segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

PORQUE NÃO: CANSAÇO DE QUE: RAZÕES PARA O AFASTAMENTO DA CONGREGAÇÃO

CANSAÇO. DE QUE?

É isso mesmo, cansaço de que? Quem está cansado, obviamente deve estar cansado de alguma coisa. E é provável que muitos estejam cansados de fazer as coisas na Igreja, de ir a Igreja e estar na Igreja semana após semana e encontrar sempre as mesmas coisas, a mesma liturgia predefinida, formatada e engessada, prelúdio, oração, leitura, hino, mais leitura, mais oração e cânticos, oração, mensagem e bênção – às vezes com um chazinho no final, um festival de senta-levanta... por favor, calma. Calma! 
Não sou um iconoclasta, não estou propondo destruir nada e não quero que abandonemos o nosso padrão litúrgico em nome de uma reforma em protesto contra tudo e todos sem propor nada melhor para por no lugar, como um mentecapto que só quer quebrar paradigmas). 
E aí vem a sensação de cansaço – mais do mesmo, mais do mesmo, como se fossemos máquinas repetindo sempre e sempre o mesmo percurso, as mesmas ações – e sem conhecer as razoes por que fazemos as coisas como fazemos tudo torna-se mecânico (Is 29.13). 
Pode ser também que o cansaço seja ainda maior pois fazer uma coisa maquinalmente aprendida é a sensação de não saber para que fazer. E aí a coisa fica pior. Onde estão os resultados? Fazer, fazer, correr, organizar, fazer, fazer e refazer e nada acontece, nenhum resultado palpável. E fica a terrível sensação de estar trabalhando em vão – e é provável que, em alguns casos, seja assim mesmo (Ml 1.10).

V. A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E CUMPRE SUA MISSÃO QUANDO POSSUI VIDA CONSAGRADA AO SERVIÇO DO SENHOR

Como a Igreja pode manter a sua identidade cumprir a sua missão? Paulo havia deixado Timóteo em Éfeso para conduzir a Igreja corretamente segundo o evangelho que lhes fora anunciado. Havia problemas, gente que precisava ser calada porque estava causando transtornos no meio do povo de Deus. Legalismo, estoicismo, judaizantes, gnosticismo... muitos problemas, mas uma única receita. Timóteo deveria proclamar a verdade de Deus tal qual a recebera. Mas como fazer isso numa sociedade acostumada e inclinada à desobediência, numa Igreja que estava sendo incentivada a rebelar-se contra o ensino apostólico e contra os apóstolos e seus associados no trabalho evangelístico? Vejamos o que Paulo diz a Timóteo, e lembremos que o que Paulo lhe diz tem valor para ele, o pregador, e também para a Igreja cristã, para a genuína Igreja cristã, pois são as ovelhas do Senhor que ouvirão a voz do seu pastor.
11 Ordena e ensina estas coisas.
12 Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.
13 Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.
14 Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério.
15 Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto.
16 Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.
I Tm 4.11-16
A Escritura afirma que se alguém aspira ao episcopado, e por isso entendemos o serviço cristão, então, aspira a excelente obra (I Tm 3.1 - Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja) mas deve fazê-lo ciente de que será alvo de maior juízo da parte de Deus (Tg 3.1) e certamente de maior cobrança da parte dos homens.
Um servo que recebeu e respondeu ao seu chamado com qualidade, piedade e dedicação possui

AUTORIDADE

A palavra de Paulo a Timóteo é um imperativo: o trabalho de um servo do Senhor é feito na autoridade que vem do Senhor (Jo 20:21) e esta autoridade determina que o cristão seja frutífero (Jo 15:16) porque está ligado ao Senhor que envia seus servos como seus representantes, seus embaixadores (II Co 5:20).
E, em relação às coisas celestes, não são dadas sugestões nem existem alternativas, por isso a expressão de Paulo é “ordena, anuncia” como se a mensagem fosse de origem superior, como, efetivamente é. A expressão que Paulo usa (παραγελλω) indica que a mensagem vem de cima e deve ser recebida como um mandamento, uma ordenança, uma incumbência superior que não deve jamais ser negligenciada.
A Timóteo não restava outra incumbência a não ser a de ensinar o evangelho – e deveria fazê-lo como uma ordenança de Deus aos homens, não como tem acontecido e se tornado em ordens de homens para homens, ou, pior ainda, ordens dos homens ao Senhor Deus. A pregação não pode deixar de ser a comunicação da vontade de Deus aos homens para se tornar a comunicação das vontades dos homens para um deus diminuído, servil e submisso.
O servo destacado para o serviço, de posse da mensagem do seu Senhor, pode ordenar porque a autoridade é do seu Senhor e por meio de sua palavra nas mãos de seus servos o rebanho é conduzido. Ele só não tem direito de mandar buscando ver a sua própria vontade ser cumprida. A idéia expressa por “mandar”, “ordenar” inclui repartir tarefas, proibir ou autorizar, desde que dentro deste contexto extremamente restrito de fidelidade ao Senhor.
Nenhum servo é chamado para ser senhor ou feitor do rebanho (I Pe 5:2-3) mas, ao mesmo tempo, nenhum servo chamado para liderar deve ser negligente no exercício da autoridade que seu Senhor lhe delegou – nem a Igreja deve desprezá-lo por algum motivo que não seja o de infidelidade ao Senhor (I Tm 4.12).
Um servo fiel no exercício da autoridade que lhe foi delegada deve exercê-la com

