Recentemente
o voleibol brasileiro recebeu a notícia de que um dos maiores vencedores como
técnico estaria deixando a seleção brasileira. Sem dúvida era uma notícia
aguardada, há pelo menos dois anos seu nome é especulado em um partido político
como potencial candidato a diversos cargos. Mas o fato é que, com pretensão
política ou não, ele conseguiu montar uma equipe vencedora, com técnicas e
táticas que surpreenderam os adversários e uma impressionante formação técnica,
especialmente no seu levantador e no líbero. Seu substituto, dirigido por ele
durante alguns anos, certamente vai manter a mesma orientação, com a mesma
identidade tática e técnica, aplicadas a situações novas que certamente
surgirão, perseverando na busca dos mesmos resultados.
A Igreja
também precisa manter sua identidade e cumprir sua missão – mas como fazer isso
no decorrer dos anos, em culturas diferentes e com pessoas diferentes? A
resposta é clara e única: mantendo-se orientada pela Palavra de Deus que é
eterna e imutável. Lembremos das palavras do mestre Jesus: os céus vão passar,
a terra vai passar, tudo vai passar, mas a Palavra de Deus, que nos foi dada,
permanecerá eternamente (I Pe 1.25).
A Igreja cristã só será capaz de manter a sua
identidade se não for orientada pelos desejos e devaneios dos homens porque
assim se tornará uma igreja mundana e não passará de ser meramente uma
instituição humana. A Igreja manterá sua identidade e cumprirá sua missão se
for uma Igreja biblicamente orientada.
Para
manter sua identidade a Igreja deve ser biblicamente orientada para, com
conhecimento, ser testemunha de Cristo, ensinando o que ele ensinou e vivendo
como ele ordenou. Esta tarefa cabe à toda a Igreja – sim, a Igreja é
responsável por receber alimento sólido, verdadeiro, como os de Beréia (At
17:11),
reconhecendo e rejeitando todos os que se atreverem a pregarem outro evangelho
como ministros infiéis (II Co 11.13-15). Todavia, esta tarefa de
ensinar à Igreja é especialmente confiada aos ministros, líderes que Deus dá ao
seu povo para edificação de sua Igreja. A Igreja biblicamente orientada segue
os padrões estabelecidos pelas Escrituras e deste alimento deriva seu vigor
espiritual.
Vejamos
o que o apóstolo Paulo nos ensina a este respeito:
6 Expondo estas coisas aos
irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e
da boa doutrina que tens seguido.
7 Mas rejeita as fábulas
profanas e de velhas caducas. Exercita-te, pessoalmente, na piedade.
8 Pois o exercício físico
para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a
promessa da vida que agora é e da que há de ser.
9 Fiel é esta palavra e digna
de inteira aceitação.
10 Ora, é para esse fim que
labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança
no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis.
11 Ordena e ensina estas
coisas.
12 Ninguém despreze a tua
mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no
procedimento, no amor, na fé, na pureza.
13 Até à minha chegada,
aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.
14 Não te faças negligente
para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a
imposição das mãos do presbitério.
15 Medita estas coisas e nelas
sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto.
16 Tem cuidado de ti mesmo e
da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a
ti mesmo como aos teus ouvintes.
I Tm 4.6-16
A Igreja do Senhor é abençoada quando sua liderança ministra ao seu
coração de acordo com a bíblia. A Igreja do Senhor é abençoada quando o rebanho
recebe alimentação bíblica, acostuma-se com ele e passa a desejá-lo
ardentemente (I Pe 2.2). É função da Igreja como
um todo, sua liderança e liderados a manutenção de um ministério bíblico,
conservando a sã doutrina na caminhada da fé rumo às mansões celestiais.
Nossa questão é: como a Igreja pode alcançar este alvo tão elevado? Em
primeiro lugar, a sua liderança, pastores, evangelistas, mestres, professores,
presbíteros, diáconos e demais líderes devem possuir o chamado do Senhor.
A
bíblia tem uma palavra especifica para descrever o chamado para o ministério,
indicando que os chamados são eleitos por Deus para um determinado serviço.
Isto está de acordo com o ensino bíblico que afirma que foi Deus mesmo quem deu
apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Ef
4.11-12)
e, como Deus não faz nada sem um propósito definido, podemos perceber que esta
doação divina foi feita com um alvo duplo em vista: aperfeiçoar os santos para
que eles desempenhem melhor o seu serviço a Deus e edificar a Igreja, o corpo
de Cristo (Ef 4.12).
