domingo, 27 de novembro de 2016

É AQUI A CASA DE DEUS

Despertado Jacó do seu sono, disse: Na verdade, o SENHOR está neste lugar, e eu não o sabia. [Gn 28:16]
Este episódio da historia de Jacó ilustra perfeitamente o que tem acontecido em nossas Igrejas e que tem tido um efeito desastroso nos atos de culto do povo de Deus: a perda da sensibilidade para com as "coisas sagradas".
Antes de prosseguir, não pense que, por coisa sagradas, eu esteja me referindo ao 'microfone da Igreja' que só pode ser usado para culto, ou 'violão consagrado', ou 'edifício consagrado'...
Não é nada disso! Por coisas sagradas quero que você entenda a sensibilidade para a presença de Deus. Bom, de novo, tenho que me explicar: por 'sensibilidade' não quero dizer arrepios, frenesis ou coisas semelhantes muito comum nos meios pseudopentecostistas.
Sensibilidade para a presença de Deus é uma característica que os crentes verdadeiros possuem e que, de uma maneira especial e espiritual, os crentes reconhecem que, verdadeiramente, Deus se faz presente em situações que requerem uma alegre seriedade e santa reverência, e por isso seus corações são conduzidos a cultuar a esse Deus.
Dito isto, voltemos ao problema inicial: muitos crentes já perderam a percepção da presença de Deus. Poderíamos olhar para este problema buscando as causas, os sintomas e as consequências. Vamos, então, pensar rapidamente sobre cada um destes aspectos.
AS CAUSAS
Porque está acontecendo esta perda de sensibilidade? Será que o homem do sec. XXI é menos espiritual que os homens de séculos anteriores? Absolutamente, não há distinção alguma no coração dos homens de acordo com a época em que vivem. Há, sim, disposições de coração contrárias a Deus que se manifestam de maneiras diferentes em cada época. E a nossa época é causada pela junção da informalidade com o agnosticismo. Muitos crentes até "admitem" a presença de Deus em algum lugar, ou na Igreja, mas, como esta presença não é perceptível pelos meios ordinários, como visão, audição e tato, ela deixa de ser considerada real e passa a ser considerada ideal, possível ou imaginária. É este o conceito de espiritualidade por trás da atitude de muitos membros das nossas Igrejas.
OS SINTOMAS
Esta percepção de Deus como apenas ideal ou possível leva a um relacionamento mais distante com Deus, como o de Jacó para quem o SENHOR era o Deus de seu pai [Gn 26.24] - somente mais tarde ele o reconheceria como o seu próprio Deus [Gn 28.21]. Assim, Deus é, para muitos, o Deus da Igreja, o Deus do pastor, o Deus dos seus pais, o Deus da namorada mas não o seu Deus pessoal. E o pior é que pode haver uma Igreja inteira que esteja contaminada por esta visão e, no fim, todos baseiem sua fé religiosa na "do outro" e não haja ninguém que considere Deus como o seu Deus pessoal, o Deus com quem se relaciona de forma vivaz, o Deus que fala ao seu coração e a quem sente prazer em obedecer.
AS CONSEQUÊNCIAS
O que fazer com um Deus impessoal, um Deus cuja presença não é considerada? A mesma coisa que Jacó fez. Ele chegou em beith-El e simplesmente resolveu tirar um cochilo, tomando uma pedra e fazendo-a de travesseiro. Ele poderia ter feito qualquer outra coisa habitual, normal e corriqueira da vida de um homem, especialmente um homem que passara o dia inteiro fugindo o mais rápido possível para o mais longe possível da face de seu irmão. Ele fez exatamente o que muitos fazem hoje no momento que deveria ser dedicado ao reconhecimento da presença de Deus e prestação de reverente adoração: dormem, conversam, namoram, comem, passeiam... Tudo, tudo menos reverente adoração.
Este mal tem cura? Ora, sem sombra de dúvida para todo mal que o homem inventar Deus já preparou uma cura, até porque o homem não é capaz de inventar nenhum mal novo mas apenas reciclar a idéia e apresentá-la sob nova roupagem.
A única solução para este problema da religiosidade tradicional e, até, de grande conhecimento, é a conversão pessoal [Mt 18.3] e o novo nascimento [Jo 3.3]. Observe que estas duas exigências não foram feitas a gentios, mas a judeus, criados, educados e altamente familiarizados com a religião de Israel - porém, sem o conhecimento verdadeiro, pessoal, do Deus verdadeiro. Até discípulos próximos de Jesus não tiveram esta sensibilidade, como atesta o pedido de Filipe [Jo 14.8].
Como está a sua percepção do sagrado? Esta é, de fato, para você, a casa de Deus?

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

I Tm 1 6 11: A PALAVRA DE DEUS É GUIA CONFIÁVEL

DEIXAR DE CONFIAR NA PALAVRA DE DEUS LEVA À PRÁTICA DA IMPIEDADE

Antes do GPS fiz algumas viagens com o outrora famoso Guia Quatro Rodas. Não era nada fácil dirigir ao mesmo tempo que lia o mapa. E, em algumas situações, a menos que você tenha um guia que conhece muito de leitura cartográfica. E algumas vezes você pode estar sozinho tentando fazer as duas coisas. Mas... mas você sempre pode parar em algum lugar, ler o mapa, corrigir a rota até conseguir chegar ao destino final. Mas uma coisa é certa: você nunca vai chegar ao local desejado se simplesmente desprezar as instruções. Quanto mais andar, quanto mais combustível gastar, quanto mais tempo desperdiçar mais perdido você ficará.
No trânsito pode acontecer de você, por acaso, passar na frente do endereço que está procurando. No trânsito. Mas em outras áreas o resultado pode ser, no mínimo, desastroso. Imagine o que acontece se você comprar um eletrônico e não seguir o manual de instrução. Já tive o desprazer de queimar uma impressora a laser simplesmente pelo fato de não ler o manual e não saber que, ao menos na época, não existia impressora a laser que funcionasse em 220w.