FIDELIDADE

Como dissemos, o exercício da autoridade concedida pelo Senhor é credenciada pela fidelidade. O exercício da autoridade, baseado na fidelidade, não poderia ser desdenhado (καταφρονεω) por ninguém. Ninguém tem liberdade para ter em baixo conceito as autoridades legitimamente constituídas e que exercem o seu cargo com fidelidade às leis estabelecidas – digna de ainda maior respeito é autoridade exercida com fidelidade à Palavra do Senhor.
Mas como conseguir exercer autoridade diante de um pecador cuja inclinação natural é para a desobediência, para a transgressão? Como exercer autoridade diante de uma geração cujo coração tende, naturalmente, à rebeldia em todos os níveis (desde o lar até autoridades civis, com poder de polícia)?
A resposta é: imprimindo de maneira indelével o conteúdo do evangelho em sua própria vida, causando um impacto tal que marque (τυπος) o que a religião representa na mente e no coração dos demais. Paulo menciona cinco itens nos quais podemos e devemos ser padrão para poder impactar quem entrar em contato conosco:
·      na palavra, isto é, no que fala (Ef 4.29), pois dos nossos lábios deve sair apenas o que é bom para edificação – a própria Escritura afirma que esta não é uma ação fácil dominar o próprio espirito e falar apenas para o bem (Pv 16:32);
·      no agir (Tg 3.13) porque tudo o que se deve fazer tem que ser feito tendo como prioridade agradar primeiramente a Deus (Cl 3:23);
·      no relacionamento com o próximo (II Co 4.5) pois é na forma que nos relacionamos com a criação de Deus que demonstramos o quanto lhe somos obedientes (Mt 22:39) e valorizamos os nossos semelhantes (Fp 2:3);
·      em como vive a sua fé – demonstrando que o evangelho produz um estilo de vida digno e piedoso (Fp 1.27-29);
·      em como é em seu íntimo (Sl 18.20) pois o homem vê apenas o exterior, mas Deus vê como o homem é no coração (I Sm 16:7).
Um servo fiel no exercício da autoridade que lhe foi delegada deve exercê-la com fidelidade e com

i.      PROFUNDIDADE

Não há dúvida de que, se alguém é chamado para servir, é chamado para servir em alguma coisa. Ninguém foi chamado por Deus para fazer parte do seu corpo como se fora objeto decorativo porque Deus não se parece em nada com um colecionador de raridades, pelo contrário, quem foi chamado por Deus, mesmo não sendo em nada precioso, pelo contrário, mesmo estando morto em delitos e pecados (Ef 2:1) foi comprado mediante o precioso sangue de Jesus Cristo (I Pe 1.18-20) para, de alguma forma, proclamar as virtudes do Deus que os amou desde antes da fundação do mundo (I Pe 2.9).
Ninguém, ao fazer parte do corpo de Cristo deve se perguntar “o que há para mim aqui” porque, se é de fato membro do corpo de Cristo, já sabe que já recebeu o que não merecia, a salvação, e não recebeu a danação à qual tinha pleno direito e, se não é de fato membro do corpo de Cristo, então, realmente não há nada ali que lhe seja de legítimo uso. Mas, ao chegar ao corpo de Cristo o crente deve dizer “eis-me aqui, usa-me”. Servos que não servem são como entulho no caminho, são como navios desgovernados em alto mar – não vão para lugar nenhum, e, se forem, só servirão para causar problemas.
Para saber o que fazer, e fazer com autoridade, fidelidade e profundidade Paulo recomenda a Timóteo que se entregue à leitura, especialmente da Palavra de Deus, e que a maneje bem como obreiro que não tem do que se envergonhar (II Tm 2:15) especialmente no caso de ser convocado a dar razão da esperança que tem no coração (I Pe 3:15).
Um servo frutífero precisa conhecer a obra a que está sendo chamado, e por isso deve exercitar a sua mente com boas leituras, cultivando um padrão de vida e conhecimento acima da mediocridade. É por isso que o ensino é fonte de fadiga (I Tm 5.17) para que haja poder e conhecimento para exortar e ensinar. As mesmas instruções dadas a Timóteo chegam, também, a outro discípulo e filho na fé de Paulo, Tito (Tt 2.7-8). Uma Igreja deveria se alegrar de ver seus líderes se dedicando e se ocupando profusamente do estudo das coisas de Deus.
Um servo fiel no exercício da autoridade que lhe foi delegada deve exercê-la com fidelidade e com profundidade de tal modo que estas coisas passem a fazer parte de sua

ii.     PERSONALIDADE

Conta-se que, quando missionários ingleses chegaram em uma aldeia e anunciaram o evangelho, falando das coisas boas que Jesus fizera (At 10:38) foram surpreendidos por uma afirmação dos nativos de que eles conheciam a Jesus e que ele estivera ali, com eles, naquela longínqua aldeia nos rincões da África. Obviamente os ingleses não acreditaram, disseram que Jesus havia morrido há muito tempo, e novamente foram surpreendidos pelos africanos que disseram que sim, ele havia morrido, e estava enterrado bem ali, bem naquela aldeia, e chamaram os ingleses para ver o lugar. Lá chegando, encontraram o túmulo do dr. David Livingstone – que vivera de tal maneira o evangelho de Cristo (Gl 2:20) a ponto de ser confundido com o próprio Cristo por aqueles no meio de quem vivera (Fp 4:9).
Esta “lenda” ilustra uma verdade. Ditos populares tem força e significado. Um deles é o que afirma que um exemplo fala mais do que mil palavras – mas eu só concordo com ele até o ponto em que considero que não se deve esquecer de explicar o que os exemplos signifiquem (dialogo entre um islâmico e um cruzado). No testemunho cristão não basta o exemplo – o fazer é sempre acompanhado pelas boas novas do porquê fazer. Boas obras, por exemplo, sem evangelho é só ação social – de homem pra homem, faz o homem se sentir bem e esquecer que é apenas um pecador, sem a motivação correta que é glorificar a Deus. Paulo diz a Timóteo que ele deveria ser como um médico que prescreve um tratamento para uma doença que ele mesmo sofre e também se trata (v. 16).
Os riscos que qualquer servo de Deus corre estão presentes nas admoestações de Paulo: cuidar dele mesmo para não se deixar enredar por falsas doutrinas, aplicando à sua vida tudo o que ele já aprendeu para ter uma vida piedosa (II Pe 1.3-7) e servir de exemplo para os demais. Como Esdras, seu coração deve estar disposto a buscar, cumprir e ensinar a lei do Senhor (Ed 7.10).

