Mensagem dominical pregada na Igreja Presbiteriana em Xinguara
Vamos
lembrar o que já sabemos sobre Neemias, mais especialmente sobre o primeiro
princípio que encontramos em seu brilhante trabalho como reconstrutor de
Jerusalém. Ao tomar conhecimento que alguns judeus tinham notícias de Israel,
procurou-os imediatamente, e foi inteirado do estado em que as coisas se
encontravam. Embora o relato bíblico não nos dê maiores detalhes sobre o teor
das conversas entre Neemias, Hanani e os demais que voltaram junto com ele,
provavelmente foi muito mais do que o resumido relato bíblico nos apresenta e
serviu de base para as orações constantes (mais de cem dias) nas quais este
servo de Deus colocou os desejos do seu coração perante o Senhor seu Deus (Sl 37:5). Neemias não
era um iludido com promessas infundadas a respeito de Jerusalém. Ele sabia que,
deixando a cidadela de Susã, onde passava uma parte do ano, e Babilônia, a
capital, deixando o palácio do rei Artaxerxes ele tinha uma dura missão pela
frente.
Em
primeiro lugar, ele teria que chegar a Jerusalém – o que, por si só, já era uma
tarefa de grande monta dada a distância e a inospitalidade da região que tinha
que atravessar e, conseguindo atravessar, ainda encontrariam inimigos na região
– muitos, organizados e influentes.
Em
segundo lugar, ele teria que se ambientar em Jerusalém – e, de cara, teria que
resolver o mais rapidamente o problema emocional e de organização social dos
judeus, abatidos e muitos já se aculturando com os demais habitantes da região,
fazendo alianças mediante casamentos que eram uma afronta ao Deus que os havia
lançado naquele estado miserável.
Em
terceiro lugar ele se defrontaria com a difícil situação socioeconômica: era um
país destruído, falido, sem qualquer tipo de organização econômica. Os hebreus
não passavam de camponeses, colonos em sua própria terra, meros escravos, sem
iniciativa, sem instrução, sem instrumentos. Desafios enormes – desafios que só
Deus poderia tornar possíveis – mas como não devemos jamais esquecer, não há
nada impossível para Deus (Lc 1:37). Por confiar em Deus inteiramente vamos encontrar
algumas disposições fundamentais no coração de Neemias.
NEEMIAS SE HUMILHOU PERANTE O SENHOR
Ne
1.11 - Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo
e à dos teus servos que se agradam de temer o teu nome; concede que seja bem
sucedido hoje o teu servo e dá-lhe mercê perante este homem. Nesse tempo eu era
copeiro do rei.
A
primeira disposição de Neemias é buscar a presença de Deus, confessando seus
pecados e reconhecendo o pecado de seu próprio povo, da mesma maneira que
Daniel havia feito décadas antes (Dn 9:18). Neemias só podia confessar os seus
pecados, não o de terceiros – confessamos os nossos pecados, intercedemos pelos
outros pecadores. A confissão é sempre fruto do arrependimento individual.
Israel
estava sofrendo por seus próprios pecados – pecados de seus pais, pecados de
seus príncipes, pecados de seus sacerdotes, pecados que continuavam a ser
cometidos, mesmo estando no estado de completo desolamento como era o dos
habitantes de Jerusalém. A solução para o problema de Israel não estava nos
israelitas – nem nos que foram levados para o exílio nem nos que ficaram em
Canaã.
Enquanto
Israel confiasse em si mesmo o seu destino era o pó (Jr 7:19).
Enquanto Israel esperasse que sua solução viesse do homem, o seu destino era o
pó (Jr 17:5). Enquanto Israel
buscasse alívio em alianças com homens ou com reinos o seu destino continuaria
sendo apenas o pó (Sl
121:1).
A
arrogância de Israel, descrita por Jeremias, resultou, efetivamente, em sua
própria maldição. O profeta havia avisado: maldito o homem que aparta o seu
coração do Senhor. Foi por isso que o Senhor colocou como condição essencial
para a restauração a humilhação, não a humilhação pela força de terceiros, mas
a humilhação pessoal, de coração – o exílio veio para um povo que honrava o
Senhor com os lábios mas tinha o coração longe do Senhor. A restauração só
viria para um povo que honrasse o Senhor com o coração, que o buscasse de todo
o seu coração (Jr
29.12-14).
Israel
estava efetivamente destruída – a nação, a capital, o povo, a economia, a moral
(Jr 25:29). Tudo
tinha virado escombros e um montão de ruínas. Mas a promessa de Deus é: se este
povo me invocar… se este povo orar a mim eu os ouvirei. Se este povo me buscar
de todo o coração eles me acharão. Se este povo vier a mim mudarei a sua sorte.