O PERIGO DO DESVIO ESPIRITUAL

Ainda que haja muitos que entendam que é possível alguém ser salvo pelo Senhor [o que não é a mesma coisa que fazer-se membro de uma Igreja] e vir a desviar-se pelo caminho eu respeito sua opinião, mas considero que ela não tem base bíblica, pois os que se desviavam o faziam antes de serem alcançados pelo chamado perdoador do Senhor, geração após geração [Is 53:6], o ensino das Escrituras é que o pecador tende a desviar-se, mas o justo [Pv 16:17] como no exemplo de Jó, servo de Deus, homem justo, integro, reto e que se desviava do mal [Jó 1:1].
Nesta área da vida o resultado é catastrófico e irreversível. E, quando se trata de obedecer ou não a Deus, um único erro é suficiente [Tg 2:10]. Você pode ter acertado o roteiro em noventa e nove ocasiões, mas, se errar uma, não será mais um motorista perfeito. Imagine o motoqueiro que todo fim de semana salta sobre 10 carros... um dia, ele erra o salto e se choca com um dos carros – em seu enterro todos poderão dizer que ele foi “quase perfeito”. Você instalou sua impressora dez vezes, mas em uma determinada ocasião o plug da tomada foi inserida em uma de 220w... é, era uma vez sua impressora. Isso vale para todas as áreas da vida, mas o show pode conseguir um novo piloto, você pode comprar uma nova impressora...
Mas acontece que o padrão de Deus exige perfeição absoluta e você só tem uma oportunidade [Mt 5:48 - Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste] quando você desobedecer a Deus, você estará fora do padrão de Deus [Rm 3:23 - ...pois todos pecaram e carecem da glória de Deus], será apenas mais um pecador no meio de uma multidão de pecadores, todos caminhando rapidamente para receberem o salário do pecado – a morte [Rm 6:23 - ...porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor]. Eu quero ser ainda mais enfático: pecado é errar o alvo, é não atingir a meta, é desobedecer ao projeto que o próprio Deus estabeleceu.
Meu objetivo é mostrar o que acontece quando alguém, deliberada ou inadvertidamente, deixa de fazer o que o Senhor estabeleceu como correto e imperativo [I Jo 3:4] e para isso leremos uma porção da Palavra de Deus porque, após termos aprendido que ela é confiável, só nos resta confiar no que ela nos tem a nos ensinar:
6 Desviando-se algumas pessoas destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, 7 pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações.
8 Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo, 9 tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, 10 impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina, 11 segundo o evangelho da glória do Deus bendito, do qual fui encarregado.
I Tm 1.6-11

QUEM PODE SE DESVIAR DA VERDADE

6 Desviando-se algumas pessoas destas coisas...

Não sabemos de quem Paulo está falando. Não sabemos quem são estas “algumas pessoas” que se desviaram da verdade. Alguns anos antes Paulo havia reunido os presbíteros de Éfeso, no porto de Mileto, e lhes orientado sobre a responsabilidade do pastoreio do povo de Deus [At 20:28]. Paulo não identifica, para nós, quem são as “certas pessoas que precisavam de admoestação para que não ensinassem outra doutrina”... mas é certo que Timóteo sabia exatamente quem eles eram, o que ensinavam, a quem estavam influenciando, que tipo de discussões estavam causando e de que maneira estavam atrapalhando o serviço dos crentes a Deus. É possível ter esta certeza pelo fato que Paulo não pede a Timóteo que vá para Éfeso, mas que “permaneça em Éfeso”.
Pela preocupação e cuidado imediato de Paulo, não se limitando a tratar do problema por correspondência, mas colocando uma espécie de interventor apostólico na comunidade indica que os problemáticos eram pessoas influentes, e não podemos excluir a possibilidade de que um ou alguns deles estivessem naquele longo sermão no porto de Mileto que não foi interrompido nem pela morte nem pela ressurreição de um jovem [At 20:9-11].
Lembremos da admoestação do apóstolo Paulo sobre o risco da autoconfiança [I Co 10:12].
Paulo não é um caso isolado: outro apóstolo, e não foi Judas Iscariotes, também passou pelo mesmo problema. Cheio de autoconfiança após fazer uma belíssima declaração de fé [Mt 16:16] aprovada pelo Senhor que elogiava em público [Mt 16:17-18] e também repreendia em público logo foi avisado de nada menos que sua humanidade [Mt 26:34] e, na hora de ser provado, não conseguiu manter-se de pé [Mt 26:75].
Tudo isto significa que qualquer um, qualquer um mesmo, até mesmo o homem segundo o coração de Deus, como Davi, pode pecar e cair assombrosamente. Isto deve nos servir de advertência para não confiarmos em nós mesmos e depositarmos toda a nossa confiança no Senhor. Mas algumas pessoas se desviaram desta confiança, e até que com boa intenção para reforçar a fé, começaram a acrescentar coisas que eram facilmente encontráveis no mundo greco-romano judaico: as fábulas gregas, as genealogias judaicas e a oratória romana. Resultado: um desvio da fé, uma nova crença que atrapalhava o serviço dos crentes, que lhes tirava a disposição e o temor do Senhor. Temos aqui uma vigorosa advertência para nada acrescentarmos à fé nem dela nos desviarmos.
Guarde em sua memória: esta primeira parte significa que qualquer um pode cair, mesmo você. Aqui aprendemos sobre humanidade – você e eu somos iguais, por mais que você possa pensar diferente.

