domingo, 19 de julho de 2015

ESCATOLOGIA NOS SÍMBOLOS DE FÉ

Em primeiro lugar, precisamos definir quais são os nossos símbolos de fé. Ao lado da bíblia, única regra de fé e prática, única autoridade incontestável a definir o que devemos crer e como devemos dirigir a vida em toda e qualquer circunstância, temos alguns outros documentos humanos que expressam o melhor entendimento que se tem sobre a bíblia e são adotados pela Igreja reformada, da qual a Igreja Presbiteriana do Brasil faz parte. São eles a Confissão de Fé de Westminster, o Breve Catecismo e o Catecismo Maior. Existem outros credos e confissões que também expressam com fidelidade o ensino das Escrituras – mas por uma questão de opção e momento histórico não são adotados como nossos símbolos de fé, embora reconhecidos como fiéis.
O que eles têm a nos dizer sobre a doutrina das últimas coisas?
A primeira coisa que a CFW nos diz sobre as últimas coisas é que a morte uma certeza absoluta para todos os homens – até a intervenção última de Deus mediante o retorno glorioso de Cristo, assunto também deste estudo.

O QUE ACONTECE COM O HOMEM APÓS A MORTE

Art. XXXII. 1- Os corpos humanos, depois da morte, convertem-se em pó e vêm a corrupção (Gn 3.19; At 13.36); mas as suas almas – que nem morem nem dormem – tendo uma substância imortal, voltam imediatamente para Deus que as deu (Lc 23.43; Fp 1.23; II Co 5.6-8). As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus, onde vêm a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos (Lc 16. 23; Rm 8.23); e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final (Lc 16.23,14; II Pe 2.9). Além destes dois lugares, destinados às almas separadas de seus respectivos corpos, as Escrituras não reconhecem nenhum outro lugar.
De acordo com a confissão de fé, há três fatos que são inescapáveis a respeito da morte:
1.       Todos os seres humanos que morrerem verão a corrupção do corpo – entretanto, a corrupção do corpo do justo não é definitiva;
2.       O “anima”, aqui chamado de alma, recebe consciente e imediatamente a prova inicial do que lhe é reservado, até que os crentes recebam seu corpo de volta, sem mortalidade e corrupção, para viverem em gozo eternos, e os ímpios para a punição eterna;
3.       Inexiste uma terceira opção – seja sono da alma até a ressurreição, seja aniquilamento da alma dos ímpios.