CONCLUSÃO

Não há nada melhor para o cristão do que ser considerado um servo fiel e consagrado, e receber do Senhor o seu galardão (Mt 25.23). Não há segredo nem receita mágica para isso – o servo do Senhor deve se empenhar para cumprir o conselho de Deus, ser fiel no pouco que lhe for confiado, reconhecendo-se como indigno e incapaz de atender o padrão de perfeição do seu Senhor (Lc 17.10). Todavia, não é o fato de não podermos ir além do que é devido que o cristão vai ser relapso em sua vida pessoal, em sua piedade e no seu testemunho, com ou sem palavras. Nada é mais devastador do que ser relapso e preguiçoso.
Nada é mais devastador para o servo que não saber a vontade do seu Senhor. E não há como saber a vontade do Senhor sem se empenhar em conhecê-la, tendo-a sempre diante de si mesmo, meditando nela, falando dela.
Um cristão genuíno deve buscar jamais ser comparado como os diversos tipos de religiosos, com saduceus, escribas e fariseus, que importunavam o Senhor Jesus nos dias de seu ministério terreno. Eles foram duramente repreendidos pelo Senhor Jesus. Primeiro, aos saduceus, Jesus lhes denuncia a arrogância ritualística, sede de poder religioso, sem, entretanto, conhecimento de Deus (Mc 12.24).
Assim como Jesus repreende os religiosos por sua falta de conhecimento de Deus e do seu poder, Tiago também exorta os cristãos a serem extremamente cuidadosos com uma profissão de fé que não se expressa em prática do que se aprende e se apregoa (Tg 1.22-25).
Imagine-se, agora, como um servo – nada além de um servo, como eram os servos nos dias do Novo Testamento. O servo era um escravo, uma pessoa cuja vontade deveria anular-se para cumprir a vontade do seu Senhor. E, imagine-se, agora como um escravo comissionado, isto é, um escravo que recebeu uma missão e que deve executá-la a contento. Você é efetivamente um servo – e o seu Senhor efetivamente lhe deu uma missão de ser sua testemunha, anunciar sua vontade e fazer discípulos para ele. Agora, inverta os papéis. Imagine que você é o Senhor – é claro que você não é.
Se você fosse o Senhor, você estaria satisfeito com o que você, como servo que é, está fazendo? Há fidelidade ao Senhor e, decorrente desta fidelidade, há autoridade do Senhor? Você foi designado como modelo – tem sido isto para aqueles que observam a seu proceder (I Pe 3.15-16).

Volte a olhar para si mesmo como um servo – e como servos o que se requer é que o servo viva em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus (II Pe 3.11-12), vivendo hoje como se Cristo fosse voltar amanhã – e, efetivamente vai voltar em dia e hora que não sabemos – e, pode, sim, ser amanhã (Mt 24.44).

domingo, 26 de fevereiro de 2017

QUESTIONAMENTO OU ADORAÇÃO: O QUE VOCÊ FAZ NA IGREJA?

Boletim da IP em Xinguara, 2017, Fevereiro, 26
Um dos direitos considerados fundamentais do ser humano é o de liberdade de opinião. Um país só é considerado livre se, entre outras coisas, houver liberdade de opinião. Temos o privilégio de morar em um país onde temos a liberdade para manifestar o que pensamos desde que não se trate de uma injúria, calúnia ou difamação. Nosso país é tão livre que é assegurado até mesmo o direito de pecar, isto é, de mentir, e isso em um tribunal, onde deveria imperar a verdade.
Mas mesmo em um país livre existem instituições que negam o direito de pensar livremente - esta é uma característica invariavelmente presente nas seitas. Dependendo do grau de sectarismo o convívio com familiares é desestimulado e, em alguns casos, proibido.
Mais uma vez devemos ser gratos a Deus por termos o privilégio de pertencermos uma Igreja que não considera pecaminoso o desejo de conhecer, inclusive conhecer a respeito de outras religiões ou formas heterodoxas de cristianismo, desde que não comungando com suas práticas heréticas. Tomemos por exemplo os crentes de Beréia. Eles receberam um famoso mestre fariseu, que fora conhecido como Saulo e agora se apresentava como Paulo, apóstolo cristão. Paulo anunciava a chegada do Messias de uma forma diferente do que eles estavam acostumados a ouvir. E eles questionaram Paulo - pelo padrão de conformidade com a Palavra de Deus que eles dispunham, o Antigo Testamento. E chegaram à conclusão que o que Paulo lhes anunciava era verdadeiro, e por isso creram.
Mesmo na Igreja podemos e devemos questionar, saber como as coisas são e porque são como são. Mas não devemos confundir o desejo de saber, de participar com a mais pura atitude de implicância, de questionamento de tudo o tempo inteiro sem, entretanto, ter qualquer proposta alternativa. É perfeitamente humano não gostar de uma música, ou de uma programação, mas isto pode se tornar pecaminoso se vier a se transformar num hábito, num costume. Questionar deixa de ser um desejo de aprender para se tornar discordância metódica, desejo (que pode até ser inconsciente) de causar transtorno e constrangimento. E agora sim, temos um problema, um pecado.
Deus nos chamou para sermos adoradores, ele procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Mas como adorar discordando do que está acontecendo no culto? Como adorar se tudo o que acontece no culto é questionado? Como ser ovelha quando o pastor é questionado? Como ser Igreja se a comunhão é questionada? Como ser corpo de Cristo sem reconhecer como partes do corpo as demais partes?
Não permita que sua adoração sofra a interferência de nada - não confunda sede de conhecimento de Deus e das coisas de Deus com dureza de coração e rebeldia.
Entre na Igreja para adorar. Você saiu de sua casa para unir-se aos demais adoradores. Depois que adorar, volte para casa como um adorador que aprendeu a servir!
Do coração do pastor


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

PORQUE NÃO? CANSAÇO. RAZÕES PARA O AFASTAMENTO DA CONGREGAÇÃO

A cada dia o desprezo pela comunhão parece crescer na mesma proporção que a freqüência às reuniões da Igreja vai diminuindo. E surgem as perguntas inevitáveis: “O que está acontecendo com a Igreja?” Quais as causas para este afastamento dos crentes, cada vez mais comum, das reuniões? Quais as providências (se é que providências podem ser tomadas) pela liderança para estancar este mal? Pensando no assunto, conversando com amigos e membros de algumas Igrejas, resolvi compartilhar algumas possíveis razões para isso.

