quinta-feira, 13 de agosto de 2015

PRINCÍPIOS PARA OS DISCÍPULOS QUE DESEJAM CUMPRIR A GRANDE COMISSÃO At 10 1 33

At 10.1-33

INTRODUÇÃO

Pouco antes de subir para os céus, à vista dos seus discípulos, o Senhor Jesus deu-lhes uma importante ordem: serem suas testemunhas em todos os lugares, tanto onde antes ele lhes havia dito para que não se ausentassem (At 1:4) como em todas as demais regiões da terra, sem deixar nenhuma delas sem ouvir a mensagem (At 1:8).
Jesus fez esta determinação em forma de progressão geográfica porque sabia da propensão dos judeus para evitarem os samaritanos e sua dificuldade em anunciar aos não judeus, apesar das profecias de que gente de todos os povos adorariam ao Senhor (Is 56:7) e o próprio Senhor Jesus ter dado o exemplo lidando tanto com gentios (Mc 7.26-29) quanto com samaritanos (Jo 4:39).
Nós temos uma certeza: nosso Deus não muda. Seu propósito é o mesmo: que, na sua casa, homens e mulheres de todas as nações se apresentem para cultuá-lo em espirito e em verdade. O mesmo Deus que escolheu Israel no passado, o fez para que eles fossem uma nação de testemunhas mostrando o seu poder em libertá-los da escravidão no Egito e mantê-los no deserto, apesar dos exércitos de faraó e da falta de água e alimento (Is 43:12) também escolheu o novo Israel, a Igreja, com este mesmo propósito – para que proclamem as virtudes daqueles que os libertou das trevas para a sua maravilhosa luz (I Pe 2:9).
A mesma responsabilidade que estava sobre Israel encontra-se nos ombros dos cristãos – testemunharem as grandezas de Deus, anunciarem os seus poderosos feitos, renderem-lhe graças e louvor pelo que ele é, fez e anunciou que, no momento que ele mesmo determinou, ainda fará. É nesta perspectiva, de cumprimento de um mandato, que analisaremos At 10 em três mensagens, sendo que a primeira estabelece princípios para os discípulos que desejam ser obedientes e cumprirem a grande comissão.

PRINCÍPIO Nº I: O INTERESSE DE DEUS POR HOMENS NÃO É LIMITADO POR NENHUM TIPO DE BARREIRA

1 Morava em Cesaréia um homem de nome Cornélio, centurião da coorte chamada Italiana, 2 piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus. 3 Esse homem observou claramente durante uma visão, cerca da hora nona do dia, um anjo de Deus que se aproximou dele e lhe disse: 4 Cornélio! Este, fixando nele os olhos e possuído de temor, perguntou: Que é, Senhor? E o anjo lhe disse: As tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus. 5 Agora, envia mensageiros a Jope e manda chamar Simão, que tem por sobrenome Pedro. 6 Ele está hospedado com Simão, curtidor, cuja residência está situada à beira-mar.
Embora Deus tenha escolhido, na antiguidade, uma nação para lhe ser povo particular, ele já demonstrava que se importava com o destino das outras nações e Jesus retira do Antigo Testamento dois momentos do ministério de Elias para demonstrar que Deus não restringia seu cuidado a Israel: a cura de Naamã, o leproso comandante d o exército sírio e o sustento da viúva em Sarepta de Sidom (Lc 4.25-27).
Jesus deu, mais de uma vez, o exemplo do cuidado e especial interesse de Deus sobre os não judeus: curou um servo de um centurião, a filha de uma cananéia, o coração de uma samaritana, a lepra de um samaritano, a alma de um gadareno. E ele também deu, mais de uma vez, ordem aos seus discípulos para que alcançassem os perdidos de outros apriscos (Jo 10:16). Na cidade dedicada a César havia um chefe de uma guarnição romana chamado Cornélio. Cesaréia, centro comercial e militar gentílico, com muitos templos e banhos, não era um ambiente especialmente atrativo para judeus ou para a religião judaica. Mas é no lodaçal da Cesaréia que encontra-se Cornélio, qualificado como piedoso, isto é, um dedicado seguidor dos preceitos mosaicos, e também temente a Deus, alguém que, embora muito próximo do judaísmo, adepto da prática de orações, esmolas e contribuições para o templo, por uma razão (no caso, era oficial romano, não podia deixar de participar de cerimônias cívico-religiosas romanas) não havia se tornado um prosélito, um gentio que se deixava circuncidar e se tornava judeu.
Cornélio e sua casa (família e agregados) eram pessoas piedosas ou ao menos ensinadas nas práticas piedosas. Em uma de suas orações (exatamente à mesma hora em que Jesus havia entregue o seu espírito, hora nona, isto é, três horas da tarde - Mt 27:46) teve a visão de um anjo de Deus que lhe comunicou que suas orações tinham sido ouvidas, que a sua vida e testemunho eram agradáveis aos olhos do Senhor mas que ainda lhe faltava algo que precisava ser suprido: ele precisava conhecer o evangelho do salvador – suas orações, apesar de serem agradáveis aos olhos do Senhor, não eram suficientes, como nenhuma obra é suficiente (Ef 2:8): ele precisava conhecer a Cristo, o Senhor e salvador. A barreira da nacionalidade não impediu Deus de atentar para Cornélio, e não impediria sua salvação.

