quarta-feira, 15 de maio de 2013

Não mexeu comigo...


Tempos atrás, tratando de um gravíssimo problema ocorrido em uma Igreja, ouvi de um membro a seguinte afirmação: “Pastor, não quero me envolver, eu não tenho nada com isto e isto não é problema meu”. É uma atitude muito comum - e algumas vezes nem é por medo de qualquer consequência, às vezes por mero comodismo e outras por indiferença justificada em nome do amor. Evitar o confronto em nome do amor é como evitar uma cirurgia para extirpar um câncer sob a alegação de não querer causar um ferimento.
Vejamos: o problema era grave. Era um grave problema na Igreja da qual tal pessoa era membro. Por saber do problema, até com alguns detalhes, automaticamente já estava envolvido - e por ser membro da Igreja estaria envolvido, mesmo que não soubesse do que estava acontecendo. Logo, tudo era, indiscutivelmente, problema seu, porque era problema da sua Igreja.
“Um membro do corpo não pode deixar de sofrer quando o outro é ferido. Se não se incomoda, é porque não sente nada, e, se não sente nada, a única razão é que não faz parte do corpo”.
 A Igreja precisa resgatar o conceito bíblico de povo, de corpo. Como reação ao exclusivismo eclesiástico medieval a Igreja caminhou para o outro lado do abismo, o esfacelamento, tanto no que  se refere a múltiplas congregações quanto interno das próprias comunidades locais.

A bíblia nos alerta sobre a necessidade de cuidarmos uns dos outros, e, se olharmos para a estrutura da Igreja, sabemos que ela é um corpo que pode ser atacado por um inimigo sagaz, invisível e de muitos recursos. Ele sabe que um membro ferido dificulta a caminhada de todo o corpo. Ele sabe que há muitos membros frágeis, e desprotegidos.
Ele sabe escolher seus alvos - e lamentavelmente às vezes ele usa a estratégia de um câncer para ferir a Igreja. É sabido que o câncer é uma célula que se rebela contra a sua maneira normal de funcionar, contra a sua função no corpo e passa a agir de maneira diferente, buscando mais espaço para si mesmo. Passa também a invadir o espaço dos outros, e por fim quer tornar-se onipresente - só que neste momento ocorre a metástase, e o corpo morre.
Se um membro da Igreja sofre o ataque do inimigo, este ataque precisa ser rechaçado - mas talvez seja difícil para ele, sozinho resistir. Ele precisa de ajuda, precisa ser protegido pelo restante do corpo, precisa do apoio dos demais irmãos para resistir no dia mau. Se um irmão cai, seu lugar fica vago, uma brecha é aberta e o inimigo continuará atacando exatamente naquele lugar onde há insensibilidade para com a dor do corpo.
Lamentavelmente sempre há aquele que diga que o problema não é seu, porque o inimigo não mexeu com ele. É provável que não. E é provável que nem vá mexer, porque ele não precisa atacar o que não é parte do corpo. Quem aparenta estar no corpo e não se incomoda com a sua dor não está, realmente, ligado a ele. E, se está, pode ficar ciente que mais cedo ou mais tarde sofrerá alguma forma de ataque, e o corpo debilitado já não poderá mais ajudar.
Quando o inimigo ataca o pastor, ele não está atacando o “Rev.”, mas o corpo, aquele que o Senhor constituiu como líder da comunidade, como seu guia espiritual. Quando o inimigo ataca os presbíteros, ele não está atacando os “Pbs.”, mas quer destruir os regentes que Deus estabeleceu sobre a Igreja para representa-lo ali [é tolice pensar nos presbíteros como representantes da Igreja perante Deus ou no conselho, como se fosse uma câmara de vereadores ou deputados]. Quando o inimigo ataca os diáconos ele não está atacando os “Dcs.” mas ele quer destruir o serviço dos santos aos santos.
O resumo disto é que o inimigo quer matar pessoas, quer matar a obra do Senhor, quer roubar a alegria e a unidade da Igreja, quer destruir aquilo pelo qual Cristo morreu, isto é, para criar um povo seu, santo, zeloso de boas obras, começando por aquelas que são feitas dentro da própria família da fé. Mas não é isto o que tem acontecido, há muito que, por causa do individualismo e de uma série de outros interesses, muitos inconfessáveis, ao invés do zelo mutuo, de uns carregando as cargas dos outros, a Igreja tem se mordido e se devorado - e o inimigo vai vendo sua obra ser feita sem ter, ele próprio, muito trabalho.
Quando o inimigo agride um irmão, ele está agredindo o corpo. Quando o inimigo agride o pastor, ele está agredindo o corpo. Quando o inimigo agride a liderança, ordenada ou não, ele está agredindo o corpo. Quando o inimigo agride um membro, qualquer que seja ele, ele está agredindo o corpo. E a Igreja precisa estar atenta e agir imediatamente, como um corpo, em  defesa daquele que está sendo agredido. Presta atenção numa coisa, se você não ama e protege a seu irmão, a quem vê, como é que ousa mentir dizendo que ama a Deus, a quem não vê, mas do qual seu irmão é a imagem e semelhança?

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