quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A TOLICE DE DIZER QUE O MELHOR DE DEUS AINDA ESTÁ POR VIR

Recebi uma ligação hoje de um amigo que me perguntava o que achava desta frase. Bom, a seu pedido, gravei a resposta e mandei pra ele pelo whattsap. Mas resolvi publicá-la também.

Há tempos eu ouço esta frase, leio esta frase, cantam esta frase, bradam esta frase e o que ela quer dizer mesmo? Se tentarmos corrigi-la biblicamente, poderíamos dizer que o melhor de Deus é a consumação da redenção dos salvos, a glória que há de ser revelada nos filhos de Deus conforme anunciada por Paulo ao escrever sua carta aos romanos (Rm 8:18). Assim, o melhor de Deus é a vida eterna, não apenas o livramento do pecado, mas, principalmente, da presença do pecado e da morte (1Co 15:54). Mas sei que seria pedir elucubrações teológicas elaboradas demais para quem compôs a música, e para quem vive repetindo bordões como se tivesse conhecimento das Escrituras.
O que esta frase significa, realmente?
Ela é fruto de três erros fundamentais que tem penetrado no cristianismo e deixado estragos. 
O primeiro é o hedonismo, explorado astutamente por pregadores do outro evangelho que o apóstolo condena. O que é o hedonismo? É o desejo de estar bem, de se sentir bem. Na primeira prova, na primeira dificuldade da caminhada cristã, ao invés de regozijar-se nos sofrimentos por causa do nome de Cristo colocam a culpa em todo o mundo, no diabo que elevam a uma categoria de deus negativo e afirmam que, embora salvos Deus tem muita coisa boa ainda para dar, como se os tesouros deste mundo fossem mais valiosos do que Cristo, que foi dado para a salvação dos eleitos. O pior é que nem salvos se consideram realmente, porque pensam que estão salvos pelo menos naquele momento, porque em sua maioria são arminianos inconsistentes ou nem arminianos conseguem ser.
O segundo erro é o mundanismo, o amor às coisas deste mundo, denunciado veementemente por diversas vezes, tanto por Jesus quanto pelos apóstolos (1Jo 2:15). Por deixar sua mente se ocupar das coisas do mundo Pedro chegou a ser chamado de “adversário”, satanás. Mas aqueles que se autodenominam igreja de Jesus amam as coisas do mundo, desejam as coisas do mundo, anseiam pelas coisas do mundo e afirmam que, se alguém não tem tudo que deseja, ou é porque tem demônio, ou é porque tem pouca fé. Não aprenderam ainda o que quer dizer no mundo ter aflições (Jo 16:33), não sabem que, para o crente, a graça de Deus é suficiente (2Co 12:9).
O terceiro erro é ignorância bíblica mesmo. Jesus afirmou que muitos erravam por não conhecerem as Escrituras (Mc 12:24). E muito daquilo que tem sido chamado de cristianismo atual não passa de ignorância das Escrituras, e mera repetição de frases de efeito maquinalmente aprendidas, ampliadas pelos efeitos do facebook e whatsapp da vida. E neste contexto frases como “Eu não sou membro de religião”, “A minha vitória tem sabor de mel” e “O melhor de Deus ainda está por vir” se tornam mantras pseudoevangélicos.
Mas, para não abrir demais a polêmica, vou me deter em mostrar a falácia somente desta última. Em primeiro lugar, o que é o melhor de Deus? Por acaso há algo mais valioso do que Cristo? Sim, Deus nos deu Cristo, e, com ele, também nos tem dado graciosamente todas as demais coisas. Retirar Rm 8.32 (Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?) de seu contexto para dizer que Deus vai dar as demais coisas é esquecer que Paulo está falando da segurança da salvação, do fato de o crente em Jesus ser justificado e guardado por Deus, que o faz perseverar, e nem mesmo o diabo consegue tirá-lo das mãos do Senhor. No argumento de Paulo o que há de melhor da parte de Deus para nós é seu próprio filho, colocado no texto de maneira enfática.
E alguém pode dizer: e a salvação eterna? Para um bom estudioso das Escrituras isto não é problema porque a salvação é uma dádiva de Deus em Cristo. E a justificação? Também uma dádiva de Deus em Cristo. E morar no novo céu e nova terra? Também uma dádiva de Deus em Cristo. Não há qualquer menção a uma vida sem problemas por ser cristão, pelo contrário, Pedro exorta os verdadeiros crentes a se regozijarem nos sofrimentos por amor de Cristo, porque isso é bem aventurança e uma graça que Deus concede somente aos crentes (Fp 1:29). Para quem vive buscando tesouros na terra, lembre-se que estes são absolutamente passageiros, e todos os tesouros que realmente importam estão em Cristo (Cl 2.3).
Não, isto é conversa de tolo. Afirmar que o melhor de Deus ainda está por vir referindo-se a carro, a emprego, a namoro ou família, à solução de problemas pessoais, profissionais ou emocionais é conversa de espertalhão para tolo. É o individuo que se acha esperto fazendo-se de peixe colocando a boca no anzol do vigarista. Não sejamos tolos, o melhor de Deus já veio – e ele é Cristo. O que pode ter acontecido é que o incrédulo o rejeita, não o recebe, mas ele já veio para buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). Para nada servem todos os bens do mundo sem Cristo, porque, para os mortos, só resta a condenação. Não importa quanto de bens possuam aqui, causaram dano eterno à sua alma. É Cristo que nos tira da morte para a vida, que nos faz filhos amados de Deus. 

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