PRINCÍPIO Nº II: QUALQUER UM QUE SEJA EFETIVAMENTE CHAMADO PELO SENHOR TOMA UMA ATITUDE

7 Logo que se retirou o anjo que lhe falava, chamou dois dos seus domésticos e um soldado piedoso dos que estavam a seu serviço 8 e, havendo-lhes contado tudo, enviou-os a Jope.
Depois de entendermos que o Senhor não estava interessado somente em judeus, assim como seu cuidado e seu amor salvador (Jo 3:16) não é exclusivo apenas para os que já estão na Igreja (Lc 19:10) devemos nos perguntar: e então? E daí que sabemos que Jesus veio para buscar e salvar o perdido?
Antes de tratar do papel dos discípulos, quero que lancemos um olhar para os perdidos. Cornélio é um exemplo de alguém que, embora com algum tipo de temor e conhecimento, ainda estava alheio à nova aliança com Deus (Ef 4:18) porque esta só poderia ser concretizada à partir do momento que ele conhecesse Cristo, o salvador (Jo 17:3).
As Escrituras dizem que nem mesmo o coração de um descrente é capaz de opor-se à vontade de Deus (Pv 21:1). Como alguém temente a Deus, Cornélio não tinha sequer interesse em opor-se à vontade de Deus. Nenhuma notícia lhe seria tão agradável quanto a que o anjo lhe deu: ele receberia o favor do Senhor. Como você reagiria à notícia de que ganhou uma casa (de verdade, não estas mensagens via celular que enchem a nossa caixa postal)? Como reagiria à notícia de que vai poder entrar naquela sonhada faculdade e ainda com bolsa integral? Ou que recebeu uma promoção tão almejada? O que você faria se a única exigência fosse ir até o doador, ou à faculdade ou ao RH da empresa em que trabalha para saber como receber esta bênção?
A maioria é absolutamente ágil quando se trata de receber este tipo de bênção, mas como você reage quando ouve falar que seu destino, sem Deus, é o inferno por ser filho da ira, morto em seus próprios delitos e pecados, condenado por sua própria culpa (Ef 2:1-3) mas que, mesmo merecendo esta dura condenação ele lhe deu vida, sem que você merecesse, mas somente por causa do seu grande amor e para mostrar a sua muita misericórdia (Ef 2.4-6)? A maioria simplesmente não reage, permanece estática, como mortos, e, de fato, mortos espiritualmente, que não vão a Cristo para serem vivificados (I Co 15:22). Mas não foi assim com Cornélio. Ele não pensou duas vezes, não titubeou. Se tinha que chamar Pedro, então ele chamaria Pedro imediatamente.