QUEM SE DESVIA DA VERDADE SE PERDE

...perderam-se em loquacidade frívola, 7 pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações. 
A seguir Paulo nos dá outra informação preciosa: quem se desvia do caminho, consciente ou não, precisa colocar alguma outra coisa no lugar. Perdeu a confiabilidade da Palavra, perdeu a segurança da Palavra, não pode mais, como Paulo fazia, abrir mão de todos os rudimentos do mundo para proclamar confiado apenas no poder de Deus [I Co 2:4].
Em primeiro lugar Paulo denuncia que os mestres do engano que ameaçavam a Igreja de Éfeso, que queriam ser guias não passavam de cegos, tão cegos como foram os fariseus em Jerusalém [Mt 23:16]. Paulo afirma que eles estavam perdidos, e é exatamente isto o que acontece com alguém que se desvia da verdade de Deus. De acordo com o significado da palavra que Paulo usa estar perdido significa desviar-se afastando de algo com o que se deveria estar próximo, intimamente associado. Sem a Palavra de Deus, o que resta a alguém que pretende passar-se por mestre?
Em segundo lugar, o discurso de um mestre sem a Palavra de Deus não passa de loquacidade frívola, discurso vazio, conversa fiada sem nenhum proveito. A idéia apresentada é a de alguém soprando ao vento e sentindo prazer em fazer isso, profundamente convencido de que seu sopro é capaz de fazer alguma diferença na tempestade, acreditando que realmente ensinam a lei de Deus, como o mosquito que, zumbindo no ouvido e picando pessoas que empurram um carro no atoleiro chega a acreditar que estava incentivando e ajudando desatolar o automóvel. Ainda que parecesse que os mestres do engano ensinavam a verdade por usarem pretextualmente as Escrituras, eles tinham apenas aparência, que não resistiria a um escrutínio mais detalhado, como fizeram os crentes de Beréia [At 17:11].
Em terceiro lugar, por terem apenas aparência, por pretenderem passar-se por mestres sem, de fato, terem conhecimento a respeito do que ousavam tentar ensinar, não passavam de ignorantes. Talvez educados e bons oradores, o que era provável, mas ignorantes, isto é, podiam até conhecer muita coisa do Antigo Testamento, serem bons de oratória e, ainda assim, não possuírem a mente de Cristo [I Co 2:16]. Queriam ser conhecidos como mestres da Lei com o Antigo Testamento em punho mas não conseguiam entender sequer o propósito da lei que viam como uma lista de regrinhas para cumprir e sentir-se bem sem perceber que ela foi dada para mostrar o pecado e conduzir os homens a Deus [Gl 3:23-24].
À frivolidade e ignorância juntava-se mais um perigoso ingrediente: arrogância. Proferiam discursos vazios, pretendiam parecer grande coisa mas eram ignorantes e, em sua ignorância convencida, tornaram-se arrogantes. Isso aconteceu em Corinto de perguntarem “quem é Paulo” [I Co 3:5] mostrando-se, em sua arrogância prepotente, piores até mesmo do que demônios [At 19:15]. É como se dissessem: quem são os apóstolos? Quem é a bíblia? O que é as Escrituras?
A pior coisa para quem está perdido não é nem mesmo se perder – qualquer um pode se perder, mas, muito pior, é não considerar as advertências de que está perdido e não aceitar as instruções corretas para retornar ao caminho e ainda insistir em levar outros consigo.
Guarde mais um pouco em seu coração: esta segunda parte nos ensina sobre humildade. Sem humildade para reconhecer que pegou o caminho errado você jamais voltará ao Caminho de Deus.