Se este povo destroçado me buscar verdadeiramente eu os trarei de volta do exílio,
eu sararei a sua terra, eu perdoarei os seus pecados, eu restaurarei sua nação
(II Cr 7:14).
NEEMIAS SE ENTREGOU AO SENHOR DA OBRA
2.1
- No mês de nisã (aproximadamente 4 meses depois), no ano vigésimo do rei
Artaxerxes, uma vez posto o vinho diante dele, eu o tomei para oferecer e lho
dei; ora, eu nunca antes estivera triste diante dele. 2 O rei me
disse: Por que está triste o teu rosto, se não estás doente? Tem de ser
tristeza do coração. Então, temi sobremaneira 3 e lhe respondi: viva
o rei para sempre! Como não me estaria triste o rosto se a cidade, onde estão
os sepulcros de meus pais, está assolada e tem as portas consumidas pelo fogo? 4
Disse-me o rei: Que me pedes agora? Então, orei ao Deus dos céus
A
segunda disposição é permanecer na presença do Senhor esclarecendo qual o
desejo do seu coração, qual o seu propósito. Ele sentia a dor e a desgraça de
seu povo. Ele havia decidido fazer algo para melhorar a situação do seu povo. Ele
queria acabar com aquele estado de miséria em que Israel se encontrava. Ele
queria reconstruir Jerusalém. Para isso ele precisava do favor de Deus.
Precisava da ação de Deus no coração do rei Artaxerxes e por isso pede ao
Senhor que lhe dê “mercê perante o Rei”.
Antes,
porém, de Deus agir no coração de Artaxerxes um outro coração precisava estar
disposto para a tarefa – um coração precisava estar pronto, precisava estar
totalmente voltado para a obra a ser realizada - e este coração era o de
Neemias. Um coração humilde e consagrado ao Senhor, um coração que confiava no
Senhor, que se confiava inteiramente ao Senhor.
Como
servo que era, e humilhado por sua própria incapacidade, não há quaisquer
reivindicações das promessas de Deus – ainda que Neemias confiasse nas
promessas de Deus e em suas orações lembrasse delas. Há uma diferença entre
confiar e esperar nas promessas de Deus e exigir de Deus o cumprimento de suas
promessas. Ele não “cobra” de Deus que restaurasse o povo, a nação e a cidade
santa ‘porque ele havia prometido’ ou porque houvesse alguém orando por este
fim. Pelo contrário, Neemias se dispõe a servir a Deus se ele quisesse
restaurar Jerusalém. Ele queria ser o instrumento, não a mão que reergueria
Israel – o braço que faria isso seria o braço do todo poderoso de Jacó.
Porque
muitos cristãos “consagrados” estão simplesmente se esquivando de servirem na
obra do Senhor – por mais esquizofrênica que seja a resposta, acredito que seja
porque jamais fizeram o que homens como Neemias, Pedro fizeram (Lc 18:28), Paulo (Fp 3:8) e tantos outros fizeram.
Respondendo de forma ainda mais clara: é porque não conseguem, efetivamente,
reconhecer o Senhor como seu senhor em todos os seus caminhos
Neemias
só conseguiu a autorização para realizar a tarefa porque ele queria ser
instrumento de Deus. Sua oração não foi como a fala de Moisés (Êx 4:13),
ele não orou por outros trabalhadores – ele pediu ao Senhor que lhe desse (a
ele, Neemias) graça diante do rei porque ele
queria ir a Jerusalém para reedificar a cidade.
NEEMIAS SE ENTREGOU À OBRA DO SENHOR
5 e
disse ao rei: se é do agrado do rei, e se o teu servo acha mercê em tua
presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais,
para que eu a reedifique. 6 Então, o rei, estando a rainha assentada junto
dele, me disse: Quanto durará a tua ausência? Quando voltarás? Aprouve ao rei
enviar-me, e marquei certo prazo.
Após
um período de oração – um longo período, quase quatro meses, Neemias estava
pronto para atender ao chamado de seu coração. Ele não ouviu vozes, não sentiu
tremores, e, ainda que Deus muitas vezes tenha se manifestado de maneiras
extraordinárias, ele também fala ao coração de seus servos (Sl 27:8).
Tinha
um desejo, elaborara um plano e havia tomado uma resolução. Ele queria
reedificar Jerusalém (v. 5). A execução não dependia
dele. O texto nos mostra um Neemias resoluto e ao mesmo tempo tenso, preocupado,
com o coração ansioso mas tudo entregando nas mãos de Deus (Fp 4:6).
Como ele convenceria o rei a permitir a reedificação de Jerusalém, uma cidade
com um grande histórico de revoltas e guerras? Neemias percebeu que este não
era o seu problema.