PRINCÍPIO Nº III: QUANDO O SENHOR CHAMA, ELE DISPÕE OS MEIOS PARA EFETIVAR SEU PROPÓSITO

Já olhamos para Cornélio, o homem a quem Deus determinou abençoar. Gentio, piedoso e temente a Deus. Agora, devemos mudar o nosso olhar para Pedro, que, de certa maneira, representa os crentes, assim como Cornélio representa os eleitos que ainda não tiveram a oportunidade de ouvir o evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Pedro é, de certa maneira, você. O que você é e de que maneira você se encaixa nas características que passo a mencionar?

I.                 INSTRUMENTOS HUMANOS

9 No dia seguinte, indo eles de caminho e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao eirado, por volta da hora sexta, a fim de orar.
A primeira característica que logo percebemos é que Deus faz uso de homens que ele mesmo escolheu (Lc 6:13) e designou para que dessem frutos permanentes (Jo 15:16).
Jesus foi absolutamente enfático com seus discípulos – eles foram designados para frutificarem, para trabalharem na obra do Senhor sabendo que seu trabalho não seria nem vão (I Co 15:58) nem solitário (Mt 28:20).
É tolice afirmar que o anúncio evangélico é um privilégio concedido aos homens que os anjos desejariam executar – é, na verdade, uma tarefa confiada aos servos cuja consecução lhes será cobrada e que anjos não conseguem, em sua existência, experimentar e compreender, pois aos preservados não haverá queda e aos caídos não haverá redenção (Jd 1:6).
Para pregar para Cornélio Deus designou Pedro. E você, será o Pedro na vida de quem? Quem será que está pronto para ouvir a mensagem e seus lábios estão cerrados? Será que vai ser preciso que alguém bata no seu portão lhe exigindo que saia do seu comodismo silencioso, desobediente e preguiçoso? Se uma missão foi dada, e não é executada, então, só resta ter que ouvir as palavras do Senhor Jesus chamando de servo mau e negligente (Mt 25.26-30). É isso o que deseja ouvir do Senhor?

II.             DISPONIBILIDADE

10 Estando com fome, quis comer; mas, enquanto lhe preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase; 11 então, viu o céu aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas, 12 contendo toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu. 13 E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: Levanta-te, Pedro! Mata e come. 14 Mas Pedro replicou: De modo nenhum, Senhor! Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda. 15 Segunda vez, a voz lhe falou: Ao que Deus purificou não consideres comum. 16 Sucedeu isto por três vezes, e, logo, aquele objeto foi recolhido ao céu.
Quando enviou o anjo para falar com Cornélio Deus não precisou procurar na agenda alguém disponível – o escolhido já havia sido comissionado. A missão dada a Pedro (e aos demais discípulos bem como aos discípulos dos discípulos, e assim sucessivamente, todos discípulos do Senhor - I Co 11:1): eles deveriam anunciar o evangelho a todo o mundo – e isto incluía, por mais óbvio que isso pareça para nós, os desprezados samaritanos e os odiados gentios.
Pedro estava em seu momento devocional, era meio dia, ao invés de ficar beliscando na cozinha procurou um lugar onde pudesse ficar a sós com Deus. Isso é bom, muito bom. Mas se você acha que ter um momento de devoção com Deus é suficientemente bom e a isso se resume a sua espiritualidade, algo de muito errado está acontecendo com você. Provavelmente você ainda não entendeu o que significa ser discípulo de Cristo. Cristo é aquele que desceu de sua glória para resgatar indignos pecadores – é aquele que subiu à cruz para ocupar o lugar de injustos pecadores (I Pe 3:18).
Se sua devoção não conduz você a conhecer mais a Deus, e se este conhecimento de Deus não leva você a uma mudança em suas atitudes, de uma atitude de autossuficiência para a de obediência, então, mesmo que você esteja sozinho em algum canto com alguma prática religiosa isto pode ser chamado de qualquer coisa, menos de devoção a Deus. Se sua devoção a Deus não muda sua visão de mundo e tira você da letargia, então, ainda está faltando um encontro transformador com o Senhor.
Pedro estava disponível – precisava ser instruído sobre o que precisava fazer. Antes que ele considerasse os gentios de serem chamados à nova aliança com o Senhor Jesus, ele precisava ser ensinado, e de lei em punho, por três vezes nega-se a entender que o evangelho é o cumprimento da lei e é ir além da lei – é transformar a intransigência em misericórdia, é vencer as barreiras e os preconceitos. Mas ele logo entenderia – quem falava com ele era o seu Senhor – não foi um êxtase induzido, foi um chamado do Senhor para que ele compreendesse ainda melhor o plano de Deus, do qual ele era um instrumento e, agora, estava inteiramente disponível. O que era cerimonialmente impuro (gentios e samaritanos) havia sido purificado por Deus.

