quarta-feira, 13 de abril de 2016

NEEMIAS - PRINCÍPIOS PARA SE FAZER A OBRA DO SENHOR - CONHEÇA O PROBLEMA

Vamos relembrar o que já tivemos a oportunidade de conhecer sobre os princípios de Neemias, servo do Senhor, copeiro do rei, restaurador das muralhas de Jerusalém e da dignidade de Israel como povo.
Em primeiro lugar, lembre-se, definimos princípios: inclinações fundamentais que moldam o comportamento, influenciam o modo de interpretar o mundo, como agir e reagir às mais diversas situações. Fomos apresentados a Neemias, servo de Deus em terra estranha e em um contexto amplamente desfavorável à sua fé, e que demonstra três características pessoais que precisam ser sempre lembradas: ele possuía verdadeiro interesse pelo povo de Deus e sua situação (moral, social e espiritual); ele sabia que, para obter sucesso dependia inteiramente de Deus e possuía disposição para agir em quaisquer circunstâncias para a glória de Deus, inclusive abrir mão de um estilo de vida relativamente estável e seguro para dirigir-se a uma região inóspita e insegura.
Temos em nossas bíblias o livro que narra apenas parte da história deste homem. E é assim porque não precisamos da história de Neemias, e sim do que Deus fez através de Neemias. Quando analisamos o registro sagrado com esta impressionante e belíssima história de comprometimento com a obra, aprendemos alguns princípios que transcendem as épocas – princípios que podem ser seguidos pelo povo de Deus em qualquer lugar, em qualquer ambiente. Princípios que podem ser seguidos se você estiver cercado por inimigos da fé, tendo, diariamente, sua fé provada – e aprovada (Tg 1.2-4), mas princípios que também são úteis mesmo que você viva no infinitamente mais perigoso ambiente da opulência, nos castelos eclesiásticos cheios de luxos e encantos e da religiosidade incontestada, tornada morna e desprovida de vitalidade.

PRINCÍPIO Nº I: TENHA UMA VISÃO CLARA DA SITUAÇÃO

Neemias tinha suas ocupações na corte persa, como ele mesmo afirma, era “copeiro do rei” Artaxerxes, uma função de confiança e ao mesmo tempo muito perigosa, pois cabia-lhe, entre outras coisas, provar a comida e a bebida que era servida ao rei – evitando assim que o mesmo sofresse envenenamento [2.1]. Num ambiente de constantes intrigas palacianas, não era um risco desprezível. Mas o fato é que Neemias tinha acesso ao rei e à rainha, e por isso tinha uma vida que era invejada por muitos. Todavia Neemias não se desligou do seu povo e da sua história.
À semelhança de Daniel não perdeu sua identidade no meio de uma nova realidade [Ne 1.1-3]. Apesar de estar na opulenta Susã, uma das capitais imperiais [usada especialmente no inverno por causa do clima mais ameno] o coração de Neemias se enternece com o estado de miséria dos israelitas que ficaram na sua terra, em ‘grande miséria e desprezo’, as muralhas em ruínas, as portas incendiadas e a cidade destruída. Era passado o tempo do exílio, e era necessária a reconstrução de Jerusalém. Mas como aqueles judeus que ficaram na mais absoluta miséria poderiam fazer isso? Os nobres tinham sido levado cativos, o próprio Neemias era de família nobre, como Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Não havia liderança no meio dos escombros – havia apenas o que poderia haver, uma luta diária pela sobrevivência em condições hostis. No decorrer da narração da história de Neemias vamos perceber que havia injustiça social, exploração dos judeus pelos próprios judeus, com desigualdade social, escravismo, sacerdotes e profetas corruptos. Há conflito no que se refere à fé, entre os judeus que não foram pro exílio e ainda com os não judeus. Havia uma tentativa de sincretismo por parte de uns e radicalismo por parte de outros, casamentos mistos, alianças por interesses econômicos. O quadro era de caos absoluto – e era chegado o momento da intervenção de Deus através deste seu servo:

PRIMEIRA NECESSIDADE: PROVISÃO

1.1 As palavras de Neemias, filho de Hacalias. No mês de quisleu, no ano vigésimo, estando eu na cidadela de Susã, 2 veio Hanani, um de meus irmãos, com alguns de Judá; então, lhes perguntei pelos judeus que escaparam e que não foram levados para o exílio e acerca de Jerusalém. 3 Disseram-me: Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas, queimadas. 4 Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.
Do relato de Hanani, o primeiro item enumerado é o estado econômico dos “restantes”. Quando Israel foi levado para o exílio babilônico todos os nobres foram aprisionados – apenas pessoas de baixa instrução foram deixadas para o cuidado da terra. Não havia engenheiros, médicos, não havia comerciantes – apenas trabalhadores braçais. Este fato era de suma importância para Neemias, já que seu projeto era o de praticamente recriar um país. Neemias precisava pensar no que fazer. Esta verdade é biblicamente ilustrada pelas sábias palavras do maior mestre de todos os tempos, Jesus (Lc 14.28-30). É óbvio que o Senhor providencia os meios para a consecução de sua obra. Foi assim, por exemplo, com Elias, a quem sustentou através de corvos (I Rs 17:6) e depois na casa da viúva (I Rs 17:14)… foi assim com Jesus, a quem reanimou enviando alimento pelos anjos (Mt 4:11)… foi assim com Paulo, que desejava pregar em Roma e teve não apenas sua viagem mas também sua segurança (havia pessoas que fizeram juramento de matá-lo - At 23:21) custeadas pelo governo romano (vide a descrição desta viagem no livro de Atos dos apóstolos, capítulos 27 e 28), embora este não soubesse que estava trabalhando para Deus (Sl 22:28). Neemias é, então, informado de que seu primeiro problema, seu primeiro trabalho como um eventual administrador da província será suprir as necessidades econômicas de seu povo. E isto requereria trabalho, requereria técnicas de produção e pessoas habilitadas para treinar os moradores, armazenamento de grandes quantidades de comida com as dificuldades que isso acarretaria. O desafio econômico era enorme, e Neemias precisava se preparar para executar uma tarefa de tal monta. Conheça as necessidades do trabalho que precisa executar.

SEGUNDA NECESSIDADE: MOTIVAÇÃO

1.1 As palavras de Neemias, filho de Hacalias. No mês de quisleu, no ano vigésimo, estando eu na cidadela de Susã, 2 veio Hanani, um de meus irmãos, com alguns de Judá; então, lhes perguntei pelos judeus que escaparam e que não foram levados para o exílio e acerca de Jerusalém. 3 Disseram-me: Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas, queimadas. 4 Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.
A conversa com Hanani revelou uma segunda dificuldade a ser enfrentada: o abatimento emocional e a humilhação a que aquele povo fora submetido por mais de meio século resultaram num povo desprezado e que, ao mesmo tempo, se sentia desprezível. Embora não haja um paralelo direto, de imediato vem à memória a saída de Israel do Egito, quando Deus fala com Moisés e ordena que ele envie espias para Canãa (Nm 13.2) e estes retornam, quarenta dias depois, com um relatório unânime sobre as riquezas agrícolas fabulosas daquela terra, da qual trouxeram um enorme cacho de uvas (Nm 13.27). Até aí tudo bem – mas aquele era um povo que fora escravizado no Egito, um povo que há séculos não sabia o que era ser livre, cuja autoestima estava em baixa – e dez, sim, dez dos espias disseram que não deveriam entrar pois ali habitavam vários povos com cidades fortificadas e alguns descendentes de gigantes (Nm 13.31-33). Outro episódio que podemos anotar é quando os israelitas, liderados por Saul, são confrontados pelo gigante Golias, de Gate. Um homem afrontando os exércitos de Israel e ninguém ousava tomar uma atitude (I Sm 17.10-11) até que Davi, efetivamente vendo um gigante diante de si, lembrou algo que os israelitas esqueceram – com Deus, mesmo os gigantes são passíveis de sofrerem derrota (I Sm 17.34-36). Um povo com mais de 600.000 homens com medo de algumas cidades fortificadas. Um exército com medo de um duelistazinho filisteu só porque ele tinha entre 2,90 e 3,15m de altura. O trabalho de Davi foi, em primeiro lugar, colocar as coisas nas perspectivas corretas. O gigante podia ser batido, assim como o leão e o urso foram – desde que não fossem enfrentados em seus próprios  termos. O trabalho de Neemias era semelhante – trazer um novo alento para o povo de Deus, de modo que a obra a ser realizada não fosse vista como impossível, de modo que ele e o povo, trabalhando juntos, pudessem atingir o alvo almejado por todos – a restauração de Jerusalém (I Co 15:58).

TERCEIRA NECESSIDADE: SEGURANÇA

1.1 As palavras de Neemias, filho de Hacalias. No mês de quisleu, no ano vigésimo, estando eu na cidadela de Susã, 2 veio Hanani, um de meus irmãos, com alguns de Judá; então, lhes perguntei pelos judeus que escaparam e que não foram levados para o exílio e acerca de Jerusalém. 3 Disseram-me: Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas, queimadas. 4 Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.
Um terceiro aspecto do relatório apresentado por Hanani era que um povo miserável e desprezado também não tinha segurança alguma, cercados por inimigos de todos os lados faziam o que podiam para sobreviver – e alguns, literalmente, faziam pacto com os inimigos, alianças familiares, casando-se ou permitindo que seus filhos se casassem com os não hebreus. Isto significava sacrificar o futuro para manter um presente miserável – mas era o único que eles podiam almejar porque estavam colhendo o que plantaram e que lhes fora anunciado com muita antecedência pelo profeta Isaías (II Rs 20.16-19). Eles não podiam ter segurança porque Deus havia dito que eles seriam devorados à espada. Eles não podiam ter segurança porque seriam feitos escravos. Eles não teriam segurança para que aprendessem que só o Senhor é sol e escudo (Sl 84:11), única fonte de segurança em quem eles deviam confiar completamente (II Sm 22:3). O problema deles é que não tinham nem carros, nem cavalos (Sl 20:7) nem tampouco podiam clamar pelo templo do Senhor, como se fosse um amuleto, como fizeram no passado, pouco antes do exílio (Jr 7:4), esquecendo-se que havia momentos que o próprio Senhor queria ver o templo fechado para não suportar tanta hipocrisia (Ml 1.10). Eles realmente precisavam de muros e portas – mas precisavam que a reconstrução deles fosse liderada por alguém que tinha o Senhor, que dependesse integralmente do Senhor, como Neemias. Se tentassem, em vão edificariam muralhas e colocariam portas, porque somente o Senhor lhes daria segurança (Sl 127:1). Em segurança, na cidadela de Susã, Neemias confiava integralmente em Deus. Na província, sem muros e sem portões, os judeus precisavam, muito mais, confiarem em Deus. Com Deus os exércitos de faraó nada significaram – sem Deus, uma vilazinha chamada “Ai” foi capaz de infligir dura derrota aos soldados liderados por Josué.

