz parte. São eles a Confissão de Fé de Westminster, o Breve Catecismo e o Catecismo Maior. Existem outros credos
e confissões que também expressam com fidelidade o ensino das Escrituras – mas
por uma questão de opção e momento histórico não são adotados como nossos
símbolos de fé, embora reconhecidos como fiéis.
O
que eles têm a nos dizer sobre a doutrina das últimas coisas?
A primeira
coisa que a CFW nos diz sobre as últimas coisas é que a morte uma certeza
absoluta para todos os homens – até a intervenção última de Deus mediante o
retorno glorioso de Cristo, assunto também deste estudo.
O QUE ACONTECE COM
O HOMEM APÓS A MORTE
Art. XXXII. 1- Os corpos humanos, depois da morte,
convertem-se em pó e vêm a corrupção (Gn
3.19; At 13.36); mas as suas almas – que nem morem nem dormem – tendo uma
substância imortal, voltam imediatamente para Deus que as deu (Lc 23.43; Fp 1.23; II Co 5.6-8). As
almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais
alto dos céus, onde vêm a face de Deus em luz e glória, esperando a plena
redenção dos seus corpos (Lc 16. 23; Rm
8.23); e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão em
tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final (Lc 16.23,14; II Pe 2.9). Além destes
dois lugares, destinados às almas separadas de seus respectivos corpos, as
Escrituras não reconhecem nenhum outro lugar.
De acordo com a confissão de fé, há três fatos que
são inescapáveis a respeito da morte:
1.
Todos os seres humanos que morrerem verão a
corrupção do corpo – entretanto, a corrupção do corpo do justo não é
definitiva;
2.
O “anima”, aqui chamado de alma, recebe
consciente e imediatamente a prova inicial do que lhe é reservado, até que os
crentes recebam seu corpo de volta, sem mortalidade e corrupção, para viverem
em gozo eternos, e os ímpios para a punição eterna;
3.
Inexiste uma terceira opção – seja sono da
alma até a ressurreição, seja aniquilamento da alma dos ímpios.
A MORTE
A morte não é algo natural para o homem – o homem
não foi criado para morrer. A morte é uma sentença punitiva para o homem,
anunciada em caso de transgressão e imposta por causa do pecado. Ao criar o
homem Deus estabeleceu um pacto (pacto federal) mediante o qual, em caso de
obediência, ele receberia o privilégio de viver para sempre. Adão era o representante
de todos os seres humanos, de onde eles procederiam como herdeiros da vida ou
da morte (Gn
2.16,17; Gn 3.17-19; Rm 5.12). Poderíamos
afirmar que a punição de Deus ao homem, por seu pecado, era fazê-lo voltar a
ser o que ele já era sem Deus – do pó retornar ao pó, mas isto ainda não
satisfaria a ofensa infinita praticada, requerendo ainda uma condenação
posterior, o inferno. Por outro lado, Deus também manifesta a sua graça
livrando o homem do domínio da morte pelo poder da ressurreição, concedida aos
eleitos e justificados em Cristo Jesus (Rm
5.18).
Pergunta
84. Morrerão todos os homens? R. A
morte, sendo imposta como o estipêndio do pecado, está decretada a todos que
uma vez morram, pois todos são pecadores (Rm
6:23; Hb 9:27; Rm 5:12).
O Catecismo Maior afirma que a morte é
uma experiência comum a todos os homens, como um decreto divino sobre os
pecadores, como já afirmamos, daquele que ordena e faz cumprir as suas ordens.
A todos os homens está ordenado a
experiência da morte física (Hb 9.27)
Todos os seres humanos, até o fim da presente ordem, experimentarão a morte
física. Se a morte é um pagamento justo pelo pecado (Rm 6.23) porque aqueles
que são justificados em Cristo ainda tem que experimenta-la? A morte tem o
mesmo significado para crentes e descrentes? A esta questão a pergunta 85 do
Catecismo Maior nos oferece a seguinte resposta:
P.