QUEM SE PERDE DA VERDADE FICA VULNERÁVEL À INIQUIDADE

8 Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo, 9 tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, 10 impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina, 11 segundo o evangelho da glória do Deus bendito, do qual fui encarregado. 
Vamos relembrar as duas primeiras consequências de não considerar a Palavra de Deus fiel e digna de ser observada em todos os momentos [Tt 3:8]: em primeiro lugar, o desvio da fé na Palavra de Deus pode acontecer com qualquer um que esteja na Igreja, mas que não seja Igreja do Senhor e, em segundo lugar, quem se desvia inevitavelmente se tornará um perdido, ou melhor, permanecerá como um perdido que passou um tempo na Igreja [Jo 3:36].
Paulo afirma a Timóteo que ambos podiam ter pleno discernimento da verdade de que a lei é boa [o problema sempre foi o mau uso da lei, como faziam os fariseus [Mt 23:15] se esquecendo do princípio da lei. Em Éfeso os mestres de mentira estavam tentando se mostrarem os mais sábios, os mais eloquentes e mais profundos conhecedores das Escrituras e para isso se utilizavam das Escrituras de maneira inadequada e perniciosa. Já estavam conseguindo que alguns esmorecessem no seu serviço ao Senhor.
O que eles queriam, assim como os fariseus, ou como os judaizantes que invadiram a Galácia, ou como muitos legalistas atuais, era levar o povo a considerar a lei como um instrumento de justiça, promotor de autoconfiança, porque, sob esta ótica, se você faz, você tem crédito com Deus, e, se não faz, então basta fazer algo para compensar e, mais uma vez, você tem crédito com Deus [Ef 2:8-9 - Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie]. Acontece que quando alguém se estriba no cumprimento da lei passa a considerar os sacrifícios a coisa mais importante da sua vida religiosa [Is 1:11] – e se esquece do principal, que é a misericórdia [Os 6:6] e a obediência que é fruto de um coração agradecido por ter os seus pecados perdoados graciosamente pelo Senhor [Mt 9:13].
Os que confiam nos sacrifícios passam a pensa mais no sacrifício a ser feito para compensar do que na obediência a Deus por amor [Jo 14:15]. A ímpia sensação de que pode compensar leva o pecador a praticar as mais grosseiras impiedades e isto, no fim, não passa de oposição à sã doutrina.
A lei promulgada tem por objetivo submeter o faltoso a um jugo. Não faz sentido estabelecer uma lei para que ninguém crie unicórnios em seu quintal simplesmente porque isso é impossível. A lei foi promulgada para quem tem inclinação e atende a esta inclinação para o mal de sua própria carne [Rm 7:23]. Mas a conclusão de Paulo é simples e aterradora: todas estas diferentes formas de impiedade não são nada além do que oposição [ser totalmente adverso, inimigo declarado] à sã doutrina. O que os mestres do engano estavam fazendo era levando o povo a se oporem à sã doutrina – e, após abandonarem a sã doutrina, estaria aberta a porteira para toda forma de impiedade [Ef 4:19].
Não sejamos néscios, não tentemos zombar de Deus – toda impiedade é oposição a Deus. Todo pecado é desobediência a Deus. Toda desobediência é desconsideração para com a vontade revelada de Deus, para com sua Palavra que é boa, perfeita e agradável e conduz à vida.
Guarde ainda mais um pouco: esta terceira parte nos ensina sobre conversão, sobre mudar o rumo errado de sua vida para andar submisso a Deus e não cativo do diabo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, resta-nos perguntar: há alguma solução para este problema? O que fazer quando a Igreja e, talvez, o coração dos membros da Igreja já estiverem infectados por este terrível vírus da desconsideração para com a Palavra de Deus; o que fazer quando o mal já está estabelecido, em maior ou menor grau, espalhado por todo o organismo? A resposta é: encontrar um meio de expulsá-lo. E o único antidoto para a incredulidade é a fé. O único antidoto para a desobediência é a obediência. O único antídoto para a relativização da autoridade das Escrituras é o seu reconhecimento como plenamente autoritativa, como oráculo de Deus, isto é, a Palavra que Deus fala e seu povo obedece.
Vamos, primeiro, ao diagnóstico. Você considera a Palavra de Deus como a revelação da vontade de Deus para sua vida, isto é, do que Deus quer que você faça em cada momento de sua vida? Então, responda sinceramente às seguintes perguntas:
i.     Você deixa de congregar, como sabidamente alguns fazem [Hb10:25].
ii.   Você contribui para a manutenção da casa de Deus ou retém o dízimo e as ofertas [Ml 3:10]?
iii.  Você ama o seu próximo a ponto de dar-lhe o suporte quando ele está fraco, especialmente quando ele está fraco na fé, perdoando-lhe as faltas [Cl 3:13]?
iv.  Você perdoa os que te ofendem porque sabe que ofensas muito maiores praticadas por você foram perdoadas graciosamente por Deus [Lc 7:47]?
v.   Você honra seus pais [Ef 6:2] e autoridades [I Pe 2:13] porque sabe que é isto o que o Senhor deseja de você?
Esta é a maneira de diagnosticar a enfermidade e estabelecer-lhe a gravidade, mas ainda não é o tratamento. O tratamento é deixar de ser tolo [Sl 111:10], é, de maneira sábia e prudente, abandonar a prática de maldade e de dolo, deixar a religiosidade hipócrita [I Pe 2:1] e passar a confiar no Senhor Deus de maneira completa, sem qualquer espécie de reservas [Pv 3:5].
Este é o único tratamento possível – confiar na Palavra do Senhor que ordena que nele confiemos, que às suas mãos graciosas lhe entreguemos o nosso destino [Sl 37:5] por sabermos que somente ele é o redentor, e que além dele não há, nunca houve nem jamais haverá outro [I Tm 2:5].
Você pode até não fazer isso, não posso obrigá-lo, mas posso lhe falar do amor de Deus [I Jo 3:1] e te exortar a não duvidar da Palavra do Senhor Jesus que lhe oferece gratuitamente a salvação e a vida eterna [Jo 6:47]. Você entendeu bem, segundo o Senhor Jesus para receber a vida eterna, para passar da morte para a vida basta crer nele, crer em sua Palavra [Jo 5:24].
Sim, é simples assim: sem promessas mirabolantes, sem malabarismos teológicos, sem sonhos erráticos – creia, confie no Senhor a sua vida, e ele lhe dará a vida eterna. Exorto você a que o faça agora [Is 55:6] – porque pode ser que não haja outro tempo oportuno [II Co 6:2]. Quero concluir com uma porção desta Palavra maravilhosa exortando você a fazer a coisa certa nesta ocasião:

24 Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a mão, e não houve quem atendesse; 25 antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; 26 também eu me rirei na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei, 27 em vindo o vosso terror como a tempestade, em vindo a vossa perdição como o redemoinho, quando vos chegar o aperto e a angústia. 28 Então, me invocarão, mas eu não responderei; procurar-me-ão, porém não me hão de achar.
29 Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o temor do SENHOR; 30 não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão.