A causa mais comumente apontada para o afastamento paulatino das atividades da Igreja é uma sensação difusa de cansaço – que nem sempre é físico ou mental. Então, que cansaço é esse? A realidade é que este cansaço é real, é semelhante a uma sensação de ossos esmagados (Sl 51.8) e peso sobre o ombro (Sl 32.4). Ele existe, e precisa diagnosticado e tratado. Em breve volto a falar sobre isso.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

IV. A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E DESEMPENHA SUA MISSÃO QUANDO POSSUI A ORIENTAÇÃO DA PALAVRA PARA CAMINHAR

Recentemente o voleibol brasileiro recebeu a notícia de que um dos maiores vencedores como técnico estaria deixando a seleção brasileira. Sem dúvida era uma notícia aguardada, há pelo menos dois anos seu nome é especulado em um partido político como potencial candidato a diversos cargos. Mas o fato é que, com pretensão política ou não, ele conseguiu montar uma equipe vencedora, com técnicas e táticas que surpreenderam os adversários e uma impressionante formação técnica, especialmente no seu levantador e no líbero. Seu substituto, dirigido por ele durante alguns anos, certamente vai manter a mesma orientação, com a mesma identidade tática e técnica, aplicadas a situações novas que certamente surgirão, perseverando na busca dos mesmos resultados.
A Igreja também precisa manter sua identidade e cumprir sua missão – mas como fazer isso no decorrer dos anos, em culturas diferentes e com pessoas diferentes? A resposta é clara e única: mantendo-se orientada pela Palavra de Deus que é eterna e imutável. Lembremos das palavras do mestre Jesus: os céus vão passar, a terra vai passar, tudo vai passar, mas a Palavra de Deus, que nos foi dada, permanecerá eternamente (I Pe 1.25).
 A Igreja cristã só será capaz de manter a sua identidade se não for orientada pelos desejos e devaneios dos homens porque assim se tornará uma igreja mundana e não passará de ser meramente uma instituição humana. A Igreja manterá sua identidade e cumprirá sua missão se for uma Igreja biblicamente orientada.
Para manter sua identidade a Igreja deve ser biblicamente orientada para, com conhecimento, ser testemunha de Cristo, ensinando o que ele ensinou e vivendo como ele ordenou. Esta tarefa cabe à toda a Igreja – sim, a Igreja é responsável por receber alimento sólido, verdadeiro, como os de Beréia (At 17:11), reconhecendo e rejeitando todos os que se atreverem a pregarem outro evangelho como ministros infiéis (II Co 11.13-15). Todavia, esta tarefa de ensinar à Igreja é especialmente confiada aos ministros, líderes que Deus dá ao seu povo para edificação de sua Igreja. A Igreja biblicamente orientada segue os padrões estabelecidos pelas Escrituras e deste alimento deriva seu vigor espiritual.
Vejamos o que o apóstolo Paulo nos ensina a este respeito:
6 Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido.
7 Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas. Exercita-te, pessoalmente, na piedade.
8 Pois o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser.
9 Fiel é esta palavra e digna de inteira aceitação.
10 Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis.
11 Ordena e ensina estas coisas.
12 Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.
13 Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.
14 Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério.
15 Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto.
16 Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.
I Tm 4.6-16
A Igreja do Senhor é abençoada quando sua liderança ministra ao seu coração de acordo com a bíblia. A Igreja do Senhor é abençoada quando o rebanho recebe alimentação bíblica, acostuma-se com ele e passa a desejá-lo ardentemente (I Pe 2.2). É função da Igreja como um todo, sua liderança e liderados a manutenção de um ministério bíblico, conservando a sã doutrina na caminhada da fé rumo às mansões celestiais.
Nossa questão é: como a Igreja pode alcançar este alvo tão elevado? Em primeiro lugar, a sua liderança, pastores, evangelistas, mestres, professores, presbíteros, diáconos e demais líderes devem possuir o chamado do Senhor.
A bíblia tem uma palavra especifica para descrever o chamado para o ministério, indicando que os chamados são eleitos por Deus para um determinado serviço. Isto está de acordo com o ensino bíblico que afirma que foi Deus mesmo quem deu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Ef 4.11-12) e, como Deus não faz nada sem um propósito definido, podemos perceber que esta doação divina foi feita com um alvo duplo em vista: aperfeiçoar os santos para que eles desempenhem melhor o seu serviço a Deus e edificar a Igreja, o corpo de Cristo (Ef 4.12).
Às vezes a liderança da Igreja é desprezada com uma observação que é, ao mesmo tempo, verdadeira e equivocada. É muito comum dizer que “homens passam, a Igreja fica”. É verdade porque todos os homens passam, e a Igreja do Senhor fica. Mas pode ser usada como pretexto para justificar mudanças que agradam mais aos homens do que a Deus, especialmente pelo fato de que Deus deu profetas, evangelistas, pastores e mestres para edificarem a sua Igreja até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, à estatura de varão perfeito (Ef 4.13).
Entretanto, não é qualquer liderança que deve ser reconhecida como dádiva de Deus, há algumas qualificações bíblicas que precisam ser observadas nos obreiros para que eles sejam reconhecidos como portadores do chamado divino. Podemos afirma que, no desenvolvimento do seu serviço, os servos precisam apresentar um ensino de