85. A morte sendo o estipêndio do pecado, por que não são os justos livrados
dela, visto que todos os seus pecados são perdoados em Cristo? R. Os justos no
último dia serão libertados da própria morte, e no ato de morrer estarão
isentos do aguilhão e maldição dela, de modo que, embora morram, contudo, vem
isto do amor de Deus, Para os livrar perfeitamente do pecado e miséria e os
tornar capazes de maior comunhão com Cristo na glória, na qual eles
imediatamente entram (I Co 15:26, 55-57; Rm 14:8; Sl 116:15; Ap 14.:13; Lc
16:25, e 23:45; Fl 1:23).
Para os justos a morte não é a
consumação de uma tragédia, mas a entrada em uma qualidade de vida superior – a
morte não é a prisão tumular, mas a libertação da própria morte, a libertação
do seu aguilhão e, embora morram, entram na vida (Jo 11.25). Os justos, cujas almas são levadas para o seio de
Abraão, isto é, para a proteção de Deus, aguardam em conforto e relativa glória
o juízo final. Mas o que entendemos por este “conforto e relativa glória”
aguardando o juízo final? De novo, temos as palavras do Catecismo Maior a nos
trazerem instrução:
P.
86. Que é a comunhão em glória com
Cristo de que os membros da Igreja invisível gozam imediatamente depois da
morte? A comunhão em glória com Cristo de que os membros da Igreja
invisível gozam imediatamente depois da morte, consiste em serem aperfeiçoadas
em santidade as suas almas e recebidas nos mais altos céus onde veem a face de
Deus em luz e glória, esperando a plena redenção de seus corpos, os quais até
na morte continuam unidos a Cristo, e descansam nas suas sepulturas, como em
seus leitos, até que no último dia sejam unidos novamente às suas almas. Quanto
às almas dos ímpios, são imediatamente depois da sua morte lançadas no inferno
onde permanecem em tormentos e trevas exteriores; e os seus corpos ficam
guardados nas suas sepulturas, como em cárceres, até à ressurreição e juízo do
grande dia (At 7:55, 59; Ap 7:13;14, e 19:8; II Co 5:8; Fl 1:23: At 3:21; Ef
4:20; Ap 7:15; I Co 13:12; Rm 8:11, 23; I Ts 4:6; I Rs 2:10; Jo11:11; I Ts
4:14; Lc 16:23-24; Jd 7).
Tudo aquilo que era motivo de tristeza
e choro, especialmente o temor da morte, a relativo desconhecimento do que há
após a morte, todas as dúvidas e mazelas impostas ao homem em decorrência do
pecado são imediatamente retiradas, os crentes são plenamente santificados, não
restando nenhum resquício do pecado, e até mesmo o medo de pecar deixa de
existir (non posse pecare) e agora aguardam gozosamente o momento de
serem restituídos aos seus corpos e entrarem na plenitude da redenção.
Os injustos, sobre os quais as
Escrituras falam pouco, deixando, entretanto, antever o seu sofrimento (Lc 16:23) sem, entretanto, qualquer
possibilidade de mudança de estado ou de intervenção nas coisas desta vida (Sl 146.4), também
ressuscitarão, mas para o juízo eterno. A morte vence-os, já no estado
intermediário, e suas almas destinam-se ao Hades – ou inferno - (Lc 16.19-31), lugar
em que as ausências da luz, da vida, da paz, da graça e da misericórdia
divinas, submetem-nos a uma condição permanente de angústia inenarrável
(Lc 16.23-24) e sofrendo a ira do
cordeiro (Ap 6.16).
LUGAR INTERMEDIÁRIO
As Escrituras desconhecem lugares intermediários,
criados pela dogmática romana, como o “Limbo”,
para as crianças que morrem sem batismo; “Purgatório”,
para as almas que, em vida, cometeram apenas pecados veniais, ou o lugar de
sono da alma descrito pelo adventismo. Já vimos o destino dos justos (Ec 12.7) e dos ímpios (Lc 16.19-31). Este estado
intermediário, de justos e injustos cujos espíritos e corpos estarão separados
durará até a ressurreição geral e o juízo final, quando então cada um receberá
o seu destino definitivo – não se trata de um julgamento no sentido de
verificar o que cada um merece, mas da aplicação de uma sentença já predefinida
(Jo 3.18-19). É a fé ou a
incredulidade que são determinantes para o estado do homem após a morte - Os
crentes em Cristo gozarão as bênçãos da vida eterna; os ateus, as maldições
eternas.
