sábado, 23 de abril de 2016

- DISPOSIÇÃO PARA SUPERAR OS PROBLEMAS: NEEMIAS - PRINCÍPIOS PARA SE FAZER A OBRA DO SENHOR

Mensagem dominical pregada na Igreja Presbiteriana em Xinguara

Vamos lembrar o que já sabemos sobre Neemias, mais especialmente sobre o primeiro princípio que encontramos em seu brilhante trabalho como reconstrutor de Jerusalém. Ao tomar conhecimento que alguns judeus tinham notícias de Israel, procurou-os imediatamente, e foi inteirado do estado em que as coisas se encontravam. Embora o relato bíblico não nos dê maiores detalhes sobre o teor das conversas entre Neemias, Hanani e os demais que voltaram junto com ele, provavelmente foi muito mais do que o resumido relato bíblico nos apresenta e serviu de base para as orações constantes (mais de cem dias) nas quais este servo de Deus colocou os desejos do seu coração perante o Senhor seu Deus (Sl 37:5). Neemias não era um iludido com promessas infundadas a respeito de Jerusalém. Ele sabia que, deixando a cidadela de Susã, onde passava uma parte do ano, e Babilônia, a capital, deixando o palácio do rei Artaxerxes ele tinha uma dura missão pela frente.
Em primeiro lugar, ele teria que chegar a Jerusalém – o que, por si só, já era uma tarefa de grande monta dada a distância e a inospitalidade da região que tinha que atravessar e, conseguindo atravessar, ainda encontrariam inimigos na região – muitos, organizados e influentes.
Em segundo lugar, ele teria que se ambientar em Jerusalém – e, de cara, teria que resolver o mais rapidamente o problema emocional e de organização social dos judeus, abatidos e muitos já se aculturando com os demais habitantes da região, fazendo alianças mediante casamentos que eram uma afronta ao Deus que os havia lançado naquele estado miserável.
Em terceiro lugar ele se defrontaria com a difícil situação socioeconômica: era um país destruído, falido, sem qualquer tipo de organização econômica. Os hebreus não passavam de camponeses, colonos em sua própria terra, meros escravos, sem iniciativa, sem instrução, sem instrumentos. Desafios enormes – desafios que só Deus poderia tornar possíveis – mas como não devemos jamais esquecer, não há nada impossível para Deus (Lc 1:37). Por confiar em Deus inteiramente vamos encontrar algumas disposições fundamentais no coração de Neemias.

NEEMIAS SE HUMILHOU PERANTE O SENHOR

Ne 1.11 - Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo e à dos teus servos que se agradam de temer o teu nome; concede que seja bem sucedido hoje o teu servo e dá-lhe mercê perante este homem. Nesse tempo eu era copeiro do rei.
A primeira disposição de Neemias é buscar a presença de Deus, confessando seus pecados e reconhecendo o pecado de seu próprio povo, da mesma maneira que Daniel havia feito décadas antes (Dn 9:18). Neemias só podia confessar os seus pecados, não o de terceiros – confessamos os nossos pecados, intercedemos pelos outros pecadores. A confissão é sempre fruto do arrependimento individual.
Israel estava sofrendo por seus próprios pecados – pecados de seus pais, pecados de seus príncipes, pecados de seus sacerdotes, pecados que continuavam a ser cometidos, mesmo estando no estado de completo desolamento como era o dos habitantes de Jerusalém. A solução para o problema de Israel não estava nos israelitas – nem nos que foram levados para o exílio nem nos que ficaram em Canaã.
Enquanto Israel confiasse em si mesmo o seu destino era o pó (Jr 7:19). Enquanto Israel esperasse que sua solução viesse do homem, o seu destino era o pó (Jr 17:5). Enquanto Israel buscasse alívio em alianças com homens ou com reinos o seu destino continuaria sendo apenas o pó (Sl 121:1).
A arrogância de Israel, descrita por Jeremias, resultou, efetivamente, em sua própria maldição. O profeta havia avisado: maldito o homem que aparta o seu coração do Senhor. Foi por isso que o Senhor colocou como condição essencial para a restauração a humilhação, não a humilhação pela força de terceiros, mas a humilhação pessoal, de coração – o exílio veio para um povo que honrava o Senhor com os lábios mas tinha o coração longe do Senhor. A restauração só viria para um povo que honrasse o Senhor com o coração, que o buscasse de todo o seu coração (Jr 29.12-14).
Israel estava efetivamente destruída – a nação, a capital, o povo, a economia, a moral (Jr 25:29). Tudo tinha virado escombros e um montão de ruínas. Mas a promessa de Deus é: se este povo me invocar… se este povo orar a mim eu os ouvirei. Se este povo me buscar de todo o coração eles me acharão. Se este povo vier a mim mudarei a sua sorte. Se este povo destroçado me buscar verdadeiramente eu os trarei de volta do exílio, eu sararei a sua terra, eu perdoarei os seus pecados, eu restaurarei sua nação (II Cr 7:14).