i.                  QUALIDADE

Paulo propõe a Timóteo que, como obreiro do Senhor designado para edificar a Igreja em Éfeso, ele deveria ensinar a verdade, mas, também, tinha a missão de combater as fábulas e opiniões de homens sem o devido respaldo bíblico que estavam entrando sorrateiramente na Igreja. Havia ali uma mistura de genealogia hebraica com os costumes mitológicos do panteão greco-romano, e mentes acostumadas com as filosofias pagãs tendiam a identificar os heróis da fé com os heróis gregos e até mesmo como semideuses (o que, inevitavelmente, acabou ocorrendo com alguns considerando Jesus menor que Deus ou considerando os homens como mais que homens).
Para combater este tipo de filosofia Timóteo tinha como estratégia expor para a Igreja de Éfeso qual a vontade de Deus para seu povo, vontade que é sempre boa, perfeita e agradável (Rm 12:2) e que também é imutável, impedindo que a Igreja assumisse uma forma de pensar mundanizada, secularizada, socialmente contextualizada mas sem conteúdo bíblico, e, ao fazer isso, ao dedicar-se em apresentar com eficiência a mensagem de Deus, ele seria considerado bom ministro de Cristo (v. 6).
A melhor maneira de entendermos isso é que ele deveria buscar ter seu ensino qualificado (I Tm 4:13), demonstrando que suas exortações à Igreja provinham de conhecimento da Palavra de Deus e do desejo de ser encontrado fiel ao Senhor (I Co 4.2) expondo (υποτιθημι – possuindo recursos para estabelecer) a verdade de Deus como um legítimo chamado para o serviço cristão.
O que qualifica o chamado não é um título eclesiástico, uma credencial institucional, mas fidelidade ao Senhor em seu ensino e procedimento, comprometimento com a Palavra de Deus, vivendo-a e ensinando-a para que seja, efetivamente, reconhecido como “homem de Deus” (II Rs 4.9). Cada cristão tem responsabilidade semelhante – embora nem todos sejam pregadores, ou mestres, ou evangelistas, todos precisam estar prontos a, quando exigidos, explicarem a razão da esperança de vida eterna que possuem no coração (I Pe 3:15).
Não devemos nos enganar, os inimigos da fé trabalham arduamente para oferecerem argumentos tentando demonstrar a irracionalidade da fé. Tentam demonstrar que suas muitas teorias, todas elas contraditórias entre si, são verdadeiras e todas se esforçando contra uma só – contra o ensino das Escrituras. Não precisamos conhecê-las todas – precisamos conhecer o ensino da Palavra de Deus, e, com ela, combater todo tipo de adversário (II Co 10:4-6) e, pela graça de Deus, acreditarmos que o mais ferrenho inimigo da fé poderá tornar-se um valoroso irmão em Cristo como aconteceu com Paulo (Rm 1:16).
Mas não basta conhecimento, porque mesmo um incrédulo pode ter profundo conhecimento do texto bíblico sem, evidentemente, conhecer a Deus, como o próprio Paulo afirma a respeito de si mesmo e de seus compatriotas judeus (Rm 10:2). É preciso que, ao lado do conhecimento, encontremos também uma vida de

ii.               PIEDADE

Como já afirmamos, Paulo identificou um risco para o ministério de Timóteo e para a Igreja que, provavelmente, já estava causando alguma espécie de estrago: conversas inconsequentes, improdutivas e inapropriadas, uma espécie de mistura entre os mitos greco-romanos e as histórias bíblicas, algo parecido com as novelas como as que, embora com temática bíblica, se permitem muita liberdade criativa, ou o filme “Noé” que simplesmente “não é” fonte de edificação para crentes, fantasioso e que podem induzir os cristãos a desvios doutrinários, como pudemos ver muitos crentes discutindo sobre os personagens que, são, simplesmente, personagens com motivos bíblicos.
Paulo não considerou isso um “probleminha” estético, mas uma grave ameaça à pureza da fé. Contra isto a liderança cristã deve estar pronta a se opor com, ao lado do ensino correto, uma vida piedosa.
Pedro também enumera uma série de características desejáveis de se encontrar em quem teme ao Senhor – conhecimento é uma delas, e piedade outra muito importante (II Pe 1:6-7).
Em nossa época o que mais se fala é em cuidar do corpo, exercitar o corpo para ter saúde às vezes nos esquecemos que é preciso, também, exercitar-se espiritualmente, isto é, viver a fé na prática, e isto pode ser traduzido por possuir uma vida piedosa (Mq 6:8) – e esta é uma aplicação do mandamento do Senhor Jesus de que é dever do crente amar ao próximo como a si mesmo.
Timóteo é chamado por Paulo para ser um modelo, e com ele cada crente deve aprender que precisa conhecer a Palavra do Senhor. E o crente que conhece a Palavra de Deus sabe que sua vontade não é a imposição de uma clausura (Gl 5:1) ou de um peso (I Jo 5:3).
Assim como cada um de nós, Timóteo foi exortado a aplicar o seu conhecimento da bíblia no seu dia-a-dia, numa vida de dedicação a Deus e de serviço ao próximo em cuidadosa obediência aos mandamentos do Senhor – e o nome disso é piedade, ainda que quem não conhece o senhorio de Jesus considere isto uma escravidão ou alienação (Mt 11.28-30).
Se você investe em você, em seu corpo e em seu espírito, em conhecimento e piedade, você será mais facilmente notado e terá mais oportunidades de testemunho que não devem ser desperdiçadas (Cl 4:5) para a edificação de outros (Mt 22.39).
Assim, aprendemos que o conhecimento produtivo conduz à piedade numa atitude de completa

iii.            DEDICAÇÃO

Se é normal que esperemos de funcionários de uma empresa qualquer que eles trabalhem bem, que desenvolvam bem suas funções e, muitas vezes, sejam avaliados como tais, e uns serão considerados bons (Mt 25:23) enquanto outros serão avaliados, por seus frutos (Mt 7:20) como maus servos (Mt 25:26). Da mesma forma também devemos esperar que os servos de Deus se dediquem no seu serviço. Nossa relação com Deus é mais intensa do que a de qualquer funcionário com uma empresa – ou, ao menos, deveria ser.
Em nossa relação com Deus temos laços de filiação – Deus é nosso pai, e falamos com ele em oração chamando-o assim (Mt 6:9) e nós somos feitos seus filhos (Jo 1:12). O Senhor é nosso pastor (Jo 10:14) e nós ovelhas do seu rebanho (Sl 100:3). O Senhor é, ao mesmo tempo, nosso amigo (Jo 15:15) e também dono com direito de impor sua vontade (Jo 15:14) porque nos comprou por alto preço (I Co 6:20).
Paulo fala aos gálatas que eles devem servir aos seus senhores (e isto pode incluir até o serviço escravo) com o máximo de dedicação porque, ao final, estão servindo ao Senhor (Cl 3.22-23).
Tanto, maior, entretanto, deve ser o empenho dos servos chamados para o serviço do Deus vivo (v. 10). Lembremos que o Jesus Cristo se entregou para criar um povo exclusivamente seu, zeloso, com uma vida repleta de boas obras (Tt 2.14) que glorificam a Deus e não de meros relatórios que glorificam homens e instituições.
Todo o nosso empenho em servir aos senhores terrenos deve ser feito como obediência ao nosso Senhor celestial. A simples tentativa de obedecer, em mesmo nível, a dois senhores é considerada uma impossibilidade – um dos dois será desagradado, e certamente o Senhor que nos remiu de nossos pecados, e nos comprou mediante o sangue de seu Filho Jesus Cristo tem o direito de exigir dedicação absoluta – dizendo de outra maneira, ou você é nascido de novo e totalmente dedicado ao Senhor, ou você é apenas um religioso – e a religiosidade de nada aproveita (Jo 3:3).