Pergunta
37 – Quais são as bênçãos que os crentes
recebem de Cristo na hora da morte? As almas dos crentes, na hora da morte,
são aperfeiçoadas em santidade, e imediatamente entram na glória; e seus
corpos, estando ainda unidos a Cristo, descansam na sepultura até a
ressurreição (Lc 23.43; Lc 16.23; Fp 1.23; II Co5.6-8; I Ts
4.14; Rm 8.23; I Ts 4.14).
É isso o que afirma categoricamente o
Breve Catecismo (pergunta 37) ao responder à seguinte questão: Quais são as bênçãos que os
crentes recebem de Cristo na hora da morte? Segundo o Breve Catecismo as almas
dos crentes, na hora da morte, são aperfeiçoadas
em santidade, uma expressão para descrever o processo de glorificação, e
imediatamente (sem período de sono) imediatamente entram na glória, e seus
corpos, estando ainda unidos a Cristo, descansam na sepultura até a
ressurreição. Este descanso não pressupõe a ausência de corrupção, mas a
certeza de que a ressurreição verdadeiramente se dará (I Co 15.20), mesmo que seus corpos tenham sido lançados no mais
profundo do mar (Ap 20.13). Para os
incrédulos a sepultura é um cárcere – de onde os corpos serão chamados para
poderem experimentar a plenitude da ira de Deus.
TODOS
EXPERIMENTARÃO A MORTE
A
confissão de fé faz uma importante ressalva quanto à experiência da morte –
apesar de ela ser comum a todos os homens, e todos os homens estarem destinados
a ela, ao mesmo tempo nem todos os homens perecerão porque alguns irão direto
para a glória ou para a condenação no momento do retorno de Jesus Cristo –
estes não morrerão nem ressuscitarão, serão mudados.
XXXII. 2- No último dia, os que estiverem vivos não
morrerão, mas serão mudados (I Ts 4.17; I Co 15.51-52); todos os mortos serão
ressuscitados com os seus mesmos corpos e não outros, posto que com qualidades
diferentes, e ficarão reunidos às suas almas para sempre (I Co 15. 42-44).
Podemos afirmar, de acordo com a CFW, que os que
estiverem vivos, no dia do juízo, não morrerão fisicamente, mas serão
transformados para serem apropriados à nova natureza de vida – ou de condenação
– que lhes está reservada (I Ts 4.17).
Os justos ressuscitarão com seus próprios corpos, aperfeiçoados, conforme o
propósito de Deus (I Co 15.42-44).
Estes novos corpos serão definitivos e eternos, tanto para justos quanto para
injustos.
A RESSURREIÇÃO
Que nos dizem os símbolos a respeito da
ressurreição? O Catecismo Maior afirma que
P.
87. Que devemos crer acerca da
ressurreição? Devemos crer que no último dia haverá uma ressurreição geral
dos mortos, dos justos e dos injustos; então os que se acharem vivos serão
mudados em um momento, e os mesmos corpos dos mortos, que têm jazido na
sepultura, estando então novamente unidos às suas almas para sempre, serão
ressuscitados pelo poder de Cristo. Os corpos dos justos, pelo Espírito e em
virtude da ressurreição de Cristo, como cabeça deles, serão ressuscitados em
poder, espirituais e incorruptíveis, e feitos semelhantes ao corpo glorioso
dEle; e os corpos dos ímpios serão por Ele ressuscitados para vergonha, como
por um juiz ofendido (At 24:15; I Co 15:51-53: I
Ts 4:15-17; I Co 15:21-23, 42-44; Fp 3:21; Jo 5:28-29; Dn 12:2).