PRINCIPAL NECESSIDADE: A BÊNÇÃO DE DEUS

É provável que talvez você, se é cristão, já tenha se perguntado: como eu posso ser útil na obra Deus o Senhor? Ou tenha ido um pouco além e questionado como pode ser mais útil na obra do Senhor? É possível até que tenha indagado a si mesmo, honestamente, como deixar de ser menos que um servo inútil na obra do Senhor? Com o conhecimento que Neemias possuía de administração, e com o que ele havia acabado de saber sobre Jerusalém, obviamente ele não tinha ilusões a respeito das dificuldades que se apresentariam na tentativa de consecução de seu projeto. Todavia, se ele sabia das dificuldades, sabia, também, onde estava a resposta para cada uma delas: no Senhor. É por isso que ele demonstra três atitudes ao saber de que sua casa, sua cidade, seu país e seu povo estavam arrasados:

REFLEXÃO

Ele se aquieta, se assenta, como a analisar e refletir, como a raciocinar sobre as causas daquilo tudo, sobre o estado em que estava o povo que pertencia exclusivamente a Deus e que Deus jamais deixaria de considerar seu mais precioso tesouro (Ml 3:17) apesar de suas constantes infidelidades (Lm 3:22). A maioria de nós faz isso, perguntando: por quê?

EMOÇÃO

Ele lamenta, e chora, porque sabia que todo aquele desprezo e dor eram merecidos, e que, mais ainda, não havia nele ou em nenhum outro nome poder para reverter aquela situação. Só lhe restava dar vazão às suas emoções, aos seus sentimentos, humilhar-se diante de Deus, como, no passado, havia feito um dos reis que acabaram se tornando responsáveis diretos pelo exilio, Ezequias (II Cr 33:12). Também fazemos isso, aceitando as consequências mas chorando pela dor que elas causam;

DEVOÇÃO

Neemias não teria dado um passo, não teria ido além das perguntas e do choro se não tivesse tomado mais uma atitude: orar a Deus, colocar sua situação, a situação de seu povo, os desejos de seu coração diante do Senhor (Sl 37:5) e esperar pacientemente a resposta (Sl 37:8).
Você provavelmente também enfrenta dificuldades, enfrenta problemas que te afligem. Imagino que nenhum deles seja tão desafiador, tão grande e que traga de maneira tão esmagadora a sensação de incapacidade pessoal como o que estava no coração de Neemias. Mas, ao mesmo tempo, Neemias sabia que o seu Deus era aquele para quem não há impossíveis em nenhuma de suas promessas (Lc 1:37), inclusive na promessa de trazer de volta do exílio um povo rebelde e de dura cerviz (Dt 9:6) quando este povo tivesse se arrependido de seus pecados (Dt 9:4).

CONCLUSÃO

O que você pretende fazer? Traçar planos e mais planos? Pode ser um passo acertado. O que você pretende fazer? Lamentar-se pelos erros cometidos no passado? Pode ser bastante útil para não repeti-los no presente. Mas o que você deve fazer é colocar seu passado e seus anseios diante do Senhor, sabendo que estes anseios te sobrecarregam e só ele pode te dar alívio (Mt 11:28), restaurando suas forças e te revigorando, dando-te a satisfação que só pode vir dele porque você não tem nada para oferecer em troca (Is 40:29). E é esta a minha proposta neste momento – que você se coloque diante do Senhor, que diga-lhe o quão imerecedor é, e, ao mesmo tempo, o quão precisa da graça dele, humilhando-se e mostrando sua absoluta dependência dele para tudo, inclusive para viver (Jo 34.14-15). Como Neemias e Daniel, reconheça quem é o Senhor, ou melhor, que ele é o Senhor em todos os teus caminhos (Pv 3:6), humilhe-se diante dele e no devido tempo ele te exaltará (Dt 28:1). Este passo é fundamental – sem ele os outros dois são absolutamente inúteis. O primeiro gera stress, o segundo depressão. Somente a entrega de seus caminhos ao Senhor resulta em bênção do Senhor. Acredito que, como Neemias, é isso o que você quer, não é?

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