Às
vezes a liderança da Igreja é desprezada com uma observação que é, ao mesmo
tempo, verdadeira e equivocada. É muito comum dizer que “homens passam, a
Igreja fica”. É verdade porque todos os
homens passam, e a Igreja do Senhor fica. Mas pode ser usada como pretexto
para justificar mudanças que agradam mais aos homens do que a Deus,
especialmente pelo fato de que Deus deu profetas, evangelistas, pastores e
mestres para edificarem a sua Igreja até que todos cheguemos à unidade
da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, à estatura de varão perfeito (Ef
4.13).
Entretanto,
não é qualquer liderança que deve ser reconhecida como dádiva de Deus, há
algumas qualificações bíblicas que precisam ser observadas nos obreiros para
que eles sejam reconhecidos como portadores do chamado divino. Podemos afirma
que, no desenvolvimento do seu serviço, os servos precisam apresentar um ensino
de
Paulo
propõe a Timóteo que, como obreiro do Senhor designado para edificar a Igreja
em Éfeso, ele deveria ensinar a verdade, mas, também, tinha a missão de combater
as fábulas e opiniões de homens sem o devido respaldo bíblico que estavam
entrando sorrateiramente na Igreja. Havia ali uma mistura de genealogia
hebraica com os costumes mitológicos do panteão greco-romano, e mentes
acostumadas com as filosofias pagãs tendiam a identificar os heróis da fé com
os heróis gregos e até mesmo como semideuses (o que, inevitavelmente, acabou
ocorrendo com alguns considerando Jesus menor que Deus ou considerando os
homens como mais que homens).
Para
combater este tipo de filosofia Timóteo tinha como estratégia expor para a
Igreja de Éfeso qual a vontade de Deus para seu povo, vontade que é sempre boa,
perfeita e agradável (Rm 12:2) e que também é imutável, impedindo
que a Igreja assumisse uma forma de pensar mundanizada, secularizada, socialmente
contextualizada mas sem conteúdo bíblico, e, ao fazer isso, ao dedicar-se em
apresentar com eficiência a mensagem de Deus, ele seria considerado bom
ministro de Cristo (v. 6).
A
melhor maneira de entendermos isso é que ele deveria buscar ter seu ensino
qualificado (I Tm 4:13), demonstrando que suas
exortações à Igreja provinham de conhecimento da Palavra de Deus e do desejo de
ser encontrado fiel ao Senhor (I Co 4.2) expondo (υποτιθημι – possuindo recursos para estabelecer) a verdade de
Deus como um legítimo chamado para o serviço cristão.
O
que qualifica o chamado não é um título eclesiástico, uma credencial
institucional, mas fidelidade ao Senhor em seu ensino e procedimento,
comprometimento com a Palavra de Deus, vivendo-a e ensinando-a para que seja,
efetivamente, reconhecido como “homem de Deus” (II Rs 4.9). Cada cristão tem
responsabilidade semelhante – embora nem todos sejam pregadores, ou mestres, ou
evangelistas, todos precisam estar prontos a, quando exigidos, explicarem a
razão da esperança de vida eterna que possuem no coração (I Pe 3:15).
Não
devemos nos enganar, os inimigos da fé trabalham arduamente para oferecerem
argumentos tentando demonstrar a irracionalidade da fé. Tentam demonstrar que
suas muitas teorias, todas elas contraditórias entre si, são verdadeiras e
todas se esforçando contra uma só – contra o ensino das Escrituras. Não precisamos
conhecê-las todas – precisamos conhecer o ensino da Palavra de Deus, e, com
ela, combater todo tipo de adversário (II Co 10:4-6) e, pela graça de Deus,
acreditarmos que o mais ferrenho inimigo da fé poderá tornar-se um valoroso
irmão em Cristo como aconteceu com Paulo (Rm 1:16).
Mas
não basta conhecimento, porque mesmo um incrédulo pode ter profundo
conhecimento do texto bíblico sem, evidentemente, conhecer a Deus, como o
próprio Paulo afirma a respeito de si mesmo e de seus compatriotas judeus (Rm 10:2). É preciso que, ao lado do conhecimento,
encontremos também uma vida de
Como
já afirmamos, Paulo identificou um risco para o ministério de Timóteo e para a
Igreja que, provavelmente, já estava causando alguma espécie de estrago:
conversas inconsequentes, improdutivas e inapropriadas, uma espécie de mistura
entre os mitos greco-romanos e as histórias bíblicas, algo parecido com as
novelas como as que, embora com temática bíblica, se permitem muita liberdade
criativa, ou o filme “Noé” que simplesmente “não é” fonte de edificação para
crentes, fantasioso e que podem induzir os cristãos a desvios doutrinários,
como pudemos ver muitos crentes discutindo sobre os personagens que, são,
simplesmente, personagens com motivos bíblicos.