III.         ORDEM

17 Enquanto Pedro estava perplexo sobre qual seria o significado da visão, eis que os homens enviados da parte de Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, pararam junto à porta; 18 e, chamando, indagavam se estava ali hospedado Simão, por sobrenome Pedro. 19 Enquanto meditava Pedro acerca da visão, disse-lhe o Espírito: Estão aí dois homens que te procuram; 20 levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque eu os enviei.
Enquanto meditava sobre o que tinha acabado de lhe acontecer, de que maneira isto iria influenciar sua vida e sua maneira de servir ao Senhor, os enviados de Cornélio batem à porta de Simão. Era a hora de colocar em prática o que tinha acabado de aprender. E eis aqui outro grande paralelo entre Pedro, o crente, e nós, os crentes. Pedro estava aprendendo e o Senhor exigia que seu aprendizado fosse colocado em prática. Havia um bem a ser feito, e seria pecado não fazê-lo (Tg 4:17).
Algum tempo antes o Senhor Jesus havia dito que eles seriam guiados pelo consolador – e que ele os faria lembrar de tudo quanto lhes havia sido ensinado (Jo 14:26). Sem dúvida que evangelizar os gentios estava entre as coisas que Jesus havia feito – e discípulos são aqueles que imitam o seu discipulador.
É sob a direção do Espírito que Pedro recebe a explicação de sua visão: os homens que bateram à porta de Simão eram, antes de mais nada, enviados pelo próprio Senhor – e Pedro deveria ir com eles. É provável que Cornélio, sabendo dos escrúpulos dos judeus, tenha enviado servos ou associados judeus para procurarem Pedro. Isso já evitava, de pronto, a primeira barreira. Mas o mesmo Espírito lhe diz para ir com os estranhos, sem medo, pois ninguém sai com estranhos assim, especialmente sabendo que havia forte oposição à mensagem que ele pregava. Pedro já havia estado preso (At 4.1-3) e também chicoteado sendo exortado a calar-se a respeito de Jesus (At 5:40), o que se negaram a atender (At 4:19).
Mas o argumento determinante para que Pedro obedeça vá com eles é o Espírito Santo dizer: eu os enviei. Você se negaria a ir pregar o evangelho desta maneira? Você se recusaria a ir até a casa de Cornélio se o Senhor lhe dissesse para ir? Pois é, ele já disse – já disse para você ir. Já deu até o endereço. Onde? Simplesmente entre Jerusalém e os confins da terra – e, geograficamente, nossa terra é o que o Senhor Jesus queria dizer com “confins da terra” àqueles judeus. Vai obedecer ou não (I Sm 15:23)?