A MORTE

A morte não é algo natural para o homem – o homem não foi criado para morrer. A morte é uma sentença punitiva para o homem, anunciada em caso de transgressão e imposta por causa do pecado. Ao criar o homem Deus estabeleceu um pacto (pacto federal) mediante o qual, em caso de obediência, ele receberia o privilégio de viver para sempre. Adão era o representante de todos os seres humanos, de onde eles procederiam como herdeiros da vida ou da morte (Gn 2.16,17; Gn 3.17-19; Rm 5.12). Poderíamos afirmar que a punição de Deus ao homem, por seu pecado, era fazê-lo voltar a ser o que ele já era sem Deus – do pó retornar ao pó, mas isto ainda não satisfaria a ofensa infinita praticada, requerendo ainda uma condenação posterior, o inferno. Por outro lado, Deus também manifesta a sua graça livrando o homem do domínio da morte pelo poder da ressurreição, concedida aos eleitos e justificados em Cristo Jesus (Rm 5.18).
Pergunta 84. Morrerão todos os homens? R. A morte, sendo imposta como o estipêndio do pecado, está decretada a todos que uma vez morram, pois todos são pecadores (Rm 6:23; Hb 9:27; Rm 5:12).
O Catecismo Maior afirma que a morte é uma experiência comum a todos os homens, como um decreto divino sobre os pecadores, como já afirmamos, daquele que ordena e faz cumprir as suas ordens.
A todos os homens está ordenado a experiência da morte física (Hb 9.27) Todos os seres humanos, até o fim da presente ordem, experimentarão a morte física. Se a morte é um pagamento justo pelo pecado (Rm 6.23) porque aqueles que são justificados em Cristo ainda tem que experimenta-la? A morte tem o mesmo significado para crentes e descrentes? A esta questão a pergunta 85 do Catecismo Maior nos oferece a seguinte resposta:
P. 85. A morte sendo o estipêndio do pecado, por que não são os justos livrados dela, visto que todos os seus pecados são perdoados em Cristo? R. Os justos no último dia serão libertados da própria morte, e no ato de morrer estarão isentos do aguilhão e maldição dela, de modo que, embora morram, contudo, vem isto do amor de Deus, Para os livrar perfeitamente do pecado e miséria e os tornar capazes de maior comunhão com Cristo na glória, na qual eles imediatamente entram (I Co 15:26, 55-57; Rm 14:8; Sl 116:15; Ap 14.:13; Lc 16:25, e 23:45; Fl 1:23).
Para os justos a morte não é a consumação de uma tragédia, mas a entrada em uma qualidade de vida superior – a morte não é a prisão tumular, mas a libertação da própria morte, a libertação do seu aguilhão e, embora morram, entram na vida (Jo 11.25). Os justos, cujas almas são levadas para o seio de Abraão, isto é, para a proteção de Deus, aguardam em conforto e relativa glória o juízo final. Mas o que entendemos por este “conforto e relativa glória” aguardando o juízo final? De novo, temos as palavras do Catecismo Maior a nos trazerem instrução:
P. 86. Que é a comunhão em glória com Cristo de que os membros da Igreja invisível gozam imediatamente depois da morte? A comunhão em glória com Cristo de que os membros da Igreja invisível gozam imediatamente depois da morte, consiste em serem aperfeiçoadas em santidade as suas almas e recebidas nos mais altos céus onde veem a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção de seus corpos, os quais até na morte continuam unidos a Cristo, e descansam nas suas sepulturas, como em seus leitos, até que no último dia sejam unidos novamente às suas almas. Quanto às almas dos ímpios, são imediatamente depois da sua morte lançadas no inferno onde permanecem em tormentos e trevas exteriores; e os seus corpos ficam guardados nas suas sepulturas, como em cárceres, até à ressurreição e juízo do grande dia (At 7:55, 59; Ap 7:13;14, e 19:8; II Co 5:8; Fl 1:23: At 3:21; Ef 4:20; Ap 7:15; I Co 13:12; Rm 8:11, 23; I Ts 4:6; I Rs 2:10; Jo11:11; I Ts 4:14; Lc 16:23-24; Jd 7).
Tudo aquilo que era motivo de tristeza e choro, especialmente o temor da morte, a relativo desconhecimento do que há após a morte, todas as dúvidas e mazelas impostas ao homem em decorrência do pecado são imediatamente retiradas, os crentes são plenamente santificados, não restando nenhum resquício do pecado, e até mesmo o medo de pecar deixa de existir (non posse pecare) e agora aguardam gozosamente o momento de serem restituídos aos seus corpos e entrarem na plenitude da redenção.
Os injustos, sobre os quais as Escrituras falam pouco, deixando, entretanto, antever o seu sofrimento (Lc 16:23) sem, entretanto, qualquer possibilidade de mudança de estado ou de intervenção nas coisas desta vida (Sl 146.4), também ressuscitarão, mas para o juízo eterno. A morte vence-os, já no estado intermediário, e suas almas destinam-se ao Hades – ou inferno - (Lc 16.19-31), lugar em que as ausências da luz, da vida, da paz, da graça e da misericórdia divinas, submetem-nos a uma condição permanente de angústia inenarrável (Lc 16.23-24) e sofrendo a ira do cordeiro (Ap 6.16).