Pv 1.24-30

NA CASA DE DEUS - ORDEIRA E DECENTEMENTE

Texto do boletim dominical, 20.nov.2016

A bíblia nos faz uma advertência preciosa sobre como nos comportarmos na casa de Deus: ela nos diz para guardarmos o nosso pé. O que isto significa? Que nosso caminhar na casa de Deus deve ser cuidadoso.
Antes, porém, uma pequena digressão, uma lembrança do passado que certamente é compartilhada por muitos de nós. Houve uma época que ir à Igreja era um evento muito importante para toda a família.
A ida à Igreja começava com uma preocupação ainda em casa: era hora de escolher a melhor roupa, aquela que acabou entrando na fraseologia popular como "de ver Deus". Isso significava roupas compostas, sóbrias, que sequer insinuassem os atributos corporais.
Ao chegar à Igreja admitia-se, sem necessidade de explicações, estar na presença de Deus, e isto implicava em atitudes de santa reverência, em porte ordeiro e decente. Após o início do culto algumas atitudes eram consideradas grave transgressão à ordem do culto, indignas de serem feitas diante do Senhor enquanto a Igreja estivesse em adoração.
Que atitudes eram essas que eram consideradas inadmissíveis na Igreja? Tentarei elencar algumas das que ainda me lembro, e, que, como afirmado anteriormente, provavelmente ainda estão na memória de alguns de nós.
O culto, mesmo em Igrejas não evangélicas, era visto como um evento vertical, isto é, um encontro do pecador com seu Deus - o Deus que se assenta no alto e sublime trono mas que também se relaciona com o abatido e contrito de Espírito. Diante do rei dos reis, e buscando o favor deste rei, o pecador não deveria ter qualquer preocupação com questões cotidianas e conversações horizontais - para as quais tinha todo o restante do dia e toda a semana. Nem mesmo cumprimentos eram aceitáveis - até que no início dos anos 80 o antropocentrismo passou a incentivar as relações horizontais durante o culto, já que elas estavam caindo em desuso antes e depois do culto.
Existem atividades que são essenciais, que não devemos deixar de fazer, mas estas tem local e momento adequado. E posso citar ao menos duas destas atividades. Era inadmissível, por exemplo, o trânsito na Igreja. Entrava-se, procurava-se o seu assento antes do início do culto e só se levantava após o pastor postar-se à porta da Igreja para cumprimentar os presentes - sequer havia o hábito de cumprimentar os visitantes à partir do púlpito ou tribuna.
Éramos ensinados, mesmo quando crianças e, especialmente desde crianças, a suportar até quando fosse possível até mesmo necessidades fisiológicas - exatamente as que vem a nossa mente neste momento.
Com exceção da ceia, evitava-se introduzir qualquer tipo de alimento no salão de cultos que muitos chamavam de "templo", transmitindo ao lugar de culto onde se portava com reverência [e onde geralmente só se entrava para cultuar] a santidade que deveria caracterizar os adoradores. Não se admitia que, no salão de cultos, fossem realizadas refeições, mesmo o consumo de alimentos quase invisíveis como chicles, balas ou bombons.
Antes de concluir quero fazer uma observação histórica. Conheci uma Igreja que funcionava em um ginásio de esportes - após o culto os membros tomavam as cadeiras, levavam-nas para um depósito e, em sequencia, o local era usado para jogos de futebol e vôlei. O local não era visto como "sagrado" - mas havia uma distinção clara entre o tempo de culto e o tempo dedicado a outras atividades.
Conversar, colocar os assuntos comerciais e familiares em dia, lanchar, namorar - tudo isto são atividades que podem ficar para depois. Você não precisa praticar nenhuma delas durante o culto - ou o que você está fazendo na Igreja pode ser chamado de qualquer coisa, menos de culto.
Precisamos entender que o salão de culto não é o templo, mas, ao mesmo tempo, mesmo que anos tenham se passado ainda temos que agir reverentemente diante do Senhor, portanto, algumas atitudes precisam ser reconsideradas, e gostaria de orientar você, adorador, a adorar ao Senhor em Espírito e em verdade:
i. Deus não usa whatsapp [se usar o celular apenas para ler a bíblia ou hinário ainda é aceitável];
ii. Igreja é lugar para alimentar-se espiritualmente - para isso temos uma cozinha;
iii. Sim, na Igreja você pode e deve manter comunhão com os irmãos - chegue mais cedo ou saia mais tarde, mas reserve o pouco tempo que dura o culto para seu relacionamento com Deus. Que o seu culto seja agradável ao Senhor.



I Tm 1 12 13 - A GLÓRIA DE DEUS EM CRISTO É O CENTRO DA MENSAGEM DO EVANGELHO

DEIXAR DE CONFIAR NA PALAVRA DE DEUS LEVA A BUSCA DE GLÓRIA PRÓPRIA

Há muitos anos, quando ainda era seminarista, fui convidado para passar algumas semanas em uma Igreja no interior da Bahia como parte de um projeto chamado “Seminaristas no Campo”. 
Na época, um caso de assassinato havia tomado conta do noticiário: a morte de Daniela Perez, emboscada e assassinada com 18 golpes de punhal por Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, à época grávida de 4 meses. Noticiava-se que Guilherme e Daniela, que faziam um par romântico [Yasmin e Bira] na novela Corpo e Alma, da Rede Globo. O corpo da atriz foi encontrado no dia seguinte ao assassinato, 29 de dezembro, no mesmo dia que Fernando Collor de Melo anunciava sua renúncia da presidência da república.
Na mesma época, na cidade onde eu estava passando aqueles dias, aconteceu um outro caso rumoroso: um jovem casal se desentendeu gravemente, houve agressões mútuas e a mulher resolveu voltar para a casa dos pais. O jovem, no fim do dia, resolveu ir atrás da mulher, conversou com o pai dela na porta da casa mas não houve nenhum tipo de acordo. À noite entrou pelos fundos da casa, munido de um machado assassinou o pai e a mulher. Como os fatos ocorreram algum tempo antes de minha chegada, eu não tinha conhecimento do acontecido.
O estudo bíblico daquela semana, na Escola da Bíblia, tratava da magnitude do perdão de Deus, baseado na carta de Paulo aos romanos, especialmente 5.20-21. E quando mencionei, como exemplo, e uma pergunta, se os crentes ali presentes acreditavam na possibilidade de perdão a Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, especialmente com as alegações de Guilherme de que ele havia se convertido, que estava arrependido [mas tentou mentir, omitir, dissimular, contou diversas versões para o crime] e que era um novo homem. Deus o perdoou? Deus o perdoaria?
Logo uma pessoa, membro da Igreja há muitos anos, contou a segunda história e disse acreditar que era impossível que Deus perdoasse uma pessoa tão ruim, tão fria e má como aquele homem que matou o sogro e a sua mulher. Segundo ele, era impossível que Deus perdoasse alguém assim.
Aquela discussão trouxe à baila uma pergunta interessante: até que ponto Deus perdoa pecadores, e qual o objetivo disso? De imediato, é preciso entender que o que nós achamos sobre Deus não é relevante – o que é relevante é o que Deus revela de si mesmo [Sl 103:8] e de nós [Dn 9:18].
Vejamos o que Deus nos diz em sua palavra através do apóstolo Paulo em sua carta ao seu filho espiritual e discípulo ministerial Timóteo:
12 Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, 13 a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade.
I Tm 1.12-13