Para
Neemias bastava que ele estivesse disposto a ser o instrumento de Deus para
aquela obra, para ser usado como Deus quisesse, como fez Isaías (Is 6:8). E se fosse da vontade de
Deus o rei lhe seria favorável [Ne 2.1-3]. Confiante e preocupado, Neemias aguardou a
ocasião propícia, sabedor de que há tempo para tudo debaixo do céu, e de que não
se deve desperdiçar oportunidades. Entre março e abril de 445 a.C. Neemias é
inquirido pelo rei do porque da sua expressão tensa, expôs-lhe o que lhe
preocupava o coração.
Não
era o rei quem decidia. Lembremos de outro episódio em que um rei achava que
tinha pleno domínio da situação e foi envergonhado e aniquilado diante do mundo
inteiro – e Deus diz que isto aconteceu por que ele endureceu o coração de
faraó (Êx 9:12). Faraó achava que fazia o que queria, mas
não sabia que estava cumprindo um propósito do Senhor (Rm 9:17).
Assim,
após todo este período de oração e preparação Neemias finalmente conseguiu a
liberação do rei para viajar, recomendações para que tivesse segurança e
recursos materiais para a reedificação da cidade [Ne 2.4-5]. Na
verdade, Neemias faz duas viagens, uma em 445 a.C. e outra em 432 a.C. Devemos,
porém, observar algo: quando se apresenta perante o rei, ao ser inquirido sobre
o motivo da sua tristeza, Neemias em primeiro lugar ora ao Senhor, mais uma
vez.
É a
oração confiante de quem sabia que Deus já tinha ouvido as suas orações, já
tinha atentado para seu clamor e jejum – ele sabia que assim como Deus tinha
inclinado o seu coração, ele também podia inclinar o coração do rei (Pv 21:1).
QUAL A DISPOSIÇÃO DO SEU CORAÇÃO
Sabemos
que para tomarmos parte na obra do Senhor numerosos empecilhos poderão surgir.
O Senhor Jesus afirmou que aqueles que se apresentarem ao chamado de Deus em
resposta à oração dos poucos trabalhadores (Lc 10:2) deveriam saber
que seriam enviados como ovelhas para o meio de lobos (Lc 10:3).
Somente
com uma atitude de completa dedicação de coração ao Senhor alguém pode abrir
mão dos prazeres transitórios deste mundo para aguardar superior promessa, como
Moisés fez (Hb
11:25). Jesus é absolutamente enfático – você
não pode servir a dois senhores – ou você serve a Deus ou você serve aos
interesses do mundo (Lc 16:13) e suas concupiscências (Rm 13:14). Não há meio termo, ou você serve a Jesus
ou você é apenas um empecilho à sua obra (Lc 11:23). Como ouvi certa vez, quem não
está sob a pedra de esquina é apenas pedra de tropeço (Rm 9:33). Se desejamos um exemplo de completa disposição
para o serviço do Senhor podemos olhar para Esdras (Ed 7:10).
Somente
com uma entrega total ao Senhor e à sua obra alguém pode trocar o que lhe
parece estar à mão na esperança de receber algo que sequer consegue ver.
Somente em uma entrega total na obra do Senhor alguém pode, de fato, demonstrar
que já entregou-se ao Senhor da obra. Um incrédulo espera ver, para então,
acreditar. Ora, se você acredita no que você vê você não é um crente, é um
crédulo, como Tomé (Jo
20:27). O
crente crê, aguarda, espera, e verá. Não precisa ver para crer, mas crê porque
sabe que verá (Hb
11:1).
Ainda
há muito a ser realizado na obra do Senhor – e isto não será realizado por
governantes, como não foi por Artaxerxes. Isto não será realizado por
incrédulos, mesmo se estes forem dotados de grandes recursos, como não foi
pelos gentios que cercavam Jerusalém. A obra do Senhor não será feita por
aqueles que tem informações precisas mas precisam de disposição no coração,
como não foi por Hanani e os demais viajantes. Provavelmente havia outros
judeus trabalhando em Susã – que nada fizeram para a consecução da obra, como
hoje ainda há muitos assentados tranquilamente em bancos de Igreja, em ambientes
confortáveis como era a cidadela de Susã.
Ainda
há muito a ser realizado na obra do Senhor – e isto só será realizado por
crentes que estejam dispostos a se entregar, humildemente, nas mãos do Senhor e
rogar, através de oração paciente, que o Senhor lhes conceda os desejos de seu
coração, coração previamente inclinado pelo Senhor para a sua obra (Pv 21:1). Deixe-me concluir, qual a disposição do seu coração?
Você está disposto a enfrentar alguma dificuldade para fazer a obra do Senhor?
Nenhum comentário:
Postar um comentário