LUGAR INTERMEDIÁRIO

As Escrituras desconhecem lugares intermediários, criados pela dogmática romana, como o “Limbo”, para as crianças que morrem sem batismo; “Purgatório”, para as almas que, em vida, cometeram apenas pecados veniais, ou o lugar de sono da alma descrito pelo adventismo. Já vimos o destino dos justos (Ec 12.7) e dos ímpios (Lc 16.19-31). Este estado intermediário, de justos e injustos cujos espíritos e corpos estarão separados durará até a ressurreição geral e o juízo final, quando então cada um receberá o seu destino definitivo – não se trata de um julgamento no sentido de verificar o que cada um merece, mas da aplicação de uma sentença já predefinida (Jo 3.18-19). É a fé ou a incredulidade que são determinantes para o estado do homem após a morte - Os crentes em Cristo gozarão as bênçãos da vida eterna; os ateus, as maldições eternas.
Pergunta 37 – Quais são as bênçãos que os crentes recebem de Cristo na hora da morte? As almas dos crentes, na hora da morte, são aperfeiçoadas em santidade, e imediatamente entram na glória; e seus corpos, estando ainda unidos a Cristo, descansam na sepultura até a ressurreição (Lc 23.43; Lc 16.23; Fp 1.23; II Co5.6-8; I Ts 4.14; Rm 8.23; I Ts 4.14).
É isso o que afirma categoricamente o Breve Catecismo (pergunta 37) ao responder à seguinte questão: Quais são as bênçãos que os crentes recebem de Cristo na hora da morte? Segundo o Breve Catecismo as almas dos crentes, na hora da morte, são aperfeiçoadas em santidade, uma expressão para descrever o processo de glorificação, e imediatamente (sem período de sono) imediatamente entram na glória, e seus corpos, estando ainda unidos a Cristo, descansam na sepultura até a ressurreição. Este descanso não pressupõe a ausência de corrupção, mas a certeza de que a ressurreição verdadeiramente se dará (I Co 15.20), mesmo que seus corpos tenham sido lançados no mais profundo do mar (Ap 20.13). Para os incrédulos a sepultura é um cárcere – de onde os corpos serão chamados para poderem experimentar a plenitude da ira de Deus.

TODOS EXPERIMENTARÃO A MORTE

A confissão de fé faz uma importante ressalva quanto à experiência da morte – apesar de ela ser comum a todos os homens, e todos os homens estarem destinados a ela, ao mesmo tempo nem todos os homens perecerão porque alguns irão direto para a glória ou para a condenação no momento do retorno de Jesus Cristo – estes não morrerão nem ressuscitarão, serão mudados.
XXXII. 2- No último dia, os que estiverem vivos não morrerão, mas serão mudados (I Ts 4.17; I Co 15.51-52); todos os mortos serão ressuscitados com os seus mesmos corpos e não outros, posto que com qualidades diferentes, e ficarão reunidos às suas almas para sempre (I Co 15. 42-44).
Podemos afirmar, de acordo com a CFW, que os que estiverem vivos, no dia do juízo, não morrerão fisicamente, mas serão transformados para serem apropriados à nova natureza de vida – ou de condenação – que lhes está reservada (I Ts 4.17). Os justos ressuscitarão com seus próprios corpos, aperfeiçoados, conforme o propósito de Deus (I Co 15.42-44). Estes novos corpos serão definitivos e eternos, tanto para justos quanto para injustos.