O HOMEM NÃO É O CENTRO DA MENSAGEM FIEL

Uma leitura apressada pode levar alguém a pensar que o personagem central da passagem que temos diante de nós é o apóstolo Paulo: forte, fiel, ministro, modelo para os crentes. E, de fato, Paulo é um personagem muito importante a ponto de afirmar que os que o conheceram poderiam tê-lo como modelo, imitando-o naquilo que ele espelhava Cristo [I Co 11:1] porque já não era ele quem vivia, mas Cristo vivia nele [Gl 2:20]. Paulo diz que os crentes de corinto deviam imitá-lo porque viram ele viver como genuíno ministro cristão – e os coríntios faziam parte de uma Igreja que desafiava a sua autoridade apostólica, como também desafiavam a de Pedro e discordavam dos ensinos de Apolo.
Mas como Paulo chegou a ser este modelo? Ele mesmo diz: pela ação de Deus. Pela exclusiva ação de Deus. Conhecemos sua historia – que ele relembra aqui em linhas muito gerais. Ele era blasfemo, isto é, alguém que fala mal, de maneira injuriosa, caluniadora, que procura provocar no ouvinte a crença na má fama daquele ou daquilo de quem se fala. E Paulo falava mal da Igreja de Cristo. Paulo falava mal dos cristãos. Paulo falava mal de Cristo. Mas ele não apenas falava, ele ia adiante, era também perseguidor e também insolente, uma pessoa cheia de orgulho pelas suas conquistas, que por causa de Cristo ele viria a considerar inúteis [Fp 3.4-7].
O insolente usa de linguagem insultante sobre os outros cometendo contra eles atos vergonhosos e errados e é por isso que Cristo vai a ele com uma dura acusação: Paulo perseguia a Cristo [At 26:14]. Isso mostra o tamanho da insolência de Paulo – o pecador perseguindo o próprio Deus.
Paulo poderia ser descrito como um fanfarrão – mesmo que o que ele dissesse a seu respeito não fosse, necessariamente, falso. Mas ele achava-se, em seu interior, muito superior a todos os cristãos e a muitos judeus, e isso acabava por se manifestar externamente na perseguição aos cristãos, com maneiras arrogantes e deleitando-se em praticar atos cruéis contra eles. Embora não se refira diretamente a si mesmo, antes do pecado Paulo também compartilhava daquilo que ele denuncia em sua carta aos romanos [Rm 1.29-31]: uma humanidade prepotente em palavras, orgulhosa e dominadora em pensamentos e insolente e injuriosa em atos.
O âmago deste texto não é a insolência e perfídia de Paulo antes da conversão – é justamente a ação de Deus para que ele fosse convertido. Acertadamente Paulo chama a atenção para Deus – é de Deus que ele está falando. É a Deus que ele é grato porque Deus o fortaleceu. Gratidão é mais do que um sentimento. Paulo usa uma expressão que implica em ter sua mente totalmente controlada ou possuída por apegada àquele que lhe dá alegria, prazer, satisfação – a bondade misericordiosa de Deus, exercendo uma influência toa poderosa sobre sua alma que o fez voltar-se para Cristo, em quem é guardado, fortalecido e nutrido de maneira que possa expressar isso em sua vida – em resumo, Paulo diz que esta gratidão é uma condição espiritual de alguém governado pelo poder de Deus.

AS AÇÕES DO HOMEM, BOAS OU MÁS, NÃO SÃO O CENTRO DA PALAVRA FIEL

Quando Paulo se apresentou à Igreja houve temor, afinal, ele era aquele que arrastava os cristãos para as prisões. Era o perseguidor, o flagelo que assolava os “do caminho” nos primeiros dias com autorização das autoridades. Muitos temeram que fosse uma armadilha.
Os judeus conheciam bem Paulo, e, quando ele fala de si mesmo ele não está mentindo. Sua religiosidade era exemplar, senão não conseguiria autorização do sinédrio para representá-los fora de Jerusalém [Fp 3.4-7]. Conheciam tão bem a seriedade de Paulo que, quando ele se converteu, queriam silenciá-lo rapidamente [At 23:12-13].
Damos tanta importância à procedência religiosa, ao pedigree que nos esquecemos que isto não passa de obras das mãos de homens, e não há motivo algum de nos gloriarmos nelas [Ef 2:9], pelo contrário, na maioria das vezes isto é motivo de orgulhoso pecado.
Por outro lado também damos grande importância aos pecados do passado como se isso fosse impedimento para servir a Deus no presente, esquecendo-nos das palavras do Senhor que nos fez novas criaturas [II Co 5:17]. De maneira figurada, Paulo afirma que nem a religiosidade infrutífera nem a pecaminosidade antes da conversão são impedimentos para o serviço dedicado ao Senhor daqueles que nasceram de novo [Gl 6:15].
Embora se refira à sua ignorância, não religiosa, mas do real caráter de Deus, como também aconteceu com Nicodemos [Jo 3:3] ela não lhe serviu de desculpa. Por ignorância Paulo está se referindo às opiniões erradas que possuía e emitia por não entender as coisas do reino de Deus. Ele também se refere à sua incredulidade a respeito do Messias, sua falta de fé, sua rejeição de Cristo também não serviu de desculpa para seus erros – a única razão pela qual ele podia dar graças a Deus é a misericórdia que lhe foi dada da parte de Deus que lhe deu ajuda em sua miserabilidade e tentativas frustrantes de encontrar justificação pelas obras da carne.