Paulo
não considerou isso um “probleminha” estético, mas uma grave ameaça à pureza da
fé. Contra isto a liderança cristã deve estar pronta a se opor com, ao lado do
ensino correto, uma vida piedosa.
Pedro
também enumera uma série de características desejáveis de se encontrar em quem
teme ao Senhor – conhecimento é uma delas, e piedade outra muito importante (II Pe 1:6-7).
Em
nossa época o que mais se fala é em cuidar do corpo, exercitar o corpo para ter
saúde às vezes nos esquecemos que é preciso, também, exercitar-se
espiritualmente, isto é, viver a fé na prática, e isto pode ser traduzido por
possuir uma vida piedosa (Mq 6:8) – e esta é uma aplicação do mandamento do Senhor
Jesus de que é dever do crente amar ao próximo como a si mesmo.
Timóteo
é chamado por Paulo para ser um modelo, e com ele cada crente deve aprender que
precisa conhecer a Palavra do Senhor. E o crente que conhece a Palavra de Deus sabe
que sua vontade não é a imposição de uma clausura (Gl 5:1) ou de um peso (I Jo 5:3).
Assim
como cada um de nós, Timóteo foi exortado a aplicar o seu conhecimento da
bíblia no seu dia-a-dia, numa vida de dedicação a Deus e de serviço ao próximo
em cuidadosa obediência aos mandamentos do Senhor – e o nome disso é piedade,
ainda que quem não conhece o senhorio de Jesus considere isto uma escravidão ou
alienação (Mt 11.28-30).
Se
você investe em você, em seu corpo e em seu espírito, em conhecimento e
piedade, você será mais facilmente notado e terá mais oportunidades de
testemunho que não devem ser desperdiçadas (Cl
4:5) para
a edificação de outros (Mt 22.39).
Assim,
aprendemos que o conhecimento produtivo conduz à piedade numa atitude de
completa
Se
é normal que esperemos de funcionários de uma empresa qualquer que eles
trabalhem bem, que desenvolvam bem suas funções e, muitas vezes, sejam
avaliados como tais, e uns serão considerados bons (Mt 25:23) enquanto outros serão avaliados, por seus frutos (Mt 7:20) como maus servos (Mt
25:26).
Da mesma forma também devemos esperar que os servos de Deus se dediquem no seu
serviço. Nossa relação com Deus é mais intensa do que a de qualquer funcionário
com uma empresa – ou, ao menos, deveria ser.
Em
nossa relação com Deus temos laços de filiação – Deus é nosso pai, e falamos
com ele em oração chamando-o assim (Mt
6:9) e
nós somos feitos seus filhos (Jo
1:12). O
Senhor é nosso pastor (Jo 10:14) e nós ovelhas do seu
rebanho (Sl 100:3). O Senhor é, ao mesmo
tempo, nosso amigo (Jo 15:15) e também dono com direito
de impor sua vontade (Jo 15:14) porque nos comprou por
alto preço (I Co 6:20).
Paulo
fala aos gálatas que eles devem servir aos seus senhores (e isto pode incluir
até o serviço escravo) com o máximo de dedicação porque, ao final, estão
servindo ao Senhor (Cl 3.22-23).
Tanto,
maior, entretanto, deve ser o empenho dos servos chamados para o serviço do
Deus vivo (v. 10). Lembremos que o Jesus Cristo se entregou para criar um povo
exclusivamente seu, zeloso, com uma vida repleta de boas obras (Tt 2.14) que glorificam a Deus e não de meros
relatórios que glorificam homens e instituições.
Todo
o nosso empenho em servir aos senhores terrenos deve ser feito como obediência
ao nosso Senhor celestial. A simples tentativa de obedecer, em mesmo nível, a
dois senhores é considerada uma impossibilidade – um dos dois será desagradado,
e certamente o Senhor que nos remiu de nossos pecados, e nos comprou mediante o
sangue de seu Filho Jesus Cristo tem o direito de exigir dedicação absoluta –
dizendo de outra maneira, ou você é nascido de novo e totalmente dedicado ao
Senhor, ou você é apenas um religioso – e a religiosidade de nada aproveita (Jo 3:3).