IV.          OBEDIÊNCIA

21 E, descendo Pedro para junto dos homens, disse: Aqui me tendes; sou eu a quem buscais? A que viestes? 22 Então, disseram: O centurião Cornélio, homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica, foi instruído por um santo anjo para chamar-te a sua casa e ouvir as tuas palavras. 23 Pedro, pois, convidando-os a entrar, hospedou-os. No dia seguinte, levantou-se e partiu com eles; também alguns irmãos dos que habitavam em Jope foram em sua companhia.
Porque não temos tanta disposição para a evangelização? Se você acha bom que a Igreja faça conferências de evangelização, congressos para despertamento para evangelização e coisas semelhantes, acredito que isto é simplesmente uma resposta a um terrível sintoma que podemos encontrar – a apatia, a falta de vontade, a indisposição, em suma, a desobediência por parte dos crentes. Não é preciso uma visão para saber que há uma tarefa a ser desempenhada pela Igreja. Jesus já a deu. Fazer uma conferência sobre missões é admitir o fracasso da Igreja, porque a Igreja, em sua essência, deveria ser uma missão permanente.
E o evangelismo não é a missão permanente da Igreja não por falta de oportunidade ou recursos – aliás, recursos e oportunidades são mais do que abundantes. A causa é simplesmente a trágica inclinação para a rebeldia, para a desobediência. Todavia, não foi o caso de Pedro. O Senhor lhe disse: levanta. E ele se levantou. Disse-lhe desce. E ele desceu. O Senhor lhe disse para ir com eles, e ele, após tê-los hospedado (o que é uma indicação, porém, não determinante, de que  eles eram judeus associados, de alguma forma, a Cornélio), foi com eles no dia seguinte porque viajar a noite não era seguro.
Aqueles homens fazem questão de destacar três características de Cornélio que só interessavam aos judeus: piedoso (aqui chamado de reto), temente a Deus (uma classificação para os simpatizantes do judaísmo mas que não se tornaram judeus) e que tinha bom testemunho de toda a nação judaica, o que significava, no mínimo, que não era dado a perseguir os judeus, o que já era grande coisa. Mas ele ia mais além – era homem de oração e de coração bondoso, que contribuía para o bem de outros através de esmolas.
Mas nossos olhos, neste momento, estão voltados para Pedro, o crente. Pedro, o apóstolo. Pedro, o enviado. Pedro, o disposto a obedecer à ordem de ir além da sua zona de conforto para anunciar o evangelho a todos os que tinham interesse – e se havia algo que Cornélio tinha era interesse no evangelho. Voltemos nossos olhos para os crentes – há muitos que receberão prazerosamente o evangelho, mas, onde estão os pregadores (Rm 10:14). Só não podemos continuar com a pergunta de Paulo porque sabemos que fomos enviados (Rm 10:15).

V.              AUDIÊNCIA

24 No dia imediato, entrou em Cesaréia. Cornélio estava esperando por eles, tendo reunido seus parentes e amigos íntimos.
No mesmo dia eles chegam a Cesaréia e vão imediatamente à casa de Cornélio. Tudo estava pronto. A casa de Cornélio estava preparada para receber a mensagem que o Senhor lhe falaria através de Pedro. Deixe-me relembrar: a piedade de Cornélio era conhecida por todos os convidados – eram seus parentes, seus amigos íntimos. Alguém pode ser conhecido socialmente como piedoso mas não ser reconhecido assim por seus parentes e amigos íntimos.
Cornélio poderia ter ido até Pedro – ou chamado à sede da guarda para conversarem. Mas Cornélio vivia sua piedade diante de todos, havia entendido que a mesma mensagem que servira para que ele se tornasse o que havia se tornado perante todos os seus familiares, perante seus amigos íntimos, perante a guarda também serviria para mudar sua vida, consciente do interesse de Deus por sua vida, e ele queira compartilhar com todos os seus aquela novidade. Eles já sabiam de sua piedade. Já sabiam que ele tinha tido uma visão – talvez alguns duvidassem mesmo da existência deste tal de Simão hospedado na casa de Simão. E muitos certamente duvidavam que um judeu religioso entrasse na casa de um soldado romano. Talvez muitos esperassem pela volta dos emissários apenas para confirmar suas desconfianças.
Cornélio não se importava com isso – mesmo sem saber se Pedro viria, reuniu sua família. Reuniu seus amigos. A mensagem que o salvaria também seria compartilhada com todos os seus queridos, com as pessoas que gozavam de sua intimidade. Cornélio provavelmente tinha uma esposa. E filhos. E talvez outros familiares próximos vivendo com ele. Cornélio também deveria ter soldados em confiava, companheiros de batalhas onde uma amizade sólida foi formada.
Assim como Cornélio não queria sua família longe, nem seus amigos perdidos em um campo de batalha qualquer, ele também não queria separar-se deles na eternidade. E os traz a todos para ouvirem Pedro falar das grandezas de Deus que deveriam chegar a todos os cantos da terra (Rm 10:18).