AS AÇÕES GRACIOSAS DE DEUS SÃO O CORAÇÃO DA PALAVRA FIEL

A chave para entendermos a mensagem desta passagem é: Deus foi misericordioso com Paulo, não apenas salvando-o por sua graça mas escolhendo-o, de entre outros vasos de barro e dignos da destruição para usá-lo para sua glória. E a Paulo só cabia responder com gratidão. Você quer realmente entender o porque Deus nos deu tudo o que temos registrado? Porque Paulo escreveu tantas cartas? Porque tantos detalhes a respeito da vida de Jesus, dos apóstolos e do que isto tudo representa?
A resposta é: mudar a vida de pecadores, blasfemos, perseguidores, arrogantes, insolentes, ignorantes e incrédulos. O propósito de Deus é mudar o destino daqueles que estavam condenados à uma eternidade de tormentos – e que não apenas mereciam como tudo faziam para acrescentar flagelos a esta condenação. O centro da mensagem é o que Deus fez e faz. Paulo é grato a Deus pelo que Deus fez em sua vida. É este o assunto destes versos – e do que vem em sequência.
Em primeiro lugar Paulo demonstra gratidão a Deus – não foi o acaso, nem um acidente na estrada, mas o que aconteceu no tempo próprio, certo e determinado por Deus que o levou da ignorância para a luz, do império das trevas para o reino do filho do amor de Deus. Não foi um convencimento epistemológico, nem uma crise emocional, mas um encontro com Deus, o Deus que veio ao seu encontro e lhe mudou a historia. Se Paulo julgava-se forte, imbuído de autoridade pelo sinédrio, foi somente ao ser encontrado com Cristo que, cego, passou a enxergar, humilhado e sem pátria, passou a ser o embaixador do reino dos céus [II Co 5:20]. Paulo aprendeu que, sem Cristo, o mais forte dentre os homens é insignificante, mas, com Cristo e revestido pelo poder de Cristo, mesmo a fraqueza se torna em grande poder [II Co 12:9].
Em segundo lugar, Paulo considera a dignidade do ministério, ministério que não merecera e do qual, de per si, não era digno, mas que lhe fora dado por Deus, diferente e superior do que ele buscara com tantos esforços dentro do judaísmo [Gl 1:14]. O apóstolo foi conduzido, concebido, preparado e equipado para agir com fidelidade, integralmente comprometido com a fé e obediente na execução dos comandos do seu Senhor [I Co 9:16].
Em terceiro lugar Paulo é grato pela enorme transformação que houve eu seu ser por causa da misericordiosa graça de Deus em Cristo Jesus. Primeiro, Deus o capacitou. Depois, Deus lhe deu um sentido para a vida e, em terceiro e extremamente importante, Deus lhe deu uma visão clara do que significa ser cristão: alguém que é grato pela manifestação da misericórdia de Deus, que chama o que não o conhece para conhecê-lo [II Pe 2:12] porque seu coração é tomado de misericórdia e compaixão [Hb 5:2] e que faz o incrédulo ver o que antes não conseguia enxergar [II Co 4:4] até que sua cegueira seja removida – e é possível que estes incrédulos, cegos e ignorantes estejam perto ou até mesmo dentro das Igrejas [Jo 20:27].

EXORTAÇÕES FINAIS

UMA PALAVRA PARA OS CRENTES

Se perguntássemos ao apóstolo Paulo o que ele gostaria que, sabendo destas coisas, os cristãos fizessem? Provavelmente a resposta é vivam, vivam o evangelho como se fosse o próprio Cristo vivendo-o. Vivam por modo digno do evangelho de Cristo. Paulo diz isso quatro vezes em suas cartas – e isto mostra que ele [e o autor maior das cartas] tinha real interesse que vivêssemos por modo digno deste evangelho gracioso que transforma mesmo o maior pecador num filho amado.
Paulo exorta os Efésios, aos quais Timóteo estava pastoreando, a andar de modo digno da sua vocação evangélica [Ef 4:1]. Ele diz aos filipenses a viverem, acima de tudo, isto é, prioritariamente, por modo digno do evangelho de Cristo [Fp 1.27]. Aos crentes em Colossos Paulo diz que os cristãos devem viver de modo digno do Senhor para seu inteiro agrado [Cl 1.10]. Por fim, aos Tessalonicenses Paulo exorta e admoesta para que vivam por modo digno de Deus que os chamou para o seu reino e glória [I Ts 2.12]. Para que não pensemos que isso é ideia fixa de Paulo, João também menciona o mesmo assunto [III Jo 1:6].
Quer perguntar de novo? Ok, tudo bem! O que isto tem a ver comigo, crente do sec. XXI em Xinguara? Meu irmão, minha irmã, você ainda não entendeu o que significa viver o evangelho em seu dia-a-dia? Significa não colar na prova... significa não ficar com o troco a mais que o caixa lhe deu... significa não furar a fila, seja no banco ou no almoço... significa falar coisas edificantes ao invés de usar palavras duras ou maldosas para ferir o coração ou a reputação de alguém... significa escolher no Senhor aquela pessoa que vai lhe acompanhar pelo resto da vida... significa não sonegar impostos... significa não tomar uma cervejinha com os amigos... significa não usar o que deveria ser templo do Espírito Santo para fins luxuriosos... significa não usar a língua que pode ser instrumento de bênção para amaldiçoar a criação de Deus... significa ser um jovem ou adolescente que não traz vergonha ao evangelho [lembrem-se de dois dos presos mais ilustres do Brasil, ambos cariocas, dos últimos meses – Eduardo Cunha e Anthony Garotinho]... acho que você já entendeu...