Todos
nós nos espantamos e às vezes até evitamos olhar para fotos ou filmes de
pessoas subnutridas, raquíticas, esqueléticas. Dói nos olhos, dói no coração
ver mães tentando amamentar seus filhos quando elas não têm nada mais do que
pele e ossos. E o mais terrível é pensar que o que nós jogamos fora em uma
única refeição é mais do que muitos deles conseguem ter para comer durante toda
uma semana. Pior ainda é saber que são dezenas, milhares de pessoas nesta
situação e abrimos nossas geladeiras abarrotadas de alimentos, ou nossos
armários, e dizemos que “não tem nada para comer”.
Esta
triste situação também é encontrada na Igreja contemporânea. Quantos não tem
nenhum alimento espiritual verdadeiro, recebem palha como se fosse o melhor que
as Escrituras pudessem oferecer. Muitos oferecem apenas vento e ainda assim
conseguem seduzir multidões. Por outro lado, há os que podem encontrar alimento
substancial, sólido e cheio de frescor, mas ainda assim preferem deixar cair
sob a mesa em grande desperdício (Mt 15.2). O Rev. John MacAalister
traz uma dura e preciosa exortação aos crentes contemporâneos "Enquanto
milhares de cristãos perseguidos morrem pela sua fé ao se reunirem no domingo
como igreja, milhares de cristãos livres matam a sua fé ao deixarem de se
reunir no domingo como igreja. Reúna-se com a sua igreja local. Priorize o rico
banquete da comunhão dos santos no domingo acima das migalhas de uma praia
ensolarada, um shopping, um estádio de futebol ou uma cama aconchegante."
Os
estádios antigamente eram lugar de matança de cristãos por sua fé para diversão
dos ímpios, hoje, eles são locais onde cristãos matam a sua fé se divertindo
com (e como) os ímpios.
Os crentes não sabem ser crentes porque não
recebem a doutrina dos apóstolos – e é responsabilidade da Igreja identificar,
à luz das Escrituras, o que é de fato doutrina bíblica e o que é invenção dos
homens. A Igreja deve ser como os judeus de Beréia – conferir o discurso com a
Escritura, ser criteriosa, julgar o que se diz em nome do Espírito (I Jo
4:1).
Mas quem prega também deve ser fiel e diligente no aprendizado, no ensino e no
testemunho, como Paulo exorta a Timóteo (I
Tm 4:12)
para que todos, crentes e não crentes, tenham um padrão para verificar a
seriedade da Igreja no cumprimento de sua missão, ser sal e luz, anunciando a
Palavra de Deus com fidelidade.
Com
o grande número de pseudoapóstolos e falsos profetas que surgem na atualidade
(provavelmente jamais houve tantos na história da Igreja) seria de esperar uma
Igreja melhor nutrida, mas o que se vê é anemia espiritual, fraqueza
generalizada, e, apesar de as Escrituras terem se tornado o livro mais lido em
nossos dias ela tem sido relegada a mero texto que serve de pretexto para todo
tipo de ensino falacioso e falso.
Assim
como a Igreja precisa ser composta de pastores fiéis, ela também precisa ser
composta de crentes como os bereanos, que examinam as Escrituras para se estão,
efetivamente, sendo conduzidos de acordo com a Palavra do Senhor.
O
que você pode fazer para que isso aconteça. Primeiro, você precisa ser crente
de verdade, crente no Senhor Jesus, porque as coisas do Espírito se discernem
espiritualmente (I Co 2:14). Segundo, você precisa ter
a comunhão dos santos e o aprendizado da Palavra como prioridade em sua vida, como vemos na Igreja de Jerusalém. Terceiro, não desperdice as oportunidades de crescer na graça e no conhecimento do Salvador através de sua Palavra. Há muitos que gostariam de ter o salão de cultos que você tem à sua disposição. Há muitos que gostariam de ter toda a parafernália que você tem à sua disposição.
Há
muitos que gostariam de ter a liberdade de cultuar a Deus numa multidão de formas
litúrgicas diferentes, mas nem isso tem. Há muitos que.. bem, há muitos que são
Igreja mesmo não tendo nada disso. O que você tem feito com estes privilégios? Um
grave problema é não ter ensino (Pv
29:18) –
mas é problema tão grave a quantidade de cristãos que vivem reclamando que está
com fome com a geladeira cheia e a lixeira da cozinha cheia de comida
desprezada (I Ts 5:20)?
Seja
grato a Deus por tudo quanto ele tem lhe dado, pelo que Ele é e faz em sua
vida, pela salvação em Cristo Jesus e pela liberdade de adorá-lo aqui. Atenda
ao seu chamado para seus adoradores, para suas ovelhas, busque-o de todo o seu
coração e comprometa-se inteiramente com seu reino e sua Palavra.