VI.          PERSPECTIVA CORRETA

25 Aconteceu que, indo Pedro a entrar, lhe saiu Cornélio ao encontro e, prostrando-se-lhe aos pés, o adorou. 26 Mas Pedro o levantou, dizendo: Ergue-te, que eu também sou homem.
Apesar de sua piedade, e de ser um homem temente a Deus, e de suas orações e esmolas terem sido aceitas pelo Senhor, Cornélio ainda não era um cristão. Cornélio nem mesmo era um judeu. Cornélio ainda era um romano, com uma mente de romano e, portanto, com atitudes comuns aos romanos. Cornélio foi encontrar-se com Pedro no portal – talvez com medo de que, afinal, Pedro se recusasse a entrar porque ele era judeu e aquela era a casa de um romano, e, mais que isso, de um oficial romano, os quais não eram tidos como os homens mais amados do mundo pelos judeus, só perdendo para os samaritanos e publicanos.
O segundo erro cometido por Cornélio que mostram a sua mentalidade ainda não convertida é o fato de se prostrar aos pés de Pedro e adorá-lo, como os habitantes de Listra (At 14.11-13).
Cornélio precisava mesmo da visita de Pedro – precisava entender que somente ao Senhor deveria adorar, somente ao Senhor deveria prestar culto (Êx 20:3-5).
Pedro, Paulo e qualquer outro pregador eram apenas instrumentos por meio do qual os pecadores viriam a conhecer a Jesus (I Co 3:5). Eles eram apenas ministros, buscando anunciar a reconciliação que Deus promoveu, em Cristo, com pecadores antes perdidos (II Co 5:20).
Não era Pedro nem Paulo a quem Cornélio deveria adorar – era a Cristo, o Senhor. Somente ele tinha o nome pelo qual os pecadores poderiam ser salvos (At 4:12).

PRINCÍPIO Nº IV: O SENHOR CHAMA UNICAMENTE ATRAVÉS DE SUA PALAVRA

27 Falando com ele, entrou, encontrando muitos reunidos ali, 28 a quem se dirigiu, dizendo: Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo; 29 por isso, uma vez chamado, vim sem vacilar. Pergunto, pois: por que razão me mandastes chamar?
Após corrigir a perspectiva equivocada de Cornélio, comum aos gentios, de tratarem homens como se fossem mais do que homens, ou, às vezes, considera-los divinos, Pedro continua a colocar as coisas na perspectiva correta. Diferente do que faria em outra ocasião e se tornaria repreensível        quando, por medo dos judeus, afastara-se dos gentios (Gl_2:11), ele entra na casa de um gentio, diante de gentios, e coloca as coisas na perspectiva correta.
Segundo as tradições dos judeus, que eram conhecidas dos romanos, ele não deveria estar ali. Não apenas não deveria, não poderia. Pela tradição ele estava proibido de estar ali. Mas Pedro era discípulo de Jesus. Ele conhecia o ensino de Jesus, que a tradição não deve ser considerada superior aos deveres de misericórdia – e que ato maior de misericórdia do que proporcionar a pecadores gentios a oportunidade de terem Deus no mundo (Ef 2.12) e obterem a salvação graciosamente dada em Jesus Cristo (I Pe 1:21).
Mas Pedro faz uma ressalva. Ele usa a adversativa leve, mas, como a demonstrar que a proibição não era algo essencial – e, de fato, não era, era muito mais um costume fruto de uma interpretação legalista do que o ensino claro das Escrituras. Mas, diz Pedro, mais que às tradições ele tinha que obedecer a Deus que lhe disse para não considerar indigno o que o próprio Deus havia sido considerado aceitável. Pedro usa uma linguagem cerimonial à qual os romanos estavam acostumados (comum ou imundo) e não considerariam ofensiva.
O que importava é que, em obediência a Deus, que respondera às orações e práticas piedosas de Cornélio, Pedro estava ali – cerimonialismo e tradicionalismo deram lugar à obediência a uma ordem direta de Deus. Devemos lamentar que estas limitações, mesmo comprovadamente abolidas e contrárias à vontade de Deus, ainda estão presentes na mentalidade da Igreja. Tradições culturais, tradições sociais, tradições pseudoteológicas que são empecilhos ao anúncio do evangelho a pecadores. Vencida a barreira do tradicionalismo religioso e do nacionalismo, era o momento de tratar da razão daquela reunião.