CONCLUSÃO

Todos nós nos espantamos e às vezes até evitamos olhar para fotos ou filmes de pessoas subnutridas, raquíticas, esqueléticas. Dói nos olhos, dói no coração ver mães tentando amamentar seus filhos quando elas não têm nada mais do que pele e ossos. E o mais terrível é pensar que o que nós jogamos fora em uma única refeição é mais do que muitos deles conseguem ter para comer durante toda uma semana. Pior ainda é saber que são dezenas, milhares de pessoas nesta situação e abrimos nossas geladeiras abarrotadas de alimentos, ou nossos armários, e dizemos que “não tem nada para comer”.
Esta triste situação também é encontrada na Igreja contemporânea. Quantos não tem nenhum alimento espiritual verdadeiro, recebem palha como se fosse o melhor que as Escrituras pudessem oferecer. Muitos oferecem apenas vento e ainda assim conseguem seduzir multidões. Por outro lado, há os que podem encontrar alimento substancial, sólido e cheio de frescor, mas ainda assim preferem deixar cair sob a mesa em grande desperdício (Mt 15.2). O Rev. John MacAalister traz uma dura e preciosa exortação aos crentes contemporâneos "Enquanto milhares de cristãos perseguidos morrem pela sua fé ao se reunirem no domingo como igreja, milhares de cristãos livres matam a sua fé ao deixarem de se reunir no domingo como igreja. Reúna-se com a sua igreja local. Priorize o rico banquete da comunhão dos santos no domingo acima das migalhas de uma praia ensolarada, um shopping, um estádio de futebol ou uma cama aconchegante."
Os estádios antigamente eram lugar de matança de cristãos por sua fé para diversão dos ímpios, hoje, eles são locais onde cristãos matam a sua fé se divertindo com (e como) os ímpios.
 Os crentes não sabem ser crentes porque não recebem a doutrina dos apóstolos – e é responsabilidade da Igreja identificar, à luz das Escrituras, o que é de fato doutrina bíblica e o que é invenção dos homens. A Igreja deve ser como os judeus de Beréia – conferir o discurso com a Escritura, ser criteriosa, julgar o que se diz em nome do Espírito (I Jo 4:1). Mas quem prega também deve ser fiel e diligente no aprendizado, no ensino e no testemunho, como Paulo exorta a Timóteo (I Tm 4:12) para que todos, crentes e não crentes, tenham um padrão para verificar a seriedade da Igreja no cumprimento de sua missão, ser sal e luz, anunciando a Palavra de Deus com fidelidade.
Com o grande número de pseudoapóstolos e falsos profetas que surgem na atualidade (provavelmente jamais houve tantos na história da Igreja) seria de esperar uma Igreja melhor nutrida, mas o que se vê é anemia espiritual, fraqueza generalizada, e, apesar de as Escrituras terem se tornado o livro mais lido em nossos dias ela tem sido relegada a mero texto que serve de pretexto para todo tipo de ensino falacioso e falso.
Assim como a Igreja precisa ser composta de pastores fiéis, ela também precisa ser composta de crentes como os bereanos, que examinam as Escrituras para se estão, efetivamente, sendo conduzidos de acordo com a Palavra do Senhor.
O que você pode fazer para que isso aconteça. Primeiro, você precisa ser crente de verdade, crente no Senhor Jesus, porque as coisas do Espírito se discernem espiritualmente (I Co 2:14). Segundo, você precisa ter a comunhão dos santos e o aprendizado da Palavra como prioridade em sua vida, como vemos na Igreja de Jerusalém. Terceiro, não desperdice as oportunidades de crescer na graça e no conhecimento do Salvador através de sua Palavra. Há muitos que gostariam de ter o salão de cultos que você tem à sua disposição. Há muitos que gostariam de ter toda a parafernália que você tem à sua disposição. 
Há muitos que gostariam de ter a liberdade de cultuar a Deus numa multidão de formas litúrgicas diferentes, mas nem isso tem. Há muitos que.. bem, há muitos que são Igreja mesmo não tendo nada disso. O que você tem feito com estes privilégios? Um grave problema é não ter ensino (Pv 29:18) – mas é problema tão grave a quantidade de cristãos que vivem reclamando que está com fome com a geladeira cheia e a lixeira da cozinha cheia de comida desprezada (I Ts 5:20)?
Seja grato a Deus por tudo quanto ele tem lhe dado, pelo que Ele é e faz em sua vida, pela salvação em Cristo Jesus e pela liberdade de adorá-lo aqui. Atenda ao seu chamado para seus adoradores, para suas ovelhas, busque-o de todo o seu coração e comprometa-se inteiramente com seu reino e sua Palavra.

VOLTA LULA?