NEEMIAS SE ENTREGOU AO SENHOR DA OBRA

2.1 - No mês de nisã (aproximadamente 4 meses depois), no ano vigésimo do rei Artaxerxes, uma vez posto o vinho diante dele, eu o tomei para oferecer e lho dei; ora, eu nunca antes estivera triste diante dele. 2 O rei me disse: Por que está triste o teu rosto, se não estás doente? Tem de ser tristeza do coração. Então, temi sobremaneira 3 e lhe respondi: viva o rei para sempre! Como não me estaria triste o rosto se a cidade, onde estão os sepulcros de meus pais, está assolada e tem as portas consumidas pelo fogo? 4 Disse-me o rei: Que me pedes agora? Então, orei ao Deus dos céus
A segunda disposição é permanecer na presença do Senhor esclarecendo qual o desejo do seu coração, qual o seu propósito. Ele sentia a dor e a desgraça de seu povo. Ele havia decidido fazer algo para melhorar a situação do seu povo. Ele queria acabar com aquele estado de miséria em que Israel se encontrava. Ele queria reconstruir Jerusalém. Para isso ele precisava do favor de Deus. Precisava da ação de Deus no coração do rei Artaxerxes e por isso pede ao Senhor que lhe dê “mercê perante o Rei”.
Antes, porém, de Deus agir no coração de Artaxerxes um outro coração precisava estar disposto para a tarefa – um coração precisava estar pronto, precisava estar totalmente voltado para a obra a ser realizada - e este coração era o de Neemias. Um coração humilde e consagrado ao Senhor, um coração que confiava no Senhor, que se confiava inteiramente ao Senhor.
Como servo que era, e humilhado por sua própria incapacidade, não há quaisquer reivindicações das promessas de Deus – ainda que Neemias confiasse nas promessas de Deus e em suas orações lembrasse delas. Há uma diferença entre confiar e esperar nas promessas de Deus e exigir de Deus o cumprimento de suas promessas. Ele não “cobra” de Deus que restaurasse o povo, a nação e a cidade santa ‘porque ele havia prometido’ ou porque houvesse alguém orando por este fim. Pelo contrário, Neemias se dispõe a servir a Deus se ele quisesse restaurar Jerusalém. Ele queria ser o instrumento, não a mão que reergueria Israel – o braço que faria isso seria o braço do todo poderoso de Jacó.
Porque muitos cristãos “consagrados” estão simplesmente se esquivando de servirem na obra do Senhor – por mais esquizofrênica que seja a resposta, acredito que seja porque jamais fizeram o que homens como Neemias, Pedro fizeram (Lc 18:28), Paulo (Fp 3:8) e tantos outros fizeram. Respondendo de forma ainda mais clara: é porque não conseguem, efetivamente, reconhecer o Senhor como seu senhor em todos os seus caminhos
Neemias só conseguiu a autorização para realizar a tarefa porque ele queria ser instrumento de Deus. Sua oração não foi como a fala de Moisés (Êx 4:13), ele não orou por outros trabalhadores – ele pediu ao Senhor que lhe desse (a ele, Neemias) graça diante do rei porque ele queria ir a Jerusalém para reedificar a cidade. 