As Escrituras afirmam que Deus determinou um dia de
julgamento para toda a humanidade, dia a que ela chama de grande e terrível dia
do Senhor (II Ts 1.7-10). Ninguém
escapará a este dia, nem mesmo através da morte. Os que tiverem morrido serão
ressuscitados – os justos terão seus corpos transformados igualando-se aos
santos ressurretos, revestidos de imortalidade e incorruptibilidade. Como é glorioso
pensar que todas as marcas do pecado, no corpo, na mente e na alma, serão
completamente eliminadas. Estudiosos defendem que as marcas da perecividade
(infância, juventude e velhice) serão de todo banidas, sem evolução (pois o aperfeiçoado
– isto é, aquele que não possui perfeição em si mesmo – não evolui) nem
degeneração. A humanidade total, como idealizada por Deus, com todos os seus
eleitos e salvos por Cristo, finalmente estar pronta para glorificar
eternamente o seu criador.
Quantos aos ímpios continuaram com as marcas do
pecado, sofrerão novos flagelos e, se seus corpos sofrerem alguma forma de
transformação, é tão somente para que sejam aptos a sofrerem as duras
condenações do inferno por seus pecados que não foram remidos em Cristo Jesus (Is 66.24). Os ímpios não se libertarão
da corrupção decorrente das consequências da queda, nem de seus atos
pecaminosos pessoais porque estas consequências não foram eliminadas pela
regeneração ou pela justificação, mas levarão eternamente a sua culpa e lamentarão
eternamente as suas atitudes de rebeldia e incredulidade contra o Redentor (Ap 20.10, 14).
A síntese do que vai acima é mostrada na CFW:
XXXII. 3- Os corpos dos injustos serão, pelo poder
de Cristo, ressuscitados para desonra; os corpos dos justos serão, pelo seu
Espírito, ressuscitados para honra e para serem semelhantes ao próprio corpo
glorioso de Cristo (At 24.15; Jo 5. 28,29; Fp 3. 21).
A RESSURREIÇÃO DOS
JUSTOS
Segundo as Escrituras os justos ressuscitarão em
corpos aperfeiçoados, sem mácula espiritual, moral, mental e física do pecado –
não trarão as contaminações da queda nem dos pecados pessoais. O corpo
ressuscitado levantará do túmulo com a mesma personalidade, racionalidade e
identidade mas sem as imperfeições que caracterizavam o fruto do pecado e
sendo, novamente, à imagem e semelhança do varão perfeito (Ef 4.13). Sem considerar os aspectos da divindade, o homem
ressurreto tornar-se à como o filho ressurreto (I Co 15.42-44).
A PAROUSIA E O ARREBATAMENTO
O Catecismo Maior afirma o seguinte sobre a volta
de Jesus, no dia do juízo:
P.
90. Que sucederá aos justos no dia do
juízo? No dia do juízo os justos, sendo arrebatados para encontrar a Cristo
nas nuvens, serão postas à sua destra e ali, abertamente, reconhecidos e
justificados, se unirão com Ele para julgar os réprobos, anjos e homens; e
serão recebidos no céu, onde serão plenamente e para sempre libertados de todo
o pecado e miséria, cheios de gozos inefáveis, feitos perfeitamente santos e
felizes, no corpo e na alma, na companhia de inumeráveis santos e anjos, mas
especialmente na imediata visão e fruição de Deus o Pai, de nosso Senhor Jesus
Cristo e do Espírito Santo, por toda a eternidade. É esta a perfeita e plena
comunhão de que os membros da Igreja invisível gozarão com Cristo em glória, na
ressurreição e no dia do juízo (I Ts 4:17; Mt 25:33, e 10:32; I Co 6:2-3; Mt
25:34, 46; Ef. 5:27; Sl 16:11; Hb 12:22-23; I Jo 3:2; I Co 13:12; I Ts
4:17-18).
A RESSURREIÇÃO DOS
ÍMPIOS
Quanto aos ímpios o Breve Catecismo ensina que
P.
89 Que sucederá aos ímpios no dia do
juízo? No dia do juízo os ímpios serão postos à mão esquerda de Cristo, e
sob clara evidência e plena convicção das suas próprias consciências terão
pronunciada contra si a terrível, porém justa, sentença de condenação; então serão
excluídos da presença favorável de Deus e da gloriosa comunhão com Cristo, com
e seus santos, e com todos os santos anjos e lançados no inferno, para serem
punidos com tormentos indizíveis, do corpo e da alma, com o diabo e seus anjos
para sempre (Mt 25:23, e 22:12; Lc 19:22; Mt 25:41-42, 46;
II Ts 1:8-9).