UMA PALAVRA PARA VOCÊ

Paulo relata que tinha um problema antes da manifestação da graça de Deus – sua blasfêmia, insolência e maldade era fruto da falta do conhecimento adequado, isto é, mesmo tendo conhecimento das Escrituras ele não cria naquele de quem as Escrituras falavam [Jo 5:39].
Paulo tinha experiência religiosa, mas teve que perguntar, quando Jesus lhe apareceu, quem ele era [At 9:5] porque ele não conhecia verdadeiramente a Jesus. Tomé convivera com o Senhor e com a Igreja, mas teve que ouvir de Jesus para não ser incrédulo, mas se tornar um crente [Jo 20:27].
É isso, talvez você tenha vindo esta noite com outros propósitos, mas o propósito de Deus é dizer-lhe: seja crente. Você pode sair daqui decidido a não ser crente, mas você ouviu o que Deus queria que você ouvisse: seja crente. E o que acontecerá com você se você não se tornar um crente em Jesus Cristo – o que significa ser membro de uma Igreja, sim, mas não apenas isso? Se você não se tornar um crente a Palavra de Deus diz que sobre o incrédulo permanece a ira de Deus [Jo 3:36]. Não há a promessa de lançar ira sobre quem se mantém incrédulo – mas a constatação de que ela permanece sobre quem não crê no Filho de Deus.
Mas, e se crer? A promessa de Deus é que, quem crê no Filho, tem a vida eterna [Jo 5:24] e vai, conhecendo cada vez mais a Deus e sua Palavra, viver por modo digno do evangelho, como os demais crentes.

Agora vamos pra casa. Voltemos para o nosso dia-a-dia. A semana vai começar, e teremos chances de viver, como incrédulos [Ef 2:12] ou por modo digno do evangelho.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

PODE OU NÃO PODE

É bastante provável que você já tenha ouvido falar de uma tal "lei de crente". Antes de conhecer a Cristo, e de me tornar membro da Igreja, eu ouvia falar desta tal lei de crente e me antipatizava com ela. Tinha alguns amigos e amigas que para muitas coisas diziam "não posso", "minha Igreja não permite" e frases semelhantes.
Muitos amigos não jogavam futebol porque seus pastores e líderes definiam a prática esportiva como porfia, isto é, como disputa onde as pessoas se enganavam [dribles, cobranças de pênaltis - lembro do caso de um pastor, presbiteriano, que perguntou ao adversário onde ele iria chutar um pênalti, mas o chutador jogou a bola no outro lado, e o pastor indignado, pegou a bola e foi embora acusando o rapaz de ter mentido - o que aconteceu, mas ele, na verdade, queria uma vantagem indevida] e havia até o gracejo de que Jesus não gosta de futebol porque ele falava "parábola", mandou tirar a trave porque o juiz é iníquo.
Além disso, havia as proibições a respeito de roupas, alimentos [chiclete era item satânico, pois fazia as pessoas ficarem parecendo bovinos ruminando], adornos [jóias, batom, maquiagem usados como "chamarizes"], ambientes, participação em eventos, inclusive cívicos. Alguns colegas chegavam ao ponto de negarem-se a cantar o hino nacional porque homenageava a "pátria amada, idolatrada".
Mas, afinal, o que é permitido e o que é proibido aos crentes? O que a Igreja realmente proíbe? Para ilustrar a resposta, certa vez um senhor perguntou a um pastor se, tornando-se parte da Igreja, a Igreja lhe proibiria fumar. A resposta que ele recebeu foi: "Não, se você estiver na Igreja a Igreja não vai proibir você de fumar, mas quando você fizer parte da Igreja de Cristo o fumo não será mais parte essencial de sua vida. Se o Espírito Santo não te libertar, não adianta a Igreja proibir".
Uma coisa é inconteste: o estilo de vida dos crentes de 20, 30 anos atrás era muito mais sóbrio e também muito mais restritivo. Observe que usei a palavra sóbrio, e não a palavra "santo", porque santidade não é um reflexo do pode ou não pode, como, aliás, Paulo nos adverte sobre a hipocrisia das proibições legalistas como se isso produzisse santidade [I Tm 4].
Aquele estilo de vida afastava muita gente da Igreja - e, embora eu estranhasse, hoje não acho isso ruim. O temor de ser rotulado afastava da Igreja aqueles que não eram verdadeiramente convertidos [embora muitos que não fossem verdadeiramente convertidos tenham aderido a Igreja do mesmo jeito]. Se aconteceu no período em que a Igreja era perseguida e os cristãos punidos com a morte, porque não aconteceria no séc. XX?
Afinal, o que pode e o que não pode? Ora, cristão, você pode tudo o que for lícito e glorifique a Deus. Tomar uma cervejinha com amigos glorifica a Deus? Ir a uma festa onde é flagrante o objetivo de expor, digamos, dotes naturais [alguns adquiridos em clínicas estéticas], glorifica a Deus? Andar em companhias e lugares espúrios onde a prática do pecado é natural glorifica a Deus?
Sabe aquela coisa de pode ou não pode? Sabe a tal da lei de crente? Pois é: ela não existe, o que existe é a lei de Deus:
Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus [I Co 10:31].
...do coração do pastor.

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