NEEMIAS SE ENTREGOU À OBRA DO SENHOR

5 e disse ao rei: se é do agrado do rei, e se o teu servo acha mercê em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique. 6 Então, o rei, estando a rainha assentada junto dele, me disse: Quanto durará a tua ausência? Quando voltarás? Aprouve ao rei enviar-me, e marquei certo prazo.
Após um período de oração – um longo período, quase quatro meses, Neemias estava pronto para atender ao chamado de seu coração. Ele não ouviu vozes, não sentiu tremores, e, ainda que Deus muitas vezes tenha se manifestado de maneiras extraordinárias, ele também fala ao coração de seus servos (Sl 27:8).
Tinha um desejo, elaborara um plano e havia tomado uma resolução. Ele queria reedificar Jerusalém (v. 5). A execução não dependia dele. O texto nos mostra um Neemias resoluto e ao mesmo tempo tenso, preocupado, com o coração ansioso mas tudo entregando nas mãos de Deus (Fp 4:6). Como ele convenceria o rei a permitir a reedificação de Jerusalém, uma cidade com um grande histórico de revoltas e guerras? Neemias percebeu que este não era o seu problema.
Para Neemias bastava que ele estivesse disposto a ser o instrumento de Deus para aquela obra, para ser usado como Deus quisesse, como fez Isaías (Is 6:8). E se fosse da vontade de Deus o rei lhe seria favorável [Ne 2.1-3]. Confiante e preocupado, Neemias aguardou a ocasião propícia, sabedor de que há tempo para tudo debaixo do céu, e de que não se deve desperdiçar oportunidades. Entre março e abril de 445 a.C. Neemias é inquirido pelo rei do porque da sua expressão tensa, expôs-lhe o que lhe preocupava o coração.
Não era o rei quem decidia. Lembremos de outro episódio em que um rei achava que tinha pleno domínio da situação e foi envergonhado e aniquilado diante do mundo inteiro – e Deus diz que isto aconteceu por que ele endureceu o coração de faraó (Êx 9:12). Faraó achava que fazia o que queria, mas não sabia que estava cumprindo um propósito do Senhor (Rm 9:17).        
Assim, após todo este período de oração e preparação Neemias finalmente conseguiu a liberação do rei para viajar, recomendações para que tivesse segurança e recursos materiais para a reedificação da cidade [Ne 2.4-5]. Na verdade, Neemias faz duas viagens, uma em 445 a.C. e outra em 432 a.C. Devemos, porém, observar algo: quando se apresenta perante o rei, ao ser inquirido sobre o motivo da sua tristeza, Neemias em primeiro lugar ora ao Senhor, mais uma vez.
É a oração confiante de quem sabia que Deus já tinha ouvido as suas orações, já tinha atentado para seu clamor e jejum – ele sabia que assim como Deus tinha inclinado o seu coração, ele também podia inclinar o coração do rei (Pv 21:1).

QUAL A DISPOSIÇÃO DO SEU CORAÇÃO

Sabemos que para tomarmos parte na obra do Senhor numerosos empecilhos poderão surgir. O Senhor Jesus afirmou que aqueles que se apresentarem ao chamado de Deus em resposta à oração dos poucos trabalhadores (Lc 10:2) deveriam saber que seriam enviados como ovelhas para o meio de lobos (Lc 10:3).
Somente com uma atitude de completa dedicação de coração ao Senhor alguém pode abrir mão dos prazeres transitórios deste mundo para aguardar superior promessa, como Moisés fez (Hb 11:25). Jesus é absolutamente enfático – você não pode servir a dois senhores – ou você serve a Deus ou você serve aos interesses do mundo (Lc 16:13) e suas concupiscências (Rm 13:14). Não há meio termo, ou você serve a Jesus ou você é apenas um empecilho à sua obra (Lc 11:23). Como ouvi certa vez, quem não está sob a pedra de esquina é apenas pedra de tropeço (Rm 9:33). Se desejamos um exemplo de completa disposição para o serviço do Senhor podemos olhar para Esdras (Ed 7:10).
Somente com uma entrega total ao Senhor e à sua obra alguém pode trocar o que lhe parece estar à mão na esperança de receber algo que sequer consegue ver. Somente em uma entrega total na obra do Senhor alguém pode, de fato, demonstrar que já entregou-se ao Senhor da obra. Um incrédulo espera ver, para então, acreditar. Ora, se você acredita no que você vê você não é um crente, é um crédulo, como Tomé (Jo 20:27). O crente crê, aguarda, espera, e verá. Não precisa ver para crer, mas crê porque sabe que verá (Hb 11:1).
Ainda há muito a ser realizado na obra do Senhor – e isto não será realizado por governantes, como não foi por Artaxerxes. Isto não será realizado por incrédulos, mesmo se estes forem dotados de grandes recursos, como não foi pelos gentios que cercavam Jerusalém. A obra do Senhor não será feita por aqueles que tem informações precisas mas precisam de disposição no coração, como não foi por Hanani e os demais viajantes. Provavelmente havia outros judeus trabalhando em Susã – que nada fizeram para a consecução da obra, como hoje ainda há muitos assentados tranquilamente em bancos de Igreja, em ambientes confortáveis como era a cidadela de Susã.
Ainda há muito a ser realizado na obra do Senhor – e isto só será realizado por crentes que estejam dispostos a se entregar, humildemente, nas mãos do Senhor e rogar, através de oração paciente, que o Senhor lhes conceda os desejos de seu coração, coração previamente inclinado pelo Senhor para a sua obra (Pv 21:1). Deixe-me concluir, qual a disposição do seu coração? Você está disposto a enfrentar alguma dificuldade para fazer a obra do Senhor?

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