A RESSURREIÇÃO

Que nos dizem os símbolos a respeito da ressurreição? O Catecismo Maior afirma que
P. 87. Que devemos crer acerca da ressurreição? Devemos crer que no último dia haverá uma ressurreição geral dos mortos, dos justos e dos injustos; então os que se acharem vivos serão mudados em um momento, e os mesmos corpos dos mortos, que têm jazido na sepultura, estando então novamente unidos às suas almas para sempre, serão ressuscitados pelo poder de Cristo. Os corpos dos justos, pelo Espírito e em virtude da ressurreição de Cristo, como cabeça deles, serão ressuscitados em poder, espirituais e incorruptíveis, e feitos semelhantes ao corpo glorioso dEle; e os corpos dos ímpios serão por Ele ressuscitados para vergonha, como por um juiz ofendido (At 24:15; I Co 15:51-53: I Ts 4:15-17; I Co 15:21-23, 42-44; Fp 3:21; Jo 5:28-29; Dn 12:2).
As Escrituras afirmam que Deus determinou um dia de julgamento para toda a humanidade, dia a que ela chama de grande e terrível dia do Senhor (II Ts 1.7-10). Ninguém escapará a este dia, nem mesmo através da morte. Os que tiverem morrido serão ressuscitados – os justos terão seus corpos transformados igualando-se aos santos ressurretos, revestidos de imortalidade e incorruptibilidade. Como é glorioso pensar que todas as marcas do pecado, no corpo, na mente e na alma, serão completamente eliminadas. Estudiosos defendem que as marcas da perecividade (infância, juventude e velhice) serão de todo banidas, sem evolução (pois o aperfeiçoado – isto é, aquele que não possui perfeição em si mesmo – não evolui) nem degeneração. A humanidade total, como idealizada por Deus, com todos os seus eleitos e salvos por Cristo, finalmente estar pronta para glorificar eternamente o seu criador.
Quantos aos ímpios continuaram com as marcas do pecado, sofrerão novos flagelos e, se seus corpos sofrerem alguma forma de transformação, é tão somente para que sejam aptos a sofrerem as duras condenações do inferno por seus pecados que não foram remidos em Cristo Jesus (Is 66.24). Os ímpios não se libertarão da corrupção decorrente das consequências da queda, nem de seus atos pecaminosos pessoais porque estas consequências não foram eliminadas pela regeneração ou pela justificação, mas levarão eternamente a sua culpa e lamentarão eternamente as suas atitudes de rebeldia e incredulidade contra o Redentor (Ap 20.10, 14).
A síntese do que vai acima é mostrada na CFW:
XXXII. 3- Os corpos dos injustos serão, pelo poder de Cristo, ressuscitados para desonra; os corpos dos justos serão, pelo seu Espírito, ressuscitados para honra e para serem semelhantes ao próprio corpo glorioso de Cristo (At 24.15; Jo 5. 28,29; Fp 3. 21).

A RESSURREIÇÃO DOS JUSTOS

Segundo as Escrituras os justos ressuscitarão em corpos aperfeiçoados, sem mácula espiritual, moral, mental e física do pecado – não trarão as contaminações da queda nem dos pecados pessoais. O corpo ressuscitado levantará do túmulo com a mesma personalidade, racionalidade e identidade mas sem as imperfeições que caracterizavam o fruto do pecado e sendo, novamente, à imagem e semelhança do varão perfeito (Ef 4.13). Sem considerar os aspectos da divindade, o homem ressurreto tornar-se à como o filho ressurreto (I Co 15.42-44).

A PAROUSIA E O ARREBATAMENTO

O Catecismo Maior afirma o seguinte sobre a volta de Jesus, no dia do juízo:
P. 90. Que sucederá aos justos no dia do juízo? No dia do juízo os justos, sendo arrebatados para encontrar a Cristo nas nuvens, serão postas à sua destra e ali, abertamente, reconhecidos e justificados, se unirão com Ele para julgar os réprobos, anjos e homens; e serão recebidos no céu, onde serão plenamente e para sempre libertados de todo o pecado e miséria, cheios de gozos inefáveis, feitos perfeitamente santos e felizes, no corpo e na alma, na companhia de inumeráveis santos e anjos, mas especialmente na imediata visão e fruição de Deus o Pai, de nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo, por toda a eternidade. É esta a perfeita e plena comunhão de que os membros da Igreja invisível gozarão com Cristo em glória, na ressurreição e no dia do juízo (I Ts 4:17; Mt 25:33, e 10:32; I Co 6:2-3; Mt 25:34, 46; Ef. 5:27; Sl 16:11; Hb 12:22-23; I Jo 3:2; I Co 13:12; I Ts 4:17-18).