O PROBLEMA A SER RESOLVIDO

30 Respondeu-lhe Cornélio: Faz, hoje, quatro dias que, por volta desta hora, estava eu observando em minha casa a hora nona de oração, e eis que se apresentou diante de mim um varão de vestes resplandecentes 31 e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus. 32 Manda, pois, alguém a Jope a chamar Simão, por sobrenome Pedro; acha-se este hospedado em casa de Simão, curtidor, à beira-mar. 33 Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor.
Cornélio expõe a Pedro a causa daquela reunião tão inusitada de gentios e judeus e um só propósito: obedecerem às ordens de Deus. Ali é exposto a vida devocional de Cornélio, sua visão, o comunicado que lhe trouxe grande alegria e a missão de procurar Pedro em local claramente indicado: a casa de Simão, o curtidor, à beira-mar na cidade de Jope.
A obediência de Cornélio, enviando seus emissários à procura de Pedro é mencionada, e a alegria em receber o emissário do Senhor também (Is 52:7). O problema posto é: havia pessoas que não tinham Deus no mundo. E pelo menos uma delas tinha seu coração inclinado para Deus (Pv 21:1).
Ele queria ser salvo, desejava a salvação, queria servir a Deus mas, para invocá-lo salvadoramente precisava conhece-lo (Rm 10:14). E para que ele pudesse invocar ao salvador, precisava saber quem era o salvador, precisava ouvir falar sobre Jesus (Jo 17:3). E quem melhor que um discípulo de Jesus para apresentar Jesus?
Como Apolo, Cornélio era religioso, conhecia sobre Moisés e sobre o messias – mas ainda não conhecia sobre Jesus. E foi precisamente para este fim que os ministros da reconciliação (II Co 5:18) por intermédio de Cristo Jesus foram deixados, para tirar os homens da ignorância, mesmo a ignorância instruída (At 17:22), como dos gregos, para a luz de Cristo (I Pe 2:9). Cumpriu-se em Cornélio o que diz a palavra: Deus se deixou achar porque ele o buscou de todo o seu coração (Jr 29:13).