Tenho tentado não escrever sobre política. Saiu Dilma, entrou Temer, e, como era de se esperar, as raposas continuam mandando e desmandando no galinheiro. Houve uma certa melhora na economia, com a diminuição – mas não o fim, do populismo esquerdista bolivariano. As prisões de políticos e empresários continuam acontecendo, as delações estão se avolumando sobre as mesas dos juízes. Parece – ao menos parece – que é possível melhorar um pouquinho.
Mas semana passada o Brasil ficou entre assustado e pasmo com a pesquisa CNT – Confederação Nacional do Transporte (pró-Lula) sobre as Eleições 2018. Até gente inteligente ficou pensando na possibilidade (assustadora) de um regresso do petista. O que tem de tão assustador assim?
Será mesmo que o Brasil quer a volta do sr. Luis Inácio e sua turma ao palácio do Planalto (não que a região seja habitada pelos melhores exemplos de cidadãos brasileiros) esvaziando Pinhais e diminuindo o turismo de advogados a Curitiba?
Segundo, a pesquisa gerou manchetes pelo país inteiro: Lula tem 30,5% das intenções de votos. É isso mesmo, Brasil? Os editores e jornalistas (geralmente com tendências esquerdistas) não estão sendo rápidos demais?
Calma, vamos analisar a pesquisa e estas intenções de votos. Pra começar, 68% (1362) dos entrevistados (2002 pessoas) disseram não ter escolhido candidato algum ainda. Do que sobra (640) Lula teria a preferência de apenas 195 pessoas, o equivalente a 9,7%, número bem abaixo da média histórica do petismo. Isto quer dizer que, 1362 não declararam votos e 445 disseram que votariam em outros candidatos e não no petista. Isso, no fim das contas, não parece nada animador para as redações e foi convenientemente esquecido.

Lula para presidente? Sim! Presidente Bernardes ou Venceslau. Tanto faz.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

III. A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E DESEMPENHA SUA MISSÃO QUANDO POSSUI UM ESTILO DE VIDA COMPROMETIDO COM O REINO DE DEUS

A Igreja de Jerusalém tinha como prioridade o crescimento do reino de Deus e não descuidava do discipulado dos novos convertidos ao mesmo tempo que considerava essencial viver como Igreja de Cristo, como irmãos, filhos do mesmo pai e resgatados do mesmo destino terrível para um novo destino celestial. Era a comunidade dos amados de Deus, que possuía uma fé operosa, em que a vida dos crentes, a vida da Igreja era uma experiência de comunhão prática e cuidados mútuos.
Vamos, então, conhecer mais desta Igreja que vive segundo o padrão neotestamentário e que nos serve de modelo porque ela
46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
At 2.46-47
A pergunta “O que caracteriza um membro comprometido” geralmente a resposta vai transitar entre participar dos cultos do meio de semana, do fim de semana, ser membro de alguma sociedade da Igreja, ocupar alguns cargos, frequentar a escola bíblica e contribuir regularmente para a manutenção da Igreja. Temos aqui um membro atarefado. Talvez ainda acrescentemos dominar um idioma específico de um gueto evangélico, o famoso crentes (que muda de Igreja para Igreja, indo desde a saudação até, em alguns casos, a citações de autores de algum renome). Talvez você concorde com isso, mas será que não falta nada? O que mais poderíamos desejar de encontrar num crente comprometido com Deus e com a Igreja?

i.                   O COMPROMETIMENTO DA IGREJA É FRUTO DE VITALIDADE ESPIRITUAL

Lucas nos diz que a Igreja perseverava unânime, todos os dias, no templo e partiam o pão de casa em casa. Já ouvi argumentos de que isto é virtualmente impossível à Igreja do séc. XXI, especialmente em centros mais desenvolvidos, onde a vida é mais complexa, há mais exigências, etc. Devemos nos perguntar: porque? Porque é impossível? Talvez seja impossível para uma parte da Igreja, porque trabalham ou estudam nos horários que a Igreja normalmente se reúnem. Mas, é mesmo impossível para todos estar todos os dias na casa de Deus em comunhão com os irmãos? Precisamos lembrar que esta não é uma demanda da Igreja atual. Não é uma demanda de nossa Igreja, mas certamente não é uma impossibilidade.
A questão da perseverança deve ser colocada de outra maneira – como pode alguém desejar crescer na comunhão sem comungar? Qualquer desportista sabe que, se quer ter sucesso na modalidade que escolheu deve treinar, simplesmente treinar o máximo que puder e, quando chegar a hora de descansar, treinar, pensar no treino e buscar alternativas para fazer o treino ainda mais rentável. Foi assim que Cesar Cielo consegui aproveitar uma curva natural de suas pernas para ganhar ainda mais propulsão em suas provas de natação. O que isto tem a ver com a perseverança dos crentes? Se um crente quer ser mesmo como os crentes do primeiro século deve buscar a comunhão como o náufrago busca a praia, como o sedento busca a água. Deve aproveitar cada momento disponível para participar da comunhão com qualidade.
Se você vai louvar a Deus, por exemplo, lembre-se que esta é uma experiência comunitária – é o povo de Deus louvando ao seu Senhor que te fez povo e não individuo de Deus. Embora a salvação seja individual, a caminhada cristã é um processo que acontece em comunidade (Pv 27.17). A oração, embora seja uma ação individual, é vivida comunitariamente. Lembremos que o Senhor nos ensina a orar dizendo-nos filhos de um mesmo pai (Mt 6.9) e nos manda orarmos uns pelos outros (Tg 5.16).
Além de perseverança o texto também fala de singeleza – isto é, algo que era feito com naturalidade, com simplicidade, sem gestos estudados ou palavras que não expressassem o sentimento do coração (I Jo 3.18). Esta perseverança na comunhão tornaria desnecessária a abusiva e inapropriada atitude de mandar alguém se virar para seu irmão e dizer que o ama (e muitas vezes não ama) porque os crentes já deveriam se amar naturalmente, singelamente.
A singeleza da vida da Igreja que tomamos por modelo deveria envergonhar cristãos que se vangloriam do que são ou fazem, que vivem em ostentação, possuem ouro e prata, mas não podem mais dizer como Pedro que não possuem riquezas mas possuem a Cristo (At 3.6).