Os injustos também terão seu estado definitivo na
eternidade, carregando eternamente o peso de seus pecados, que lhes trará
punição eterna, acarretando angústias e sofrimentos inomináveis, tudo sob a
condição de angústia e desesperança irremediável porque sabem que além de
infindável é inescapável. A ausência da graça de Deus lhes será insuportável,
mesmo a graça comum que tornar possível a muitos ímpios gozarem de relativa
felicidade nesta vida!
O ESTADO
DEFINITIVO
Tanto justos quanto injustos serão, ambos,
ressuscitados pelo poder de Cristo – a diferença está no destino a ser dado a
cada um deles. Os novos corpos dos servos de Cristo não mais sofrerão
modificações ou transformações (por terem sido aperfeiçoados, não por serem
perfeitos por sua própria natureza), nem estarão sujeitos mais à queda (porque
Deus não os deixará mais pecar – non posse pecare). Isto será assim porque o
Rei e Senhor, Jesus Cristo, os preservará sob sua proteção, graça e misericórdia,
e o tentador também não terá acesso aos santos, pois estará em tormento junto
com seus anjos e seguidores humanos (Mt
25.41). Os discípulos de Cristo serão, finalmente, um com seu mestre.
O REINO ETERNO
O
Breve catecismo afirma em sua pergunta 88 que imediatamente após a ressurreição
se seguirá o juízo final e a destinação de justos para a glória e de ímpios
para a condenação eterna, sem período intermediário ou oportunidade de
reconhecimento da gloria de Deus fruto da graça de Deus, mas este reconhecimento
se dará pela aplicação de sua justiça.
P.
88. Que se seguirá imediatamente depois da ressurreição? Imediatamente depois
da ressurreição se seguirá o juízo geral e final dos anjos e dos homens, o dia
e a hora do qual homem nenhum sabe, para que todos vigiem, orem e estejam
sempre prontos para a vinda do Senhor (Mt
16:27; II Pe 2:4; II Co 5:10; Mt 36, 42, 44).
A REJEIÇÃO DOS MILENARISMOS
A
fé reformada rejeita todas as formas de milenarismo que são aceitas, de maneira
consciente ou não, nas Igrejas de um modo geral, embora elas se façam presentes
(propositalmente ou não) no ensino de muitos pastores presbiterianos que, sob
muitos aspectos, não são reformados – são apenas presbiterianos inconsistentes.
Os símbolos de fé adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil rejeitam o
pre-milenismo, dispensacionalista e pós milenismo tribulacionalista que pregam
dois (e em alguns casos menos consistentes, até três retornos de Cristo), duas
ou mais ressurreições, dois ou mais juizões e duas batalhas entre o bem e o mal
(Armagedom e Gogue e Magogue), chegando a preconizar um arrebatamento secreto
da Igreja e a restauração de Israel (com a lei mosaica e o sacerdotalismo).
Anuncia também a implantação de um reino terreno por parte de Jesus com a
restauração de um trono davídico literal e culto sacrificial no templo em Jerusalém
(contrariando as palavras de Jesus em Jo
18.36).
CRISTO VENCEDOR
A
CFW, bem como o Catecismo Maior e o Breve Catecismo alinha-se com a ideia de
que tudo o que era sombra (reino, templo, sacerdócio, sacrifícios) já se
cumpriu de maneira total e final na pessoa de Cristo. O reino de Cristo já está
presente e é a Igreja, reino de caráter eterno que existe e não será jamais
destruído (Mt 16.18). As
escatologias milenaristas baseiam-se na premissa de que Cristo não cumpriu
totalmente o que precisava ser feito para instaurar o reino (Jo 19.30) e de que alguma forma de
sofrimento e tribulação tem que ser vivenciada pela Igreja em um tempo sob o
controle satânico para que, então, o reino possa ser definitivamente
instaurado.