A RESSURREIÇÃO DOS ÍMPIOS

Quanto aos ímpios o Breve Catecismo ensina que
P. 89 Que sucederá aos ímpios no dia do juízo? No dia do juízo os ímpios serão postos à mão esquerda de Cristo, e sob clara evidência e plena convicção das suas próprias consciências terão pronunciada contra si a terrível, porém justa, sentença de condenação; então serão excluídos da presença favorável de Deus e da gloriosa comunhão com Cristo, com e seus santos, e com todos os santos anjos e lançados no inferno, para serem punidos com tormentos indizíveis, do corpo e da alma, com o diabo e seus anjos para sempre (Mt 25:23, e 22:12; Lc 19:22; Mt 25:41-42, 46; II Ts 1:8-9).
Os injustos também terão seu estado definitivo na eternidade, carregando eternamente o peso de seus pecados, que lhes trará punição eterna, acarretando angústias e sofrimentos inomináveis, tudo sob a condição de angústia e desesperança irremediável porque sabem que além de infindável é inescapável. A ausência da graça de Deus lhes será insuportável, mesmo a graça comum que tornar possível a muitos ímpios gozarem de relativa felicidade nesta vida!

O ESTADO DEFINITIVO

Tanto justos quanto injustos serão, ambos, ressuscitados pelo poder de Cristo – a diferença está no destino a ser dado a cada um deles. Os novos corpos dos servos de Cristo não mais sofrerão modificações ou transformações (por terem sido aperfeiçoados, não por serem perfeitos por sua própria natureza), nem estarão sujeitos mais à queda (porque Deus não os deixará mais pecar – non posse pecare). Isto será assim porque o Rei e Senhor, Jesus Cristo, os preservará sob sua proteção, graça e misericórdia, e o tentador também não terá acesso aos santos, pois estará em tormento junto com seus anjos e seguidores humanos (Mt 25.41). Os discípulos de Cristo serão, finalmente, um com seu mestre.

O REINO ETERNO

O Breve catecismo afirma em sua pergunta 88 que imediatamente após a ressurreição se seguirá o juízo final e a destinação de justos para a glória e de ímpios para a condenação eterna, sem período intermediário ou oportunidade de reconhecimento da gloria de Deus fruto da graça de Deus, mas este reconhecimento se dará pela aplicação de sua justiça.
P. 88. Que se seguirá imediatamente depois da ressurreição? Imediatamente depois da ressurreição se seguirá o juízo geral e final dos anjos e dos homens, o dia e a hora do qual homem nenhum sabe, para que todos vigiem, orem e estejam sempre prontos para a vinda do Senhor (Mt 16:27; II Pe 2:4; II Co 5:10; Mt 36, 42, 44).

A REJEIÇÃO DOS MILENARISMOS

A fé reformada rejeita todas as formas de milenarismo que são aceitas, de maneira consciente ou não, nas Igrejas de um modo geral, embora elas se façam presentes (propositalmente ou não) no ensino de muitos pastores presbiterianos que, sob muitos aspectos, não são reformados – são apenas presbiterianos inconsistentes. Os símbolos de fé adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil rejeitam o pre-milenismo, dispensacionalista e pós milenismo tribulacionalista que pregam dois (e em alguns casos menos consistentes, até três retornos de Cristo), duas ou mais ressurreições, dois ou mais juizões e duas batalhas entre o bem e o mal (Armagedom e Gogue e Magogue), chegando a preconizar um arrebatamento secreto da Igreja e a restauração de Israel (com a lei mosaica e o sacerdotalismo). Anuncia também a implantação de um reino terreno por parte de Jesus com a restauração de um trono davídico literal e culto sacrificial no templo em Jerusalém (contrariando as palavras de Jesus em Jo 18.36).