O QUE PROPORCIONARIA A SOLUÇÃO

33 Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor.
Pecadores tem uma necessidade. Judeus tinham uma necessidade. Samaritanos tinham esta mesma necessidade. E os gentios, como Cornélio, também tinham uma necessidade: todos precisavam de um salvador, todos precisavam do messias, todos tinham, assim como todos os homens do presente e todos só que ainda hão de vir, necessidade de Jesus, o salvador. De novo, fica a indagação: como eles poderão encontrar o salvador se não ouvirem sobre ele? Como invocarão aquele de quem nada ouvirem? É bom lembrar que a salvação é tão somente pela fé – Cornélio ainda não sabe o que é ser um salvo até este momento. Ele precisa crer, e crer em Cristo, e a fé só pode vir por um meio – pela palavra de Cristo (Rm 10:17).
Pedro não anuncia o nacionalismo embutido na religiosidade judaica – só poderia ser membro da comunidade dos eleitos quem se tornasse judeu (e Cornélio permanecia apenas um temente, não se tornara judeu). A primeira fala de Pedro descarta, de imediato, o nacionalismo religioso dos judeus. Em outro lugar das Escrituras é Paulo quem nos diz que a filosofia e as sutilezas dos filósofos também são inúteis para a salvação e crescimento espiritual dos homens (Cl 2:8). Nem todo o conhecimento que o homem pode obter é suficiente para que eles, por si mesmos, conhecessem a Deus, embora Deus não esteja longe (At 17:27).
Em relação a Deus e à sua vontade há três tipos de ignorância: a primeira, semelhante à de Cornélio, desejável e necessária, que, ignorando o que Deus dele queria, procura imediatamente a quem lhe possa ensinar. É o que podemos chamar de ignorância humilde, desejosa de conhecimento verdadeiro do verdadeiro Deus e que se assenta aos pés do Senhor para aprender.
Um segundo tipo de ignorância é a arrogante, pretensiosa – como encontramos nos escribas e fariseus que hipocritamente rejeitavam a tudo o que Jesus fazia e falava porque achavam ter o controle da verdade (Lc 12:56), sem, no entanto, conhecerem a verdade libertadora (Jo 8:32).
Um terceiro tipo de ignorância é a ignorância bruta, como descrito nos salmos (Sl 78.56-57) ou os efésios (At 19:34), e um em especial, o latoeiro Alexandre (II Tm 4:14).
Todos nós somos, de alguma forma, ignorantes em relação a muitas coisas e, precisamos, humildemente, fazer como Jó. De uma pretensão arrogante em julgar a sua santidade e a justiça de Deus, após instruído pelo Senhor cala-se pondo a mão à boca, admite a sua pretérita ignorância (Jó 42:3) mas louva a Deus pelo novo conhecimento (Jó 42:5).
Para resolver a ignorância de Cornélio só havia uma solução: ouvir o que Deus tinha mandado Pedro dizer: não era a palavra de Pedro, não era o nacionalismo nem a filosofia nem nada que os homens pudessem produzir, inclusive a tão adorada ciência do século XXI (Sl 146:3) – era, tão somente, o que Deus ordenou que Pedro lhe dissesse da parte do Senhor – e o que Pedro tinha a dizer era que “não há salvação fora de Jesus” (At 4:12).

UMA EXORTAÇÃO FINAL AO SEU CORAÇÃO

Cornélio reuniu sua família para ouvir a palavra de Deus. Cornélio não queria filosofia, se quisesse, havia numerosos gregos habilidosos nisso. Cornélio não queria legalismo – para isso havia escribas e fariseus aos montes à sua disposição. Mas ele queria ouvir a Palavra de Deus. E para ele ouvir a Palavra de Deus precisava de um crente disposto a pregar a Palavra de Deus. Para o pecador ouvir a Palavra de Deus precisa que você, crente, discípulo de Cristo, pregue a Palavra de Deus. Esta é a responsabilidade do crente.
E para você, que ouve a palavra, deixe-me dizer-lhe qual a sua responsabilidade: crer no Senhor Jesus, como seu salvador, e senhor, e se converter, e ser salvo, vencendo a dureza do coração causada pela incredulidade (Is 6:10).
Daqui precisam sair dois tipos de pessoas: crentes dispostos a obedecerem ao ide do Senhor Jesus e pregarem o evangelho (Mc 16:15) e novos crentes na palavra que lhe foi pregada, de que há um só salvador, e este é Jesus, e, crendo nele, agora são portadores da dadiva da vida eterna (Jo 10:28).
A única outra opção é a da rebeldia, da rejeição da palavra e da desobediência ao Senhor Jesus. E certamente você não quer experimentar o resultado desta rebeldia (Hb 10:31).

Minha exortação final: seja um discípulo obediente, ouça o que Deus lhe diz e obedeça. Inimigo ou amigo de Jesus? A resposta está na obediência (Jo 15:14). Lembre-se que o interesse de Deus por pecadores não é limitado por barreiras geográficas ou sociais. Lembre-se que os pecadores chamados por Deus devem tomar uma atitude e sair do seu estado de letargia. Lembre-se que não faltam meios para a salvação dos incrédulos – Deus já dispôs todas as ferramentas e circunstâncias. Lembre-se que Deus só chama para a salvação por meio de sua palavra efetiva e verdadeiramente pregada. Então, agora que você ouviu a palavra que anuncia a salvação em Deus, crê no Senhor Jesus para que seja salvo.

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