Para
pós e pré milenistas Cristo teria sido incapaz de cumprir as profecias de
restauração do templo (Jo 2.19) e
ainda não teria poder suficiente para reinar sobre as nações. Pós milenistas
creem que Cristo só volta depois do milênio que será implantado
progressivamente – com ou sem uma prévia intervenção direta sua. Já os pré
milenistas creem que Cristo voltará antes do milênio, arrebatando a Igreja de
maneira secreta, deixando o papel de seu representante para o estado de Israel,
e, depois, voltando, mais uma vez, para inaugurar seu reino terreno de maneira
mais plena.
Cremos
que Cristo já é rei sobre toda a terra (Mt
28.18), cremos que ele reina sobre a sua Igreja (que não deve ser
confundida com denominações, parcial ou integralmente). Cremos que o estado de
Israel não tem nenhum significado especial para Deus, sendo como qualquer outra
nação política.
Cristo
reina sobre o seu povo, povo que ele mesmo formou mediante o seu sangue (Tt 2.14), e que este povo é a Igreja
invisível, triunfante, formada por todos aqueles que ele escolheu e salvou, no
passado, no presente e que ainda hão de ser salvos.
Oportunamente
vamos analisar a base de sustentação do milênio em Ap 20.4-7, que, interpretado literalmente num livro profundamente
simbólico e alegórico. De qualquer maneira, pré-milenistas e pós-milenistas
incorrem em erro hermenêutico que contamina toda a sua escatologia.
O REINO JÁ ESTÁ INSTAURADO
Os
símbolos de fé adotados pela IPB, e subscritos pelos pastores presbiterianos ao
serem ordenados, defendem uma visão escatológica chamada de amilenismo, isto é,
na inexistência de um período milenial literal. Se o livro e o texto usados
como base para o milênio são simbólicos e alegóricos, então a interpretação do
milênio também precisa partir do mesmo viés simbólico e tipológico. Vamos ver
um breve resumo da posição oficialmente aceita pela Igreja Presbiteriana do
Brasil, em que pese não ser a posição da maioria dos membros da mesma Igreja
por desconhecimento e falta de instrução por parte de seus ministros.
Cristo,
o rei e messias, inaugurou e consumou o seu reinado na Igreja – e este reino
está em marcha da mesma maneira que Israel marchou pelo deserto. Israel já era
o povo de Deus, mas ainda não estava estabelecida como nação na terra prometida
(Dt 10.11). Entretanto, como aquela
era a terra que Deus havia dado a Israel (Js
21.43), também o reino escatológico já está conquistado e estabelecido pelo
rei que é da raiz de Davi, o Leão da Tribo de Judá (Lc 1.33). O reino de Cristo é Cristo, e seu reino está tão presente
quanto ele está vivo (Mt 28.28),
embora seja um reino sem pátria, sem território neste mundo (cp. I Pe
2:11 e o envolvimento dos cristãos com o reino do mundo com Ef 2:19 e a real natureza da cidadania
dos cristãos). O povo de Deus encontra-se sob dupla regência: a de Deus (Fp 2.11) e das autoridades
constituídas, mesmo ímpias (I Pe 2.13).
À
partir do juízo final, do grande e terrível dia do Senhor haverá um só povo, um
só reino, um só rei. E o milênio? É o período em que a Igreja enfrenta as
provações e perseguições, não necessariamente durando mil anos exatos, porque,
para Deus, mil anos podem ser como um dia (II
Pe 3.8) ou uma parte ainda menor dele (Sl
90.4).
Sim,
cremos que satanás será solto, assim como os ímpios também sairão dos seus
túmulos – mas não para tentar a vitória, porém, para serem fragorosamente
derrotados por aquele que saiu vencendo e para vencer (Ap 6.2), não numa batalha com armas exércitos, mas pelo simples
poder de sua Palavra e, então, as hostes satânicas serão final e totalmente
encarceradas, e o povo de Deus herdará o novo céu e a nova terra, fruindo o
gozo eterno da presença do seu Senhor onde a morte e o pecado, definitivamente,
não mais estarão presentes.
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