CRISTO VENCEDOR

A CFW, bem como o Catecismo Maior e o Breve Catecismo alinha-se com a ideia de que tudo o que era sombra (reino, templo, sacerdócio, sacrifícios) já se cumpriu de maneira total e final na pessoa de Cristo. O reino de Cristo já está presente e é a Igreja, reino de caráter eterno que existe e não será jamais destruído (Mt 16.18). As escatologias milenaristas baseiam-se na premissa de que Cristo não cumpriu totalmente o que precisava ser feito para instaurar o reino (Jo 19.30) e de que alguma forma de sofrimento e tribulação tem que ser vivenciada pela Igreja em um tempo sob o controle satânico para que, então, o reino possa ser definitivamente instaurado.
Para pós e pré milenistas Cristo teria sido incapaz de cumprir as profecias de restauração do templo (Jo 2.19) e ainda não teria poder suficiente para reinar sobre as nações. Pós milenistas creem que Cristo só volta depois do milênio que será implantado progressivamente – com ou sem uma prévia intervenção direta sua. Já os pré milenistas creem que Cristo voltará antes do milênio, arrebatando a Igreja de maneira secreta, deixando o papel de seu representante para o estado de Israel, e, depois, voltando, mais uma vez, para inaugurar seu reino terreno de maneira mais plena.
Cremos que Cristo já é rei sobre toda a terra (Mt 28.18), cremos que ele reina sobre a sua Igreja (que não deve ser confundida com denominações, parcial ou integralmente). Cremos que o estado de Israel não tem nenhum significado especial para Deus, sendo como qualquer outra nação política.
Cristo reina sobre o seu povo, povo que ele mesmo formou mediante o seu sangue (Tt 2.14), e que este povo é a Igreja invisível, triunfante, formada por todos aqueles que ele escolheu e salvou, no passado, no presente e que ainda hão de ser salvos.
Oportunamente vamos analisar a base de sustentação do milênio em Ap 20.4-7, que, interpretado literalmente num livro profundamente simbólico e alegórico. De qualquer maneira, pré-milenistas e pós-milenistas incorrem em erro hermenêutico que contamina toda a sua escatologia.

O REINO JÁ ESTÁ INSTAURADO

Os símbolos de fé adotados pela IPB, e subscritos pelos pastores presbiterianos ao serem ordenados, defendem uma visão escatológica chamada de amilenismo, isto é, na inexistência de um período milenial literal. Se o livro e o texto usados como base para o milênio são simbólicos e alegóricos, então a interpretação do milênio também precisa partir do mesmo viés simbólico e tipológico. Vamos ver um breve resumo da posição oficialmente aceita pela Igreja Presbiteriana do Brasil, em que pese não ser a posição da maioria dos membros da mesma Igreja por desconhecimento e falta de instrução por parte de seus ministros.
Cristo, o rei e messias, inaugurou e consumou o seu reinado na Igreja – e este reino está em marcha da mesma maneira que Israel marchou pelo deserto. Israel já era o povo de Deus, mas ainda não estava estabelecida como nação na terra prometida (Dt 10.11). Entretanto, como aquela era a terra que Deus havia dado a Israel (Js 21.43), também o reino escatológico já está conquistado e estabelecido pelo rei que é da raiz de Davi, o Leão da Tribo de Judá (Lc 1.33). O reino de Cristo é Cristo, e seu reino está tão presente quanto ele está vivo (Mt 28.28), embora seja um reino sem pátria, sem território neste mundo (cp. I Pe  2:11 e o envolvimento dos cristãos com o reino do mundo com Ef 2:19 e a real natureza da cidadania dos cristãos). O povo de Deus encontra-se sob dupla regência: a de Deus (Fp 2.11) e das autoridades constituídas, mesmo ímpias (I Pe 2.13).
À partir do juízo final, do grande e terrível dia do Senhor haverá um só povo, um só reino, um só rei. E o milênio? É o período em que a Igreja enfrenta as provações e perseguições, não necessariamente durando mil anos exatos, porque, para Deus, mil anos podem ser como um dia (II Pe 3.8) ou uma parte ainda menor dele (Sl 90.4).

Sim, cremos que satanás será solto, assim como os ímpios também sairão dos seus túmulos – mas não para tentar a vitória, porém, para serem fragorosamente derrotados por aquele que saiu vencendo e para vencer (Ap 6.2), não numa batalha com armas exércitos, mas pelo simples poder de sua Palavra e, então, as hostes satânicas serão final e totalmente encarceradas, e o povo de Deus herdará o novo céu e a nova terra, fruindo o gozo eterno da presença do seu Senhor onde a morte e o pecado, definitivamente, não mais estarão presentes.

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