ii.                O COMPROMETIMENTO DA IGREJA FRUTIFICA SOCIALMENTE

Uma outra importante característica daquela Igreja que devemos desejar ser é a de ser uma Igreja que impacta a sociedade em que está inserida. A Igreja tem feito filantropia – tem feito muitas obras que resultam em bênção na vida de muitas pessoas, mas é importante lembrar que a Igreja foi estabelecida com um proposito: glorificar o nome do Senhor anunciando o evangelho das boas novas, a salvação em Cristo Jesus.
A Igreja de Jerusalém louvava a Deus – e caia na graça de todo o povo. Lamentavelmente é mais comum ultimamente a Igreja cair no conceito do povo, e isto não deve ser colocado em conta na animosidade prevista pelo Senhor Jesus (Jo 15.18-19), mas por causa de degenerados que a si mesmo se chamam pastores, criam suas empresas eclesiásticas e, além de pregarem outro evangelho alegremente tolerado pela multidão incauta (II Co 11.3-4) ainda vivem escandalosamente trazendo vergonha ao evangelho.
Normalmente a Igreja se alegra com uma ou algumas conversões por ano – a Igreja de Jerusalém recebia novos convertidos todos os dias. Certamente há alegria no céu por um pecador que se arrepende (Lc 15.10) – mas a Igreja deveria se entristecer por milhares ao seu redor que se perdem por que a antítese “jubilo no céu” por um pecador que se arrepende não é, necessariamente, “júbilo no céu por um pecador que vai pro inferno” e sim que Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ez 18:32).
Para cada pecador alcançado milhares são esquecidos, não são sequer buscados, não são alvos das nossas orações nem da nossa ação evangelizadora e muitas vezes a Igreja nem se dá conta de sua omissão, ensimesmada em seus pequenos dilemas e ciúmes cotidianos. Isto mostra que a Igreja precisa se comprometer mais com a sociedade (mais uma vez reitero que falo de evangelização e não de filantropia), se comprometer mais de forma mais adequada e menos escandalosa (Rm 16.17).
Belos templos e fachadas luminosas podem atrair homens mundanos e mariposas – mas podem impedir as pessoas de verem a luz do evangelho através da Igreja se esta não for, de fato, a Igreja do Senhor Jesus que vive para testemunhar do seu glorioso salvador, louvando a Deus com alegria e singeleza de coração, vivendo com simplicidade e em comunhão, perseverando na verdade conforme ensinada pelos apóstolos.

CONCLUSÃO

Perder a identidade é algo perturbador. Lembro de uma cena de um filme que faz parte da série Bourne em que o personagem, sem saber qual a sua real identidade, encontra vários passaportes, nomes, datas e locais de nascimento diferentes e todos com a mesma foto: a sua. Qual a verdadeira? Quem ele era? Porque aqueles passaportes todos? O que ele fazia, porque estava sendo perseguido e quem eram seus perseguidores? Em quem ele poderia confiar? Ficava difícil até se defender por não saber de onde poderia vir a perseguição. No filme ele dá um jeito, afinal, é um filme, uma série onde, no fim, tudo se resolve, bem ou mal.
Mas, e a Igreja, o que acontece com ela quando perde a sua identidade? O que acontece com o crente que não sabe quem é, não sabe de onde veio, não sabe como deve agir, não sabe qual o seu propósito – e, na melhor das hipóteses, acha que seu propósito como crente é ir nos cultos, contribuir financeiramente e presencialmente, fazendo algum trabalho esporádico nas atividades da Igreja. Ok, estas coisas são boas e fazem parte do que se espera de um membro da Igreja de Jesus Cristo, mas ainda não são suficientes para que a Igreja desempenhe cabalmente o seu ministério.

UMA PALAVRA AOS CRENTES

Mas, pergunte a você mesmo, você que é crente, está na Igreja e faz parte da Igreja: quais são as minhas características essenciais, o que faz, de mim, no final, diferente dos membros de outras religiões que possuem os seus próprios deuses?
Em primeiro lugar, você deve conhecer a sua história! Deve saber como sua Igreja nasceu e qual o propósito dela? Saber quais as lutas que teve que enfrentar para não se tornar mais um dado religioso no mundo e fazer com que o evangelho da salvação chegasse até você como foi estabelecido no princípio e que faz de você parte desta família de Deus (Ef 2.19-20)?
Em segundo lugar, você deve conhecer e amar a doutrina conforme pregada por Jesus e seus discípulos, os apóstolos, estando disposto a viver e morrer para que a fé não seja corrompida pelos lobos devoradores que sempre intentaram, intentam e intentarão adentrar no rebanho (At 20.29).
Em terceiro lugar, você deve valorizar a comunhão a ponto de buscar, antes de mais nada, o reino de Deus (Mt 6.) e o bem estar dos irmãos (Fp 2.4) valorizando a comunhão dos santos mais do que qualquer outra coisa.
Em quarto lugar, você deve entende que não é um voluntário numa entidade qualquer, onde faz apenas o que lhe dá prazer ou interessa – você é um membro do corpo e, se necessário, a mão deve sustentar o pé, o pé deve levar alimento à boca, mas, acima de tudo, você deve estar disposto a envolver-se ativamente na proclamação do evangelho do Senhor Jesus porque essa é a missão primordial da Igreja da qual você é parte e para isso você não precisa nem mesmo sair de sua casa, de sua cidade ou de seu emprego (Mc 16.15) porque, onde você está, você já está no mundo (Jo 17.15).

MAIS UMA PALAVRA

Talvez você, que não é membro de uma Igreja, se pergunte: e eu? O que devo fazer? Deve examinar todas as coisas que ouviu. Deve se perguntar se, porventura, não acabou de encontrar a resposta para seus anseios de significado. Deve chegar a uma conclusão – porque, afinal, você foi trazido aqui nesta ocasião para ouvir sobre a verdadeira Igreja, e só vale a pena fazer parte de uma Igreja se ela for a verdadeira Igreja.
Você está convidado a conhecer mais sobre a realidade da Igreja, sobre o propósito de Deus ao criar a Igreja e sobre o seu papel nesta Igreja: Deus abençoar você e você ser um meio através do qual Deus vai abençoar outras vidas.
Você está convidado para colocar seu coração diante do Senhor e humildemente recebe-lo como seu Senhor e salvador, e, como Isaías (Is 6.8) ou Maria (Lc 1.38), dizer-lhe para fazer de sua vida o que ele desejar.

Você está convidado para amar a Deus sobre todas as coisas, experimentar do amor dele e assim amar aos irmãos que ele vai colocando do seu lado, porque Deus é amor e quem não ama não conhece a Deus (I Jo 4.8) porque é o amor que ele derrama sobre nós ao dar-nos seu único filho (Rm 5.8) é que nos capacita a amá-lo também (I Jo 4.19).

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